81.
Grave,
o passado rege os passos
e o espaço da História.
Apressado,
o futuro acena e nos chama
reclama nossa demora.
Mas a vida
é agora. Continuar a ler “POEMINHOS – 81-90- por Jaime Vaz Brasil”
81.
Grave,
o passado rege os passos
e o espaço da História.
Apressado,
o futuro acena e nos chama
reclama nossa demora.
Mas a vida
é agora. Continuar a ler “POEMINHOS – 81-90- por Jaime Vaz Brasil”
O peso do esquecimento
I.
A flor é beijada pela peste.
Como uma palavra primitiva
do português, o triunfo da
civilização é /pequeno/
é a soma das patas quebradas
de um colibri, morto pela
espingarda de ontem. Continuar a ler “O PESO DO ESQUECIMENTO // The weight of oblivion – por Luciana Moraes”
UMA NUANCE NAS NÓDOAS
PELE
eu procuro a luz senhora.
uma luz de pele nua.
viva.
em abandono.
uma eternidade fêmea
e o suave rosnar das peles.
música arrepiante
engolindo lentamente o abismo.
eu procuro a luz de fogo.
negro como uma ideia livre.
e o licor demencial.
a doçura aterradora dos corpos.
serpenteiam entre si como águas gélidas
nas rochas quentes.
eu procuro a luz senhora.
uma luz de gato. noctívaga.
luz de vinho. sanguínea.
sem rédea.
e solar.
vejo-a por vezes na madeira da mesa
inundada pelo sol gato.
errante. solitário. altivo.
como os que denunciam a morte da vida.
com seus corações felinos.
essa luz foge para a lua
e vem queimar-nos a pele.
deitados na cama no tempo.
beijando línguas
amando a espiral.
assim voamos nas inebriantes
partituras.
não tendo ouro como lei.
a senhora sabe de luz.
a sua pele é o lugar
onde o gato a encontra.
Invisible pero, como todos…
Invisible pero, como todos, pesado y numerado.
El calor del sol me quema, tal vez, un poco más
y ante mis ojos se extiende un desierto
por el que erran desaladas criaturas.
O limiar das fendas
e como eu caminhasse
por aqueles pátios líquidos
de violência falada,
algo inesperado se via:
a fenda é o espaço
estreito no qual o fio
morte e vida termina. Continuar a ler “TRÊS POEMAS – de Douglas Laurindo”
In memoriam omnium Pompeianorum plebis
perierunt anno LXXIX A.D.
Pompeii, Aestate MMXXI.
Num meio-dia escaldante de Verão,
Perambulávamos pelas ruas desertas de Pompeia
Espiávamos pelas janelas abertas das casas e vilas destelhadas,
Hipnotizados pelos objectos carbonizados e mudas, petrificadas estátuas humanas,
Pestanas semicerradas contra os raios solares omnipresentes
Que pareciam envolver as testemunhas do Passado numa luz ofuscante,
Impressionados diante dos templos vazios, em silêncio pensante,
Ansiosos por ouvir os ecos das orações nunca atendidas,
Pedidos e suplícios dos adoradores de numes há muito extintos. Continuar a ler “AS RUAS DE POMPEIA – por Francisco da Rocha”
BIBLIOTECA
demasiadas
palavras,
um supérfluo
de frases
empilhadas
por toda a parte
em colunas
de equilíbrio,
atravancando
a casa
de mofo
e cheiro a papel Continuar a ler “POEMAS – de Henrique Miguel Carvalho”
ser
pode o ser nas tradições orais ir além das estruturas
feito um pássaro cortês da diversidade,
ser um animal aqui perto do coração,
não podemos ir adiante enquanto os gigantes mamíferos
são destruídos em alto mar
como conchas pisoteadas por estátuas,
continuar a mimese é o que chamo de obsceno,
os homens predadores sorriem junto com a morte
sem vontade para o debate ecológico,
seguem a lógica de conquistar territórios, de touros de ouro
na Faria Lima sem sonhos,
à medida que ando, o urbano me fere na vesícula
que reproduz em 3d a fome sem enfeite
ontem encontrei uma garota/totem,
procurava um guia com jipe, para ir na direção das cavernas
(Poema do livro: Infernos Fluviais e por que nunca conversamos sobre Nick Cave?. Editora Clóe, 2023) Continuar a ler “TRÊS POEMAS – de Marcelo Torres”
A madrugada a doer, a doer-me muito.
Na memória que guarda o teu nome
este cantar lúcido das águas.
Tu és belo como esse canto, esse perfeito tiro ao alvo
ao fundo da noite
perfurando as fogueiras adormecidas.
Que segredo se oculta, em esplendor, onde teu corpo habita?
Quem te nomeia nesse mar tão branco?
O que amas?
A orla do rio, ou a raiz deserta?
A madrugada a doer, a doer-me muito.
♦♦♦
Maria Gomes nasceu em Benguela, República de Angola, em 1958. Foi professora de artes visuais e trabalhou em contabilidade após a independência daquele país. Vive em Coimbra. Tem poemas publicados no Jornal de Angola, nas antologias de Poesia 1 e 2 ” Escritas” sob a edição do poeta José Félix, em outras revistas de literatura na web, e na revista de Poesia de Tradução Di Versos nº 8 de Edições Sempre-em-Pé. Participou no poema ” O Estado do Mundo”, poema criado no ciber espaço, no âmbito de Coimbra, Capital Nacional da Cultura 2003, a editar brevemente em livro, e participou na II e III Bienal de Poesia em Silves, em Abril de 2005 e de 2008.
LUZ NO CAMINHO
Escutas o silêncio
Para não perderes
O murmúrio dos meus lábios
Um silêncio onde respirar
Se torna mais fácil
Uma transparência que mostra
A areia no fundo do rio
És a Fonte onde os pássaros
Bebem e cantam
E no teu rosto, a Luz poisa
Reconhece-te, pertence-te
Como o perfume pertence à flor. Continuar a ler “ENTRE A LUZ E O CREPÚSCULO – de Maria João Oliveira”
deste cubículo precário
(a A.M.O.)
.
neste cubículo precário que é o mundo
às vezes falta a brisa. e o ar de tuas mãos.
faltam os olhos de água como sorris
a polpa e a saliva que és, na voz,
a fala feita à passagem dos teus gestos
— de ti: a falta. o encanto e a maravilha.
.
neste precário cubículo que é o mundo
deixas ficar-te em perfume. permaneces.
e é pelos densos poros dos sentidos
que, se não estás, sei o instante
sei o instante em que adormeces.
.
neste precário cubículo que é o mundo
nem tudo falta:
ao viveres-me
és também tu que aconteces.
.
maria toscano.
Coimbra, Café-Pastelaria Tosta Rica. 25 Novembro/ 2003. Continuar a ler “TRÊS POEMAS COM ALGUNS ANOS – de Maria Toscano”
Sin título
El silencio de la lluvia
abrazó los ojos de este león que soy.
Ocultándome en un libro,
sentí el sol sobre las palabras.
De pronto salieron gritos,
la visualización
de la orquídea esperando nacer,
recuerdos,
viejas historias,
miré mis zapatos desgastados,
la botella de whisky vacía,
un poema de Walt Whitman.
Supe el sabor de la lluvia. Continuar a ler “POEMAS DEL LIBRO “POEMAS A LA INTEMPÉRIE” – de Moisés Cardenas”
Seis poemas do livro
A PALAVRA EM SEU DESERTO
O OUTRO
Eu canto a ovelha
e o lobo,
a serpente que engole
a própria cauda
e o fim sábio
do poeta tolo.
Eu canto o limo
e o mar aberto,
a madrugada
dos poetas e o tiro seco
dos filósofos. Continuar a ler “A PALAVRA EM SEU DESERTO – por Tito Leite”
ORTOGRAFÍA DE TU CUERPO
Desde aquí pienso…
en los puntos suspensivos y las comas
que sólo conocemos yo y tu cuerpo.
Ahora me invade no sólo la tristeza
sino la geografía del silencio.
YOUR BODY’S PUNCTUATION
From this point I wonder. . .
About the ellipsis and the commas
Only familiar to your body and me.
I’m now filled not only with sadness
but also with the geography of silence. Continuar a ler “ORTOGRAFIA DE TU CUERPO – por Francisco Álvarez Koki”
O ÓPIO DO POVO
No passado, o ópio do povo
era a igreja.
Agora, em tempos mais etílicos,
é a cerveja.
No passado, o ópio do povo
era o capital minimamente disseminado.
Agora, em tempos mais lúgubres,
é o capital exclusivo, privado.
No passado, o ópio do povo
era o bom futebol.
Agora, em tempos mais frívolos,
é reality show, besteirol.
No passado, o ópio do povo
era a ideia do paraíso.
Agora, em tempos mais mercadológicos,
é lucrar, desdenhando o último juízo. Continuar a ler “DEZ POEMAS INDIGESTOS – de Henrique Duarte Neto”
61.
Quadro
é um poema sem palavras.
Poema
é um quadro nas palavras.
62.
Quando há arte
numa obra
nada falta
nada sobra. Continuar a ler “POEMINHOS (61-70) – por Jaime Vaz Brasil”
FRESTA
Moro num deserto situado
na palavra.
São tantos nomes no remanso
de uma tarde
e eu vi uma borboleta
na sombra de uma granada.
Grafei que o significante
de uma nuvem
é o seu presságio
e depois da chuva um poema
fecunda a sangria dos sábios.
Bati nos ombros de uma montanha
e acenei: no sangue do poeta
tudo é talhante,
nada é suave. Continuar a ler “POEMAS – de Tito Leite”
51.
Nenhum poema
esgota o tema.
Mas, quando bom,
põe a verdade
em estado
de estando…
52.
Dante, à porta do inferno:
– “Deixai, vós que entrais,
toda a esperança”.
Quintana retrucou, na entrada:
– “Esperança é uma espera que não cansa”.
Eu?
Ora… sentei num banquinho
e não disse nada. Continuar a ler “POEMINHOS (51-60) – por Jaime Vaz Brasil”
TRADUÇÃO E LEITURA DE POEMA
DE EUGÉNIO DE ANDRADE,
POR MARIA TOSCANO
VER CLARO
.
Toda la poesía es luminosa,
hasta
la más oscura.
El lector es el que tiene a veces,
en lugar de sol, niebla dentro de sí.
Y la niebla nunca deja ver claro.
Si regresar
otra vez y otra vez
y otra vez
a esas sílabas alumbradas
quedará ciego de tanta claridad.
Alabado sea si allí llegar.
.
Eugénio de Andrade – Prémio Camões 2001.
In “Los surcos de la sed”. Ed. Fundação Eugénio de Andrade, 2001.
Versión al castellano: Maria Toscano, Figueira da Foz, Portugal. 13 enero / 2023.
♣♣♣
VER CLARO
.
Toda a poesia é luminosa,
até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.
.
Eugénio de Andrade – Prémio/Premio Camões 2001.
In “Os sulcos da sede”. Ed. Fundação Eugénio de Andrade, 2001.
♦♦♦
Maria (de Fátima C.) Toscano, Doutora em Sociologia. Docente Universitária, Investigadora e Formadora. Coach e Trainer em Programação Neurolinguística.
*Poemas de Rolando Revagliatti de su libro ‘Obras completas en verso hasta acá’:
Es un chico: no entiende
1
Duerme
mujer enroscada: se quedó dormida:
mujer que se queda dormida.
2
Ellos piensan que mi problema es que soy un idiota
Se equivocan: mi problema es que no soy un idiota.
3
Cuando sea grande mi mamá me va a conseguir una novia.
4
Diana Dors
inmiscuye sus tetas de nácar
en mi sopa
¡yeeeeaah!… Diana. Continuar a ler “Poemas* de Rolando Revagliatti”
ANJO DE NATAL
O meu anjo de natal dorme à minha porta
sem pressa, sem horas marcadas, sem medos.
A noite vela os seus frios segredos
encolhidos nas asas marcadas de açoites.
Continuar a ler “POEMAS DE NATAL – por Ana Margarida Borges”
41.
Ninguém redime
o podre
no sublime.
O poema, porém
pode ser contraste:
um choque de contrários.
Por exemplo:
a palavra sujeira
perto do santo sudário… Continuar a ler “POEMINHOS (41-50) – por Jaime Vaz Brasil”
1
Mais do que deuses, precisamos do limiar do sagrado
do lugar onde bebem as aves,
de regressar ao silêncio de uma noite ida;
mais do que deuses, precisamos do anúncio súbito
da clemência implorada
dos trabalhos do mar;
mais do que deuses, precisamos do homem, da pele do homem,
da sua peugada
sobreposta à penumbra da flor nascida.
Mais do que deuses, precisamos da fronteira da meia-noite
do círculo lunar do grande rio
que corre no sangue da terra humilde. Continuar a ler “POEMAS – de Maria Gomes”
¿ Y ya no volveré a perderme
en el laberíntico entramado,
de una casa cuya arquitectura
habitada por todos sus muertos
deambulando con sus gemidos,
por todas sus sombras allí cautivas ? Continuar a ler “Aparición – por Ulisses Varsóvia”
Poema 1
Os carros correm como que eu não tenho pressa
Os carros correm como que eu não tenho pressa
As faixas separadas de mim
De repente a buzina me interessa que os carros sejam exatamente assim
Faróis ao auto!
Velocidade é fim
Parada inglesa
Parada de taipas
Parada XVI Continuar a ler “5 POEMAS DE “FILHOS DE ABEL”- por André Rosa”
Remoto
O som do mar
a ricochetear
nas fronteiras
invisíveis
da inóspita imensidão
Chão em desintegração
queda, apupo, alienação
E o oceano, em derrisão,
impassível – a compor
a canção da criação
do infinito
Íntima transformação
no ínfimo átimo universal Continuar a ler “D´A UTOPIA DO CARNAVAL SEM FIM – de Bernardo Almeida”
MAGO
Na floresta para Waldberta
O guia perde o poeta.
Na serpentecostal selva remotta
Um criancião paracleto
O aguardava com sinais cristântricos.
Do cóccix à pineal
Pousou o mestre a mão
E alçou alucifeéricos fogos pecúlios
Despertando-lhe uma pedagogia petrográfica aprendiz.
E o poeta petiz
Reencontrou-se guia apóstata
Ifá de Orumilá.
Axé! Ave! Amém!
CONVIDADO
ao cair
do astro maior
aguardo,
felicitações
remotas
que pelo
nome
nunca o dizem,
até que
— é sempre assim,
um estranho
de maneiras
inconcretas Continuar a ler “TRÊS TEMPOS POÉTICOS – de Henrique Miguel Carvalho”
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