21.
O Eu Lírico
De dia
o eu operário.
De noite
o falsário.
Porém:
quem é quem? Continuar a ler “POEMINHOS DE JAIME VAZ BRASIL (21 a 30)”
ISSN 2184-0709 ——- Revista Trimestral – Edição nº 29 – de Setembro de 2024
21.
O Eu Lírico
De dia
o eu operário.
De noite
o falsário.
Porém:
quem é quem? Continuar a ler “POEMINHOS DE JAIME VAZ BRASIL (21 a 30)”
Nunca, como nos dias de hoje, se foi tão solicitado a estarmos sempre ocupados.
Em lugar de procurarmos compreender e aprender, pedem-nos que dediquemos os nossos dias a empreender – o empreendorismo tornou-se um modo de vida. E a vida torna-se um zapping constante – uma azáfama, um frenesim. Continuar a ler “O ABORRECIMENTO – por Fernando Martinho Guimarães”
“(…)’As glórias que vêm tarde, já vêm frias’,
escreveu o Dirceu de Marília. Me leia enquanto estou quente”
Lygia F. T.
TOMANDO UM KAFKAFÉ COM ELE
Exuberância tecida de curiosidade, Lygia entra no jardim dos caminhos que se bifurcam, dirigindo-se, sem hesitações, ao canteiro nº 40. Embevecida, captura, ávida, a fragrância da rosa imarcescível, o primoroso exemplar do borgeano jardineiro. “(…) ninguém pensou que o livro e o labirinto eram um único objeto”. Continuar a ler “TOMANDO UM KAFKAFÉ COM ELE – por Danyel Guerra”
Sumergirnos en el espacio poético de “Eso de ahí” implica observar la poesía desde diferentes niveles que se vislumbran desde su lectura. En primer lugar, debemos destacar que los textos del poemario fueron creados entre los años 1989 y 2020, de ellos resalta el aspecto visual como parte intrínseca de la propuesta poética, luego el tópico político, punto imbricado al anterior, desde el que surgen diferentes elementos importantes a analizar. La poesía visual se ha encargado de recoger, deconstruir y traer ante nuestros ojos bajo nuevos preceptos, texturas y soportes del mundo artístico (dibujos, serigrafías, collage, fotografías) como relativos a las comunicaciones (tipografías, titulares, recortes, cartas, sellos) o a la publicidad (slogans, iconografía, estereotipos) los que constituyen fragmentos de aquella modernidad que han sido descontextualizados de sus usos comerciales para hacer ver, desde la vereda poética o artística, como el bombardeo constante de imágenes puede ser también reutilizado como material con fines estéticos. (Páez, 14) Continuar a ler ““ESO DE AHÍ” POEMÁRIO DE MIGUEL MORENO (reseña) de Claudia Vila Molina”
Entendeu o título? Pois é, essa é a primeira dificuldade entre tantas desse artigo, que visa analisar o romance O Homem Duplicado de José Saramago – único autor em língua portuguesa agraciado com o Nobel de Literatura – no qual é retratada a crise existencial de um professor de história que assistindo ao filme – cujo título é o mesmo desse artigo – subitamente, se reconhece no rosto de um ator coadjuvante, lançando-se à sua procura. Continuar a ler “QUEM PORFIA MATA A CAÇA – por Celso Gomes”
UM TEMPO DE PAZ, UM TEMPO DE GUERRA
Veio um tempo de paz
Veio um tempo de guerra
Os comboios não paravam nas estações
As geografias não coincidiam com os mapas
Os meses eram anos
E os anos eram séculos
Veio um tempo de paz
Veio um tempo de guerra
E os soldados não tinham pátria
E as munições eram do mundo inteiro
Os países alargavam-se nas fronteiras
As geografias não coincidiam com os mapas
O amor, uma saudade uma impossibilidade
Os homens e as mulheres já não choravam
As lágrimas secas de tanta pólvora
E as bocas quietas
Sem palavras
Sem gritos
Sem sons
Porque os dias eram cinzentos
E os segundos já não cabiam nos relógios
Um tempo de paz
Um tempo de guerra Continuar a ler “DOIS POEMAS DE Cecília Barreira”
Emílio passava boa parte do seu dia trancado naquele quartinho de pensão. Não saia de lá por horas. Preenchia seu tempo escrevendo. Dizia ele que a única coisa que dava sentido ao vazio de sua existência era a escrita, que lhe funcionava como “exílio metafísico”. Para ele, o mundo lá fora não passava de um deserto de nulidades ontológicas. O escritor solitário via a maioria dos seres como “hipocrisias existenciais” que nada tinham a lhe acrescentar. Com essa sua convicção, o contato que ele mantinha com as pessoas era escasso. Saía somente aos sábados para tomar um drink em um café na avenida central da cidade. Lá ele se reunia com o seu único amigo, um anacoreta depressivo que não encontrava razão alguma para existir, pois a vida lhe era demasiado diáfana. Continuar a ler “A PÁTRIA METAFÍSICA – por Cassiano Russo”
Rua da Liberdade
Na Rua da Liberdade
Cabe o Mundo inteiro.
Bicicletas pedalando sonhos
Na noite quente de Abril. Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Bruno de Sousa”
Quando me falam em capitalismo saco logo do porta-aviões, diz Piropos em modo de voo
Um animal de palco
ferido de morte
Ao actor tudo é possível
Aparecer em cena depois do pano da vida cair
Mas nunca sai como entra,
dilu Ente
Fire and Ice (South India, January 2020)
A dramatic title for the description of two mundane things. Winter in the tropics. Winter in Portugal. And yet so accurate. The temperature around me dictates my mood much more than I would like to allow. Give me sun and heat and I will be happy and pleasant. Give me cold and grey and I am too uncomfortable to be nice. Luckily I was born in one of the sunniest countries in the world so there the combination of both, cold and grey, is rare. Which doesn’t stop me from fleeing to warmer latitudes as much as possible. Continuar a ler “REFLECTIONS OF A STRANDED NOMAD – por Alexandra M.”
MAMÃE EU QUERO, MAMÃE EU QUERO CARNÁ
“Mó num pa tropi / Abençoá por Dê/ E boni por naturê/
Mas que Belê/
Em feverê (em feverê) Tem Carná (tem Carná)
Jorge Ben Jo
1) Tudo Ben, Seu Jorge, mas este feverê não tem Carná totalmente livre e irrestrito. Pelo segundo ano consecutivo, Momo não está podendo cair na gandaia do jeito que o diabo gosta. Continuar a ler “EDITORIAL- MAMÃE EU QUERO CARNÁ – por Danyel Guerra”
Platão é um grande exegeta do amor, tratando-o de forma única, deixando um lastro de desejo e luxúria que perdura até à atualidade em qualquer das suas manifestações: homossexual, heterossexual, bissexual, espiritual. No entanto dessa herança ressalta de boca em boca uma ambiguidade em torno daquilo que passou a designar-se de amor platónico expressão cunhada por Marsílio Ficino (1433-1499). Os estudiosos mais atentos vão enunciando o seu verdadeiro significado, mas raramente, nesse pormenor, saem do enredo em que a tradição o confinou. Platão nos diálogos O banquete e Fedro trata do amor físico e metafísico, abrangendo em simultâneo o corpo e a alma, a carne e o espírito, a sedução e a contemplação. Continuar a ler “O AMOR PLATÓNICO: Fragmento a Propósito de um Equívoco – por A. Sarmento Manso”
Sextilha de Inverno
Já me anoitecem os passos
Quando à varanda me chego.
Chove frio nos meus braços
Galhos secos, desapego.
Inverno, lume, lareira
Fogo e cinzas. Vida inteira. Continuar a ler “POEMAS DE INVERNO – por Ana Margarida Borges”
Uma fumaça com cheiro de enxofre começava a sair do quarto do subsolo daquela velha pensão situada na Vila Mariana. Lá dentro estava um homem a registar seu diário. Os transeuntes que passavam por perto do imóvel, assustados, decidiram chamar os bombeiros. Continuar a ler “O QUARTO – por Cassiano Russo”
É importante tecer algumas considerações acerca da obra de Helena Rosenblatt, A História Esquecida do Liberalismo, publicada e traduzida pelas Edições 70 em finais de 2021.
Professora de História na Universidade de Nova Iorque, a autora referencia como o termo liberal no contexto político dos EUA, é mais consensual que o termo democrata. Continuar a ler “CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIBERALISMO DE HELENA ROSENBLATT- por Cecília Barreira”
Cecília Meireles (Rua de)
Início: Falcão (Rua do)
Fim: Camilo Pessanha (Rua de)
Designação desde 1971
Freguesia de Campanhã
Uma das mais consagradas poetisas brasileiras do século xx, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 7 de Novembro de 1901. Órfã de pai e mãe, neta e filha de açorianos, facto que viria a ter influência na sua formação enquanto escritora, dado a sua avó lhe contar imensas histórias que aprendeu nos Açores. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO – XIX- por César Santos Silva”
En el presente ensayo se analizarán diferentes elementos expuestos en el prefacio del texto Altazor. Un primer aspecto que llama la atención es la reunión de símbolos extraídos desde la tradición judeocristiana (Cristo, Dios, la Virgen, el demonio), en relación con ello se presentarán diversos argumentos. Continuar a ler “PRESENCIA DE SÍMBOLOS RELIGIOSOS EN EL IMAGINARIO DE ALTAZOR- por Claudia Vila Molina”
ArteLiteraria, eis a palavra-passe para quem quiser acessar o universo aliceano! Para começo de interação com ele, devo confessar que ignoro qual é a praia predileta de Beatriz Pacheco Pereira, enquanto cidadã. Na certa, todavia, não me enganarei se escrever que, enquanto autora, ela frequenta as finas areias da praia (da) arte literária, onde maresia se faz concórdia com poesia. E desde 2003, em que publicou ‘As Fabulosas Histórias Dela’, coletânea de contos de feição, noblesse oblige, fantasista. Continuar a ler “SERÁ ‘ALICE E OS ABUTRES’* UM ROMANCE ALICEANTE? – por Danyel Guerra”
O PIERROT LUNAIRE E AS SUAS CORRESPÔNDENCIAS
Música de Invenção, São Paulo, Editora Perspectiva, 1998.
A partir dum ensaio de Augusto de Campos
Em 1912, um ano antes da colisão da SAGRAÇÂO DA PRIMAVERA, de Stravinsky, uma outra obra escandalizou as orelhas do século: PIERROT LUNAIRE, de Arnold Schoenberg, um ciclo de 21 poemas de Albert Giraud, em versão alemã de Otto Erich Hartleben, para voz e pequeno conjunto instrumental (piano, flauta e flautim, clarinete e clarinete baixo, violino, viola e violoncelo). Continuar a ler “O PIERROT LUNAIRE A PARTIR DUM ENSAIO DE AUGUSTO DE CAMPOS- por Eric Ponty”
ANUNCIAÇÃO
Não é possível olhar o alto
Se o ar ao redor está todo preenchido
O espaço pode ser este lugar sufocante
Nomeado
Mas não reconhecido Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE “MEIO FIO” – de Flavia Ferrari”
11.
Noite antes
noite depois:
eis a constante.
Existir
é relâmpago. Continuar a ler “POEMINHOS – 11 – 20 – por Jaime Vaz Brasil”
HORAS
Na instituição as horas são linhas. Férreas convenções temporais. De manhã não segui a norma. Permaneci na hospedaria. Cama jangada dignos trapos quentes. São a vida. A negação doce e animalesca das imposições. Chego tarde com orgulho. Entro na cápsula como um infiltrado e visto a pele de sereno figurante. Um paciente que não é fácil decifrar. Pouco para o exterior. Só as raras sessões de livre palavria medicante me interessam. De resto busco salas vazias. O desprezo pelo real fraudulento. Não respeito a engrenagem e escondo estratégias que a maquinaria não pode controlar. Sei que a directora é um coração bom. Mas não ia gostar se soubesse do afastamento a que voto as actividades gerais. Pouco importa. Gosto de algumas palavras dela. Mas dou-lhes outro uso. Sonho com o tempo que partilhamos na hospedaria. O nosso vinho na lareira é um festim sem necessidade de ornamentos. É a música primordial dos lábios. Fogo vinho nas cores dos olhos. Prazeres que bailam no labirinto dos corpos. Assim vivo o silêncio íntimo nestes pisos ruidosos. Retendo o suor da noite e a sonoridade da tua pele. Continuar a ler “UM ROMANCE NAS NÓDOAS DA MISÉRIA (Série I)- por Lúcio Valium”
A Grua e a Musa de Mãos Dadas é o título da sexta obra literária de Jorge Carlos Fonseca. Em entrevista dada ao jornal caboverdiano Expresso das Ilhas (30/9/21), a propósito do lançamento do livro na Cidade da Praia, o autor afirmava que a sua escrita não obedecia a qualquer programa ou intenção. Composta por 106 fragmentos, a natureza fragmentária da obra é religada por uma ideia sem a qual a literatura não faz sentido – a liberdade, esse exercício de escrita que encontra a sua matéria em tudo o que constitui pretexto da e para a criação literária: da literatura à política, dos afazeres que o dia a dia exige às pausas que a insónia impõe. Continuar a ler “D’A Grua e a Musa de Mãos Dadas – por Fernando M. Guimarães”
O silêncio é um dom e é um tom. Um dom, porque na ordem das coisas da mãe natureza que tantas vezes mais parece não haver ordem, nos é disponibilizado com todo o esplendor para nele ouvirmos os sons mais profundos das veredas da alma. Um tom, porque como sabemos, uma pausa também é música quando esta ostenta o timbre dos anjos. Continuar a ler “O SILÊNCIO – por Manuel Igreja Cardoso”
Inspirada em tela de Cruzeiro Seixas,
“Longa viagem em palavras azuis” ;
influência igual de “Lapo e eu” de Dante.
Desejo
Singrar longamente
em alvas velas
por mares azuis. Continuar a ler “POEMAS DE Rosa Sampaio Torres”
Is it raining yet? Is there a chance of rain? Has it rained? Is that smoke I see coming out of the chimney across the street? Is this a picture? Am I looking at something that isn’t moving outside my window? Is that rain? Is that the sound of dragons, dungeons, wildlife, air purifiers, birds, fate? What was the illness I didn’t know by name that made the man’s left eye open incompletely (the one who was begging paradoxically, using a plastic brochure stand as his lectern, like a preacher)? What was his soul affliction? (What’s mine?) Continuar a ler “PROSE AND POEMS – by Susan Pensak”
URGÊNCIA
Procuro uma palavra sobre a matéria
pueril dessas tardes.
Uma palavra escondida em alguma
boca seca de detalhes.
Falta mãos para colher as flores
de março e o mormaço dos dias
atuais espanta todas as borboletas. Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Tito Leite”
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