ArteLiteraria, eis a palavra-passe para quem quiser acessar o universo aliceano! Para começo de interação com ele, devo confessar que ignoro qual é a praia predileta de Beatriz Pacheco Pereira, enquanto cidadã. Na certa, todavia, não me enganarei se escrever que, enquanto autora, ela frequenta as finas areias da praia (da) arte literária, onde maresia se faz concórdia com poesia. E desde 2003, em que publicou ‘As Fabulosas Histórias Dela’, coletânea de contos de feição, noblesse oblige, fantasista. Continuar a ler “SERÁ ‘ALICE E OS ABUTRES’* UM ROMANCE ALICEANTE? – por Danyel Guerra”
O PIERROT LUNAIRE A PARTIR DUM ENSAIO DE AUGUSTO DE CAMPOS- por Eric Ponty
O PIERROT LUNAIRE E AS SUAS CORRESPÔNDENCIAS
Música de Invenção, São Paulo, Editora Perspectiva, 1998.
A partir dum ensaio de Augusto de Campos
Em 1912, um ano antes da colisão da SAGRAÇÂO DA PRIMAVERA, de Stravinsky, uma outra obra escandalizou as orelhas do século: PIERROT LUNAIRE, de Arnold Schoenberg, um ciclo de 21 poemas de Albert Giraud, em versão alemã de Otto Erich Hartleben, para voz e pequeno conjunto instrumental (piano, flauta e flautim, clarinete e clarinete baixo, violino, viola e violoncelo). Continuar a ler “O PIERROT LUNAIRE A PARTIR DUM ENSAIO DE AUGUSTO DE CAMPOS- por Eric Ponty”
TRÊS POEMAS DE “MEIO FIO” – de Flavia Ferrari
ANUNCIAÇÃO
Não é possível olhar o alto
Se o ar ao redor está todo preenchido
O espaço pode ser este lugar sufocante
Nomeado
Mas não reconhecido Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE “MEIO FIO” – de Flavia Ferrari”
POEMINHOS – 11 – 20 – por Jaime Vaz Brasil
11.
Noite antes
noite depois:
eis a constante.
Existir
é relâmpago. Continuar a ler “POEMINHOS – 11 – 20 – por Jaime Vaz Brasil”
UM ROMANCE NAS NÓDOAS DA MISÉRIA (Série I)- por Lúcio Valium
HORAS
Na instituição as horas são linhas. Férreas convenções temporais. De manhã não segui a norma. Permaneci na hospedaria. Cama jangada dignos trapos quentes. São a vida. A negação doce e animalesca das imposições. Chego tarde com orgulho. Entro na cápsula como um infiltrado e visto a pele de sereno figurante. Um paciente que não é fácil decifrar. Pouco para o exterior. Só as raras sessões de livre palavria medicante me interessam. De resto busco salas vazias. O desprezo pelo real fraudulento. Não respeito a engrenagem e escondo estratégias que a maquinaria não pode controlar. Sei que a directora é um coração bom. Mas não ia gostar se soubesse do afastamento a que voto as actividades gerais. Pouco importa. Gosto de algumas palavras dela. Mas dou-lhes outro uso. Sonho com o tempo que partilhamos na hospedaria. O nosso vinho na lareira é um festim sem necessidade de ornamentos. É a música primordial dos lábios. Fogo vinho nas cores dos olhos. Prazeres que bailam no labirinto dos corpos. Assim vivo o silêncio íntimo nestes pisos ruidosos. Retendo o suor da noite e a sonoridade da tua pele. Continuar a ler “UM ROMANCE NAS NÓDOAS DA MISÉRIA (Série I)- por Lúcio Valium”
D’A Grua e a Musa de Mãos Dadas – por Fernando M. Guimarães
A Grua e a Musa de Mãos Dadas é o título da sexta obra literária de Jorge Carlos Fonseca. Em entrevista dada ao jornal caboverdiano Expresso das Ilhas (30/9/21), a propósito do lançamento do livro na Cidade da Praia, o autor afirmava que a sua escrita não obedecia a qualquer programa ou intenção. Composta por 106 fragmentos, a natureza fragmentária da obra é religada por uma ideia sem a qual a literatura não faz sentido – a liberdade, esse exercício de escrita que encontra a sua matéria em tudo o que constitui pretexto da e para a criação literária: da literatura à política, dos afazeres que o dia a dia exige às pausas que a insónia impõe. Continuar a ler “D’A Grua e a Musa de Mãos Dadas – por Fernando M. Guimarães”
O SILÊNCIO – por Manuel Igreja Cardoso
O silêncio é um dom e é um tom. Um dom, porque na ordem das coisas da mãe natureza que tantas vezes mais parece não haver ordem, nos é disponibilizado com todo o esplendor para nele ouvirmos os sons mais profundos das veredas da alma. Um tom, porque como sabemos, uma pausa também é música quando esta ostenta o timbre dos anjos. Continuar a ler “O SILÊNCIO – por Manuel Igreja Cardoso”
POEMAS DE Rosa Sampaio Torres
Inspirada em tela de Cruzeiro Seixas,
“Longa viagem em palavras azuis” ;
influência igual de “Lapo e eu” de Dante.
Desejo
Singrar longamente
em alvas velas
por mares azuis. Continuar a ler “POEMAS DE Rosa Sampaio Torres”
PROSE AND POEMS – by Susan Pensak
Is it raining yet? Is there a chance of rain? Has it rained? Is that smoke I see coming out of the chimney across the street? Is this a picture? Am I looking at something that isn’t moving outside my window? Is that rain? Is that the sound of dragons, dungeons, wildlife, air purifiers, birds, fate? What was the illness I didn’t know by name that made the man’s left eye open incompletely (the one who was begging paradoxically, using a plastic brochure stand as his lectern, like a preacher)? What was his soul affliction? (What’s mine?) Continuar a ler “PROSE AND POEMS – by Susan Pensak”
TRÊS POEMAS DE Tito Leite
URGÊNCIA
Procuro uma palavra sobre a matéria
pueril dessas tardes.
Uma palavra escondida em alguma
boca seca de detalhes.
Falta mãos para colher as flores
de março e o mormaço dos dias
atuais espanta todas as borboletas. Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Tito Leite”
UM SORVETE DE CHOCOLATE – por Via Plaza
Aos poucos ele vai se esquecendo de mim, anteontem, por exemplo, eu perguntei para ele se tinha filhos e respondeu que não, que não tinha.
Eu sou filha dele desde que tenho memória, porém ele já quase não tem. Continuar a ler “UM SORVETE DE CHOCOLATE – por Via Plaza”
AS SELEÇÕES MUSICAIS BRASILEIRAS DE TODOS OS TEMPOS – por Wander Lourenço
Às vésperas da Copa do Mundo de 2022, no Qatar, um afamado jornalista do Caderno de Cultura desafiou-me a escalar as duas maiores seleções, feminina e masculina, de todos os tempos do cancioneiro pátrio, orientando-me a escrever a crônica como fosse uma entrevista coletiva para divulgação dos excretes nacionais, nas mídias estrangeiras e tupiniquins. Vamos a elas; entretanto, cabe informar que, por cavalheirismo, irei iniciar a convocação pela equipe feminina de compositoras e intérpretes. Continuar a ler “AS SELEÇÕES MUSICAIS BRASILEIRAS DE TODOS OS TEMPOS – por Wander Lourenço”
LEIA A EDIÇÃO Nº18 DE NOVEMBRO DE 2021
EDITORIAL – OS DESCAMINHOS DO PENSAMENTO – por Francisco Traverso Fuchs
“I would rather have questions that can’t be answered than answers that can’t be questioned.”
Richard Feynman
O que é pensar? Como responder, sem afetação e sem aduzir enigmas, uma pergunta que gerou e continuará gerando intermináveis questionamentos? Pensar é estabelecer (e resolver) problemas. Porém mesmo esta resposta simples, ou aparentemente simples, oculta um abismo de complexidade. O que diríamos, por exemplo, se descobríssemos que estabelecer e resolver um problema não é uma atividade puramente intelectual, mas envolve toda uma dimensão afetiva? E se chegássemos a descobrir que o problema é uma virtualidade inesgotável que exprime a dimensão ontológica do pensamento? Continuar a ler “EDITORIAL – OS DESCAMINHOS DO PENSAMENTO – por Francisco Traverso Fuchs”
POEMAS DE OUTONO – Ana Margarida Borges
SINFONIA DE OUTONO
Há perfeita sintonia
Entre as folhas e meu canto.
É o espanto que me guia
Na palidez outonal
Como o rio, me despeço
Deste enorme matagal
De Bacus. À vida cedo
E ao Douro me confesso
EXCERTO DE “BREVE É TODA A VIDA”- por Artur Manso
Para uma pedagogia da morte e do morrer.
A questão
Nisto erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte.
Séneca
As décadas finais do século XX introduziram a sociedade ocidental em uma nova relação com a morte, atitude que se veio a extremar ao longo do primeiro quartel do seculo XXI onde a máxima de Confúcio “aprende a viver como deves, e saberás morrer bem” parece ter sido compreendida de forma defeituosa. O que se passou para Continuar a ler “EXCERTO DE “BREVE É TODA A VIDA”- por Artur Manso”
SOBRE LUGAR DE APARICIONES – por Carlos Barbarito
Carlos Barbarito sobre
LUGAR DE APARICIONES
Con collages de Sergio Bonzón
Con Sergio Bonzón nos conocemos desde los años setenta. Como me sucede con otros amigos no recuerdo con precisión dónde y cuándo nos vimos por primera vez. Continuar a ler “SOBRE LUGAR DE APARICIONES – por Carlos Barbarito”
CONTO LEVEMENTE ERÓTICO – por Cecília Barreira
Viúvo há escassíssimos meses.
Quando a mulher ainda era viva, conhecera, através das redes, uma rapariga de ofuscante beleza, casada e com filhos adolescentes.
Apaixonou-se logo. Continuar a ler “CONTO LEVEMENTE ERÓTICO – por Cecília Barreira”
MULHERES NAS RUAS DO PORTO – XVIII- por César Santos Silva
Carolina Michaelis de Vasconcelos (Escadas de) e ( Escola)
Início: Oliveira Monteiro (Rua de)
Fim: Infanta D. Maria (Rua de)
Designação desde 2001
Freguesia de Cedofeita
Designações anteriores: Rua de Públia Hortênsia (1948‑1957), Escadas do Liceu.
Carolina Wilhelme Michaelis de Vasconcelos, que também está consagrada numa escola da cidade do Porto e numa estação da linha do Metro do Porto, nasceu em Berlim, Alemanha, em 15 de Março de 1851. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO – XVIII- por César Santos Silva”
SEVLA ORIEBIR – por Correia Machado
As curvas doces desaguam em rectas um pouco menos que obtusas
que lhe fazem o rosto um poema para eu dizer, para eu olhar, e me desfazem a vontade de ser de muitas.
Eu serei só dela. Continuar a ler “SEVLA ORIEBIR – por Correia Machado”
TEXTOS POÉTICOS DE Claudia Vila Molina
©Júlia Moura Lopes- rio de mel
Memorias de luz
1
Ilumino el tiempo
parten trenes hacia el país del ensueño
2
Rostros avanzan por la muralla
tanta similitud en nuestros roces
que estallamos en un minuto
y agonizamos Continuar a ler “TEXTOS POÉTICOS DE Claudia Vila Molina”
FAZENDO O PINO COM A IDA LUPINO – por Danyel Guerra
“I am the lizard king, I can do anything”
Jim Morrison.
Feliz Aniversário Manuel António
‘O País das Pessoas de Pernas para o Ar’. Há livros que nos ganham num átimo. O título basta. É esse o caso daquele que encorajou, numa Feira do Livro do Porto, vivia-se uma tarde nublada do Verão Quente de 1975, intrépida expropriação revolucionária. Só depois é que reparei nos prenomes do autor. Manuel António. Até à data, o único Manuel António que eu conhecia era o ponta de lança do FC Porto e da Académica, que se tornaria médico oncologista e chegou a prestar assistência ao Miguel Torga. Continuar a ler “FAZENDO O PINO COM A IDA LUPINO – por Danyel Guerra”
UN EDIFICIO ENORME, CON NUMEROSAS VENTANAS- por Eduardo Dalter
Voces de la poesía argentina
UN EDIFICIO ENORME, CON NUMEROSAS VENTANAS
Seis tomos reunidos de entrevistas a poetas argentinos
Casi ocho años dedicó el poeta Rolando Revagliatti (Buenos Aires, 1945) en realizar más de 150 entrevistas a poetas argentinos (159, en verdad), para finalmente reunir los contenidos de éstas en seis tomos, que llevan el nombre “Documentales/ entrevistas a escritores argentinos”, bajo el sello Ediciones Richeliú. Continuar a ler “UN EDIFICIO ENORME, CON NUMEROSAS VENTANAS- por Eduardo Dalter”
TENDER BUTTONS E LADIES ALMANACK – por Eric Ponty
Gertrude Stein’s The Autobiography of Alice B. Toklas (1933) é uma autora emblemática na autobiografia lésbica, se não típica. Não sendo típica porque embora obedeça à maioria das convenções genéricas dessa autobiografia, está escrita na voz de outra: é A Autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein publicado pela Cosac Naify (2009) com tradução de José Rubens Siqueira. Além disso, Alice B. Toklas não sendo apenas mais uma pessoa, não apenas Gertrude Stein, sendo a consorte de vida de Gertrude Stein, sua amante – esposa Continuar a ler “TENDER BUTTONS E LADIES ALMANACK – por Eric Ponty”
NAS NÚVENS – por Fernando Martinho Guimarães
Além da infância, em que olhar as nuvens e brincar descobrindo formas nelas é uma tarefa a que nos dedicamos com todo o empenho, são poucas as vezes em que as olhamos com olhos de ver.
Esta injustiça para com as nuvens é sinal evidente de que ser criança é coisa já passada há muito tempo e que, à inconsciência disso, acrescentamos a ignorância das coisas que fazem da infância a fase mais feliz da vida. Continuar a ler “NAS NÚVENS – por Fernando Martinho Guimarães”
POEMINHOS – Série de I a X- de Jaime Vaz Brasil
Poeminhos
1.
Fé
é a esperança
voando a pé.
—◊-◊-◊—
2.
A poesia existe
no que a palavra
não disse. Continuar a ler “POEMINHOS – Série de I a X- de Jaime Vaz Brasil”
POESIA, PULSÃO E VIVA VOZ EM ANDERSON BRAGA HORTA – por José Pérez
Podemos buscar a chuva na poesia maior de Anderson Braga Horta, o vento, as estrelas, a noite constelada ou o abismo; e ainda nos faltariam os fogos e o barro que fizeram o homem, a Humanidade, e o fumo, o húmus, as espadas, as facas, os milênios perdidos, o incerto parto do ano 2000 ―no advento do novo milênio―, o crematístico, as marcas dos animais, o ardor das brasa no sonho, a desesperada esperança de seu profundo olhar sobre a vida; mas sem coroas de reis e sem louros, pois sua poesia nos diz que “O homem que tem um sonho/ é maior do que o rei,/ é mais forte que o herói,/ é mais belo que o poeta”¹, estendendo-nos um convite tão sublime e tão rico em seus signos de revelações da língua portuguesa que fica não apena descortês e destemperado, senão imperdoável e pecaminoso, perder-se o descobrimento e o gozo da obra poética deste grande autor da literatura brasileira contemporânea. Continuar a ler “POESIA, PULSÃO E VIVA VOZ EM ANDERSON BRAGA HORTA – por José Pérez”
NO QUIERO VER UNA MUJER LLORAR – por José Pérez
NO QUIERO VER UNA MUJER LLORAR
Para Polimnia Sánchez, en Nueva York
y Julia Moura Lopes, en Porto
Por impostura o condena
aberración o inocencia
pobreza o abatimiento
no quiero ver una mujer llorar
Que se derrumben las catedrales
mausoleos y grandes torres
Que se calcinen los lechos
jardines profanados
cocinas ensangrentadas
aposentos y oficinas
donde se hayan hundido sus lágrimas
Por cobardía o jerarquía
dominación o violencia
abandono o traición
no quiero ver una mujer llorar Continuar a ler “NO QUIERO VER UNA MUJER LLORAR – por José Pérez”