NIÑOS DE LA TORMENTA E OUTROS POEMAS – por Cláudia Vila Molina

Foto de Mariam Sitchinava

Niños de la tormenta

Cuando en la noche me visto con pedazos de piel

La luz me invoca y atraviesa corredores de casas

Ando desnuda por los bordes del cuchillo cuando sorpresivamente

Soy un cuadro reflejado en este espejo y los surcos desde los que te arranco Continuar a ler “NIÑOS DE LA TORMENTA E OUTROS POEMAS – por Cláudia Vila Molina”

ANATOMÍA DAS ESQUECIDAS – Eva Méndez Doroxo

                                                                                                              © Mariam Sitchinava

Falas de min dende o silencio,

agochada no murmurar do tempo.

♣♣♣

A PRIMEIRA VEZ

Engadín a intención toda de liberdade nesta túa anatomía.
Cada perna, pé e man para moverte na firmeza do corpo,
a lingua para lamber as verbas e berralas ao ar,
os dentes, como feroces defensores do teu.

Arrolo a esperanza no meu interior,
soño con días de risos nos que o teu cabelo enrede coa chuvia
e podas enlamarte sen perder a identidade. Continuar a ler “ANATOMÍA DAS ESQUECIDAS – Eva Méndez Doroxo”

TEXTOS POÉTICOS DE FINEZA PINTO

“Lovers” by Picasso

O diálogo

Seus corpos dialogavam num diálogo incomum, que não se lê e não se entende, apenas se sente. Numa linguagem ausente de sinais e de palavras, onde as reticências traziam à baila o ponto do amor, que não era o final. Os seus corpos ora exclamavam ora interrogavam. Numa tentativa de antever o ritmo do amor, faziam dois pontos anunciando os passos que o momento sugeria e deixavam-se mover a passos dançantes, que só o amor sabia dar. A dança não era nem salsa nem valsa, era uma dança desprovida de movimentos próprios, cujos contornos só os pés que amam eram capazes de desenhar. Continuar a ler “TEXTOS POÉTICOS DE FINEZA PINTO”

PANDEMONIAS – por leda Estergilda Abreu

Aproveitando o silêncio possível, sentindo a ausência, sentindo falta, que tempos. Aeroportos vazios, ares, estradas

casas que não recebem, bocas mascaradas.

Queria voar. Poeira, persianas, vassoura de palha, voos razantes pela casa, cabelos de palha e vento, vassoura no canto da sala calada

varrida. Continuar a ler “PANDEMONIAS – por leda Estergilda Abreu”

POEMAS DE Rosa Sampaio Torres

Ós

Sós estamos nós
cascas de noz
a tantos nós.

♣♣♣

Requiem 

 Foste embora, foste embora
companheiro meu…

enciumada estou se a mim
tua esposa, preferiste a morte
como companhia

Foste embora, foste embora

companheiro meu
ficou tua lembrança
como sombra minha.
Foste embora, foste embora
companheiro meu
e nas altas horas da noite
insone ainda
a poesia.

♣♣♣

Tateando

Poeta aguça teus sentidos
olfato, vista.
Ouve com atenção
os mais estranhos sons
enquanto tateia
o  Desconhecido Rosto.

♣♣♣

Para Olga Savary

Sua poesia

 água

fallus

 fogo

paixões.

  A minha

filha sua,

mares

línguas

ondas

também

tensões.

♣♣♣

 Mar

Marula o mar,
estronda a onda.
Embala, acalma
a minha alma.

♦♦♦

Rosa Maria Sampaio Torres – pesquisadora em História (PUC-Rio), é também graduada em Estudos Sociais e pós-graduada em Ciências Políticas. Aluna do filósofo brasileiro Carlos Henrique Escobar acabou por desenvolver, também, seus dotes artísticos – especialmente como poeta, autora do livro “Bendita Palavra”. Já reconhecida como ensaísta, é autora de inúmeros artigos históricos sobre a família Cavalcanti, da qual descende, e agora sobre o poeta Guido Cavalcanti.

POEMAS DE Valda Fogaça

GESTOS DE CONSCIÊNCIA

Julgas que sou par de asas
Impedidas,  cortadas…
Sem bandeiras nem casas,
Fragatas ancoradas?

Sedutora, carente,
Sensual, feminina,
Paixão fogo ardente,
Eis a mulher felina!

Nos mares vejo adentrar
Saltitando nas ondas
Grande barco  afundar,
A explosão estronda.

Lua, sol vestes do tempo.
Como quem troca às vestes
Num penoso lamento,
Dia, noite, astros celestes.

Despindo do sol, da lua
Envelhece o tempo,
Dia a dia, a angustia sua
É a canção do vento.

As vidas se repetem
Trocando de existências
Peitos arfam, padecem,
Gestos de consciências.

♣♣♣

ALAMEDAS TRISTONHAS

Ah essas RUAS! Outrora entupidas de gente, O ar que por elas, hoje, circula beneficia: Baratas e pombos somente… Um tal COVID espalha terror, e ninguém está a salvo, Estão todos, trancafiados em seus lares, padecentes. Lembras-te oh Alamedas risonhas… E, hoje as vejo solitárias tristonhas. Olha! Vejo uma ratazana, fugindo do horror do COVID! Ela sumiu, como toda gente. Fique aí, Contemplando seus fantasmas, enquanto Esperas por uma dose milagrosa! Eu? Ah! Fico aqui te olhando da janela…

♣♣♣

A ARTE O FIO QUE LIGA OS CINCO CONTINENTES

A POESIA é o fio de ouro que liga de um poeta
Ao outro e de um continente ao outro e esta ligação
Tem atravessado o tempo numa perspectiva de
Eternidade se não por algo parecido.

O que me agrada é esta certeza de que estamos entrelaçados
Por esse fio que é do metal mais nobre e não por um
Insignificante fio de náilon. Olho para os cinco continentes e vejo
Esperança no olhar de uns e de outros derramar-se em pranto.

E a paz na casa de uns tantos? Ah! É como meus versos
Despidos de métricas e rimas. E se não fosse a arte
Esse fio de ouro que liga de um continente ao outro?
O que disseram os Profetas e ou os Reis de outras datas
Que estenderam seu olhar aos cinco continentes?

Aos seus ouvidos chegavam clamores  de uns tantos
E júbilos de uns poucos. Ainda bem que a Poesia liga
Um poeta ao outro e um continente ao outro!

Levantes oh pequeno caído e digas  quem és tu!
Afaga-lhe o peito a ufania do nada e quem a ti traz a Salvação?
És tu que estás chorando oh continentes infelizes!
Mas o poeta também chora ao olhar a tua desgraça.

Vi meus avós meus pais falarem sobre:
Tempos bons virão! A paz reina nos sonhos de todos.
Acabou que não vi o tempo passar nem os cinco
Continentes viram. Entretanto as luas são incontáveis.

Aqui estou viva. E minha alegria não se descreve
Com a alegria das borboletas da minha idade.
É essa ligação entre os poetas dos cinco continentes
Que tem atravessado o tempo numa perspectiva de eternidade…

É consoladora  apesar dos conflitos esta certeza de que
Estamos entrelaçados…
É porque nos versos do poeta leia-se a liberdade
A do bater de asas da borboleta recém-saída do casulo.

Nos dias atuais o que reina é o imediatismo frenético.
Raros os que a tentam-se ao mundo em sua volta
Não é de se admirar que sejam muitos os que vivem a olhar
Em direção aos próprios pés com um olhar febril
Para o deslumbre da efemeridade das imagens.

Eu como poeta que sou procuro olhar além do papel
Sobre a minha escrivaninha por essa razão ouso
Atravessar fronteiras para levar o meu pensamento
Que de certo modo é coletivo.

Quando ouso atravessar fronteiras deixo de ser apenas
Um poeta assumo o papel de uma nação que através da
Poesia leva aonde for a sua cultura  certa de que serei
Recepcionada com festividade e que trarei na bagagem
Outras tantas lições culturais para agregarem à minha.

♦♦♦

Valda Fogaça é Poeta, trovadora, cordelista, cronista, romancista e compositora. Estudou Filosofia, Letras e História. Vive em Brasília/DF Brasil.  É colunista do Site Internacional O Segredo e da Revista Sttato. Escreve para três portais: UOL Pensador, Recanto das letras, LinkedIn e para três bloggers. É membro da Associação Nacional de Escritores (ANE). É membro do movimento internacional de Poetas Del Mundo, membro correspondente da Academia Capixaba de Letras e Arte de Poetas e Trovadores, ACLPTCTC.   Instagram: valdafogacaescritora.

POESIA DE Claudia Vila Molina

Les amants, 1960, by Pablo Picasso.

Dilatación

Esta noche los muebles tienen una mirada extraña, sueño con quienes se aparean en la oscuridad y a lo lejos dispersan nuestro propio sudor.   Ondas accidentales entran en las tiendas, robos de papeles causan la verdadera conjuración de astros. Alguien late fuera de sí, de su misterio. Nosotros escuchamos el viento sobre los árboles, como una imagen encarcelada se detiene el aullido, pero otra señal mueve mi boca. Te busco en las paredes, un departamento rompe los sobres de cartas desaparecidas, un cartel, tu foto enviada de pronto hacia la mansedumbre, una fecha velada en las manos de los familiares. El viento sobre los techos nos previene sobre esa forma de existir, blancos lavatorios espuman mi niñez, ahora te poseo, ahora estás detenido entre imágenes que mueren. Mamá está dormida, sus ojos miran hacia los patios y ese fragmento nos invade, rejas donde hubo cementerios, espacios extensos para quedarse fuera del límite. Mientras otros dejan sus papeles sobre las mesas, ellos llaman a sus madres para recordar, pero el miedo es un bulto que nos divide, nos colocan signos, nos niegan las verdaderas razones.

(Texto inédito Visiones Oníricas) Continuar a ler “POESIA DE Claudia Vila Molina”

NEM TODAS AS CIDADES SÃO DE PEDRA-Texto, poema e imagens de Nelson González Leal

TEXTO, POEMA E IMAGENS DE
Nelson González Leal

A cidade, quando feita de homem, língua e mulher, não fica só no osso. Não, ela é músculo e alma, excitáveis e contráteis, é porém uma especie de coração que se agita dentro de você a toda vez que andas na rua. A cidade é um refugio da memória onde o esquecer tem patente e permisão. É talves um caos, na verdade é o caos mesmo, uma mixtura de referentes, um espaço construido para que o amor e o desamor possan ter inumeras motivações para o combate e para a palavra que se faz cavalgadura de seus propósitos -sem a língua para nomear não existe o amor, não existe o desamor, também não o silêncio, não há projeto. A cidade feita de homem, língua e mulher, é o descalabro e ao mesmo instante a redenção. Mas lembre-se que é so isso quando é feita assim. Se for só pedra sobre pedra pode ficar núa e perecer diante o silêncio e o frio, pode sim ficar no osso, o nosso, e pesar como a laje de um túmulo para a qual ninguém registrou palavras nem memórias, que ainda não é uma lápide. Continuar a ler “NEM TODAS AS CIDADES SÃO DE PEDRA-Texto, poema e imagens de Nelson González Leal”

TROVA DO CONFINAMENTO – por Paulo Ferreira da Cunha

Ao mundo sou estrangeiro:
A este mundo brutal,
Sem lei, nem rei, nem bornal,
Sem razão, tão mundanal,
Em que nem a língua entendo.
Figuras vou eu pois vendo,
Na caverna projetadas:
Em televisão vão nascendo
E morrendo – não são nada.
Na minha casa encerrado,
Poucos passos de prisão,
Abro livros que me vão
Levando p’ra todo o lado.
Pois desse confinamento
Não me queixo, nem por isso.
A minha grande questão
Está mais fundo, em sentimento.
Ao mundo sou estrangeiro:
Quer dizer, ao mundo vão.
É preciso que uma mão
Me guie, no meu intento
De entender este portento.
Não será projeto vão?
Já tenho idade pesada,
Já andei por muitos lados…
Estudei muito de Nada,
Os meus olhos estão cansados.
Os olhos e o entusiasmo!
Coisas que aos outros acendem,
A mim me causam marasmo
E tantos para o vão tendem!
Procuro o Absoluto!
Procuro em vão a Verdade!
Mas ao menos nesta idade
Não me impinjam um produto! Continuar a ler “TROVA DO CONFINAMENTO – por Paulo Ferreira da Cunha”

POEMAS DE CARLOS BARBARITO & COLAGENS DE SERGIO BONZÓN

Sergio Bonzón

Anunciado y sucedido…

Anunciado y sucedido el final:
cae lo que se sostenía en el aire,
el trapecista con su trapecio,
el ave con su respiración y su ala.

©Carlos Barbarito

—-

Lengua para hablar…

Lengua para hablar, y al hablar la llamo.
Pero no acude, como si en su actual condición
tuviese otro nombre. Tal vez
lo que cambió fue mi lengua,
se volvió a sus oídos irreconocible.
Callo. Para no caer, trazo, con tiza,
signos sin sentido alguno en una pizarra;
abrazo una fe a la que hasta una rata rechazaría
y bebo de un vaso vacío, a pequeños sorbos,
a la hora en que el alba es una hipótesis.

©Carlos Barbarito

—-

Sergio Bonzón

Qué es este juego que esconde?…

Qué es este juego que esconde
la carta más valiosa, no da
sino informes, vías ciegas, nebulosas;
por qué la letra no se vuelve yesca,
por qué apenas salido me extravío;
debajo del suelo, raíces que no atinan
a beber aire del aire, luz de la luz,
tal vez la razón esté en la pila primera,
en la primera canícula, en la primera lluvia;
qué es esta fórmula que abdica
apenas el cuerpo se enfrenta con su sombra,
adverbio torcido en una boca entreabierta,
bandadas que rozan la fronda
y se alejan para no regresar
o para regresar con noticias
de un cielo blanco, quieto y blanco…

©Carlos Barbarito

Sergio Bonzón

¿El unánime avance del incendio…?

¿El unánime avance del incendio hacia las nubes?
¿Y la conversación acerca de tensas cuerdas,
de inauditas alegorías, de peces entrando
en cardumen en el ojo?
Saltaré –me digo- sobre las vías muertas.
Perpetuado el recuerdo del olor de la primera leche,
del primer unicornio y la primera marea.
¿Qué persiste y qué se evapora?
Lo que persiste es el vestigio.
Lo que se evapora, la apoyatura.

©Carlos Barbarito

—-

Sergio Bonzón

¿Qué ojo está lo suficientemente lejos?…

¿Qué ojo está lo suficientemente lejos

de la ceguera? ¿Qué cabeza, de la locura?

¿Qué sosiego, del cansancio?

Oficio que fatiga, que sucumbe al primer picotazo.

¿Qué es lo que no trastorna,

derrotada la ilusión, convertido en mundo el paisaje,

en herida lo que era sapiente por traslúcido,

verdadero por sólo estar ahí, al alcance de la mano?

Ave descaderada, sin posibilidad de vuelo.

Pasadizo a ninguna parte, a oscuras.

Escribo y pienso en una inmensa ausencia.

¿Qué crédito para esta latitud al margen,

para este silencio que ensordece,

esta falaz descendencia sin cópula?

——

¿Qué, en lugar de revelarme?…

¿Qué, en lugar de revelarme a los ojos de los demás,
me oculta cada vez más hasta hacerme casi invisible?
¿Por qué lo que antes me estremecía
ahora me desconcierta? ¿Por qué
la carcajada se convirtió en extenuación
y el arte en abismo donde se arremolinan
criaturas ciegas y descarnadas?
Tantas veces te nombré y ya no puedo hacerlo.
Porque si te nombro se abre una herida en mi lengua.
Y los muertos ya no hallan su morada.
Y los vivos confunden una chispa
con el resplandor de los sagrados lejanos incendios.
Dolor donde antes no dolía.
Techo donde antes había cielo y bandadas.

©Carlos Barbarito

—–

Sergio Bonzón

Tal vez traiga, luego…

Tal vez traiga, luego, novedad al día,
aunque fuere una mínima hierba,
un dedal oxidado, un carbón de estrella;
ahora es espera, con la puerta entreabierta,
un anhelo de niño por una estrella fugaz
en un cielo nocturno que sólo parece admitir
estrellas fijas. Tal vez traiga un poco de verdor
para las hojas secas que el viento
arrastra y amontona;
bandadas que retornan,
al menos por un día, una hora, un instante
para, con sus innumerables alas,
abrigar la vida mientras el otoño persiste
en su antiguo oficio de convertirse en invierno.

©Carlos Barbarito

——-

¿Y tu rostro? ¿Fruta disputada…?

(Enterado hoy de la muerte de Yves Boneffoy).

¿Y tu rostro? ¿Fruta disputada en el mercado?
¿Alimento para aves rapaces?
¿Milagro de un atardecer con trompetas?
¿Dádiva a las puertas de la tormenta?
¿Espejo donde se miran los viajeros recién arribados del desierto?
¿Cielo caído sobre un suelo pedregoso?
¿Y mi rostro? ¿Lo que traicionaré cuando nada ni nadie me importe?
¿Lo que llevaré como escudo cuando tenga lugar la penúltima batalla?
¿Un grito contra lo oscuro, la ceniza, la especie?
¿Un sólido, asentado silencio, que es muerte en su anverso
y doble muerte en su reverso?

Poemas de Carlos Barbarito

Colagens de: Sergio Bonzón

♦♦♦

Sergio Bonzón e Carlos Barbarito

♦♦♦

Carlos Barbarito (Pergamino, Argentina, 1955). Publicó más de veinte libros de poemas y ensayos sobre artes visuales. Parte de su obra poética fue traducida al portugués, inglés, francés e italiano. Forma parte de un grupo editor que publicará, en breve, un libro sobre vida y obra de la artista Norma Bessouet. En preparación, dos libros de poemas con sendos dibujos de Victor Chab y Sergio Bonzón.

Sergio Bonzón – (Pergamino, Argentina, 1959)
Artista Visual y Gestor Cultural. Trabaja por series, valiéndose para ello de distintos recursos visuales. Instalaciones de pequeño formato, dibujo, pintura, fotografía, grabado o collage.
Integra el colectivo de artistas Itinerancia 6 desde 2013 – Coordinador de Piccolo Spazio Sperimentale desde 2015 a 2018.
En 2019 se sumó al grupo Constructores de Fuego y desde 2020 al colectivo Grabadores Bonaerenses.
Entre otros proyectos en desarrollo, actualmente trabaja en un libro de collages y poemas de Carlos Barbarito.

…DOS OLHOS de Correia Machado

A Baía de Nápoles em noite de luar Vesuvio , by Ivan Constantinovich Aivazovsky

Olhos

O meu pai tem uns olhos graúdos que veem o mundo antes de mim para mo preparar. São grandes, bonitos e esbugalhados, e falam por si só e se a voz lhe falhar.

Enxergam o mundo num segundo, antes dos meus, alertam e aprestam-me na vida, para os tombos e os imprevistos, para as falhas e as distrações. Nunca naufragando. É uma mirada infalível. É sim. Continuar a ler “…DOS OLHOS de Correia Machado”

TRÊS POEMAS de Daniel Maya-Pinto Rodrigues

A PARTE POSITIVA DA TONTURA

Quando seguir pela estrada fora, com
livros de viagens juvenis nas mãos,
poderei entender melhor a luz das manhãs na estrada,
as árvores da distância nessa luz clara.
Poderei aproximar-me de ti, fora do tempo,
num trilho paralelo ao tempo,
num atalho que o próprio tempo
tenha reservado para nós.
A nossa roupa cintilará ao sol
enquanto andarmos, enquanto prosseguirmos andando
na distância visual perfeita. És
uma mulher que pouco conheço,
e isso é-me do agrado, enquanto caminho contigo.
O nosso diálogo contém as palavras ideais;
nada nos falta nessa distância. Prosseguiremos
livres, despreocupados
e, ao que tudo indica, felizes.

Continuar a ler “TRÊS POEMAS de Daniel Maya-Pinto Rodrigues”

A POESIA de Delalves Costa

O Relógio

Me apunhalaram. Uma carne fria
com estímulos eletrônicos,
assim deixaram minha alma.
Me arrancaram o susto de vida
e deram corpo ao previsto.
A alma que soprava arrepios
agora é piano sem lírica
e palpável às mãos do mundo.
Carne de metal: não chora,
não contempla. Só vê.
Frio é o afago, como é
também o nosso tempo
– esse homem de muitas portas
e chaves humanas,
e contudo vazio de mistério.
Arrancaram da caixa mágica
a lírica, a música e o susto.
O sangue já não é quente…
O corpo já não me escuta…
Me apunhalaram ainda n’alma
e me jogaram à carne fria
que não chora nem contempla.
Me arrancaram o susto
e no lugar puseram o relógio.

Continuar a ler “A POESIA de Delalves Costa”

PORTUGAL É UM NEROLOGISMO (…) – por Fátima Vale

PORTUGAL É UM NEROLOGISMO E O FOGO O BORDEL DE MESSALINA

em memória de Ruth Escobar que se foi esquecida

Ardemos num incêndio de esperança, para que reste de nós uma lembrança, um fumo que sobe e não se apaga. (…) Vivo, porque espero.”

– O Pobre Tolo, Teixeira de Pascoaes | 192

Foto de Fatima Vale

[esta mulher está
dentro de uma ruína com forma labiríntica
todo o alcance do olhar é um manifesto de terra queimada
as pernas vão-lhe enegrecendo até ver a filha
nesse momento desfazem-se]
marulha-me a cabeça
uma seita de fantasmas penteia-me os cabelos
e o pior ainda o pior
são estes malditos fios que me levam
a abraçar tudo quanto existe
e emaranham-se na ignorância e na raiva
na perfídia do quotidiano
dai-me uma faca que os corte

aos fantasmas
secai-me as veias destes raios invasores
eu caí neste condomínio de braços descartados
num voo trocado
nas asas de um pássaro de prata
espírito santo do meu azar
livrem-me desta cabeça
deste nerologismo lusitano
desta metáfora política
desta simulação da co-existência
deste totalitarismo da fala
ala ala ala Continuar a ler “PORTUGAL É UM NEROLOGISMO (…) – por Fátima Vale”

BESTIÁRIO DA SOMBRA E OUTROS POEMAS de Jaime Vaz Brasil

Bestiário da Sombra

A morte é um lobo à espreita:
imóvel, mudo e pulsante.
(No olho, o gelo põe cores
de quem domina, distante.)

A morte é serpente rasa
e nos vive – de pequenos –
destilando em nossas veias
o seu mais lento veneno.

A morte é um urso hibernante
que dorme, imóvel e quieto.
(Mas quando acorda, nos chama
para o seu sono secreto.)

A morte é um tigre faminto
na farta mesa das horas:
num salto breve, a surpresa
que nos alcança e abraça.

A morte é um rato inquieto
em seus caminhos esquivos.
(Finge que foge assustado,
mas rói o porão dos vivos.)

A morte é águia à espreita
em seu voo mais rasante.
(Com suas as garras, nos prende
e nos some, num instante.)
Ou morte é pássaro leve
ave branca, de outra escola
que nos flutua em silêncio
enquanto abre a gaiola…

♣♣♣

O Adeus

O adeus nasce do instante
entre a palavra e o passo.
(Mas cresce vazio de colo:
estreito, e com todo espaço.)

E nos ensaia seus gestos
seus rituais, suas danças.
É tão esquivo de corpo
que mão nenhuma o alcança.

O adeus nos alimenta
entre a memória e o fato.
(Mas come além do que é boca:
é a fome longe do prato.)

E vive assim, desde cedo
na pele de toda gente.
Chega descalço ou de gala,
e nos faz ave ou semente.

O adeus planta uma sombra
no que seria ou que foi.
(Por que o olho da saudade
só abre um tempo depois.)

Ele é como se, na escada,
a perna fosse o tropeço.
Por isso, prende e liberta
e é sempre fim e começo.

♣♣♣

Coração de Milonga

Enquanto o tempo desenhava
teu rosto dentro do meu corpo,
saudade em dó menor cantei mil vezes.

Falei de nós, um tanto triste
e um bandoneón chorou comigo:
amor, quando é amor, não morre nunca.
(E pra fugir de cada sombra
da solidão, que erguia os olhos,
me disfarçei na dor de um sustenido).

Amor, quem sabe um dia desses
no espelho da milonga eu veja
teu beijo renascido num segundo.

Por ti, amor, cantei o mundo
em noites longas que aprendia
a amar em sol maior
e tempestades…

Amar nas ruas, bares, campos
amar em solos de guitarra.
Amar com toda voz
e em silêncio.

Amar como só poderia
meu coração de milonga.

Quem sabe ler paixões humanas
na vida, sempre tão estranha,
se o amor as vezes fecha toda casa?
Andei por mares, vales, luas
andei em pedras, muros, portos,
amor, varei coxilhas do avesso.
(E andei no rastro do teu nome
no meu cavalo de brinquedo
colhendo a flor azul que me pedias).

Amor, quem sabe um dia desses
na alma da milonga eu veja
a face calma e breve das respostas…

Por ti amor cantei o mundo
em longas noites que aprendia
a amar em sol maior
e tempestades…

Amar nas ruas bares campos
amar em solos de guitarra.
Amar com toda a voz
e em silêncio.

Amar como só poderia
meu coração de milonga.

♦♦♦

Jaime Vaz Brasil  Poeta gaúcho, com 7 livros públicados e vários prêmios, dentre os quais: Açorianos, Felipe d’Oliveira e Casa de Las Americas (finalista). Atua também como compositor, tendo vários poemas musicados e interpretados por vários parceiros, dentre os quais Ricardo Freire, Flávio Brasil, Zé Alexandre Gomes, Nilton Júnior, Vitor Ramil e Pery Souza.

 

TRÊS POEMAS DE Nuno Higino

UMA MANEIRA DE DIZER O QUE NÃO SE ENTENDE

Precisava duma casa onde coubesse a minha vida toda, soalheira,
abrigada da invernia, distante dos lugares familiares, onde coubesses tu,
uma árvore ao pé, móvel e literária, imprecisa como uma lâmpada
de névoa, e ser ela o jardim todo e o jardineiro. Já vou suportando atrasos,
partidas adiadas, quem não parte também regressa, regressaremos todos,
um dia dentro duma carruagem a chiar numa estação desconhecida,
a desembaciar o vidro com a mão, porque havemos de chegar sempre a algum lugar? Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Nuno Higino”

das presilhas do coração – por Maria Toscano

1.

 os homens atam as presilhas do coração
ao cós da promessa de maternidade eterna.

acreditam, os homens, ser sua grandeza
permanecerem sempre filhos apaparicados e

dispensados de ser autónomos e maduros.

nem a todos toca a fábula diabólica.
homens serenos plenos e acertados com lágrima e riso
de ombros e afectos largos/ de peito e siso
continuados inteiros na posição de caminhar Continuar a ler “das presilhas do coração – por Maria Toscano”

AZIMUTES – por Diniz Cortes

Foto de Diniz Cortes

Rolam velas de lume no limbo do mar….
Entrego-me ao sol , despido e sonolento na manhã já alta…
Despejo com avidez o cinzeiro da noite anterior e revejo-me na busca do azul…
Empalideço ao notar que as nuvens são reais como eu….
Desenho na areia o meu nome talvez em busca de mim…
Alinho-me a Oeste , procurando a luz que já empalidece…
Afundo-me no sonho desperto de ser como sou…
Dobro o jornal e desejo-me dentro de mim…
Adormeço acreditando que as nuvens se despedem…ao longe…

♦♦♦

Manuel Diniz Gaspar Cardoso Cortes. Médico – Chefe de Serviço de Medicina Geral e Familiar e Terapeuta Familiar pela Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar.
Fotógrafo de Natureza e Vida Selvagem desde 1980. Prémio Carreira do FAPAS e C. M. Castelo de Vide em 2016 pelo trabalho desenvolvido nesta área.
Aluno de Mestrado em “Arqueologia pré-Histórica e Arte Rupestre” UTAD – 2016/2018
Autor dos livros ”Momentos ao Natural” (2007) e “Viagem” (2015)

POEMAS de Alberto Cecereu

 

2

Soñé que las palomas volaban como monedas
hacia las antiguas piletas de avenida 9 de julio
y ahí me esperaban las lechosas con sus
corona de carruajes, de maratones, de barricadas
extendiendo hacia mi cuello

y la avenida 9 de julio era un desierto
en verdad toda la Capital Federal era un desierto

(tú eras un desierto y me mirabas)

todo era una gran meseta de arena ocre que destellaba rayos de colores reflejos de Historia como gritos

porque de los edificios abandonados de la avenida
colgaban millones de asentamientos humanos
que buscaban la esperanza en los astrólogos imaginarios
esos que ahora gobernaban los países abandonados después
de lo fines del mundo

soñé que el obelisco era una joya en el desierto morado
que del Río de la Plata solo quedaban los yacimientos petrolíferos
oxidados y disecados

(tú eras el yacimiento y explotabas)

y danzaban las sectas de colores todos los viernes
al atardecer cantando los coros humanos
recordando la gloria que alguna vez hubo
cómo el mejor de los campeonatos de polo en los country y en las fincas

algunos andaban como en una bicicleta llevando
mensajes de los territorios perdidos más allá del desierto habitado
allá donde se supone no quedaba nadie

el eco de señales de radio
el griterío de los bebés abandonados
el llanto de los soldados en la cordillera
la agonía de los colonos que se ahogaron
en la última maratón de los que escapaban
de las inundaciones perpetuas transandinas

(ese país ya no existe pero tú sí)

y seguían andando como en una bicicleta
recitando los mensajes como poemas
como si con eso nacieran flores globos espejos burbujas

(tú eras las burbujas pero estaba el desierto y yo era el desierto)

♣♣♣

8

a mi me llaman el colorino

porque rescato los fuegos artificiales de los infartados

los sueños de los drogadictos

y las bendiciones papales de los desquiciados

e inventamos en el brocal de las botellas

las sinfonías                      los finales

los mediáticos créditos fílmicos

el cancionero fatalista de los hospitales

para que celebremos la escuela de los esclavos

la escultura de los pañuelos

en el adorno de los discursos

de los chiquillos del poder

los niñitos de las financieras que creen que han descubierto

a dios en los manuales de supervivencia

y repiten como un canto: “el estado tiene una función subsidiaria”

y repiten repiten                                                                                        y repiten

el mantra tántrico

la mentira de las mentiras

el escapulario de las tumbas

pero

nos queda el ravotril a borbotones

las ampollas de morfina gratuitas, públicas y de calidad

nos queda la lucha armada

y las reuniones molotoveras

para hacer germinar toda la poesía como una expulsión gástrica

donde podría hacer que sucedan hasta los versos galácticos:

hasta el temblorcillo colorino

♣♣♣

12

soñé con el levantamiento kawésqar

volcanes dándose vueltas en milenarios tornados satánicos

mientras el arca kercis definía la extranjería de los colores del mar

y los ríos se dibujaban arriba en el cosmos de las rocas

la arcilla de los lagos

el murmullo de las estepas

(tu cuerpo se estremecía con el fuego y no te veía)

y así una vez más se precipitaba la revolución futurista del alacalufe de orión
con sus diez mil naves cantando las
óperas del origen de los canales: la civilización de las luces: el estremecer: griterío
hacia el ritmo de las cavernas
que se inventan con la copulación del hielo

(tu cuerpo desnudo subiendo hacia el éxtasis y no te sentía)

todos eran modos de combates del fin del mundo
contra la catarsis de los dioses
como una estampida de guanacos sucediendo en los úteros cobrizos
de los pueblos de nácar
creando el espectáculo perpetuo de los desesperados

(precipitan tus ruidos y así nace la extremidad de las islas y te gimo)

soñé con el levantamiento kawésqar
hacia las estatuas de cenizas
que habían construido los extraterrestres en el inicio del norte: la magnificencia: el desprecio:
el arca kercis en la resistencia de los esclavos: la guerra de las leyendas así explotando como nubes de alcohol
sucediendo en una maratón de fogatas
en el transcurso de tu cuerpo ahí crepitando

(te toco)

♣♣♣

22

cataratas

aparecen cataratas en el fondo del jardín

dibujando ángeles

 

28

Jackie

tiene unos ojos gigantes        verdes como el amazonas

preciosos

como el suspiro de los humanos dementes

pero lloran a través del temporal del silencio

y esto solo es un designio de su historia oculta

del porqué está acá en esta clínica diminuta

de ese 21 de diciembre

el día

que quiso matar a sus tres hijos y suicidarse

argumentando que ni todo el oxígeno de este planeta le era suficiente

para hacer renacer el torrente de sangre de su corazón morado

de sus piernas de mariposa

de sus manos drogadictas

 

Jackie

tiene nombre de primera dama

pero no les importó

a los animales que se la violaron cuando tenía 12 años

ni menos para su marido que le hacía el arte del boxeo

en su cara

cada quince días después de su virtuosidad en el Club de Golf

a pesar de todo eso

cantaba precioso a los gatos del recinto psiquiátrico

y contaba las historias de Oswald Denis

en sus periplos para transformarse

actor de Hollywood

que derrochan al arte como sueños que digan

los versos asiáticos

transcoloridos

como cantos del coro más allá del horizonte de espejos

 

Jackie quería morir

en los limbos del misterio y el excremento

como depuración de los azúcares

de sus ojos gigantes                       verdes como el amazonas

preciosos

como el suspiro de los humanos demente

♣♣♣

31

Hubo días que podía imaginar centenares de manifiestos

que construían catedrales y bodegas

con redondas cúpulas celestes que mostraban un teatro de payasos

también existían los pájaros blancos: la blancura de los blancos: los pájaros saliendo

y entrando en las lagunas lunares que hablaban: que recitaban pestañeos.

El poeta se arrodilla y ora:

Tú eres la Santa Marta de los Prostíbulos, diadema de los espectáculos que te reaparecen en los circos de magia de los hombres atléticos desnudos y chorreados con la inmensidad de las ondas galácticas, y los caballos de plata y las series de la cinematografía.

Diáfana hasta la negritud de las orgías, esas que provocan que nazcan las ángeles nubias en los arcos del inicio del paraíso de los cantos que provocan el caos de la anarquía prioritaria de los pensamientos azules.

Santa Marta de los genitales morados que desfilan en el nacimiento de Elizabeth Ann Short, y aunque te quiera recitar las canciones del nuevo amor, es inevitable la masacre de tu cuerpo. Martita telúrica, asesina viral, fanática de los videos de internet, momificadora de la pornografía.

Santa Martita, tetona jugosa, bisexual escondida, elevamos el canto de todos los nuestros, de toda la comunidad escondida elevada: exaltada: fundadora: rascacielos.

Repitan conmigo: Ruega por nosotros santa Madre de Dios, Para que seamos dignos de alcanzar las promesas de nuestro Señor Jesucristo.

Amén.

♦♦♦

Alberto Cecereu (Valparaíso, 1986)Poeta y profesor. Es Licenciado en Historia y Licenciado en Educación.

En sus inicios fue becario del Taller de Poesía de La Sebastiana, Fundación Pablo Neruda y miembro del Seminario de Reflexión Poética de la misma institución. En 2005 publica su primer libro de poesía, “Noticias sobre la Inmanencia” (Ediciones Altazor), y en 2016 “Los Exaltados” (Ediciones Altazor). En este 2018, publicará su plaquette “Los Ermitaños” en Trizadura Ediciones y prepara su próximo libro, “El Delirio” en Ediciones Filacteria para 2019.

En 2006 se le otorga la Beca a la Creación Literaria del Consejo Nacional de la Cultura y las Artes para escribir “Los Viajes del Druida” (que aún permanece inédito). Ese mismo año gana el Premio Enrique Lihn de la Universidad de Valparaíso.

Su poesía aparece en la Antología El mapa no es el territorio (Editorial Fuga, 2007), además de diversos medios de Chile y el extranjero. Es traducido al inglés y publicado en California Quaterly (Volume 2, Number 2) de Estados Unidos.

Es colaborador y columnista habitual de SITIOCERO (www.sitiocero.net), un espacio de expresión y comunicación de una comunidad diversa y plural, donde publica escritos concentrados en la crítica social y la reflexión de la realidad.