CARTOGRAFÍAS Y ABISMOS DE RONALDO CAGIANO – por José Pérez

 

CARTOGRAFÍAS Y ABISMOS DE RONALDO CAGIANO

-I-

MAPAS Y EXTRAVÍOS O LOS LABERINTOS DEL SER

Si tuviéramos que trazar una línea sobre algún mapa de la tierra para sentarnos a esperar la poesía de Ronaldo Cagiano, habría que pintar un círculo en el vacío y esperarlo dentro. Tal vez la tarde, el tiempo todo, no bastarían para el encuentro. Tendríamos que remontarnos a una estación de trenes de París, la Denfert-Rochereau, bajo un laberinto de huesos, o más allá, en el camposanto Père-Lachaise, de la Rue du Repos, durante el otoño de 2018, mientras busca los enigmas del suicidio del escritor persa  Sadegh Hedayat, ocurrido en 1951; o antes, en febrero de 2013, en Nuremberg, para confesarle a T. S. Eliot que el siglo veinte es el más asqueroso de los siglos, por sus matemáticas salvajes (en cuya cuenta caben horrores, bombas nucleares, guerras, muertes, hambrunas, náuseas, escándalos, naufragios, hegemonías, oscuridad, vacíos, esquematismos, vértigos y abismos); o en Barcelona, España, donde se le adviene en patadas en la frente las manzanas de Apple y la bíblica de Adán y Eva, como signos de las contrariedades e incertidumbres; o  incluso, más atrás, enero de 2011, en Lisboa, náufrago en el tedio de existir; poseído por lo que él llama una soledad atlántica, que lo remite a la infancia, donde seguramente lo hallaremos un día de 1961 —el 15 de abril, hace exactamente 60 años—, saliendo del útero materno, en su pequeño pueblo de Cataguases, frente al valle de Paraiba do Sul, del estado de Minas Gerais, y las sierras y colinas de Mantiqueira, Onça, Neblina y Santa Bárbara, en el sudeste de Brasil; en cuyos pies el río Pomba—que arrastra en su discurrir los riachuelos Meia Petaca, Romualdinho y Lava-Pés— le abre un libro acuático para que navegue la dura senda de la vida. Así lo establece, de manera ácida y árida, quejumbrosa y sentida, sentenciosa y epigramática, en su poema “OUTRAS LIÇÕES DO ABISMO”, en el que el río y el pueblo — Pomba y Catahuases—, discurren por igual en la suma del dolor y el destierro. Continuar a ler “CARTOGRAFÍAS Y ABISMOS DE RONALDO CAGIANO – por José Pérez”

OS 4 CAVALEIROS DE CARLOS MAGNO – por Rosa Sampaio Torres

Cavalaria carolíngia. Ilustração do salmo 60 no Saltério Dourado de St.Gallen c. 890

OS 4 CAVALEIROS APOIADORES DE CARLOS MAGNO EM SUA MARCHA PARA ITÁLIA NO SÉCULO VIII

 

  O arcebispo Wilkarius

“O Espada Gloriosa”

O arcebispo Wilkarius, Warin III de Thurgau, o capelão Foraldus, e Adalardus – todos da cepa wido de Hesbaye

  

Neste ensaio pretendemos ressaltar a figura do guerreiro e religioso Wilcharius, um dos quatro cavaleiros religiosos e apoiadores Carlos Magno em sua descida para a Itália. Nesta oportunidade sugerimos sua associação aos quatros cavaleiros religiosos lembrados pelo historiador Giovanni Cavalcanti no século XV (6), saídos próximo de Colônia, do castelo St. Gilles. Continuar a ler “OS 4 CAVALEIROS DE CARLOS MAGNO – por Rosa Sampaio Torres”

A POETISA E SEU SACERDÓCIO – por Eric Ponty

Thereza Christina Rocque da Motta

Com sua Poesia Reunida, Thereza Christina Rocque da Motta, está completando o seu Sacerdócio previsto por Olga Savary sendo-lhe uma vida dedicada como nessa citação lapidar:

 Poesia: magia prolixa, progresso do sol, não se constrói a partir de certezas, mas sim através das interrogações e esquadrinhamentos que, estes sim, nos fazem crescer. O poema é feito pelo poeta e, se todos os que estão ouvindo seu texto falam a mesma língua e estão na mesma sintonia, poderão estar entendendo em uníssono o poema. Continuar a ler “A POETISA E SEU SACERDÓCIO – por Eric Ponty”

EL ROL DEL NIñO DENTRO DEL CINE – por Claudia Vila Molina

El rol del niño dentro del cine: un producto de las condiciones sociales y políticas del contexto.

Charlie Chaplin e Jacquie Coogan no filme “The Boy”,

Las películas seleccionadas tienen como eje fundamental la figura del niño y  se desea demostrar cómo este arquetipo se desarrolla de diferentes maneras en los films The Kid de Charles Chaplin, El acorazado del Potemkin de Serguei M. Eisenstein y Alemania año cero de Roberto Rossellini. Continuar a ler “EL ROL DEL NIñO DENTRO DEL CINE – por Claudia Vila Molina”

MODA INTEMPORAL – sobre o erótico – por Eric Ponty

Jardim das Delícias Terrenas by Hieronymus Bosch

Este artigo se dá por meio duma reflexão, como a forma erótica se perfez ao longo dos séculos, por uma forma velada que beira a pornografia quando ouvimos, por exemplo esse versos que refiz por serem tão chulos não merecem reprodução que ouvi por acaso na minha morada, não sei quem são seus autores de péssimo gosto baixo nível cuja decadência ressoa nos rádios do Brasil demostrando quanto pertinente se faz a reflexão Adorniana, quando esse reflete, aqui o parafraseamos em que “quando mais totalitária for sociedade em que vivemos tanto mais reificado será também o nosso espírito, e tanto mais paradoxal será nosso intento de escaparmos dessa reificação. Mesmo a mais extremada consciência do perigo corre o risco de degenerar em reflexão vazia; contudo vamos aos dois versos chulos que ressoam na rádio do Brasil. Continuar a ler “MODA INTEMPORAL – sobre o erótico – por Eric Ponty”

A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (conclusão)- por Francisco Traverso Fuchs

Keith Jarrett – The Köln Concert (foto: Wolfgang Frankenstein)

(Clique AQUI para ler a 1ª Parte)

  1. Cultura como resolução de problemas

Embora possua aspectos sombrios, a cultura é muito mais do que uma fonte permanente de conflitos. Uma cultura pode ser descrita como uma maneira peculiar de propor e solucionar problemas. Desse ponto de vista, a riqueza da chamada diversidade cultural nada mais seria do que a expressão da variedade de soluções propostas pelas diversas culturas. Por exemplo, diferentes estratégias de caça e de coleta e, posteriormente, diferentes técnicas de plantio e de pastoreio fornecem soluções distintas ao problema da alimentação; técnicas de combate propõem soluções para o problema da guerra, e técnicas de cura propõem soluções para os problemas de saúde. Continuar a ler “A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (conclusão)- por Francisco Traverso Fuchs”

Waldemar Bastos – guitarra, voz, canção! – por Hilton Fortuna Daniel

Não me lembrando exactamente do dia – mas do facto – podendo ter sido numa terça, quarta, sexta-feira – talvez num sábado – à hora do almoço, estava eu a trabalhar. Cerca de uma vintena de restaurantes dos dois lados da mítica Rua Augusta adornavam o percurso dos turistas americanos, britânicos, italianos, franceses, nórdicos, belgas, japoneses, chineses e espanhóis, numa aglomeração à indiana à procura da inigualável sardinha à portuguesa e do melhor daquela culinária. Boa aura. Continuar a ler “Waldemar Bastos – guitarra, voz, canção! – por Hilton Fortuna Daniel”

O CASTELO DE SAN GIGLIO – por Rosa Sampaio Torres

As origens da dinastia franco-borgonhesa “wido” (guido) nas proximidades de Colônia

O Castelo de San Giglio a Quinze milhas de Colônia

    Rosa Maria Gusmão de Sampaio Torres

 Marcelo Bezerra Cavalcanti

Depois de vários trabalhos realizados que confirmam as informações registradas por historiador e cronista da família, Giovanni di Nicolo Cavalcanti do sec.XV, mais uma vez  citamos suas palavras tendo em vista ainda confirmá-lo. Afirma Giovanni di Nicolo: Continuar a ler “O CASTELO DE SAN GIGLIO – por Rosa Sampaio Torres”

A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (1ª PARTE) – por Francisco Traverso Fuchs

                                                     Cueva de las Manos (Argentina)
  1. O bárbaro como barbarófono

Com um didatismo pouco comum em obras do gênero, o dicionário Le Grand Robert de la langue française (2001) adverte seus leitores de que um dos sentidos da palavra “bárbaro” (homem “incapaz de apreciar as belezas da arte”, grosseiro, bruto, ignorante) “envelheceu por causa da evolução dos juízos referentes a sociedades e culturas diferentes”. Mas se atentarmos às rubricas utilizadas nas diversas acepções do verbete barbare (“envelhecido”, “histórico”, “arcaísmo”), veremos que as marcas de caducidade estão presentes em praticamente todos os sentidos do vocábulo. Continuar a ler “A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (1ª PARTE) – por Francisco Traverso Fuchs”

DEMOCRACIAS AFRICANAS – Germano Rangel Chio Correia

Bases das democracias africanas em análise: o caso angolano em perspectiva comparada

  1. Introdução

Ao longo dos tempos, o termo “democracia” tem acarretado diversos pendores, conceitos e interpretações conforme a geografia e o contexto, no entanto, falaremos sobre as bases de uma democracia típica africana diferente da ocidental, entendida, esta última, como sendo uma democracia plena, republicana, nacional e que observa o primado pelas autarquias e referendos. Contudo, por serem diferentes entre os países africanos, registam avanços e recuos na comparação com o modelo europeu e tradicional africano, respectivamente. Continuar a ler “DEMOCRACIAS AFRICANAS – Germano Rangel Chio Correia”

O CICLO MÍTICO DE ÉDIPO – por Jaime Vaz Brasil

  “Aceitar a idéia do Complexo de Édipo sem compreender o mito e a peça de onde  Freud tirou seu nome é uma forma de aceitar a psicanálise sem tentar alcançar o seu mais profundo significado[1][1]”.      

Bruno Bettelheim

I. De Tântalo até Laio

A história do ciclo mítico de Édipo marca seu início com Tântalo[2][2], filho de Júpiter e da ninfa Plota, e considerado um amigo dos deuses. Conta a mitologia que, para testar-lhes a ubiqüidade, matou o próprio filho (Pélope[3][3]) e serviu-o em um banquete, com  grandes requintes, onde os deuses foram os convidados especiais[4][4]. A intenção, desta forma, seria ver se realmente os deuses possuíam clarividência plena, sabiam de tudo e estavam em todos os lugares ao mesmo tempo. O preço deste “teste” é bastante alto: o assassinato do próprio filho e a possibilidade de ser descoberto e punido. Continuar a ler “O CICLO MÍTICO DE ÉDIPO – por Jaime Vaz Brasil”

UM ISOLAMENTO SOCIAL FILOSÓFICO – por Luiz Henrique Santana

O que é filosofia?

Eu, minha consciência, meu eu lírico, meu alter ego, meu ser, corresponde a um tempo, a atualidade da minha existência. Nesse momento, o mundo  se encontra em um estado antifilosófico, anti-pensamento, anti-intelectualismo. O pensamento de caráter (indagativo) e questionador-reflexivo referente às estruturas nas quais a sociedade se sustenta é quase nulo, em pouco as pessoas são instigadas em construir um pensamento crítico, consistente e relevante sobre o sistema político-social-econômico-histórico-cultural e étnico vigente. Nunca a filosofia foi tão importante quanto hoje, em um tempo no qual as pessoas estão habituadas com o pensamento pronto e com os discursos rasos. Continuar a ler “UM ISOLAMENTO SOCIAL FILOSÓFICO – por Luiz Henrique Santana”

SÉANCES: DISCURSO SOBRE O INVISÍVEL – Ana Tomás

NO VALE DO SWAT,

NOROESTE DO PAQUISTÃO (i)

Paisagem Noturna I, vale do Swat, Paquistão, 2013.

Hora do silêncio, do luar e dos fantasmas, da profunda e absoluta Identidade…

Através do meu ser, mais vago do que o éter, gravitam as estrelas e os sonhos, palpitam brancas asas de Anjos, negras asas de Demónios, nublosas formas transparentes, que são árvores, flores, criaturas na sua ancestral quimera! Continuar a ler “SÉANCES: DISCURSO SOBRE O INVISÍVEL – Ana Tomás”

REFLEXÕES EM TORNO DAS PANDEMIAS – por Cecília Barreira

La fin du monde | Gao Xingjian, 2006

Há muitos anos, séculos e séculos, que se referem as pandemias, os fins do mundo, o apocalipse.

Por exemplo na obra de Peter Brannen Os Fins do Mundo de 2017 (Bizâncio, 2019) referenciam-se quase todos os apocalipses da História. A derradeira extinção daqui a supostamente 800 milhões de anos terá de ver com a impossibilidade da fotossíntese e temperaturas muito altas. A hipótese de algum cometa colidir com a Terra. Continuar a ler “REFLEXÕES EM TORNO DAS PANDEMIAS – por Cecília Barreira”

VINTE ANOS DA NONA GERAÇÃO NO BRASIL- Prólogo e Tradução de Floriano Martins

Prólogo e Tradução de Floriano Martins

NOTAS DE ACCESO

(uma galeria marginal de tipos)

Quantos personagens pontuam nossa existência com a lucidez fantasiosa de suas influências? Quantas vezes nos sentimos como protagonistas da mais absurda ficção?  Creio que mais nos identificamos com a irrealidade suposta do ficcional do que propriamente nos reconhecemos em um ou outro personagem, esta última me parecendo quase sempre uma leitura meramente intelectualizada do assunto. De fato, consideramos mais irreal nossa existência do que real a ficção. A medida da realidade estaria então no grau do relacionamento do homem consigo mesmo. Indagar “como se faz um conto”? equivale a buscar um padrão de realidade. Continuar a ler “VINTE ANOS DA NONA GERAÇÃO NO BRASIL- Prólogo e Tradução de Floriano Martins”

PODEM ADIAR O FIM DO MUNDO? – por Luiz Henrique Santana

Eu conto: os estudos literários podem adiar o fim do mundo?

A curiosidade inquieta, incomoda e, por conta disso, nos motiva na construção do conhecimento, seja ele formal ou informal. Dito isso, não faz muito tempo, uma questão foi levantada após a apresentação de alguns trabalhos de literatura. Essa questão tem me inquietado bastante. Há cerca de um ano faço parte de um grupo de pesquisa que busca, dentre os vários movimentos da literatura, como: escolas literárias e as fases da teoria literária, entender a essência constituinte da arte literária, isto é, a metaliteratura. A pluralidade de pensamentos, a inquietude e os questionamentos são as molas propulsoras do grupo. Continuar a ler “PODEM ADIAR O FIM DO MUNDO? – por Luiz Henrique Santana”

O Castelo du Grand Perron – Rosa Sampaio Torres

O Castelo du Grand Perron

O presente artigo pretende chamar a atenção do leitor para a precursora atuação republicana do intelectual e conspirador florentino Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti – empenho republicano que obteve até mesmo o reconhecimento, paradoxalmente, de uma rainha. O artigo apresenta como pano de fundo o Chateau du Grand Perron – castelo comprado por Bartolomeo na França, que descobrimos ainda se mantém em relativo estado de conservação.

Sobre as relações de amizade entre rainha da França, Catarina de Médici, e a família Cavalcanti de Bartolomeo muito há a ser recordado.

O reconhecimento de Catarina de Médici aos membros da família Cavalcanti – especialmente Mainardo, pai, e seu filho Bartolomeo por terem salvado sua vida quando ainda uma criança é assunto de relevância histórica, merecedor de estudos aprofundados. A pequena Catarina esteve refém nas mãos de revolucionários radicais republicanos quando dos episódios da Republica Florentina de 1530-37, tema já abordado em nossos artigos “Médici x Cavalcanti”, “Bartolomeo Cavalcanti” e “Conspiração Pucci & Cavalcanti” – artigos publicados em nosso blog com todas as fontes.

Em “Bartolomeu Cavalcanti” mencionamos que revoltosos mais radicais ameaçaram a pequena Catarina de ser baixada numa canastra nas muralhas da cidade, frente à tropa, ou mesmo de ser enviada para um bordel militar. Por fim, a muito jovem Catarina foi obrigada a desfilar no meio de turba enfurecida. Por intervenção de Mainardo e Bartolomeu Cavalcanti, lideres revolucionários, mas não radicais, a revolução fora por fim abreviada.

Catarina ao crescer tornara-se Rainha da França. Para seu casamento convidou Bartolomeu, que nesta ocasião foi até mesmo homenageado publicamente. Levara ele no cortejo do casamento de Catarina para a França sua pequena filha Lucrecia e um pequeno filho do seu parente Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, do ramo Cavalleschi – parente que já estava também a perigo político em Florença frente aos prepotentes Médici, de ramo mais tarde migrado para o Brasil. Continuar a ler “O Castelo du Grand Perron – Rosa Sampaio Torres”

“Com Navalhas e Navios” (recensão) de Fernando Martinho Guimarães

Com Navalhas e Navios é uma colectânea, uma antologia, uma «poesia reunida», que compreende parte da produção poética de Urbano Bettencourt, desde o volume inaugural de 1972, Raiz de Mágoa, até ao livro África e Verso, de 2012. Encontramos, ainda, no seu fecho, uma série de 5 poemas dispersos. E em nota final, diz-nos o autor que deixou de fora um conjunto de poemas, principalmente dos seus dois primeiros livros, o já referido Raiz de Mágoa e o Marinheiro com Residência Fixa, de 1980. Mais nos diz que, na recolha de poemas que constitui este Com Navalhas e Navios não está a maior parte dos seus textos poéticos em prosa e algumas narrativas breves. Promete-se, nesta nota, que em devido tempo virão a lume, reunidos e reorganizados. O prometido é devido e ficamos nós, seus leitores, a aguardar. Continuar a ler ““Com Navalhas e Navios” (recensão) de Fernando Martinho Guimarães”

REVISITAR MACHADO, EÇA E KAFKA – Hilton Fortuna Daniel

REVISITAR OS SÉCULOS XIX E XX PELAS NARRATIVAS DE MACHADO, EÇA E KAFKA

  1. Introdução

Este estudo inscreve-se num quadro de análise teórico-pragmática, assumindo aqui uma visão de literatura comparada, a qual tem por objetivo revisitar o imaginário da criação artística ocidental dos séculos XIX/XX, compreender a sua influência, contribuição e transversalidade para aquilo que se afigura como momento de recessão a nível do poder de criação artística situada na literatura do século XXI. Com efeito, a literatura tem vindo a assumir uma amplitude e extensão que muito pouco de relevante transparecem para a realidade e utilidade humana nos dias atuais. Ou os séculos XIX e XX produziram o bastante, ou o século XXI não faz por merecer. Continuar a ler “REVISITAR MACHADO, EÇA E KAFKA – Hilton Fortuna Daniel”

QUE CRISTIANISMO É ESSE?- por Luiz Henrique Santana

Recentemente alguns pensamentos têm tomado conta da minha mente, tais como: de que maneira eu posso parar de me cobrar tanto, de que forma a sociedade chegou a esse ponto e que evangelho institucionalizado é esse? Confesso que este último tem me preocupado bastante! A institucionalização do cristianismo é um fato histórico que se inicia em Roma com a oficialização da doutrina cristã como a religião do Império romano pelo imperador Constantino. Penso que foi nesse ponto que os ideais do rabi Jesus Cristo começaram a se engessar, enrijecer e burocratizar. Continuar a ler “QUE CRISTIANISMO É ESSE?- por Luiz Henrique Santana”

DA DRAMATOLOGIA- PARTE I – por Castro Guedes

Comecemos por desfazer o carácter equívoco da palavra dramaturgia, usada em Portugal indistintamente entre o significado próprio (a escrita do texto teatral) e a dramatologia, expressão brasileira bem mais adequada ao estudo da lógica do texto, da análise dramatúrgica, que, muitas vezes, aparece, entre nós, como dramaturgia, à mesma. Perpendicularmente outro equívoco resulta da forma de encarar o texto teatral como literatura dramática, que, como a palavra indica, se contém como um género dentro da literatura. Coisa diferente do que é um texto para cena, a que o carácter literário se acrescenta como uma segunda qualidade, sendo a primeira a da sua funcionalidade para cena. Porque um texto para cena é, por exemplo, um texto de Shakespeare, por mais poético e literariamente valioso que seja; e é. Continuar a ler “DA DRAMATOLOGIA- PARTE I – por Castro Guedes”

RENDIMENTO BÁSICO INCONDICIONAL (RBI) – por Fernando Martinho Guimarães

Óleo sobre Tela. “Mendigos junto ao mar” de Pablo Picasso, 1903.

Apesar dos muitos problemas e falhanços sociais, políticos e económicos que vemos por este mundo fora, é inegável o progresso nas condições de acesso a uma vida melhor de muitos dos nossos semelhantes.

Estes avanços são particularmente visíveis nos domínios da saúde, da educação, na melhoria dos rendimentos e, por via disso, nos ganhos ao nível da igualdade de oportunidades e da capacidade de escolha, da liberdade.

Contudo, esta evidência não nos autoriza a acomodarmo-nos num optimismo ideológico que, por definição, esconde que muitos desses problemas sociais e económicos persistem e, em muitos aspectos, tendem a agravar-se.

Desde logo, a natureza do trabalho que o futuro promete. A inteligência artificial e a robotização trarão, trazem já, mudanças profundas no acesso ao trabalho e, com isso, ao rendimento disponível.

A exclusão social e a pobreza, realidades de hoje e ameaças quase certas de amanhã, obrigam-nos a reflectir sobre instrumentos possíveis para as minimizar ou, desejavelmente, as anular.

Ora, um dos instrumentos que tem vindo a ser cada vez mais debatido é a ideia de um rendimento básico universal e incondicionado.

A ideia é simples: a sociedade, o Estado, transfere directamente para cada indivíduo uma determinada quantia em dinheiro e esta transferência é universal e incondicionada. Empregado ou desempregado, rico ou pobre, todos receberiam mensalmente e sem condições esse rendimento básico.

É preciso dizer que esta ideia tem sido já experimentada em programas-piloto com sucesso desigual.

A Finlândia fez a experiência, só para desempregados, tendo abandonado o programa. A Escócia pondera levar à prática a ideia e a Suíça chegou mesmo a referendar o projecto do RBI que foi rejeitado por não estar especificado de onde vinha o dinheiro e qual o valor a ser distribuído.

Como em quase tudo que tem a ver com as questões sociais e políticas, encontramos argumentos a favor e argumentos contra.

Todos conhecemos a sentença segundo a qual não se deve dar peixe a quem dele precisa, mas sim ensinar a pescar. O que a sentença não diz é que para pescar é preciso cana, fio, anzol e isco. E muitos de nós não temos nada disso!

O rendimento mínimo garantido ou rendimento de inserção social deveriam ser a cana, o fio, o anzol e o isco, mas não são. Os sucessivos e intermináveis programas de combate à pobreza e exclusão social também não parece que o sejam.

A transferência directa e incondicionada dum rendimento mensal permitiria eliminar muitas das entidades intermediárias que levam as prestações sociais às pessoas. Para além de eficaz, afastaria o estigma social que está sempre associado a um sistema providencialista e mesmo assistencialista.

É que a pobreza custa muito dinheiro, nos custos da saúde, no insucesso escolar, nas taxas de criminalidade. O RBI, dizem os seus defensores, permitiria, se não eliminar, pelo menos reduzir drasticamente as consequências negativas associadas à pobreza.

Por outro lado, os críticos apontam objecções de natureza ética e política.

O RBI é imoral porque promove modos de vida baseados no ócio e na preguiça e, ainda, porque não incentiva à procura de trabalho. É possível que assim seja, mas não é certo que seja assim!

A objecção de natureza política é mais forte: se não é obrigatório trabalhar, então isso é injusto, uma vez que para que uns possam viver na ociosidade, outros têm de trabalhar.

Talvez haja aqui alguma injustiça, mas um sistema justo é aquele que maximiza a igualdade de oportunidades e a liberdade. E a sociedade que temos hoje é, indiscutivelmente, profundamente injusta!

Ponta Delgada, Fernando Martinho Guimarães

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Fernando Martinho Guimarães (1960) Nascido transmontano (Alijó, Vila Real), foi na cidade do Porto que viveu até aos princípios dos anos 80. De formação filosófi­ca e literária, a sua produção ensaística e poética reflecte essa duplicidade. Com colaboração dispersa, no Letras & Letras (Porto), revista Vértice e Parnasur (Revista literária galaico-portuguesa), no Suplemento Açoriano de Cultura do Correio dos Açores, passando pelo jornal Horizonte (Cidade da Praia, Cabo Verde), tem dedicado a sua actividade ensaística à poesia portuguesa e galega. De entre os portugue­ses é de destacar a poesia de António Ramos Rosa que foi tema da tese de Mestrado em Literatura e Cultura Portuguesa Contemporânea. Da poesia galega, a sua ensaística tem incidi­do sobre a poesia de Luisa Villalta (I Jornadas de Letras Gale­gas de Lisboa, 1998) e a de Manuel António (Colóquio Escritas do Rio Atlântico, Funchal, 2001).

Publicou em 1996 A Invenção da Morte (ensaio), em 2000 56 Poemas, em 2003 Ilhas Suspensas (edição bilingue, cas­telhano/português), em 2005 Apenas um Tédio que a doer não chega e em 2008 Crónicas.

LA POESIA EN EL CANTAR DE LOS CANTARES – por Moisés Cárdenas

La poesía es arte milenario, misterio, espíritu sensible, llamarada inmortal. La poesía está en el universo. En los planetas alrededor del sol, en los millares de estrellas, en los símbolos escritos en las cuevas, en los jeroglíficos de las pirámides, en los antiguos pergaminos, en los rollos del Mar Muerto, en la puesta del sol, en un eclipse lunar, en el beso de la amada. Continuar a ler “LA POESIA EN EL CANTAR DE LOS CANTARES – por Moisés Cárdenas”

“ANUNCIAÇÃO CAVALCANTI”, DE DONATELLO – por Rosa Sampaio Torres

Introdução

Recentemente tive oportunidade de ultimar artigo referente às capelas da antiga família Cavalcanti em Florença.

Nesta ocasião inventariei  importantes peças artísticas encomendadas por esta importante familia florentina. Entre essas peças de arte sobressaíram na ocasião três delas, magníficas – obras que considero historicamente significativas, merecedoras de trabalho detalhado para um publico ampliado – até mesmo visitação especial quando em viagem à Florença. Nesse presente artigo apresento uma delas. Continuar a ler ““ANUNCIAÇÃO CAVALCANTI”, DE DONATELLO – por Rosa Sampaio Torres”

JUNG E OS SERTÕES – I PARTE – por Marilene Caon

Chapada Diamantina – BA  – Fotografia de André Dib

ESTUDO INTERPRETATIVO DE “OS SERTÓES” DE EUCLIDES DA CUNHA SEGUNDO O REFERENCIAL TEÓRICO DO PSICANALISTA CARL GUSTAV JUNG

1ª PARTE

Dividido em três partes, a Terra, o Homem e a luta, o livro encerra uma estrutura dialética em que o “martírio secular da Terra” sobre aquele que é “antes de tudo um forte” pode ser lido assim: a Pátria martiriza o povo até o ponto emj que explode a luta.

Essa divisão interna é influência do historiador francês Taine, o qual formulou no seu livro de 1863, “Histoire de La Littérature Anglaise”, a concepção naturalista da história, teoria na qual são três os fatores determinantes: meio, raça e momento. É também desse mesmo historiador a citação que expõe a ideia de que o “narrador sincero” deveria ser capaz de se sentir como um bárbaro entre os bárbaros, um antigo entre os antigos, para ter tido a capacidade de escrever com tal realismo e emoção. Ou seja, ter tido a capacidade de vivenciar a experiência para poder reter em seu intelecto a forma. Continuar a ler “JUNG E OS SERTÕES – I PARTE – por Marilene Caon”

O QUE SIGNIFICA (MAL) LER E ESCREVER? – por Francisco Fuchs

A ambigüidade no título deste pequeno artigo é deliberada. Sua construção confunde, ou melhor, complica três possibilidades: ele pode referir-se a gente que lê e escreve mal; a gente que mal lê e escreve; e, por omissão do parêntese, aos atos de ler e escrever em geral. Também há nele uma pontinha de provocação: afinal, é bastante provável que, nos dias de hoje, semelhante título saiba ao leitor não apenas ambíguo, mas francamente antipático. Sim, há gente que pouco se interessa pela leitura e pela escrita, e gente que, embora pratique rotineiramente as duas atividades, interpreta mal o que lê e não consegue dar ao seu pensamento uma forma, senão elegante, ao menos fluente e precisa; mas apontar a essas pessoas um dedo acusador não resultaria numa espécie de elitismo excludente que nenhum bem pode fazer a elas e à sociedade? Continuar a ler “O QUE SIGNIFICA (MAL) LER E ESCREVER? – por Francisco Fuchs”