Falar sobre a pobreza e combatê-la leva-nos primeiramente a entender o que ela é efectivamente. Continuar a ler “RESSIGNIFICAR A POBREZA – por Teresa Escoval”
Falar sobre a pobreza e combatê-la leva-nos primeiramente a entender o que ela é efectivamente. Continuar a ler “RESSIGNIFICAR A POBREZA – por Teresa Escoval”
“Silvino Santos não foi mais um nome para os empoeirados arquivos de cineastas primitivos. Soube sempre colocar sua consciência profissional acima de quaisquer especulações esteticistas”
Alex Viany
Em Portugal, está ainda por inventariar e historiar, de modo sistemático, abrangente e rigoroso, a muito estimável contribuição dos imigrantes lusos para o fomento, incremento e desenvolvimento do cinema brasileiro. Continuar a ler “TEM PATRICIO NOS SETS BRASILEIROS – por Danyel Guerra”
Do gato se pode dizer o mesmo que se diz da tradição: já não é o que era. Mas como o gato não faz a mínima ideia do que isso quer dizer, continua sendo o que sempre foi, o único ser que nos olha sempre de cima para baixo. Na impossibilidade de o domesticarmos, tudo indica que o gato tomou, algures no tempo, talvez há nove mil anos, a iniciativa de nos domesticar. A medida mais recente é a invenção da internet e das redes socias, cuja serventia mais prolífica consiste no facto de podermos partilhar pequenos filmes de e com gatos. Neste processo, não é de desprezar o filme Aristogatos que nos faz crer que toda a gente quer ser gato. E, porque esta metamorfose está destinada ao fracasso, ficamo-nos pelo arremedo de ter um gato…em casa. Trata-se, como é fácil de ver, de mais uma estratégia de gato. Continuar a ler “UM GATO É UM GATO É UM GATO – por Fernando Martinho Guimarães”
Sonhar. Ambos sabemos o que é. Quer eu que teclo para que as palavras alinhadas sejam desenhadas, quer vossa senhoria que depois as está a ler, entre o deitar e o erguer da cama e quando o deus Morfeu nos contempla com o seu beneplácito, sonhamos. Continuar a ler “OS SONHOS – por Manuel Igreja Cardoso”
Conversa de estátuas
Drummond, Caymmi, Pessoa e Clarice
Eram meados de maio do ano da graça de 2022 e a imperiosa Copacabana transpirava uma brisa à Jonny Alf, quando a estátua do compositor Dorival Caymmi, que saudara a “princesinha do mar” em antológica canção praieira, se aproximara da escultura do poeta Carlos Drummond de Andrade, para dois dedos de prosa sobre as amenidades da vida e a arte da sobrevivência nesta São Sebastião do Rio de Janeiro.
Continuar a ler “CONVERSA DE ESTÁTUAS – por Wander Lourenço”
Nunca, como nos dias de hoje, se foi tão solicitado a estarmos sempre ocupados.
Em lugar de procurarmos compreender e aprender, pedem-nos que dediquemos os nossos dias a empreender – o empreendorismo tornou-se um modo de vida. E a vida torna-se um zapping constante – uma azáfama, um frenesim. Continuar a ler “O ABORRECIMENTO – por Fernando Martinho Guimarães”
“(…)’As glórias que vêm tarde, já vêm frias’,
escreveu o Dirceu de Marília. Me leia enquanto estou quente”
Lygia F. T.
TOMANDO UM KAFKAFÉ COM ELE
Exuberância tecida de curiosidade, Lygia entra no jardim dos caminhos que se bifurcam, dirigindo-se, sem hesitações, ao canteiro nº 40. Embevecida, captura, ávida, a fragrância da rosa imarcescível, o primoroso exemplar do borgeano jardineiro. “(…) ninguém pensou que o livro e o labirinto eram um único objeto”. Continuar a ler “TOMANDO UM KAFKAFÉ COM ELE – por Danyel Guerra”
Fire and Ice (South India, January 2020)
A dramatic title for the description of two mundane things. Winter in the tropics. Winter in Portugal. And yet so accurate. The temperature around me dictates my mood much more than I would like to allow. Give me sun and heat and I will be happy and pleasant. Give me cold and grey and I am too uncomfortable to be nice. Luckily I was born in one of the sunniest countries in the world so there the combination of both, cold and grey, is rare. Which doesn’t stop me from fleeing to warmer latitudes as much as possible. Continuar a ler “REFLECTIONS OF A STRANDED NOMAD – por Alexandra M.”
O silêncio é um dom e é um tom. Um dom, porque na ordem das coisas da mãe natureza que tantas vezes mais parece não haver ordem, nos é disponibilizado com todo o esplendor para nele ouvirmos os sons mais profundos das veredas da alma. Um tom, porque como sabemos, uma pausa também é música quando esta ostenta o timbre dos anjos. Continuar a ler “O SILÊNCIO – por Manuel Igreja Cardoso”
Além da infância, em que olhar as nuvens e brincar descobrindo formas nelas é uma tarefa a que nos dedicamos com todo o empenho, são poucas as vezes em que as olhamos com olhos de ver.
Esta injustiça para com as nuvens é sinal evidente de que ser criança é coisa já passada há muito tempo e que, à inconsciência disso, acrescentamos a ignorância das coisas que fazem da infância a fase mais feliz da vida. Continuar a ler “NAS NÚVENS – por Fernando Martinho Guimarães”
Não vão muito de feição para os campos da tolerância os ventos que sopram na espuma dos dias nesta nossa modernidade. Ao contrário do medo, ela não nasce connosco. Germina, desponta, mas facilmente mirra quando não é cultivada e quando as pragas urdidas pelos temeres a infetam. Continuar a ler “A TOLERÂNCIA – por Manuel Igreja Cardoso”
… Numa das minhas voltas pela actualidade, fiquei a par do que, em resumo, é o livro, de memórias, de Francisco Pinto Balsemão… De algumas memórias, porque, de acordo com o próprio, nem todas convém serem lembradas. De relevante, no alinhamento, a confirmação, colateral, de que o País tem estado sob a tutela de jovens companheiros da vida airada; gente que nasceu e cresceu em clima de inocentes aventuras —razão porque, no topo da pirâmide, haja o que houver, não há culpados. E não há, por ser incoerente culpar quem, medrando em parcerias de irresponsabilidade, tem tido permissão para ser governo. Continuar a ler “POR QUÊ, A REALIDADE NÃO SE CANSA?… – por Rodrigo Costa”
O que se pode dizer sobre a insónia? Que é uma moléstia, um distúrbio do sono, uma disfunção, uma falha, um desarranjo. Como anomalia, a insónia pode ir do simples desassossego em ter dificuldade de adormecer ao desespero da privação do sono.
Dormir é importante. Lembram-no constantemente o nosso médico de família, como também os muitos programas televisivos que se preocupam com a nossa saúde – o sono é regenerador, dormir sete horas por dia é essencial, deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer.
Pelo sono, todo o acordar é um começar de novo, um recomeço. Despertar de um sono restaurador de energias é instalar a esperança no dia que se inicia. Dormir tem isto de reconfortante e de enganador: permite-nos esquecer as preocupações da vida, ausentarmo-nos do mundo. Porém, com o andar do dia, os problemas e as preocupações acabam sempre por nos encontrar.
É assim natural que, do lado do sono, só encontremos benefícios. Alheios de nós e do mundo, abandonamo-nos à inconsciência que é cair nos braços da sonolência e do adormecimento. O paraíso apenas o é porque nele se pode dormir. No inferno, não!
Na insónia, na privação do sono, tudo concorre para nos atormentar, por um excesso de lucidez. Despertos contra a vontade, sofremos, pela insónia, com a desmesura de pensamentos que recomeçam sempre. Quem conhece a experiência da insónia, sabe o tormento que é querer dormir e não conseguir. E, no entanto, a impossibilidade de dormir é saudada como uma oportunidade de fazermos coisas. De acrescentar tempo ao tempo.
No livro Cem Anos de Solidão, que deu a imortalidade a Gabriel Garcia Marques – e o prémio Nobel da Literatura -, narra-se, a certa altura, o alastrar da epidemia da insónia. Os habitantes de Macondo, a aldeia onde se passa o romance, são acometidos da «peste da insónia». Acordados contra a vontade, aproveitam para tirar vantagem da nova condição – tudo o que havia para fazer é feito, e a produtividade torna-se uma vertigem que toma conta de todos. Rapidamente se dão conta que a exaustão e o tédio são consequências de não dormir. Sem sono, sem dormir, as coordenadas do tempo esfumam-se e as lembranças também – paradoxalmente, ou se calhar não, o esquecimento é a consequência de estar permanentemente acordado. Sem mais nada para fazer, sem conseguirem fazer mais nada, são muitos os que desejam voltar a dormir, nem que seja por simples saudade dos sonhos.
Fernando Pessoa, quer dizer, um dos seus heterónimos, Álvaro de Campos, diz-nos isso num poema, precisamente chamado Insónia: «Não durmo; não posso ler quando acordo de noite, / Não posso escrever quando acordo de noite, / Não posso pensar quando acordo de noite -/ Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!»
Quer dizer, o que é preocupante na insónia é, afinal de contas, a impossibilidade de sonharmos.
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Fernando Martinho Guimarães (1960) Nascido transmontano (Alijó, Vila Real), foi na cidade do Porto que viveu até aos princípios dos anos 80. De formação filosófica e literária, a sua produção ensaística e poética reflecte essa duplicidade. Publicou em 1996 A Invenção da Morte (ensaio), em 2000 56 Poemas, em 2003 Ilhas Suspensas (edição bilingue, castelhano/português), em 2005 Apenas um Tédio que a doer não chega e em 2008 Crónicas.
O medo tolhe-nos. Rouba-nos o discernimento, aumenta-nos a desumanidade, cobre-nos de egoísmo primário. O medo sem que se perceba, pode fazer com que uma comunidade cordata e amiga do seu amigo e companheira do seu vizinho se transforme num ninho de vespas onde campeia a crueldade impelida por uma quase absoluta insanidade mental. Continuar a ler “O MEDO – por Manuel Igreja”
“I dreamed about you last night and I fell out the bed twice”
Morrisey, citando Shelagh Delaney
A noite passada, o Sargento Pimenta sonhou com Nara e caiu da cama duas vezes. A sério, podem crer. Alerto porém que esta Nara não é, esclareça-se, a cidade dourada que no século VIII foi içada a primeira capital do Japão. Embora ela, a cidade, se tenha, antes de tudo, singularizado pela zen serenidade de seus templos budistas e pelos parques povoados de cervos prenhes de meiguice. Continuar a ler “O SONHO DO SARGENTO PIMENTA – por Danyel Guerra”
Tradição significa «passar adiante», «entregar». Neste sentido, a tradição, costumes, símbolos, memórias, hábitos, cerimónias, festas, é aquilo que passa de geração em geração.
O conjunto dos bens culturais que constituem a tradição de um grupo, de um povo, assegura a sua permanência, a continuidade de uma identidade social e cultural. Continuar a ler “OS AÇORES E AS FESTAS DO ESPIRITO SANTO – por Fernando Martinho Guimarães”
Por razões de circunstância que somente terão a ver com coincidência, nas últimas quase cinco décadas, em Portugal a palavra Liberdade surge-nos quase geminada com a palavra Primavera.
Apetece-me dizer ainda bem, pois uma e outra dizem-nos daquilo que mais belo existe na vida de uma pessoa. Há muitas outras mais, mal de nós se as não houver, mas esta duas provocam-nos um brilhozinho nos olhos e um encher d’alma. Continuar a ler “A LIBERDADE – por Manuel Igreja”
Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.
Depois da festa, sobram as cinzas, quer dizer, à exuberância carnavalesca sucede-se a míngua expiadora do jejum.
O carnaval são três dias mas, admitam comigo, ao terceiro dia ansiamos o regresso à normalidade, isto é, o regresso da tristeza. Continuar a ler “PARA UM ELOGIO DA TRISTEZA – por Fernando Martinho Guimarães”
TEXTOSTERONA
PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS
CORTESÃS E MERETRIZES
As cortesãs com boa reputação são cumuladas com as rosas de Piéria, poetadas por Safo.
As de má reputação têm de se contentar com as rosas de pilhéria. Continuar a ler “TEXTOSTERONA-PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS – III Série- por Danyel Guerra”
“Havia um jardim de Vênus, de roseiras rodeado,
o grato campo da senhora, que quem tivesse visto amava”
Floro
AMAR ANICÉE ALVINA
Que deslumbrante sinestesia. Uma noite destas, escutei no rádio, Carminho e Seu Francisco cantando a maviosa Carolina, numa interpretação timbrada pela depuração do sublimado. Inadvertida, a audição me sugeriu uma vertiginosa associação de ideias e de sentidos. Na tela da minha memória tremularam sequências de Le Jeu avec le Feu (1975), de Alain Robbe-Grillet, reavivando algumas boas lembranças cinéfilas. Continuar a ler “AMAR ANICÉE ALVINA – por Danyel Guerra”
Não sei se é uma memória real ou se é uma memória construída. Tenho a ideia de ter visto um documentário há já algum tempo em que Umberto Eco, filósofo e romancista, fazia uma visita guiada à sua biblioteca. A jornalista perguntou-lhe, se bem me lembro, de que falava aquela imensidão de livros. O autor de O Nome da Rosa respondeu-lhe que falavam de erros, enganos e mentiras. Continuar a ler “ERROS, ENGANOS E MENTIRAS – por Fernando Martinho Guimarães”
MULHERES VS HOMENS
“Na vida eu fui vítima de dois graves acidentes. O primeiro foi o choque de um tranvia com o autobus em que eu viajava. O outro foi o Diego….”
Frida Kahlo
Qual dos dois acidentes foi pior, querida Magdalena Carmen? Não precisa responder. Nós já estamos adivinhando.
o-o-o-o-o
“De la femme vient la lumière”
Louis Aragon
Merci beaucouo, Aragon. Finalmente, fico elucidado do motivo porque a conta, a fatura da luz é sempre tão elevada. Continuar a ler “TEXTOSTERONA – PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS- por Danyel Guerra”
“Os doze tiros partiram como um só. O Sr. Sauvage caiu, como um cepo, para a frente. Morissot, mais alto, oscilou, girou e desabou sobre seu camarada, com o rosto para o céu, enquanto da sua túnica, crivada no peito, se escapavam borbotões de sangue.” Guy de Maupassant
Buon Compleanno, tanti auguri, Monicelli
UM BRAVO GUERREIRO
“C’era una volta il Italia”, 1982. No Cine Eliseo de Avellino, na Irpinia, entranhas do mezzogiorno da Campania, mais uma edição do festival (também) fundado por Pier Paolo Pasolini se desdobrava. Na plateia agitava-se um público inquieto, irrequieto, participativo. Continuar a ler “UM BRAVO GUERREIRO – por Danyel Guerra”
APOLOGIA DOS CALDOS DE GALINHA…
I
Ecos no Umbral
Este artigo parece ser um pouco autobiográfico (o que não é meu costume), mas nem por isso o será. É apenas um artifício retórico para melhor dizer o que tenho a dizer. Pode levar-se tudo à conta de ficção. Peço mesmo que o faça o benévolo leitor. Acredite que tudo não passa de uma fábula da minha imaginação.
Ao longo da minha anterior “encarnação”, como professor universitário, como costumo agora dizer (espero que apenas achem graça à metáfora e não me interpretem mal), tive ocasião para conhecer muito o mundo. Continuar a ler “APOLOGIA DOS CALDOS DE GALINHA… – Paulo Ferreira da Cunha”
“Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.”
Fernando Pessoa
Começar a escrever sobre sentimentos com base neste citação de Fernando Pessoa é acreditar que podemos tornar-nos pessoas mais sadias e generosas quando partilhamos o que nos vai na alma com o outro. É sentir que numa partilha honesta de sentimentos um cresce com o outro e ambos se tornam pessoas mais sadias e honestas. Continuar a ler “FALAR SOBRE SENTIMENTOS – por Teresa Escoval”
PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS
COM TEXTOSTERONA DO AMOR
Como a vida, o amor é eterno enquanto dura.
Mas em boa verdade, ele só será mesmo eterno enquanto for terno.
o-o-o-o-o
“O amor é cura, mas também é loucura”
Sigmund Freud
Sendo verdadeira esta contradição, ela explicará porque de médico e de louco, o amor também tem um pouco.
o-o-o-o-o
No amor, um é pouco, dois é bom, três é demais. Três só não é demais num ménage à trois. Contudo, nessa triangulação, por norma, isóscélica e e até escalena, o amor, enquanto ideal, pode ter cabidela, mas, em geral, não tem cabimento.
Nunca terá havido um ménage à trois mais inusitado do que o de Alex Delarge com a Sonietta e a Marty em ‘A Clockwork Orange’ do Stanley Kubrick, ao som da abertura de ‘Guglielmo Tell’, de Rossini. Capaz de causar tonturas de tão vertiginoso. Tanto aos parceiros como aos cinespectadores. Continuar a ler “PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS – I Série – por Danyel Guerra”
“Depois da civilização de Atenas e do Renascimento,
entramos agora na civilização do derrière”
Pierrot le fou, de Jean-Luc Godard
(crônica carnevalesca)
Fim de tarde estival, sol quase no poente, na esplanada de um bar, dois clientes tomam, divertidos, um schopen Hauer* estupidamente gelado. O boteco situa-se numa praça em forma de círculo, que encanta sobremaneira um deles, cidadão caRIOca, que pela primeira vez degusta umas Trip’s à moda do Porto. Continuar a ler “UMA ROTUNDA BOA VISTA… por Danyel Guerra”
Diria que há que ter sempre um mote presente: ser um eterno aprendiz!
Isso consegue-se com humildade, sem deixar que o orgulho se aposse de si, mantendo constantemente o poder de criar e inventar. Conseguindo tornar cada dia num mundo de oportunidades e cada momento numa nova página da sua existência. Continuar a ler “COMO IRRIGAR O PRAZER DE VIVER? – Teresa Escoval”
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