5 POEMAS DE “FILHOS DE ABEL”- por André Rosa

Poema 1

Os carros correm como que eu não tenho pressa

Os carros correm como que eu não tenho pressa
As faixas separadas de mim

De repente a buzina me interessa que os carros sejam exatamente assim
Faróis ao auto!
Velocidade é fim
Parada inglesa
Parada de taipas
Parada XVI

Aonde vão as senhoras têm preferência
Esse é o ponto final de semana é permitido

Poema 2

Parto estelar

Contados os pontos
Finitos como eu
Mas belos no findar

Abstratos anjos gasosos
As verdadeiras nuvens
E o céu estão aí?

Reparar que é Hidrogênio
Também
Tão onipresente quanto Deus
Também
Tão logo se torna Hélio
Também
Nobre como deve ser

Um rajado
Na noite e no tempo
Vindo do infernal núcleo
Esgota contigo

No passado parecias eterna
No dia não parecias
Na noite perecias passageira

Humana luz
Resiste
Exaure

Orbitando no pretume onírico
É perfeita
Por esgotar-se
E brilhar o suficiente
Para parecer imortal

Poema 3

Colina

Foi razão de colina
Justo aquela
Hoje tão oca
Mas tão bonita
Nos seus vários tons de verde

Estará lá
Sempre alta
Para quem quer encurtar
A distância até o céu

Num vertiginoso
Gole de gravidade
O mundo para
Nada mais se torna
Tornando-se o próprio nada

Poema 4

A mariposa cinza

A mariposa continha
Em seu micro-coração
O contentamento de toda uma tarde

E sua cortante toada
Fatiava o ar
Num cortejo à eternidade

Súbita, ela aparenta parar
No entanto
Estava em gestos desapercebidos

O matrimônio se consumara
Ela plena em satisfação
Numa brasa, duma fogueira
Recém mortificada

A mariposa era abrasada
Pelos mornos da finitude
O prelúdio das cinzas
Que subiam suaves
Anunciava…
Ela então, tornou-se cinza
Enfim.

Poema 5

O dia nasceu choroso

O dia nasceu choroso,
Pediu que não sem palavras.
Rompeu enfim.
Deixou duplicar-lhe os redemoinhos da cabeça,
Sem aspereza;
Só esse dia,
Só dessa vez.

♦♦♦

André Rosa nasceu em São Paulo/SP, em 1990. É formado em Letras –
Língua Portuguesa pelo ISESP – Singularidades. Publicou a coletânea de poemas "Filhos de Abel" na 15ª edição da revista eletrônica Sucuru. Publicou o artigo respiros poéticos: relato de experiência com interpretação em libras de poesia de autoria indígena no XII Seminário Nacional sobre Ensino de Língua Materna, Estrangeira e de Literaturas (SELIMEL) no ano de 2021. Foi Artista Orientador de Literatura na edição de 2020 do programa Vocacional da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e Auxiliar de Sala de Leitura no programa Fábricas de Cultura do Governo do Estado de São Paulo nos anos de 2014, 2015 e 2016. Realizou trabalhos educativos de mediação de leitura e contações de histórias em alguns espaços culturais: Museu da Língua Portuguesa, Casa das Rosas –Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, Biblioteca do Centro Cultural São Paulo etc. Atualmente realiza trabalhos em arte-educação e de tradução em Libras (Língua Brasileira de Sinais).