Em todas as ruas te encontro em todas as ruas te perco conheço tão bem o teu corpo sonhei tanto a tua figura que é de olhos fechados que eu ando a limitar a tua altura e bebo a água e sorvo o ar que te atravessou a cintura tanto tão perto tão real que o meu corpo se transfigura e toca o seu próprio elemento num corpo que já não é seu num rio que desapareceu onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro em todas as ruas te perco
Mário Cesariny, in “Pena Capital”
Poeta e pintor, considerado o principal representante do surrealismo português. É de destacar também o seu trabalho de antologista, compilador e historiador das atividades surrealistas em Portugal.
Um homem fora de seu tempo. Eis a melhor definição para Cesariny.
Nasceu em Lisboa em 9 de agosto de 1923 onde também morreu em 26 de novembro de 2006.
Foi em 1947 ao lado de figuras como António Pedro, José Augusto França, Cândido Costa Pinto, Vespeira, João Moniz Pereira e Alexandre O´Neill, como forma de protesto libertário contra o movimento do neo-realismo, dominado pelo Partido Comunista Português, ao mesmo tempo que também não alinhava com o regime salazarista, que cria o seu surrealismo português.
Cesariny adota uma atitude estética de constante experimentação nas suas obras e pratica uma técnica de escrita e de (des)pintura amplamente divulgada entre os surrealistas. A sua poesia é animada por um sentido de contestação a comportamentos e princípios institucionalizados ou considerados normais nos campos do pensamento e dos costumes. Ao recorrer a processos tipicamente surrealistas (enumerações caóticas, utilização sistemática do sem-sentido ou do humor negro, formas paródicas, trocadilhos e outros jogos verbais, automatismo, etc.) alcança uma linguagem que encontra o equilíbrio entre o quotidiano e o insólito. Nos últimos anos de vida, desenvolveu uma frenética atividade de transformação e reabilitação do real quotidiano, da qual nasceram muitas colagens com pinturas, objetos, instalações e outras fantasias materiais.
No Surrealismo encontrou o espaço de liberdade criativa que procurava. Usava o sonho, a imaginação, o amor, assentes na técnica do automatismo psíquico e do acaso, sem imposições estéticas ou morais. Tudo de acordo com a sua personalidade inquieta, polémica, subversiva. Em Portugal exercia sua vontade de transgredir e de desafiar a poderosa máquina da ditadura. Queria ser livre no seu país. “Eu acho que se se é surrealista, não é porque se pinta uma ave, ou um porco de pernas para o ar. É-se surrealista porque se é surrealista!”.
Sua poesia é um registro essencialmente surreal sustentado em jogos verbais, trocadilhos, paródias, humor negro, nonsense e enumerações infindáveis. Caracteriza-se pelo vivo e lúcido sarcasmo, pelo impetuoso e angustiante lirismo, assente numa linguagem rica de expressões antagônicas, de imagens, e de sugestões peculiares.
Famosa é sua frase ao final das conferências e palestras para as quais o convidavam:
– Estou num pedestal muito alto, batem palmas e depois deixam-me ir sozinho para casa. Isto é a glória literária à portuguesa.
Sobre o que escrevia afirmou: “Existe um certo ponto do espírito de onde a vida e a morte, o real e o imaginário, o passado e o futuro, o comunicável e o incomunicável, o alto e o baixo deixam de ser e não deixam de ser apercebidos contraditoriamente.”
(Passagem do “Segundo Manifesto Surrealista” (1930), de André Breton e selecionada por Mário Cesariny para integrar o “Manifesto Abjecionista”).
Em suas pinturas foi um autor espontâneo e insurgente, que bebia do misticismo e da magia das suas influências, dando primazia à cor e à anarquia figurativa. Pinturas, colagens, ‘soprografias’, e cadavres-exquis (que consistia na elaboração de uma obra por três ou quatro pessoas, num processo em cadeia criativa, em que cada um dava seguimento, em tempo real, à criatividade do anterior, conhecendo apenas uma parte do que aquele fizera) fazem parte da sua obra plástica. No entanto, a pintura e a poesia foram sempre aliadas: muitas obras incluem palavras recortadas, conjugações de textos e imagens, e outras formas experimentais.
Para Cesariny o amor era “um desmesurado desejo de amizade”, em que “o outro é um espelho sem o qual não nos vemos, não existimos”, e “a única coisa que há para acreditar”.
O poeta defendia que se pode morrer de amor, mas considerava que “também se pode morrer de falta de amor”.
O Surrealismo de Cesariny é uma forma de insurreição permanente, na arte e na vida.
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Marilene Cahon, brasileira, professora, escritora, poetisa, cidadã caxiense, autora dos quinze volumes que deram a Caxias do Sul o título de Capital Brasileira da Cultura em 2008. Membro da Academia Caxiense de Letras a qual presidiu no biênio 2012-2013, ocupando a cadeira de número 15.
Cependant, il ne saurait s’agir d’un récit à clés, car nul ne possède la clé des songes. P. Debassac, Le lion et la demoiselle, Avertissement.
Sou um leão da cova dos leões de Daniel, desenterrado e fixadao em pedra andaluza.
Os meus onze outros irmãos ladeiam-me, suportando nós todos esta salva de água puríssima, estendida à sede e ao cansaço. Aqui, nesta Alhambra que nos acolhe no presente, eles são leões de pedra sem alma.
Mas eu, e eu só, sou um avatar, uma reencarnação, um clone ao menos (como vai alguém saber mesmo quem é, depois de Blade Runner?), do rei dos leões na cova dos leões. Creio que foi para minha proteção que o escultor me fez exatamente igual aos outros onze. Aparentemente, não tenho nenhum traço distintivo, posso passar despercebido. Há, é certo, dois irmãos meus com um sinal na fronte. Um triângulo, como conviria. E eles seriam os representantes das duas tribos eleitas, a de Judá e a de Levi. Mas a minha estirpe é a de Salomão, portanto anterior aos cismas…
Aqui na Hispânia para onde me trasladaram, tenho vivido incógnito e muito melhor. Deixem outros deliciar-se com a descoberta desses dois irmãos do reino dividido.
II
Sou o leão da cova dos leões de Daniel, já vo-lo disse. Mas isso, também vo-lo confesso (mais que confesso quero proclamar, e deixar em registo), de modo nenhum me envaidece. A vaidade é apenas um adorno supérfluo e sempre ridículo dos que não têm valor real. Mas não falemos dessas futilidades.
Apresento-me sem cartão de visita. Os cartões de visita são materializações curiosas dessa mesma vaidade de que falávamos. Todavia, podem ser até elegantes: quer na escolha subtil dos dizeres, quer na apresentação gráfica (do mesmo modo que podem ser horríveis e a consubstanciação do novo-riquismo, da ostentação, etc.). Só a elegância atenua um pouco o grave pecado da vaidade.
Perdoai-me que divago.
É a idade (são muitos séculos ao serviço…). Não sem que diga algo a propósito desse lugar comum que, muito contra minha vontade consciente, saiu dos arquivos do que se diz para o discurso que eu mesmo disse… Deplorável quando se fala pela voz e pelas ideias dos outros. Pois bem. Não acho que os velhos sempre se repitam porque desmemoriados. Alguns, sem dúvida que sim, será por esse motivo. Mas outros (devo dizer que os melhores), repetem (esbracejando contra o Tempo) porque querem gravar, para si e para os demais, memorabilia, os feitos e os factos que não suportam ver perderem-se pelos ralos da memória – pessoal e coletiva.
Certamente um dono de obra velho (teria sido o vizir judeu Ibn Nagrela?) mandou um jovem e possante escultor dar-nos forma neste pátio, para que ficássemos imortais. Pigmaleão, o escultor. Sempre apaixonado pela sua obra. Sinto que fui esculpido pelo amor, não apenas com amor. O que viria depois já não o recordo. Ou não importa. Porque as estátuas permanecem, e os escultores desaparecem. Como dói a perenidade da estátua.
III
Sou, pois, já me conheceis, o leão-rei da alcateia que poupou a vida do profeta, porque connosco falou o Espírito Santo. E que não tivesse falado. Certamente falou de várias formas: pois antes de nos ter dirigido a Palavra, já nós O ouvíamos sem que nos falasse. O Espírito Santo é, da Santíssima Trindade, certamente a mais subtil e complexa das Sagradas Pessoas. Ele é o Paráclito: ao mesmo tempo consolador e defensor, advogado mesmo em tribunal. Pois intercedeu por Daniel que injustamente havia sido condenado, e encontrou nos reis do reino animal, nos leões, pleno vencimento de causa.
Obviamente que Daniel merecia ser poupado. Desde logo, porque o suposto “crime” que teria praticado não era crime algum, pelo contrário apenas o livre (ontologicamente livre, só comprimido por normas e atos eles sim criminosos) exercício da liberdade religiosa, como se viria a dizer mais tarde, desde logo nesta Península Ibérica e nesta Europa no séc. XXI, de onde vos falo.
E sim, sou um leão velho, velhíssimo, primordial quase, mas também e afincadamente, conscientemente, um defensor dos Direitos Humanos. Não por moda, nem contraditoriamente, achando que tudo o que é a meu favor o é, e tudo o que me não convenha contra eles se revelaria.
Direitos Humanos, que um leão pode bem defender. Sem cuidar sequer de Direitos dos animais (contos largos, contos largos, em que não me vou embrenhar agora). Aliás, todos já entenderam que eu não sou um simples animal. O mítico leão nunca foi um simples animal. E um animal não é um simples animal…
Mas voltemos aos Direitos. É uma questão que ainda se coloca, que se coloca e colocará no futuro próximo decerto ainda muito, porque os Homens se desumanizam, e não respeitam essas manifestações elementares da sua dignidade enquanto Pessoas. O problema nem sequer, em tese, se deveria pôr. Uma sociedade minimamente civilizada não deveria mesmo ter essa matéria como tema, muito menos como pauta de atualidade. Tais adquiridos deveriam ser naturais. Dever-se-ia viver os Direitos Humanos como quem respira.
Mas isso é com outros. Não estamos nessa sintonia, no momento. “Traten otros del gobierno”, escreveu Luis de Gôngora. Embora uma canção de Paco Ibañez tenha chamado a atenção para os perigos da alienação… Bem sabemos, bem sabemos… Têm ambos muita razão, no meu entender de quem já viu coisas demais.
Entretanto, quando me petrificaram, aqui no Império da Andaluzia, terra de coloridos jardins, frutos suculentos e sombras amigas e suaves, entendi que não somos apenas uma vida. Era, aliás, fácil compreendê-lo, tendo a reminiscência do tempo da Babilónia.
Como vos disse, tenho gostado deste tempo de agora (tantos séculos já), apesar de preso a segurar esta taça de límpida frescura.
Só que a prisão é ilusória. Quando andava pela terras do Médio Oriente, também me sentia um leão enjaulado. Entendes que um leão condenado a devorar condenados é de todos o principal prisioneiro e com a pena mais cruel? Eles encontravam a liberdade na morte. Nós em cada morte que obrigados perpetrávamos, era um novo grilhão que acrescentávamos à nossa longa cadeia.
IV
Sou o leão, quase sem rosto, com um impercetível olhar esfíngico. Isso não me despersonifica, contudo. Há uma certa bonomia satisfeita (mau “satisfecho” é só o “señorito” de Ortega… e esse é realmente muito mau) nesta minha situação presente. O tempo angustiado das sagas, epopeias e tragédias terminou. Na Idade dos Homens (que hoje se arrisca a dar lugar a uma idade pós-humana, desde logo desertificada do que de melhor eles inventaram, os Humanismos – pois se superaram, numa reinvenção), o melhor é não perder o pé no real. Manter a serenidade, e aproveitar minimamente a vida, em geral tão fugaz, tão traiçoeira até. Um ar sereno e até aparentemente feliz (ainda que de uma falsa felicidade, porque estulta e enganada, não consciente) ainda é o limite máximo que nos é dado viver. Como há um abismo entre o sangue que por mim escorria lá nas terras de Babel e a pétrea bonomia em que poso para a posteridade como representante de uma das doze tribos de Israel… Ironia do destino…
Falava em aproveitar a vida tão fugaz. Vida fugacíssima a dos que por aqui têm passado. E nem sequer me refiro aos tais “turistas” dos últimos séculos, e em especial destes últimos. Não entendi bem ainda o que julgam eles que captam quando apontam para nós uns aparelhos, por vezes luzentes. Disseram-me que a nossa imagem entra nesses artefactos e pode ser depois reproduzida. Mas que interesse terá possuir-se uma imagem bidimensional de algo aparentemente tridimensional, embora, como sabemos (segredo nosso) tenha muito mais dimensões? O nó da questão estará certamente na posse. Os Humanos (e os animais também) gostam de se apropriar de coisas (até de pessoas e ideias – mesmo de divindades), e de coisificar entidades não reificáveis.
Os Humanos estão alucinados com algumas miragens: o rei que queria matar Daniel tinha a febre do poder; os turistas são benévolos doentes da maleita do possuir, até paisagens, lugares, memórias. Há outros venenos que os possuem, mas esses são normalmente filtros ainda mais complexos, ardilosos e mesclados de virtude e vício, e deixá-los-ei para eticistas mais experimentados. Afinal, eu não conheci senão o sangue da cova dos leões e a placidez da sombra deste pátio.
V
O leão é também símbolo da realeza, e uma realeza sacra a que não podemos deixar de associar o rei Salomão, cujo nome consta do nosso complexo escultórico. Nem precisava de tal ocorrer…
O leão (não me caberia a mim recordá-lo, mas vivemos tempos ignorantes), rei da criação, espécie de lugar-tenente de Adão para os animais aparentemente não humanos (porque sabemos que os animais falam, e se falam também pensam – e é óbvio que sentem: não teve Ricardo de Inglaterra um “coração de leão”?) é senhor do porte imponente e altivo (sem presunção, mas por natureza e dignidade própria) que todos lhe conheceis. Mas relendo estas palavras sinto-as não pomposas, mas parcas. A nobreza, o oiro, a magnânimidade, a independência criativa e o rasgo são traços nossos. Acrescentaríamos até a palavra soberania, se ela não se encontrasse hoje tão esfacelada e desfigurada em polémicas e dogmas muito restritos. Aliás, da definição que atribuem a Jean Bodin pouco se aproveitaria mesmo para o que é o poder e a responsabilidade do rei leão.
De qualquer forma, é um arquipélago de conotações que se concentra na imagem do leão. E tem de haver um qualquer choque na associação do leão com símbolos de conotação diversa.
Por exemplo: o leão é um grande felino, o felino dos felinos. O arquétipo do Felino. Não é um gatinho. Um leão feito gatinho doméstico brincando com crianças e uma bola multicolorida, ou um leãozinho inofensivo, sem garras e quiçá sem dentes, embalado no colo de uma moça como se fora um urso de peluche… Pior ainda o último. Não, não sei qual dos dois o pior, o mais descaracterizador.
Não posso sequer pensar nessas imagens…
Claro que muito degradante é o velho leão cansado a quem todos vão provocar ou mesmo molestar. Ou o leão desses circos arcaicos de que o malabarista escarnece, obrigados à pantomina e ao chicote.
Essas são páginas tenebrosas da nossa gente. E, contudo, tal como ocorre com os Humanos, os leões podem submeter-se por vontade própria. É possível a servidão voluntária, de que falava La Boétie. Complexa atitude, pouco leonina, e, convenhamos, certamente pouco humana também… Falando da dita “natureza humana”, na verdade um arquétipo tão pouco físico, tão pouco “natural”, romantizado, ou tornado estoico…
VI
Hoje, no universo das imagens fictícias ou técnicas, aquela boa parte do romance (ou de qualquer género ou subgénero de ficção) que consistia na descrição (de paisagens, interiores, roupas, ou até de traços humanos físicos), fica em algum apuro, em crise, em perda. Como pode a paleta linguística competir com as imagens virtuais, facilmente criadas ou manipuladas por meios computacionais?
A moça que afaga o pequenino (e indefeso) leão não tem na ficção um rosto. Tem-no, nas imagens oitocentistas ou dos começos de Novecentos, pela mente e pelo coração do profanador fotógrafo, que lhe emprestou o seu olhar fatal.
Mas a decisiva pergunta é como o leão de pedra consegue saltar para a foto, preto e branco amarelada, dessa moça com leão.
Aqui, no pátio a que justamente damos nome, sou um austero ainda que (creio) simpático monumento de pedra, que acabou de se restaurar há pouco mais de meia dúzia de anos, após uma década de polimentos e restauros. Sinto-me rejuvenescido, lavado, livre de poeiras e excrescências. Foi um ritual longo, esse, mas valeu a pena. Todos os rituais purificadores (que nos alijam de adjacências e restituem a depuração) elevam, assim como todos os que nos carregam de adornos nos rebaixam e pesam, ainda que pensemos o contrário. São palavras de um rei sem coroa.
Retirado do pátio, quando chegou a minha vez, tive uma espera de recreio desta petrificação, que equivale a um dos castigos do Hades helénico. Voltei ao purgatório em que, fixo, vou tentando redimir a vagância (ainda assim confinada) na cova antes de conhecer aquele que tinha no nome ser apenas Deus o seu juiz.
Digamos que fui instrumento da mão de Deus, poupando o profeta, e agora continuo espiando e redimindo-me pelos séculos afora, dos tempos em que, também enclausurado, era involuntária máquina de opressão e morte.
Não consigo deixar de pensar na fotografia de que falámos. Podemos interpretá-la de várias formas, como diverso significado pode ter esta minha guarda no pátio.
Ela parece poder também dar uma esperança de um mundo paralelo, em que adquira de algum modo vida, e encontre alguma forma de afeição e a possa irradiar também. Todos sabemos como o leão pode ser o cordeiro, e vice-versa. Basta ler o Apocalipse.
Os tais turistas, que são quem agora mais nos visita, mesmo os letrados e invetigadores que com um outro olhar de quando em vez por aqui passam, não querem de nós sentimentos; no máximo dos máximos nos tributarão admiração.
VII
Ora eu, leão de Beltessazar (assim lhe chamaram também), estou há séculos à espera de uma dupla de dons, que alguns diriam inatingível: a Liberdade e o Amor. Claro que são conceitos (“são conceitos!” Que digo eu? Como se o fossem antes de mais…) muito polissémicos…
Que saber disso para o poder desejar? Quantos filósofos se passaram neste pátio, quantos poetas, quantos senhores do poder, da paz e da guerra, quantos amantes… Todos por aquelas janelas nos fitaram ou deambularam em poses diversas em torno desta fonte da vida (fons vitae). E alguns cuidaram saber de uma cousa e da outra, e certos não pensaram vivê-las, ainda sem as pensarem muito.
Não importa: algo me segreda que são ambos objetivos que, necessitando embora de um contexto favorável (porque dependem de outros, e mesmo de sociedades realtivamente despoluídas e saudáveis, em que sejam possíveis), dependem sobretudo de cada um. Portanto, no meu caso, de me transfigurar, porque pedra, ainda que segurando uma taça de vida, não é argila para moldar uma coisa nem outra.
Mas, insisto: há milagres. Eu já fui um carniceiro. Vede-me ainda feroz e pulsante no quadro de Rubens.
E nesse século XIX, enquanto estava o meu invólucro aqui em Granada, posso ter momentaneamente visitado essa foto pretensamente exótica. Mas, evidentemente (não quero ser mal entendido), essa moça, cujo rosto nem sequer vi, não é nem o meu ideal de liberdade nem de amor. Olhem como ela me teria (se aquele leão tivesse realmente sido eu) de algum modo preso, aprisionado, domesticado. Estou nas suas garras. Talvez me pudesse dar a afeição superficial que se pode transferir para um qualquer boneco mais ou menos animado, ou… animal de estimação. É uma afeição (se o for…) de algum modo pueril, fútil, decorrendo decerto de um fundo inespecífico de carinho potencial que em mim terá fortuitamente poisado. Muito provavelmente animado pela relativa excitação e vaidade de se poder ter ao colo um leãozinho – coisa aparentemente paradoxal, e exótica.
Esse século XIX de uma possível (mas improvável, claro) liberdade condicional e condicionada é uma advertência contra a falsa liberdade e certamente também contra o falso amor. As múltiplas falsas liberdades e os inumeráveis traiçoeiros, ilusórios e erróneos amores – de miragem e de servidão também.
Digamos que numa primeira recusa, surrealista, mais me tentaria inverter as posições da foto. Pois que a figura humana é indefesa e o leão é magnânimo e não agressividade pura, pois que ela seria afinal a imagem do cordeiro, então seria o leão que deveria tomar conta dele. Por isso a moça poderia ser consolada, embalada, e (aí é que está o maior problema, de novo: e como ele hoje ressoaria!…): pelo menos implicitamente aprisionada.
Decerto é esta tentação nada mais que o meu complexo de carcereiro da cova dos leões, que emerge, que vem ao consciente. Em Herberto Helder não há um cão que tinha um marinheiro? A princesa de São Jorge e o dragão de Paolo Uccello não traz a besta por uma trela? E não é o leão rebaixado a glutão na Dame à la Licorne e a criatura pusilânime no Feiticeiro de Oz? Há certamente forças superiores às do leão, e se as heterodoxias referidas são permitidas, mesmo afrontando a dignidade leonina, bulir com o Feminino seria muito mais sacrílego. Não se deve tocar em mistérios muito profundos.
Além disso, entrar, por que forma fosse, nessa dialética do senhor e do escravo nunca foi libertação. E muito menos ainda, a fortiori, Liberdade. Amor tampouco.
Que imagem, então, colocar na minha mente, como visualização do que muito se deseja, e espera que venha a concretizar-se, pelo turbilhão magnético dessa força do querer, que alguns consideram invencível e infalível. Confesso que o não sei, nunca o tentei.
VIII
Shiuuu!… De novo estão a chegar trabalhadores de reparação do pátio. É uma manutenção de rotina, mas isso nos permitiu estas reflexões, sem ter de afivelar o sorriso esfíngico. Sim, só o alívio da prisão e das invasões bárbaras dos visitantes, com suas fotografias incessantes, me permitiu este desabafo.
Agora, honestos pedreiros e afins mesteirais virão embelezar o pátio, para que resista a mais uns séculos de reiterada e consentida profanação.
Sei que te devo ainda umas palavras, sobre o meu sonho, acalentado dia após dia, mês após mês, ano atrás de ano, sobre liberdade e amor.
Mas é impossível falar disso cercado pela indiscrição destes bravos empreiteiros. Requerer-se-ia recato, uma brisa de fim de tarde, e que eu saísse mesmo daqui, passeando pela savana, olhando o por-do-sol além dos embondeiros.
Não é muito importante. As minhas palavras seriam sempre as de uma metamorfose que está congelada há tempo demais na mesma fase. A borboleta tarda a revelar-se.
Pode ser que alguns destes trabalhadores me venha a transportar para um outro lugar. Oxalá não para defininhar num museu. Pode ser que uma outra imagem se projete sobre mim, numa espécie de upgrade, e eu me venha a volver em leão alado mesmo, concretizando o sonho dos meus primos assírios. E depois pelo Leão de São Marcos aqui mais perto, em Veneza.
O leão da cova dos leões do justo Daniel volvido o símbolo do Evangelista – só mesmo na confusão pós-moderna…
Não. Sejamos mais comedidos.
Há na mitologia hodierna de Nárnia, de C. S. Lewis, um bom leão, Aslan. Pode ser que, no seu enorme coração, ele se apiede de mim, e me venha a conceder as graças que eu não mereço, eu que fui o leão da cova dos leões, e também leão da coroa dos leões na resplandecente Granada, tierra sonãda por mi.
Isso será para mim melhor, certamente, que a justiça dos Homens (ou a sua História, outra espécie de tribunal), que não apenas continuam a caçar leões, como a caçar-se entre si. Por mim, afinal, só espero não acordar um dia num jardim zoológico, ou, pior ainda, como leão decorativo em entrada de casa de novo-rico.
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Paulo Ferreira da Cunha – Professor Catedrático e Director do Instituto Jurídico Interdisciplinar da Faculdade de Direito da Universidade do Porto.
A origem franca da dinastia wido e da família Cavalcanti em Colônia, reino franco – século VIII
Ao tentar analisar a origem franca da família toscana Cavalcanti não mais como uma lenda, mas como uma possibilidade real, partimos em busca de traços e vestígios concretos desta provável e muitas vezes repetida origem.
Depois de muito pesquisarmos e termos realizado vários trabalhos prévios nos deparamos com um local possível e sugestivo para a mais antiga proveniência dos membros desta família italiana, como supunha seu genealogista do sec. XV Giovanni di Nicòlo Cavalcanti – localidade próxima de Colônia, no coração do antigo reino franco, com muito antiga Igreja dedicada a S. Gilles – lugar onde comprovamos desenvolvera-se a família dos condes de Hesbaye da dinastia wido, dinastia que sabíamos esteve muito presente na Toscana.
Pequena Igreja por nós localizada leva ainda hoje o nome de São Gilles ou Santo Aegidius precisamente localizada entre Colônia, Mannhein, Aachem e Radisbona, coração do reino franco– atual localidade deSeckenhein-Mannheim (“Neustadt on the Wine Route” – Rhineland-Palatinate) – e fez parte no passado de antiga aldeia que já aparece referida no “Codex Lorsch”em 766
A cidadezinha atual onde se encontra a igreja é representada ainda por um símbolo muito interessante – um brasão com a própria imagem de Santo Egídio (S. Giglio, Saint Gilles), seu cetro indicando a região próxima de Neustadt – a Cidade Nova – cidade onde teria se localizado ainda um antigo ramo dinástico rural oriundo de corte, o chamado “Brunchwilre”.
O brasão da cidade com a imagem de santo Egídio:
Por nossas pesquisas em fontes locais comprovamos que essa Igreja de St. Gilles fora doada pelo Imperador Luis, o Piedoso, à Abadia de Lorsch em 823 – registrado neste documento que a igreja teria sido anteriormente “comprada pelo rei ao conde Warin”.
A notícia deste documento no começo do século IX indicando a transação de propriedade entre o rei franco e os condes Warin é fato para nós muito significativo, pois comprova o local mesmo da origem desta importante dinastia wido – dinastia que dará origem aos reis franceses robertinos e capetos – e da qual surge, entre várias outras, a família Cavalcanti na Toscana.
Deste modo, ficaria comprovado que a genealogia da família Cavalcanti entre outras se desenvolvera no coração mesmo do reino franco e a partir dos mesmos ascendentes dos condes de Hesbaye – cristãos muito religiosos, conversores, martirizados e santificados, que no século VII haviam sofrido intensamente pelos conflitos ocorridos na mudança de poder do período merovíngio para carolíngio – conflitos politicamente cruéis para esta dinastia cristã, então sob os desígnios do decidido prefeito do Palácio da Neustria, Eboim.
Entre estes homens santos e muito cultos desta dinastia wido citamos o seu capostipide, o famoso São Warin, conde Warin I (Guerin) de Poitiers, que foi mesmo martirizado;São Lambert (Landebertus de Maastrich), conversor, referido na genealogia de Hesbaye, n. 636 – f. 705; São Liutwin (Leudwinus), Bispo ou Arcebispo de Trier e Bispo de Laon – tido como filho de São Warin I; Lampert II (Lamperthus), conde de Hesbaye em 706, indicado como abade de Mettlach, Bispo de Metz, Primaz da Gália e Germânia, primeiro abade de Lorsch. Ainda Robert de Hesbaye I falecido em 764, tido como filho de Lampert II. Robert I já bem documentadofoi dux em Hesbayeno ano de 732, conde do Alto Reno (Oberrheingau) e Wormsgau em 750, sobretudo “missus” enviado ao papa na Itália em 757 para preparar a descida franca.
Por nós comprovado que esta estirpe wido saída do condado de Hesbaye por Robert I de Hesbaye enviado como missus à Itália em 757 manteve importante seqüência geracional, especialmente desenvolvida por seu filho, o conde Warin II de Herbaye, conhecido também como Warin, conde Altdorf (n. 723 – f.772) – descendência que no século VIII precede e mesmo acompanha a descida de Carlos Magno em 775 para a península italiana, colocando seus membros em ligações não só em Spoleto por casamento, mas também nas linhas de enfrentamento e descida franca em Narbona, Barcelona, Córsega, Raecia e Friul. Fato este muito significativopara os da família Cavalcanti.
A pequena Igreja de Santo Egidio ou Saint Gilles por nós localizada e ainda hoje existente na atual cidadezinha de Seckenheimseria uma das mais antigas igrejas a direita da diocese de Worms, com assentamento e aldeia muito próximo onde se localizou um ramo dinástico de corte decaído. A aldeia mesmo citada no “Codex Lorsch” em 766, dois anos depois da morte de Robert I de Hesbaye falecido cerca de 764, e como vimos neto de São Warin (Guerin ou Guido).
Ainda outras informações coletadas na mesma região completam a história da pequena igreja de Saint Gilles. Na verdade uma antiga fazenda teria sido aí trabalhada desde o tempo dos romanos, com edifícios circundantes dedicados à produção de vinhos. Vinhedos que mesmo caracterizaram a regiãoWincingas (Vincincta), significando montanha e vinho cingidos, unidos – a aldeia referida no século VIII como Wincingas, e junto a ela construído o Castelo Winzingen nos anos 900 –castelo e aldeia arruinados já no décimo século, momento crítico da passagem da dinastia carolíngia já para a dinastia otoniana alemã.
Sobre a vila junto ao castelo de Winzingen lembramos: “A vila deWinzingen era já bem anterior ao início do século XIII, quando foi construída a Cidade Nova (Neustadt) e a cidade de Haard….. a queda da vila de Winzingen, e seu castelo de mesmo nome, ocorreram no século X – castelo…. hoje em estado de ruínas. A imagem do castelo está cunhada no antigo brasão de Winzingen. E a destruição ou queda de outros castelos ocorreu também nesta ocasião na região do Speyerbach….
Ruínas de vários outros castelos acima do vale de rio Speyerbach, e mesmo de construções posteriores, são observadas ainda hoje uma atrás do outra, como em fileira.
Foto das ruínas do Wolfsburg Castle, em cujas proximidades foram também encontrados restos romanos.
Conclusão:
A muito antiga igreja de Saint Gilles localizada na atual cidadezinha de Seckenhein, antigo centro do reino franco, era também no passado região do condado de Hesbaye, marca da Hesbania – região onde nos séculos VII e VIII tem origem a estirpe dos condes widodeHesbaye – a mesma origem dinástica dos reis franceses, robertinos e capetos como a historiografia moderna já comprova – cristãos extremamente religiosos ainda conversores santificados.
Estes fatos nos trazem à frase notável do historiador Giovanni Cavalcanti descrevendo os antepassados dos Cavalcanti como cristãos muito piedosos e provenientes da região de Colônia:
“La loro residencia delle signoria di piu castella e la principale sedia era in San Gilio. Questo Castello é molto magnífico, di popolo pienissino; del quale uscirono quatro Fratelli…..
Ainda que mudanças políticas posteriores, geradas na passagem do século X ao XI pela substituição das dinastias carolíngias para as otonianas germânicas, tenham determinado a destruição de vários castelos no vale do rio Speyerbach, em especial o castelo Winzingen junto ao assentamento de mesmo nome, é muito provável que estas traumáticas alterações políticas que chegaram mesmo a destruir estes castelos tenham também impactado as linhas de defesas francas da Toscana – episódios que a nosso ver coincidem com o súbito aparecimento dos primeiros membros da família documentados como Cavalcanti no ano 1045.
Novas pesquisas a serem expostas em próximos trabalhos irão apresentar e acompanhar, um a um, os principais membros desta dinastia dos wido saídos de Hesbaye no sec.VIII em descida para estabelecimento ao sul do reino franco, quando na Toscana bem estabelecidos aparecem como Cavalcanti documentados pela primeira vez.
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Nota: Este artigo é um resumo do trabalho original cuja íntegra, com todas as fontes está publicado no blog da autora http://rosasampaiotorres.blosgspot.com/ sob o título “Antiga origem das famílias italianas Cavalcanti, Monaldeschi e Malavolti nas proximidades de Colônia, reino franco – século VIII” – artigo sugerido para aprofundamento.
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Rosa Maria Sampaio Torres – pesquisadora em História (PUC-Rio), é também graduada em Estudos Sociais e pós-graduada em Ciências Políticas. Aluna do filósofo brasileiro Carlos Henrique Escobar acabou por desenvolver, também, seus dotes artísticos – especialmente como poeta, autora do livro “Bendita Palavra”. Já reconhecida como ensaísta, é autora de inúmeros artigos históricos sobre a família Cavalcanti, da qual descende, e agora sobre o poeta Guido Cavalcanti.
Para mim o amor é liberdade, porque só alguém livre é capaz de receber com a mesma gratidão com que doa. É um sentimento que quando ambos sabem amar do mesmo jeito, permite sentir respeito pelo ser interior da outra pessoa e, em simultâneo, deixar o seu interior também intocável. Se isso acontece qualquer dos dois pode tomar decisões sem que isso provoque mágoa no outro, porque há respeito pela privacidade e pelo crescimento individual de cada um, mas também há partilha e crescimento conjunto, enquanto casal amoroso. Ambos já conseguem amar incondicionalmente.
Se há algo que um tem de permitir ao outro e vice-versa é apenas que cada um fique do tamanho certo. Ou seja, ambos devem sentir-se de igual para igual, grandes e a crescer na mesma medida. É sentirem que esse amor é nutrido na aceitação, gratidão, alegria e respeito. É amar sem condições e sem limites, sem críticas nem exigências, dando-se e doando-se com compreensão, carinho, sã e transparente vivência e pela construção de um caminho conjunto.
Quando o par amoroso aceita o Presente de cada um, sem haver posse, carência, apego, ciúme, exigência, quer dizer que esse amor permanece com solidez, com consciência de que há equilíbrio entre o dar e o receber. Tudo é fresco, suave, vital, consistente e alegre.
É um amor que cuida, que está atento, que quer ficar por perto, que se sente completo, que dá força para seguir em frente e implementar sonhos individuais e conjuntos. É um amor que não absorve, completa.
É necessário que cada um ande o seu próprio caminho, para que o amor possa guiar os passos de cada. Pois aquele que por outro é guiado (aqui usado o termo no sentido do controle), não pode falar de amor; mas de submissão. Como aquele que busca impor a sua vontade, não procede em nome do amor; mas das suas próprias carências.
Eis que a plenitude não pode brotar senão de si própria. E como poderemos conhecer a plenitude do amor, se cada um de nós não estiver pleno em si mesmo?
Precisamos compreender então o significado de liberdade. Precisamos descobrir sozinhos o que significa amar, porque se não amarmos, nunca seremos atentos, e pior, nunca seremos gratos.
Mas, o que significa ser atento? Significa que dou sem que me peçam algo que o outro necessita. É ter a sensibilidade para perceber os movimentos ao seu redor e os movimentos da vida. É sentir que o amor é uma força inesgotável em si.
Citando Osho: “O amor não é uma quantidade, mas uma qualidade! Qualidade de uma certa categoria que cresce ao se dar e morre se você a segura. Seja realmente esbanjador!”
Deixe que o amor seja uma ajuda para seu crescimento espiritual. Deixe que o amor se torne um alimento para o seu coração, a coragem de se abrir à vida em todo o seu esplendor.
E, ao doar-me assim, recebo o melhor do outro, todo o seu amor e impecabilidade. A vivência deste amor em plenitude, permite-nos manter a liberdade e termos a certeza de que está nas nossas mãos a grande árvore da vida! Essa árvore é fruto das nossas escolhas.
Nesta minha aprendizagem terrena e de evolução, concluí que a verdadeira liberdade é a que nos faz crescer humanamente e que nos dá paz e amor para avançar a cada momento, inteiros, completos e felizes e nos permite irradiar isso aos demais.
Por isso, posso dizer-vos que é necessário prestar atenção em tudo o que nos rodeia, centrarmo-nos só naquilo que queremos que aconteça, desejar o que nos acrescenta valor e nos faz sentir feliz, ao mesmo tempo que curamos as crenças que trazemos nas nossas memórias, que curamos padrões culturais e familiares que nos foram uteis em termos de aprendizagem mas que agora temos de largar e deixar ir, para que o nosso caminho seja mais leve, tranquilo e doce.
Aprendi a perguntar-me, antes de agir, se é mesmo aquilo que desejo e sinto que é o melhor para mim. Permito-me ficar em silencio e escutar a resposta, sem que a lógica me tente sabotar. Hoje sei que só eu sou dona do meu poder pessoal e nada nem ninguém tem o poder suficiente para impedir-me de fazer o que desejo e o que mereço.
Logo, sei que a decisão é correcta se ela me permite ficar em paz e em amor! E tomo-a no presente! Hoje, mais uma vez, permito-me amar-me e amar-te. Permito-me a abertura de Consciência para tudo, para o novo e vital na minha vida.
Assim sendo, ouso deixar-te aqui algumas questões que te podem vir a permitir abrir a tua consciência, se também ousares confiar em ti e ouvires as respostas. Trata-se apenas de uma ousadia minha para te por a reflectir sobre o encontro contigo próprio(a) e te permitires tomar as rédeas da tua vida. Eis que são:
Onde encontras paixão no que fazes? Será que na tua maior paixão podes encontrar a tua missão?
Será que por trás de cada resistência tua estão encontros e aprendizagens que tens de enfrentar?
Reconheces a força e o amor que vem dos teus antepassados e da tua linhagem?
Para superares os teus medos (dor, abandono, traição, escassez, etc..) alguém tinha que tos provocar? Será que é aí que está a fonte da tua maior transformação?
Estás centrado(a) na vida e nas novas energias (paz, amor, alegria, abundância, prosperidade) a que deves aceder?
O que te importa mais – o Ser ou o Ter?
O que procuras numa relação?
Como está o teu amor próprio e o teu auto-reconhecimento?
Desejo que cheguem até ti, rapidamente, com uma visão clara, as respostas certas. Ouve-as e segue-as com confiança, pois a nossa intuição é a nossa melhor amiga e permite-nos aproveitar a vida com merecimento. Ama-te e desenvolve-te a cada dia mais! Permite esse encontro com a tua essência e verás resultados maravilhosos.
E citando Osho de novo: “Aqueles que entenderam o sentido da vida falaram apenas para quem é capaz de entender o Amor, porque o Amor é o sentido da vida”.
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Teresa Escoval é Pós-Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Licenciada em Sociologia, Bacharel em Gestão de Empresas. Desempenhou vários lugares de chefia na área Financeira e Gestão de Recursos Humanos. Desde 1994 que gere e desenvolve um negócio próprio na área do emprego, diagnóstico /desenvolvimento organizacional e formação. Mantém colaboração regular, desde 2007, com várias revistas, onde são publicados artigos sobre diversas temáticas, que é autora.
James Joyce? É um escritor novo? Aposto que um tremor de terra, de média intensidade, não me teria abalado tanto, como esta, na aparente, inocente e ingênua indagação. Caprichando numa amena ironia, ripostei. Joyce nasceu em 1882. É novo sim, se comparado com um Homero, um Ovídeo, um Petrarca, um Bocage.
Apercebendo-se do deslize, atarantada, a atendente desviou o olhar e fixou-o no ecrã do computador, alheando-se do bulício da loja, onde pipocavam os mais recentes produtos da indústria “cultural”. O livro chama-se ‘Gente de Dublin’ (‘Dublinenses’), não é? Lamento, mas não consta da nossa base de dados, comunicou, articulando uma voz formal e protocolar.Continuar a ler “DA CRISE DAS LIVRARIAS AO APOGEU DA LIVRALÂNDIA – EDITORIAL por Danyel Guerra”
Encerrado sem céu na métrica do tecto. Sinto-me na cadeira. Quem inventou as paredes achou o mundo demasiado grande. Há solenidade no gesto de fechar uma janela, traindo as luzes, traduzindo a poeira. Na sala humedece-se a tarde, nada mexe, e a música no aparelho é surda. Continuar a ler “3 PROSOPOEMAS de Bernardino Guimarães”
— Aceita um mate, compadre? –
perguntou Manoelita, ao velho que batera à porta.
— É o jeito, já que foder ninguém quer – respondeu o arriado, arrastando as alpargatas e se encaminhando para dentro do rancho. Continuar a ler “PEALO DE CUCHARRA- por Claudio B. Carlos”
Alguns Protagonistas do Pensamento Católico no Brasil nas primeiras décadas do Século XX.
Dom Sebastião Leme (1882-1942)
O regime republicano é proclamado no Brasil em 1889 e a nova Constituição em 1891. Foi com o início da República, em 1890, que se separou a Igreja do Estado e o catolicismo só procurou criar um escola partir dos anos 10.
O Positivismo e o Materialismo, oriundos do século XIX, preocupavam a Igreja e as forças políticas conservadoras. A um século de oitocentos ligado ao Progresso e a um pendor de anticlericalismo surgia, em novecentos, uma inquietação nas consciências que se reclamava de fé. Não se pode perder de vista, o início da primeira guerra mundial. Continuar a ler “PENSAMENTO CATÓLICO NO BRASIL – por Cecília Barreira”
“Miró sentia a mão direita/demasiado sábia/ e que de saber tanto/já não podia inventar nada”
João Cabral de Melo Neto
Barcelona frui e usufrui de uma ensolarada tarde de primavera antecipada, em época do reinado de D. Carnestoltes*. Deambulando pelo capitoso Ensanche da cidade condal, Dirceu atravessa a Plaza de España e avista no Parc de Joan Miró, impante nos seus 22 metros de firme ereção, a escultura ‘Dona i Ocelli’. Continuar a ler “LA SENYORETA D’AVINYÓ – por Danyel Guerra”
“Comment interroger ce qui nous échappe aussitôt?” Bernard Noel
A António Ramos Rosa
Toda a presença vence os limites do corpo
tudo está por dentro, por detrás de quem olha.
Minucioso trabalho o da construção do poema foi o
que me transmitiste, lâmpada que se acende ao ritmo
do corpo das mãos como asas num vislumbre
que queima. Lá onde estás, não me perguntes se
escrevo e se me invento. Continuar a ler “POEMAS DE – Gisela G. Ramos Rosa”
Meu primeiro dia de aula. O anfiteatro estava cheio. Era um pequeno espaço ocupado por cadeiras móveis e ruidosas. Um palco ocupava grande parte da sala dividida em dois grupos por uma passarela que alcançava a porta de entrada e saída. Os alunos inquietos, procuravam se acomodar, prestando pouca atenção ás palavras do Diretor.
Só se fez silêncio quando uma jovem começou a caminhar pela passarela. Seus passos eram leves, deslizava na primeira demonstração de como uma atriz deve se mover. O vestido de seda transparente ondulava em seu corpo com as estampas que pareciam cobras lilases movimentando-se dos seios até os pés descalços, como se caminhasse sobre estrelas. Continuar a ler “O ULTIMO SORRISO DE BEATRIZ- POR GISELDA LEIRNER”
O exército do país A invadiu o país B. Morreram muitas pessoas nos dois lados. O país A, apesar de enfraquecido com as baixas, venceu. Mesmo debilitado, percebeu que amedrontara o país C, e isso o impeliu a invadi-lo. Outras mortes, mas a coragem já superava qualquer dificuldade. Pôs abaixo o país D. Mal terminaram a comemoração regada a vinho, tomaram posse do país E. Até que um dia, seus poucos soldados não contiveram o exército de meia dúzia de esfomeados do país Y que, a exemplo de J. Pinto Fernandes, não estava na história, mas aproveitou a situação e tomou posse com paus, pedras e pelegaços. Continuar a ler “PEQUENOS CONTOS DE JAIME VAZ BRASIL”
Mesmo acostumado ao deserto desde o teu nascimento tu sabes que ele pode ser solidão como mais nenhuma outra paisagem, digam o que disserem sobre as grandes solidões das grandes metrópoles nas quais pode-se ficar louco mas aqui é pior, é corda bamba constante e queda ao mínimo descuido, ou seja, a água perdeu-se, estragou-se ou apenas acabou, o velho caminho das estrelas foi varrido pelo vento de areia furioso ou este vento de areia levantou-se antes de poderes montar abrigo ou ainda o camelo caiu de esgotamento, os pneus do carro acabaram uns após os outros ou, mais ainda, nos últimos tempos foste visto ao longe pelos predadores ferozes de duas ou quatro pernas e as balas estão muito poucas. Continuar a ler “HARATINES – por Jonuel Gonçalves”
“A Voz da Liberdade”, livro de Maria Máxima Vaz é um estudo sobre D. António Alves Martins, Bispo Liberal de Viseu, que também foi político.
Nasceu em Alijó a 18-2-1808 e aos 16 anos entrou no convento de Jesus da Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência, onde iniciou os estudos e onde professou com 17 anos de idade. Depois disso, foi enviado para o Colégio do Espirito Santo em Évora, onde prosseguiu os estudos que lhe permitiriam ingressar na Universidade, que já frequentava quando em 1828 o infante D. Miguel restaurou o regime absoluto. Alves Martins tinha então vinte anos. Escolheu a liberdade e juntou-se aos que a defendiam, pelo que foi expulso e perseguido. Alistou-se como voluntário no exército liberal e foi nessa altura feito prisioneiro pelos absolutistas, julgado e condenado a fuzilamento no largo de Santa Cristina em Viseu, onde depois lhe foi levantada uma estátua. O crime político só não foi consumado, porque conseguiu evadir-se e alcançar o exército liberal aquartelado em Leiria e seguidamente procurar refúgio no exílio com outros companheiros liberais. Continuar a ler “ANTONIO ALVES MARTINS, o Bispo Liberal – José Lourenço”
Uma Nação só pode ser feliz se os cidadãos que a constituem forem educados e instruídos – só assim eles serão conscientes dos seus direitos e deles não abdicarão, lutando de forma organizada e positiva para deles usufruírem. No entanto – como todos sabemos – a felicidade não é um estado definitivo e total, custa a deixar-se usufruir, dá imenso trabalho, e é em fogachos breves que nos bafeja, sem se deixar agarrar. Continuar a ler “FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes”
Procura submissa
Voz, sândalo e maresia.
Tu perguntas, eu respondo.
Nada sabes.
E guardas
Esse querer, não quero agora.
Feridas no ocaso
E poema Continuar a ler “POEMAS DE Lígia Casinhas”
Caminhei sobre tapetes, depois sobre o chão envernizado, em que quase andava em pontas e finalmente, o rebordo de pedra a dar para o jardim onde enterrei, logo, o pé direito na lama. Continuar a ler “ROMANCE – por Luís Bento”
Esta cidade existe num desejo que se encadeia
sobre a síntese dos lábios.
Nela mergulham o som exacto, a manhã,
o arco da noite navegante,
a luz sem fim.
Este tempo invernoso omite
claridades nos teus olhos vivos:
palavras que rebentam nas bolhas
que raiam dos anéis das íris.
Não precisas, pois, de suster
a respiração nesse augúrio:
a mensagem vem de Mercúrio,
segue já na corrente, a ver
as margens e o mar ao longe:
aguarelas ternas que flambam
o verbo calado, em suspenso,
sem vontade de se debruçar
da tua boca que consente
salitre nos lábios e bruma
do dia em que fomos navio
e vela, e mastro, e terra una.
En el pueblo de Brujas vivía una mujer blanca de ojos negros, quien llamaba la atención de los hombres, por sus senos turgentes y caderas anchas. Por su cuerpo fue objeto de halagos por parte de muchos pretendientes, quienes la desearon con fines sexuales, mas no como compañera eterna. Continuar a ler “CUENTOS DE – por Moisés Cardenas”
O brasão da família dos Cavalcanti de Florença é notado pela primeira vez na sangrenta batalha de Montalcino em 1260 – brasão em cruzetas reproduzido nos escudos de muitos de seus combatentes, cavaleiros de origem guelfa que defendiam o papado contra os guibelinos da cidade de Siena.
Família muito atuante na vida política da cidade de Florença, o uso do brasão dos Cavalcanti surgia na Toscana em período especialmente marcado pela atuação da Ordem Templária na região e, em cerca de 1255, o nascimento do grande poeta nesta família, Guido Cavalcanti.Continuar a ler “O POETA GUIDO CAVALCANTI E A INFLUÊNCIA TEMPLÁRIA – Rosa Sampaio Torres”
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