TEXTOSTERONA-PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS – III Série- por Danyel Guerra

TEXTOSTERONA

        PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS

     CORTESÃS E MERETRIZES

 

As cortesãs com boa reputação são cumuladas com as rosas de Piéria, poetadas por Safo.

As de má reputação têm de se contentar com as rosas de pilhéria.

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Quando Truman Capote vendeu os direitos de ‘Breakfast at Tiffany’s’ a Paramount Pictures sugeriu o nome de Marilyn Monroe para o papel de Holly Golightly. Ao ter conhecimento da indicação, Lee Strasberg, mentor do Método, expoente do Actor’s Studio, alertou a atriz que interpretar uma prostituta, embora de alto meretrício, poderia afetar sua reputação.

Conclusão: Mrs. Norma Jeane Mortenson declinou a sugestão e optou por atuar em ‘Misfits’ (1961), de John Huston, tanto mais que a Paramount torceu o nariz a idéia.

Aos 36 anos, em pleno apogeu, ela revelou sensatez, evitando defender uma personagem susceptível de reavivar os rumores que alegam ter a sua estelar carreira  começado nos divaneios da (segunda) mais velha profissão do (i)mundo.

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A Loriana é uma rapariga que exagera na lambança. Excessos que

se agudizaram após sua devotada leitura de ‘O Caderno Rosa de

Lori Lamby’, de Hilda Hilst.

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Muitas meretrizes se distinguem pela sua vocação literária. Não apreciam mesmo nada fazer sexo oral. Preferem ser exímias no sexo escrito.

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“Atualmente, nos dias de hoje, até as prostitutas escrevem romances”

  Lygia Fagundes Telles

Escrevem, insigne Lygia?! Duvido. Elas podem assinar, melhor dizendo assassinar, mas não acredito que escrevam. No máximo escrevinham, enquanto se vêm ao espelho.

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Simone é uma garota de programa deputante e muito coolta, além de ser deveras prendada em boas maneiras sociais. Na adolescência leu ‘A História do Olho’, de Georges Bataille e aprimorou as regras de protocolo e de etiqueta estudando o ‘Manual de Civilidade destinado às Meninas para uso nas Escolas’, de Pierre Louÿs.

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Algumas cortesãs são muito polivalentes, autênticas curingas. Jogam, transam, trepam, com destreza, em múltiplas posições.

Outras ainda são muito voluntariosas. Mostram-se capazes de suar a camisola que não estão vestindo e, generosas, colocam “toda a carne no assador” do churrasco

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Muito me irrita a ignorância daqueles que classificam a prostituição como a mais velha profissão do (i)mundo. É mais um alarde de machismo.

Eles “esquecem” que o proxenetismo é, de certeza, uma profissão mais antiga, nem que seja por apenas um bom par de horas.

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“Entre as que se vendem pela prostituição e as que se vendem pelo casamento, a única diferença consiste no preço e na duração do contrato”

                                                          Simone de Beauvoir

Em países como o Brasil e Portugal, o estóico metiê do meretrício não está legalizado.

Não está legalizado?! Confesso que julgava que sim, ao atentar em muitos dos conspíquos matrimônios que florescem, pululam à nossa volta.

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Uma certa cortesã, além de ser teúda e manteúda, consegue ser teteúda e manteteúda.

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Congratulations, Mr. Donald  Trump, tão velhinho, tão senil e ainda computas. Tanto dentro como fora dos casamentos.

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Por mérito da sua deficiente alfabetização, Mrs. Melanjia Knavs só teve competência para ler um livro na vida,  ‘The Cheque  Book’, da autoria do insigne escrotor Donald John Trump. Não e$panta ninguém que ela $ó con$iga entender o$ cifrõe$ e  o$ número$ com muito$ zero$ à direita.

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A prática do meretricío está muito mais generalizada do que pensam imensas almas ingênuas.

Prostitutas/os não são só aquelas/es que vendem ou alugam as genitálias. É também prostituição, a venda, o aluguel do nosso cérebro, da nossa consciência.

A única iníqua forma de prostituição é a intelectual.

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Ninguém diga que quem se prostitui não trabalha. Especialmente árdua é a (má)vida daquelas/es que são compelidas/os a ter e a manter relações, aliás, ralações sexuais afetivamente não desejadas só para ganhar ou manter um emprego.

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“As putas ao Poder, porque os filhos já lá estão”

Grafitada pelos anarquistas nos muros e paredes, esta palavra de ordem  foi uma das mais assertivas do Portugal pós-25 de abril.

Hoje, ela tem de ser atualizada para continuar sendo eficazmente verdadeira.

“As putas ao Phoder, porque os netos e os bisnetos já lá estão”

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A Barbie já se tornou uma sexygenária. Ao entrar na casa dos sexyssenta, ela comentou que apesar de a terem feito toda boazuda, só consegue abrir as pernas para a frente e para trás.

Pois é, D. Barbie, se a Senhora também conseguisse abrir as pernas para os lados, para a esquerda e para a direita, qual seria a sua tarifa ? Seria certamente mais elevada que a atual.

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Querer é poder, dispõe o ditado. Contudo, em inúmeras ocasiões, querer não é phoder… As cortesãs costumam ser testemunhas desse dilema sexexistencial.

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Também devido a crescente concorrência, nos tempos atuais, o ofício de cortesã e de mertetriz é de desgaste muito rápido, volátil. As acompanhantes de luxxxo, por exemplo, se tornam, da noite para o dia, acompanhantes de lixxxo. Após serem agentes da luxxxúria, depressa ficam totalmente lixxxadas.

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Depõe a legenda que a 23 de dezembro de 1888,  Vincent Van Grogh, perdão, Gogh, cortou uma orelha e a enviou um bom pedaço a uma prostituta, como presente de Natal. Ela quase desmaiou de horror ao abrir o embrulho. De horror ou de decepção? É que talvez ela tivesse preferido ser presenteada com o membro pendente nas partes pudendas do avinhado pintor.

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Dânae  é uma prostituta apta, disponível para todo o serviço. Topa a tudo exceto “chuva dourada”. É que ela receia engravidar pelos poros da pele, à exemplo do que aconteceu com a homônima princesa helênica, fecundada dessa maneira, por Zeus.

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Qual é a diferença entre um TS, tarado sexual, e um TS, tarado sucialista?

Fechando o livro ‘Ash Wednesday’, de T.S.Eliot, a cortesã Virgínia mostra-se categórica na resposta:

“O tarado sexual subsidia a profissão, prestigiando a nossa categoria. O tarado sucialista pretende acabar com ela, mas antes tenta levar vantagem, com alguns serviços de graça.”

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“Só os marxistas de galinheiro atribuem à prostituição causas econômicas. Há mulheres que pagariam para ter essa profissão”

Nelson Rodrigues

Ignoro se há mulheres que pagariam para a ter, Lord Nelson. Mas garanto que muitas pagariam para não a deixarem de ter.

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Em França, Marguerite Steinheil era tão destra na confecção de broches, que um dos presenteados com suas cortesias morreu extasiado durante o ato…de entrega da joia. O feliz privilegiado, seu fiel freguês, dava pelo nome de Felix Faure, ilustre presidente da República francesa.

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A Amélia é que era uma cortesona de verdade. Cortesona? Exato, uma cortesã muito tesona. Tinha um tesão inapagável e impagável.

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Numa das suas provocadoras reflexões, Nelson Rodrigues observa que “nenhuma mulher trai por amor ou desamor. O que há é o apelo milenar, a nostalgia da prostituta, que existe ainda na mais pura.”

Sem concordar nem discordar deste pensamento rodrigueano, eu prefiro apenas desejar que exista, ainda na mais prostituta, o apelo milenar, a nostalgia da pureza.

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Danyel Guerra (aka Danni Guerra) Faz parte do Conselho Editorial de Athena. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Tem uma licenciatura em História Universal da Infâmia pela FLUP. É jornalista nas horas (mal) pagas e autor literário nas horas com vagas.
Publicou os livros ‘Tomás Gonzaga-Em Busca da Musa Clio´’, ‘ Amor, Città Aperta’, ‘O Céu sobre Berlin’, ‘Excitações Klimtorianas’, ‘O Apojo das Ninfas’, ‘Oito e demy’, ‘Fernando de Barros-O Português do Cinemoda’ e ‘Os Homens da Minha Vida’.