POEMAS e FOTOS de Maria Gomes

© Maria Gomes

Esta cidade existe num desejo que se encadeia
sobre a síntese dos lábios.
Nela mergulham o som exacto, a manhã,
o arco da noite navegante,
a luz sem fim.

Meu amado,
esta cidade existe nos joelhos do sol,
na pele dos pássaros,
num poema.
É sangue e transparência e pó, e mar salgado. Continuar a ler “POEMAS e FOTOS de Maria Gomes”

TRÊS POEMAS DE Marília Miranda Lopes

Terça-feira: Mercúrio

Este tempo invernoso omite
claridades nos teus olhos vivos:
palavras que rebentam nas bolhas
que raiam dos anéis das íris.
Não precisas, pois, de suster
a respiração nesse augúrio:
a mensagem vem de Mercúrio,
segue já na corrente, a ver
as margens e o mar ao longe:
aguarelas ternas que flambam
o verbo calado, em suspenso,
sem vontade de se debruçar
da tua boca que consente
salitre nos lábios e bruma
do dia em que fomos navio
e vela, e mastro, e terra una.

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TRÊS POEMAS DE Rudá Ventura

RUÍNAS DE ÁGORA

Há tanta boca
E tanta voz desmedida
Nesse silêncio repetido e gritado,

Nesse vazio de palavras que ecoam esquecidas,
Onde à margem de toda prosa
Talvez repouse alguma verdade.

Há tanta boca
E nenhum som profundo;
Há tantos dentes devorando os sonhos
E tão ímpio tornou-se o mundo,
Que mastigado resta pra nós.

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ANDRÉ BRETON – FRANÇA (1896-1966)

Ao dizer que a criação deve brotar alheia a toda preocupação estética ou moral, André Breton (1896-1966) deixou ao sol a má interpretação que seus acólitos acabaram por ver no Surrealismo uma ausência de moral e estética.Os fundamentos do Surrealismo dizem respeito ao imperativo de uma liberdade total na criação, o que inclui a não filiação alguma a quaisquer ordens. No entanto havia uma ordem por trás dessa cortina, cuja raiz era a própria razão de ser do movimento. Daí que o desafio maior de Breton tenha sido o de encontrar um equilíbrio entre essa aparente dicotomia. Continuar a ler “ANDRÉ BRETON – FRANÇA (1896-1966)”

VALENTINE PENROSE – FRANÇA (1898-1978)

Valentine Penrose (1898-1978) alcançou imenso reconhecimento graças a uma narrativa impactante dedicada à vida de Elizabeth Bathory, a condessa húngara do século XVI que se mantivera sempre jovem graças a seus banhos com sangue de virgens capturadas e mantidas no calabouço de seu castelo. A narrativa, saudada por Georges Bataille, inspirou vários filmes. Valentine escreveu outras narrativas, marcadas quase sempre por um cenário de lesbianismo, além de poemas, desenhos e colagens. Continuar a ler “VALENTINE PENROSE – FRANÇA (1898-1978)”

CÉSAR MORO – Peru – (1903-1956)

O peruano César Moro (1903-1956) é uma das mais singulares vozes poéticas do Surrealismo. Poeta bilíngue, ele deixou a maior parte de sua obra escrita em francês. Poeta e pintor, em 1935 organiza em seu país a primeira exposição internacional do Surrealismo na América Latina. Posteriormente, em 1940, já residindo no México, Moro organiza, ao lado de Breton e Wolfgang Paalen, a 4ª Exposição Internacional do Surrealismo. Continuar a ler “CÉSAR MORO – Peru – (1903-1956)”

ALICE RAHON – FRANÇA – (1904-1987)

A biografia de Alice Rahon (1904-1987) está repleta de registros inovadores. Nos primeiros anos 1930, então casada com Wolfgang Paalen, descobre o Surrealismo, que será determinante em toda sua vida. E abre-se também um mundo de viagens, dentre os quais o período que passou na Índia juntamente com Valentine Penrose. A partir daí as viagens se multiplicam e conhece Alasca, Canadá, Estados Unidos, Líbano e México. No México estreitou relações com Frida Kahlo e teve influente presença no surgimento de uma arte abstrata naquele país. Continuar a ler “ALICE RAHON – FRANÇA – (1904-1987)”

EMMY BRIDGWATER – Reino Unido – (1906-1999)

Duas grandes poetas inglesas ligadas ao Surrealismo foram Emmy Bridgwater (1906-1999) e Edith Rimmington (1902-1986). Poetas e artistas plásticas, as duas se conheceram quando Emmy passa a integrar o grupo surrealista de Londres, do qual já fazia parte Edith. Amigos de Emmy, o artista Conroy Maddox e o crítico Robert Melville, trataram de apresentá-la a Roland Penrose. Logo em seguida, 1942, Emmy contribuiu para a uma revista surrealista chamada Arson, que tinha na direção Toni del Renzio. Continuar a ler “EMMY BRIDGWATER – Reino Unido – (1906-1999)”

ENRIQUE MOLINA – ARGENTINA – (1910-1997)

O argentino Enrique Molina (1910-1997) é uma das vozes mais singulares e inovadoras do surrealismo em língua espanhola. Com uma vida marcada pela aventura das viagens marítimas, esteve no Caribe, na Europa e em diversos países latino-americanos. Ao lado de Aldo Pellegrini fundou, em 1952, a revista A partir de cero, destacada publicação dedicada ao Surrealismo. Sua criação envolve poesia, pintura, colagem e sua defesa incondicional do Surrealismo a encontramos em pequenos artigos e entrevistas. Continuar a ler “ENRIQUE MOLINA – ARGENTINA – (1910-1997)”

CRUZEIRO SEIXAS – PORTUGAL – (1920)

O português Cruzeiro Seixas (1920) criou uma obra que transita com mágica afinidade entre a poesia e a plástica. Identificado desde a juventude com os postulados do Surrealismo, em 1949 participa da Primeira Exposição dos Surrealistas, em Lisboa, grupo recém-formado e que integra juntamente com António Maria Lisboa, Mário Cesariny, Mário-Henrique Leiria, dentre outros. Logo em seguida se muda para Angola, onde reside por 13 anos. Ali escreve a quase totalidade de seus poemas e realiza exposições individuais, de desenhos, objetos e colagens. Continuar a ler “CRUZEIRO SEIXAS – PORTUGAL – (1920)”

LUDWIG ZELLER – CHILE – (1927)

Nascido em pleno deserto do Atacama, o chileno Ludwig Zeller (1927) atravessa o continente com extraordinário vigor existencial a deixar traços fundamentais por onde passa. Ainda no Chile, funda a Casa de la Luna, lugar de encontro e produção artística; no Canadá cria a Oasis Publications, destacada casa editorial com seu expressivo catálogo surrealista; no México, onde reside atualmente, dirigiu a revista Vaso Comunicante. Em toda essa relevante trajetória contou com a cumplicidade perene de Susana Wald, artista, ensaísta e tradutora, com quem vive desde 1966. Continuar a ler “LUDWIG ZELLER – CHILE – (1927)”

ISABEL MEYRELLES – PORTUGAL – (1929)

Logo na adolescência Isabel Meyrelles (1929) conhece em Lisboa os poetas Mário Cesariny (1923-2006) e Cruzeiro Seixas (1920), e presencia a formação de dois momentos cruciais do Surrealismo em Portugal, primeiramente o Grupo Surrealista Português, logo desfeito substituído por outro grupo, os Surrealistas. O ambiente político em Portugal acabou levando Isabel a se mudar para Paris, onde até hoje reside. Continuar a ler “ISABEL MEYRELLES – PORTUGAL – (1929)”

JORGE CAMACHO – CUBA – (1934-2011)

O encontro de Jorge Camacho (1934-2011) com André Breton (1896-1966) foi decisivo em duplo sentido, o de abertura do cubano para o riquíssimo ambiente surrealista e para o francês a descoberta de um artista total – poeta, pintor, gravador, designer, fotógrafo –, marcado por um espírito apaixonado e íntegro. O próprio Camacho confessa que o encontro, que se deu em 1959, graças ao amigo comum e escultor cubano Agustín Cárdenas, representou o início de uma nova vida artística e intelectual. Continuar a ler “JORGE CAMACHO – CUBA – (1934-2011)”

LEILA FERRAZ – BRASIL – (1944)

A imagem que nos aterra a existência, que se torna um testamento usual, um versículo sempre na ponta da língua, cobra hoje uma tarifa existencial que nos limita a própria reflexão sobre o que somos ou deixamos de ser. Somos viciados em uma demanda reiterativa. Algo nos impede de experimentar um mundo outro sob ou sobre a capa de uma realidade averbada pela crença na imutabilidade da vida. Ora, mas a vida é tudo menos imutável. Mesmo no plano sagaz das religiões a vida é o preço, a súplica, a tormenta, o vislumbre, o apogeu, a dádiva, e não é possível pensar em nenhum desses atributos como um álibi inquestionável que não permite à espécie humana mudar sequer de postura na cadeira em que presta depoimento sobre sua existência. A fotografia é uma das mais complexas faturas da criação artística, a começar pela resistência da arte entendê-la como sua cúmplice. A beleza é outro aspecto frequentemente confrontado pela incredulidade em que o gesto humano seja tudo menos apenas uma reação brutal à diferença. A brasileira Leila Ferraz (1944) é poeta, ensaísta, fotógrafa, desenhista. Continuar a ler “LEILA FERRAZ – BRASIL – (1944)”

NICOLAU SAIÃO – PORTUGAL – (1946)

O português Nicolau Saião (1946) é poeta e artista plástico, com atividades ligadas ao Surrealismo desde o princípio, quando participou de várias mostras internacionais de arte postal. Em 1984, juntamente com Mário Cesariny (1923-2006) e Fernando Cabral Martins (1950), organizou a exposição O Fantástico e o Maravilhoso. Estudioso e tradutor da obra de H. P. Lovecraft, em 2002 organizou a primeira edição integral em todo o mundo de Fungi From Yuggoth (1943), tendo também a ilustrado. Continuar a ler “NICOLAU SAIÃO – PORTUGAL – (1946)”

JOHN WELSON – GALES – (1953)

O galês John Welson (1953) é um desses personagens admiráveis por sua incondicional obsessão pela criação. Desde a infância que se dedica à pintura, ao desenho, à cerâmica e logo dando início também à escritura poética. Resultado dessa voracidade criativa é que tem em sua agenda um registro de mais de 300 participações em exposições em vários países. Nas últimas décadas produziu um abstracionismo lírico cuja ótica central é a paisagem de sua terra natal, o País de Gales. Continuar a ler “JOHN WELSON – GALES – (1953)”