AMOR É LIBERDADE – por Teresa Escoval

“Porta para o mundo paralelo” de Mário Cesariny

Para mim o amor é liberdade, porque só alguém livre é capaz de receber com a mesma gratidão com que doa. É um sentimento que quando ambos sabem amar do mesmo jeito, permite sentir respeito pelo ser interior da outra pessoa e, em simultâneo, deixar o seu interior também intocável. Se isso acontece qualquer dos dois pode tomar decisões sem que isso provoque mágoa no outro, porque há respeito pela privacidade e pelo crescimento individual de cada um, mas também há partilha e crescimento conjunto, enquanto casal amoroso. Ambos já conseguem amar incondicionalmente.

Se há algo que um tem de permitir ao outro e vice-versa é apenas que cada um fique do tamanho certo. Ou seja, ambos devem sentir-se de igual para igual, grandes e a crescer na mesma medida. É sentirem que esse amor é nutrido na aceitação, gratidão, alegria e respeito. É amar sem condições e sem limites, sem críticas nem exigências, dando-se e doando-se com compreensão, carinho, sã e transparente vivência e pela construção de um caminho conjunto.

Quando o par amoroso aceita o Presente de cada um, sem haver posse, carência, apego, ciúme, exigência, quer dizer que esse amor permanece com solidez, com consciência de que há equilíbrio entre o dar e o receber. Tudo é fresco, suave, vital, consistente e alegre.

É um amor que cuida, que está atento, que quer ficar por perto, que se sente completo, que dá força para seguir em frente e implementar sonhos individuais e conjuntos. É um amor que não absorve, completa.

É necessário que cada um ande o seu próprio caminho, para que o amor possa guiar os passos de cada. Pois aquele que por outro é guiado (aqui usado o termo no sentido do controle), não pode falar de amor; mas de submissão. Como aquele que busca impor a sua vontade, não procede em nome do amor; mas das suas próprias carências.

Eis que a plenitude não pode brotar senão de si própria. E como poderemos conhecer a plenitude do amor, se cada um de nós não estiver pleno em si mesmo?

Precisamos compreender então o significado de liberdade. Precisamos descobrir sozinhos o que significa amar, porque se não amarmos, nunca seremos atentos, e pior, nunca seremos gratos.

Mas, o que significa ser atento? Significa que dou sem que me peçam algo que o outro necessita. É ter a sensibilidade para perceber os movimentos ao seu redor e os movimentos da vida. É sentir que o amor é uma força inesgotável em si.

Citando Osho: “O amor não é uma quantidade, mas uma qualidade! Qualidade de uma certa categoria que cresce ao se dar e morre se você a segura. Seja realmente esbanjador!

Deixe que o amor seja uma ajuda para seu crescimento espiritual. Deixe que o amor se torne um alimento para o seu coração, a coragem de se abrir à vida em todo o seu esplendor.

E, ao doar-me assim, recebo o melhor do outro, todo o seu amor e impecabilidade. A vivência deste amor em plenitude, permite-nos manter a liberdade e termos a certeza de que está nas nossas mãos a grande árvore da vida! Essa árvore é fruto das nossas escolhas.

Nesta minha aprendizagem terrena e de evolução, concluí que a verdadeira liberdade é a que nos faz crescer humanamente e que nos dá paz e amor para avançar a cada momento, inteiros, completos e felizes e nos permite irradiar isso aos demais.

Por isso, posso dizer-vos que é necessário prestar atenção em tudo o que nos rodeia, centrarmo-nos só naquilo que queremos que aconteça, desejar o que nos acrescenta valor e nos faz sentir feliz, ao mesmo tempo que curamos as crenças  que trazemos nas nossas memórias, que curamos padrões culturais e familiares que nos foram uteis em termos de aprendizagem mas que agora temos de largar e deixar ir, para que o nosso caminho seja mais leve, tranquilo e doce.

Aprendi a perguntar-me, antes de agir, se é mesmo aquilo que desejo e sinto que é o melhor para mim. Permito-me ficar em silencio e escutar a resposta, sem que a lógica me tente sabotar. Hoje sei que só eu sou dona do meu poder pessoal e nada nem ninguém tem o poder suficiente para impedir-me de fazer o que desejo e o que mereço.

Logo, sei que a decisão é correcta se ela me permite ficar em paz e em amor! E tomo-a no presente! Hoje, mais uma vez, permito-me amar-me e amar-te. Permito-me a abertura de Consciência para tudo, para o novo e vital na minha vida.

Assim sendo, ouso deixar-te aqui algumas questões que te podem vir a permitir abrir a tua consciência, se também ousares confiar em ti e ouvires as respostas. Trata-se apenas de uma ousadia minha para te por a reflectir sobre o encontro contigo próprio(a) e te permitires tomar as rédeas da tua vida. Eis que são:

    • Onde encontras paixão no que fazes? Será que na tua maior paixão podes encontrar a tua missão?
    • Será que por trás de cada resistência tua estão encontros e aprendizagens que tens de enfrentar?
    • Reconheces a força e o amor que vem dos teus antepassados e da tua linhagem?
    • Para superares os teus medos (dor, abandono, traição, escassez, etc..) alguém tinha que tos provocar? Será que é aí que está a fonte da tua maior transformação?
    • Estás centrado(a) na vida e nas novas energias (paz, amor, alegria, abundância, prosperidade) a que deves aceder?
    • O que te importa mais – o Ser ou o Ter?
    • O que procuras numa relação?
    • Como está o teu amor próprio e o teu auto-reconhecimento?

Desejo que cheguem até ti, rapidamente, com uma visão clara, as respostas certas. Ouve-as e segue-as com confiança, pois a nossa intuição é a nossa melhor amiga e permite-nos aproveitar a vida com merecimento. Ama-te e desenvolve-te a cada dia mais! Permite esse encontro com a tua essência e verás resultados maravilhosos.

E citando Osho de novo: “Aqueles que entenderam o sentido da vida falaram apenas para quem é capaz de entender o Amor, porque o Amor é o sentido da vida”.

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Teresa Escoval é Pós-Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Licenciada em Sociologia, Bacharel em Gestão de Empresas. Desempenhou vários lugares de chefia na área Financeira e Gestão de Recursos Humanos. Desde 1994 que gere e desenvolve um negócio próprio na área do emprego, diagnóstico /desenvolvimento organizacional e formação. Mantém colaboração regular, desde 2007, com várias revistas, onde são publicados artigos sobre diversas temáticas, que é autora.

LA SENYORETA D’AVINYÓ – por Danyel Guerra

“Miró sentia a mão direita/demasiado sábia/
           e que de saber tanto/já não podia inventar nada”

 João Cabral de Melo  Neto

Barcelona frui e usufrui de uma ensolarada tarde de primavera  antecipada, em época do reinado de D. Carnestoltes*. Deambulando pelo capitoso Ensanche da cidade condal, Dirceu atravessa a Plaza de España e avista no Parc de Joan Miró, impante nos seus 22 metros de firme ereção, a escultura ‘Dona i Ocelli’. Continuar a ler “LA SENYORETA D’AVINYÓ – por Danyel Guerra”

HARATINES – por Jonuel Gonçalves

                                             

3º Episodio – Idrissa

Mesmo acostumado ao  deserto desde o teu nascimento tu sabes que ele pode ser  solidão como mais nenhuma outra paisagem, digam o que disserem sobre as grandes solidões das grandes metrópoles nas quais  pode-se ficar louco mas  aqui é pior, é corda bamba constante e queda ao mínimo descuido, ou seja, a água perdeu-se, estragou-se ou apenas acabou, o velho caminho das estrelas foi varrido pelo vento de areia furioso ou este vento de areia levantou-se antes de poderes montar abrigo ou ainda o camelo caiu de esgotamento, os pneus do carro acabaram uns após os outros ou, mais ainda, nos últimos tempos foste visto ao longe pelos predadores ferozes de duas ou quatro pernas e as balas estão muito poucas. Continuar a ler “HARATINES – por Jonuel Gonçalves”

FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes

Uma Nação só pode ser feliz se os cidadãos que a constituem forem educados e instruídos – só assim eles serão conscientes dos seus direitos e deles não abdicarão, lutando de forma organizada e positiva para deles usufruírem. No entanto – como todos sabemos – a felicidade não é um estado definitivo e total, custa a deixar-se usufruir, dá imenso trabalho, e é em fogachos breves que nos bafeja, sem se deixar agarrar. Continuar a ler “FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes”

CLINT EASTWOOD (ou a óbvia analogia) – por Claudio B. Carlos

Ele não conhecia os filmes de caubói, por isso, quando os novelos de cisco rolavam pela imensidão do terreiro seco, não fazia a óbvia analogia. Ali não tinha Clint Eastwood, nem Lee Van Cleef, nem Burt Lancaster – tinha o Durvalino, o Deodato e o Deoclécio. Ali não tinha Marianne Koch, nem Claudia Cardinale, nem Carla Mancini – tinha a Jandira, a Jurema e a Jeneci. Ennio Morricone era o guaipeca magricela, sonolento, pulguento e mais uns dois ou três entos. Talvez Morricone fosse o bem-te-vi, o sabiá, o quero-quero, o mugido do gado (coitado – magro que só) ou o relincho do pingo amarelo – que mascava o freio, num devaneio, quiçá, de verde capim. Talvez o Ennio fosse tudo isso misturado – tudo ao mesmo tempo. Continuar a ler “CLINT EASTWOOD (ou a óbvia analogia) – por Claudio B. Carlos”

A LIBERDADE E A RAIVA DO PERRO ARAGONÉS – por Danyel Guerra

     Tenha cuidado. Sinto que há em si tendências surrealistas. Afaste-se dessa gente.

  Jean Epstein

“Posso dizer tudo o que penso?….é a escrita automática!…” (1). Em sua edição de junho de 1954, a revista  Cahiers du Cinéma  inseria uma entrevista com Luís Buñuel. Na época, este cineasta era celebrado na Europa apenas como autor de uma tríade maldita, malgrado seu Los Olvidados (1950) ter emocionado Cannes.

Escrita automática? Será que aos 54 anos, o pai da mexicana ‘Susana’ ainda se afirmava fiel aos conceitos teóricos e aos procedimentos formais da finada guilda, na qual foi iniciado em 1929,  pela mão de Louis Aragon e de Man Ray?  Chegado a meia-idade, o rebelde persistia em menosprezar o paternalista conselho de Epstein? Continuar a ler “A LIBERDADE E A RAIVA DO PERRO ARAGONÉS – por Danyel Guerra”

SINOPSE DE UM APEADEIRO ANUNCIADO – por Ana Matos

No limite da angústia, naquele umbral onde basta um sopro para o desequilíbrio e a queda no abismo da demência, encostei-me à cadeira vazia, que rangeu pelo súbito arrasto, na esplanada de um qualquer café. Os óculos escuros carbonizavam as parcas nuvens e resguardavam-me do dia, do mundo, da vida…Trazia ainda impregnada no céu-da-boca a ausência das tuas palavras – um lastro de saudade e desistência. Continuar a ler “SINOPSE DE UM APEADEIRO ANUNCIADO – por Ana Matos”

ANGOLA, NO INÍCIO DOS ANOS SETENTA – Jonuel Gonçalves

NOTAS SOBRE UNDERGROUND ANGOLANO NOS ANOS PRÉ INDEPENDÊNCIA

Benguela no começo dos anos 1970. Cidade com reputação “do contra” há muitas décadas.

Nos últimos anos, surgiram alguns livros e artigos centrados na preocupação de estabelecer a verdade histórica sobre diversos acontecimentos angolanos, tanto dos anos de guerra pela independência como dos primeiros anos pós coloniais e também focar detalhes importantes até aqui escondidos de forma deliberada ou não. Este pequeno texto procura inserir-se neste esforço e, ao usarmos a observação participante, procuramos apresentar fontes primárias importantes para os historiadores, diversificando-as e evitando os riscos de  trabalhar com fonte única. Deve ser entendido como depoimento relativo a um factor menos mencionado em relação ao período imediatamente pré-independência e não como abordagem geral desse mesmo período. Continuar a ler “ANGOLA, NO INÍCIO DOS ANOS SETENTA – Jonuel Gonçalves”

VIDA LONGA À POESIA – por Uili Bergammín Oz

Foto de Arno Rafael Minkkinen

Não sei se é impressão minha, mas creio que nunca ouvi falar tanto em poesia como nos últimos tempos. Também nunca vi publicar tanto poema como de uns anos para cá. Nos concursos literários, tanto os que tenho concorrido como os que tenho avaliado nas bancas de jurados, o gênero poesias é sempre o mais disputado, com larga vantagem sobre os demais. Todo mundo tem um pouco de poeta, já diz a sabedoria popular. Continuar a ler “VIDA LONGA À POESIA – por Uili Bergammín Oz”

EUROPA E A QUESTÃO DOS REFUGIADOS – por Diogo Pacheco de Amorim

A questão dos “refugiados” é paradigmática de um enorme acréscimo de alterações ao que inicialmente se entendia, e foi “vendido” como o que deveria ser, no essencial, a União Europeia: um espaço onde circulariam livremente bens, capitais, serviços e pessoas. Desapareciam as fronteiras físicas entre os países membros e estabelecia-se uma fronteira entre a UE e o mundo exterior. O Espaço Schengen, mais ou menos coincidente com a UE, materializava, do ponto de vista institucional, esse conceito. Concomitantemente, os países com fronteiras externas, assumiam a responsabilidade pelo controlo dessas fronteiras externas em nome dos outros Estados-Membros. A Europa eliminava as fronteiras físicas dentro de si, mas estabelecia sólidas fronteiras com o exterior. Continuar a ler “EUROPA E A QUESTÃO DOS REFUGIADOS – por Diogo Pacheco de Amorim”

O FINGIMENTO DE PESSOA – por João Esteves

Caricatura de F.P por J. Almada Negreiros

O fingimento de Pessoa «O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.» Com esta frase, começou a conversa de uma pessoa que deu entrada no serviço de urgência de psiquiatria. Não deu, na verdade. Mas podia bem ter dado. Acontece que essa pessoa imaginária vinha com esta frase no seu pensamento, totalmente descontextualizada, desconhecendo o passado do poeta que a escreveu, as suas circunstâncias sociais e psicológicas. Não é motivo para vergonha. Todo o pensador se confronta com o problema da descontextualização. É dela que emana o seu pensamento paranóide, totalmente desenfreado, pronto para satisfazer os mais profundos desejos do narcisismo. Continuar a ler “O FINGIMENTO DE PESSOA – por João Esteves”

BRINCAR À POLÍTICA NO CARNAVAL por Francisco Castelo Branco

O Carnaval é uma das mais belas tradições que enche de cor e alegria as cidades e vilas portuguesas. O nível de euforia e qualidade não atinge os desfiles no Brasil, mas a maneira nacional de celebração da data contagia todos, mesmo os que não gostam de se mascarar.

Os preparativos para os eventos do ano seguinte começam pouco depois do último cortejo, embora sem a mesma dose de exagero que se verifica após as festividades no país irmão. Isto é, vivendo intensamente uma paragem de 365 dias, que decorre entre cada Carnaval.

Carnaval em Torres Vedras

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QUANDO A MADRUGADA JÁ NÃO EXISTE: SOBRE A PÓS-VERDADE por João Esteves

Ruído incomodativo às 3h30 da manhã: um vizinho põe a música num volume acima do permitido. Por enquanto, eu sei! Nas assembleias das democracias, sobre as quais me dizem ser o lugar cada vez mais antiquado, face aos desígnios do mundo de hoje – afinal as leis provêm de maiorias que nem sempre defendem o interesse da maior parte dos cidadãos – tem-se vindo a discutir, face ao aumento do turismo, a possibilidade de se alterarem as horas a partir das quais não se pode fazer ruído excessivo. Por outras palavras, tem-se vindo a discutir a possibilidade de “não haver horas para dormir”, favorecendo a ideia do mundo globalizado: a noite é todo o dia, faz Sol todo o ano. Continuar a ler “QUANDO A MADRUGADA JÁ NÃO EXISTE: SOBRE A PÓS-VERDADE por João Esteves”

ANTERO DE QUENTAL EM VILA DO CONDE – por Cecília Barreira

Casa de Antero de Quental, em Vila do Conde, actual Centro de Estudos Anterianos. Foto obtida do site da CMVC.

«Uma classe nunca pode ser um apóstolo: é simplesmente um elemento, uma força, cujo acto é determinado pela energia inicial. O que dará a democracia? Quem poderá di-lo. É o escópulo onde até hoje têm naufragado todas as sociedades.»

         Carta a Fernando Leal, 8 de Fevereiro de 1888.

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A MIÚDA QUE NÃO RECEAVA JUÍZES – por Francisco Bruto da Costa

Tribunal de Família de Lisboa, anos noventa, discutia-se a vida e o futuro de uma criança.

Uma história triste, como tantas outras que me passaram pelas mãos naquele tribunal, mas esta tem um toque de inocência e um grande ensinamento.

Digamos que a criança em causa se chamava Mariana.

A Mariana nasceu de uma relação superficial que os pais tiveram num Verão, casaram logo a seguir, quando descobriram que a mãe da Mariana estava grávida, mas não estavam preparados para a vida de casados, nem tinham vida profissional compatível.

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Luto – por Marilene Cahon

A palavra luto vem do latim “dor, mágoa, lástima”, de luctum, “chorar (pela perda de alguém ou de algo)”. Regra geral, é «sentimento de tristeza profunda por motivo da morte de alguém ou de qualquer outra perda significativa». Pode-se tomar como conceito adequado o de que “o luto é um processo de aperceber-se, de tornar real o fato da perda”. Continuar a ler “Luto – por Marilene Cahon”