A POESIA DE Cecília Barreira

Poema de amor fusiforme

198 ANOS DO NASCIMENTO DE BAUDELAIRE A 9 DE ABRIL DE 1821

“Je suis comme  le roi d´un  pays pluvieux,
Riche, mais impuissant, jeune et pourtant très vieux”

Ampliou-se há 198 anos em Paris na rue Hautefeuille, 13,
Rutilâncias em breves liceus,
Em vidas dissolutas, nos absurdos de ameaças sangue, sonhos em borboleta, inegável a estadia dos deuses,
Em 1839 amou em para-brisas Jeanne Duval, de vícios contados e maturados, Continuar a ler “A POESIA DE Cecília Barreira”

ESCRITA EM PAPEL E LÁGRIMAS – por Fellipe Cosme

Fotografia ©GoodFon.com

escrita em papel e lágrima
num pedaço de amor
jogado no lixo

tanto faz o lixo
que desatina
dói e agoniza

sim e não
a porta aberta
e ninguém entrou

uma escada flutuante
do avesso de um poema
que se rasga dentro de si.

beijo sonoro de um eu
funda o esvaziamento retorcido

centro da cicatriz
que o corpo carrega do século
caixa quadrado sem voz

relação disforme e a explosão
de luz e som e o sentir
em roma, atenas e moscou

lidos rios fracassam verde
frio o verso parafraseando
a inquietude de uma face. Continuar a ler “ESCRITA EM PAPEL E LÁGRIMAS – por Fellipe Cosme”

ALGUMA POESIA de Ieda Estergilda de Abreu

Mário Cesariny Figuras de Sopro, 1947

Bruxices

Queria voar.
Poeira, persianas, vassoura de palha, vôos razantes pela casa,
cabelos de palha e vento, vassoura no canto da sala calada, varrida.
Quatro panelas no fogo, boiando no espaço
cansaço.
Quatro panos de prato, quatro panelas que amofinam
quatro panos pra lavar.
Queria voar.

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POEMAS DE José Luís Outono

Linha d´Água, by Mário Cesariny

TEMPESTADES A COBERTO DE OUSADIAS

rios de água cadente enclausuram olhares provocadores
… …
tempestades a coberto de ousadias
… …
filmes absurdos de diálogos silenciados
pelo sino da memória cansada
… …
desafios gotejantes emolduram
discursos correntes sem novidades
… …
a matemática prossegue a sua análise do ontem
depois do fracasso de amanhã ter esquecido o hoje Continuar a ler “POEMAS DE José Luís Outono”

POESIA E IMAGENS de Lucinda Loureiro

Fotografia de Lucinda Loureiro

PALAVRAS

Vou-me vestindo de palavras.
Palavras à solta,
De rédeas curtas.
Recuso as esporas, as farpas,
Os trajes de luzes e os ferretes.
Leio-me nos versos soltos, sem edição,
Sem filtros ou construção.
Não conheço regras, nem métricas.
Vou-me despindo com palavras,
Em possíveis poemas

Continuar a ler “POESIA E IMAGENS de Lucinda Loureiro”

SONHOS PESCADOS – Por Marcos Fernando Kirst

«Linha d`Água» (s/d), Mário Cesariny —óleo sobre madeira

Na dobra da onda
que sacode a praia
trazendo avalanche
de água e de sal;
ali pesco o sonho
de vida sereia,
castelo na areia,
o mar meu quintal.

Na sombra forjada
do olho cerrado
chamando a visita
do Lorde Morfeus;
ali teço sonhos
de vida sonhada,
à qual pago nada,
e crio outros eus.

Desperto, acordado,
vigiando ou sonado,
atraio os dormires
à vida vivida
e tenho então sempre
um sonho pescado
andando ao meu lado:
união dividida.

♦♦♦

Marcos Fernando Kirst é jornalista e escritor, residente na cidade de Caxias do Sul (RS). É colunista do jornal “Pioneiro”, onde publica crônicas semanais literárias. Foi Patrono da Feira do Livro de Caxias do Sul em 2010. Em 2011, ganhou o Concurso Anual Literário Municipal de Caxias do Sul com a obra poética “Em Silêncios”. Integra a Academia Caxiense de Letras desde 2012, onde ocupa a cadeira número 11. Ganhador do Prêmio Açorianos de Criação  Literária 2014 com a novela “A Sombra de Clara”, também laureada com o Prêmio Vivita Cartier, em Caxias do Sul, em 2016. Já lançou 21 livros.

 

3 PROSOPOEMAS de Bernardino Guimarães

INTERIORES

Encerrado sem céu na métrica do tecto. Sinto-me na cadeira. Quem inventou as paredes achou o mundo demasiado grande. Há solenidade no gesto de fechar uma janela, traindo as luzes, traduzindo a poeira. Na sala humedece-se a tarde, nada mexe, e a música no aparelho é surda. Continuar a ler “3 PROSOPOEMAS de Bernardino Guimarães”

AO LONGE UM BARCO COM UMA FLOR – “AMÉLIA” – por Fellipe Cosme

Voz: Júlia Moura Lopes

Amélia

(A Amélia Pinto Pais*)

um novo livro olha para trás
para chamar o outro livro do passado
a viver com novas metáforas
desimportantes Continuar a ler “AO LONGE UM BARCO COM UMA FLOR – “AMÉLIA” – por Fellipe Cosme”

POEMAS DE – Gisela G. Ramos Rosa

Newsfeed-Rhyming-Couplet by Corina Botton

“Comment interroger ce qui nous échappe aussitôt?”
 Bernard Noel

A António Ramos Rosa

Toda a presença vence os limites do corpo
tudo está por dentro, por detrás de quem olha.
Minucioso trabalho o da construção do poema foi o
que me transmitiste, lâmpada que se acende ao ritmo
do corpo das mãos como asas num vislumbre
que queima. Lá onde estás, não me perguntes se
escrevo e se me invento. Continuar a ler “POEMAS DE – Gisela G. Ramos Rosa”

POEMAS e FOTOS de Maria Gomes

© Maria Gomes

Esta cidade existe num desejo que se encadeia
sobre a síntese dos lábios.
Nela mergulham o som exacto, a manhã,
o arco da noite navegante,
a luz sem fim.

Meu amado,
esta cidade existe nos joelhos do sol,
na pele dos pássaros,
num poema.
É sangue e transparência e pó, e mar salgado. Continuar a ler “POEMAS e FOTOS de Maria Gomes”

TRÊS POEMAS DE Marília Miranda Lopes

Terça-feira: Mercúrio

Este tempo invernoso omite
claridades nos teus olhos vivos:
palavras que rebentam nas bolhas
que raiam dos anéis das íris.
Não precisas, pois, de suster
a respiração nesse augúrio:
a mensagem vem de Mercúrio,
segue já na corrente, a ver
as margens e o mar ao longe:
aguarelas ternas que flambam
o verbo calado, em suspenso,
sem vontade de se debruçar
da tua boca que consente
salitre nos lábios e bruma
do dia em que fomos navio
e vela, e mastro, e terra una.

Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Marília Miranda Lopes”

TRÊS POEMAS DE Rudá Ventura

RUÍNAS DE ÁGORA

Há tanta boca
E tanta voz desmedida
Nesse silêncio repetido e gritado,

Nesse vazio de palavras que ecoam esquecidas,
Onde à margem de toda prosa
Talvez repouse alguma verdade.

Há tanta boca
E nenhum som profundo;
Há tantos dentes devorando os sonhos
E tão ímpio tornou-se o mundo,
Que mastigado resta pra nós.

Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Rudá Ventura”

ANDRÉ BRETON – FRANÇA (1896-1966)

Ao dizer que a criação deve brotar alheia a toda preocupação estética ou moral, André Breton (1896-1966) deixou ao sol a má interpretação que seus acólitos acabaram por ver no Surrealismo uma ausência de moral e estética.Os fundamentos do Surrealismo dizem respeito ao imperativo de uma liberdade total na criação, o que inclui a não filiação alguma a quaisquer ordens. No entanto havia uma ordem por trás dessa cortina, cuja raiz era a própria razão de ser do movimento. Daí que o desafio maior de Breton tenha sido o de encontrar um equilíbrio entre essa aparente dicotomia. Continuar a ler “ANDRÉ BRETON – FRANÇA (1896-1966)”

VALENTINE PENROSE – FRANÇA (1898-1978)

Valentine Penrose (1898-1978) alcançou imenso reconhecimento graças a uma narrativa impactante dedicada à vida de Elizabeth Bathory, a condessa húngara do século XVI que se mantivera sempre jovem graças a seus banhos com sangue de virgens capturadas e mantidas no calabouço de seu castelo. A narrativa, saudada por Georges Bataille, inspirou vários filmes. Valentine escreveu outras narrativas, marcadas quase sempre por um cenário de lesbianismo, além de poemas, desenhos e colagens. Continuar a ler “VALENTINE PENROSE – FRANÇA (1898-1978)”

CÉSAR MORO – Peru – (1903-1956)

O peruano César Moro (1903-1956) é uma das mais singulares vozes poéticas do Surrealismo. Poeta bilíngue, ele deixou a maior parte de sua obra escrita em francês. Poeta e pintor, em 1935 organiza em seu país a primeira exposição internacional do Surrealismo na América Latina. Posteriormente, em 1940, já residindo no México, Moro organiza, ao lado de Breton e Wolfgang Paalen, a 4ª Exposição Internacional do Surrealismo. Continuar a ler “CÉSAR MORO – Peru – (1903-1956)”

ALICE RAHON – FRANÇA – (1904-1987)

A biografia de Alice Rahon (1904-1987) está repleta de registros inovadores. Nos primeiros anos 1930, então casada com Wolfgang Paalen, descobre o Surrealismo, que será determinante em toda sua vida. E abre-se também um mundo de viagens, dentre os quais o período que passou na Índia juntamente com Valentine Penrose. A partir daí as viagens se multiplicam e conhece Alasca, Canadá, Estados Unidos, Líbano e México. No México estreitou relações com Frida Kahlo e teve influente presença no surgimento de uma arte abstrata naquele país. Continuar a ler “ALICE RAHON – FRANÇA – (1904-1987)”

EMMY BRIDGWATER – Reino Unido – (1906-1999)

Duas grandes poetas inglesas ligadas ao Surrealismo foram Emmy Bridgwater (1906-1999) e Edith Rimmington (1902-1986). Poetas e artistas plásticas, as duas se conheceram quando Emmy passa a integrar o grupo surrealista de Londres, do qual já fazia parte Edith. Amigos de Emmy, o artista Conroy Maddox e o crítico Robert Melville, trataram de apresentá-la a Roland Penrose. Logo em seguida, 1942, Emmy contribuiu para a uma revista surrealista chamada Arson, que tinha na direção Toni del Renzio. Continuar a ler “EMMY BRIDGWATER – Reino Unido – (1906-1999)”

ENRIQUE MOLINA – ARGENTINA – (1910-1997)

O argentino Enrique Molina (1910-1997) é uma das vozes mais singulares e inovadoras do surrealismo em língua espanhola. Com uma vida marcada pela aventura das viagens marítimas, esteve no Caribe, na Europa e em diversos países latino-americanos. Ao lado de Aldo Pellegrini fundou, em 1952, a revista A partir de cero, destacada publicação dedicada ao Surrealismo. Sua criação envolve poesia, pintura, colagem e sua defesa incondicional do Surrealismo a encontramos em pequenos artigos e entrevistas. Continuar a ler “ENRIQUE MOLINA – ARGENTINA – (1910-1997)”

MATSI CHATZILAZAROU – GRÉCIA – (1914-1987)

A intensidade erótica da poesia de Matsi Chatzilazarou (1914-1987) tem por base a descoberta de um louco amor ao lado do também poeta Andreas Embirikos (1901-1975). Com o espírito ferido por duas baixas afetivas, a morte dos pais e dois casamentos fracassados, Matsi busca um mínimo de equilíbrio na psicanálise, passando a ser tratada justamente por Embirikos. Continuar a ler “MATSI CHATZILAZAROU – GRÉCIA – (1914-1987)”

KANSUKE YAMAMOTO – JAPÃO – (1914-1987)

Para melhor situar a presença do Surrealismo no Japão cabe referir a chamada era Taisho, que ocupa o período 1912-1926, logo após uma repressiva era Meiji que lhe antecede.  Taisho abre espaço para uma expansão experimental tanto na política quanto nas artes. Um de seus resultados mais expressivos é o surgimento do Surrealismo no Japão. Continuar a ler “KANSUKE YAMAMOTO – JAPÃO – (1914-1987)”

MAYA DEREN – UCRÂNIA – (1917-1961)

Maya Deren (1917-1961) não publicou livros de poesia. Seus poemas se encontram em algumas edições póstumas e no arquivo aberto em seu nome no Howard Gotlieb Archival – Centro de Pesquisa da Universidade de Boston, Estados Unidos. O acervo se encontra inconcluso, desde a morte do curador Robert Steele. Continuar a ler “MAYA DEREN – UCRÂNIA – (1917-1961)”