FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes

Uma Nação só pode ser feliz se os cidadãos que a constituem forem educados e instruídos – só assim eles serão conscientes dos seus direitos e deles não abdicarão, lutando de forma organizada e positiva para deles usufruírem. No entanto – como todos sabemos – a felicidade não é um estado definitivo e total, custa a deixar-se usufruir, dá imenso trabalho, e é em fogachos breves que nos bafeja, sem se deixar agarrar.

Dito isto, parece ser uma ideia fundamental e primária que a um Governo, a qualquer Governo (a Nação organizada), interessa ter os cidadãos educados e instruídos, não só por estarem mais bem preparados para desempenhar a função que na sociedade lhes compete, como por a desempenharem de uma forma harmoniosa e feliz. Mas é disso que temos dado conta nestas últimas dezenas de anos? Ou, pelo contrário, a acção de quem nos tem governado parece conduzir precisamente a efeitos contrários? Conscientemente ou não, ela tem dado azo à existência de cidadãos desinformados, que mal lêem ou não sabem interpretar o que lêem; para melhor se deixarem “governar”?

Também me parece ser evidente que, separando o que deve ser dever do Estado do dever que compete aos Pais, o Ministério da Educação se deveria chamar Ministério da Instrução, porque, como defenderei a seguir, a educação é dever a exercer fundamentalmente pelos Pais.

Educar é uma responsabilidade dos Pais, desde que a criança nasce; desde logo pelo exemplo; são eles que devem ensinar os filhos a respeitar o Outro, a ser gentil com as pessoas e sobretudo com os mais velhos, a levantar-se quando chega uma senhora e a dar-lhe o lugar nos transportes colectivos se não houver lugares desocupados, etc., etc. – lá diz o ditado (e os ditados são fonte de sabedoria ancestral):- “Quem dá o pão dá a criação.” Também a respeitar os Professores. Essa educação começa desde logo após a criança ter compreensão do que ouve e do que vê, devendo serem-lhe criados hábitos que irão perdurar a vida inteira, orientando o seu modo de estar na vida. Também devem ser ensinadas a respeitar os Professores, os substitutos dos Pais, digamos assim, durante grande parte da sua existência, até serem adultos.

É isso que vemos actualmente? Infelizmente, não. De um modo geral os Pais abdicam dessa função essencial, depositando os filhos no infantário, no colégio ou no liceu e esperando que outros os eduquem, quantas vezes defendendo-os quando os deviam repreender, por maus actos que praticam contra Professores ou colegas, resultado de não terem dedicado o tempo a educá-los, antes de ingressarem na escola. Infelizmente os Pais, de um modo geral, não inculcam nos filhos as regras de civismo necessárias à sã convivência com colegas e Professores, não os responsabilizando, como deviam, pelos maus actos que praticam, como se fossem sempre os outros os malfeitores. Pelo contrário, muitas vezes maltratam os próprios Professores, em lugar de lhes dar força para exercerem a sua função primordial: – ensinar e dar continuidade à edu- cação que devem trazer de casa.

Os Professores! Uma classe profissional que tem vindo a ser tão maltratada por todos:- alunos, Pais e, imagine-se, quantas vezes até pelo próprio Estado, ao retirar-lhes o poder de corrigir os alunos quando estes se desviam do comportamento que lhes devia ser exigido, colaborando desse modo para o desprestígio de uma classe profissional antigamente tão respeitada e para a criação de cidadãos irresponsáveis.

Assisti, nestas últimas décadas, a ver os Professores serem colocados como que num gueto, onde se deverão sentir diariamente encurralados por alunos malcriados (mal educados pelos Pais), por Pais que defendem os filhos contra tudo e contra todos – quase sempre sem razão – e pelo Estado, que frequentemente os desprestigia, mesmo quando diz defendê–los.

Infelizmente o que se legisla (no ensino e noutras áreas) parece ter o efeito contrário ao que se propala defender, não sei se por incompetência, se deliberadamente.

Em suma: – penso que há muito a fazer nesta área, “para bem da Nação”, sendo de primordial importância: –

– devolver aos Pais, e exigir-lhes, a responsabilidade de educarem os seus filhos;

– organizar o Estado por forma a ajudar os Pais nessa função e, concomi- tantemente, dando aos Professores a força e os meios para exercerem a sua verdadeira actividade: – ensinar (não descurando, como é evidente, a sua colaboração na educação do aluno, na medida do necessário e em colaboração com os Pais).

A quem interessa um Povo mal-educado e mal instruído?

Escusado será colocar acima de tudo a liberdade dos alunos… A sua liberdade, como a de todos nós, acaba quando esbarra na liberdade do Outro; tem limites. A liberdade sem limites gera o despotismo; nem podemos falar numa sociedade onde a liberdade existe quando nela se produz legislação contrária à dignidade humana, ou para aplicar a uma determinada classe ou grupo e não a todos os cidadãos (excluídos, como é evidente as Forças Armadas, por exemplo, que têm, por necessidade de funcionamento, certas liberdades limitadas e o dever elevado ao mais alto grau:- a dádiva da própria vida, se necessário).

NOTA: – Que dizer dos programas televisivos? A maior parte deles não forma o carácter nem transmite conhecimento, antes embrutece e alimenta a ignorância de quem os vê. Programas que, tanto nas estações públicas como nas ditas privadas são mantidos com o dinheiro de todos nós.

Não deviam passar, obrigatoriamente e em horário útil, programas de formação cívica, desde o ensino das regras de trânsito ao da História e Geografia de Portugal, programas que ensinassem como deve ser feita uma boa alimentação diária, como poupar água e luz, etc., etc.? Mas a serem passados diariamente, porque as crianças estão sempre a nascer e a crescer, e não apenas uma vez por outra, para descargo de consciência!

Monte Abraão, 05/06/2018

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Auto-retrato

Julião Bernardes viu-se tomar forma em 4 de Julho de 1944, na freguesia de Lapas, concelho de Torres Novas, distrito de Santarém.
O seu autor nasceu em 5 de Março de 1939 na mesma aldeia.
Fez quatro comissões de serviço no Ultramar: Angola (1961/63 e 1964/66,32); Moçambique (1968/70) e Guiné (1972/74,32), tendo sido condecorado, entre outras medalhas, com duas Cruzes de Guerra.
Fez parte desde o início do Movimento dos Capitães. Encontra-se reformado, no posto de Coronel.