EDITORIAL- MAMÃE EU QUERO CARNÁ – por Danyel Guerra

‘A Marcha dos Caretos’, de Balbina Mendes

 MAMÃE EU QUERO, MAMÃE EU QUERO CARNÁ

 Mó num pa tropi / Abençoá por Dê/ E boni por naturê/
Mas que  Belê/
Em feverê (em feverê) Tem Carná (tem Carná)

Jorge Ben Jo

1) Tudo Ben, Seu Jorge, mas este feverê não  tem Carná totalmente livre e irrestrito. Pelo segundo ano consecutivo, Momo não está podendo cair na gandaia do jeito que o diabo gosta. Continuar a ler “EDITORIAL- MAMÃE EU QUERO CARNÁ – por Danyel Guerra”

O AMOR PLATÓNICO: Fragmento a Propósito de um Equívoco – por A. Sarmento Manso

Foto by Paulo Burnay

Platão é um grande exegeta do amor, tratando-o de forma única, deixando um lastro de desejo e luxúria que perdura até à atualidade em qualquer das suas manifestações: homossexual, heterossexual, bissexual, espiritual. No entanto dessa herança ressalta de boca em boca uma ambiguidade em torno daquilo que passou a designar-se de amor platónico expressão cunhada por Marsílio Ficino (1433-1499). Os estudiosos mais atentos vão enunciando o seu verdadeiro significado, mas raramente, nesse pormenor, saem do enredo em que a tradição o confinou. Platão nos diálogos O banquete e Fedro trata do amor físico e metafísico, abrangendo em simultâneo o corpo e a alma, a carne e o espírito, a sedução e a contemplação. Continuar a ler “O AMOR PLATÓNICO: Fragmento a Propósito de um Equívoco – por A. Sarmento Manso”

O QUARTO – por Cassiano Russo

                                                                                                          Foto byTima Miroshnishenco

Uma fumaça com cheiro de enxofre começava a sair do quarto do subsolo daquela velha pensão situada na Vila Mariana. Lá dentro estava um homem a registar seu diário. Os transeuntes que passavam por perto do imóvel, assustados, decidiram chamar os bombeiros. Continuar a ler “O QUARTO – por Cassiano Russo”

CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIBERALISMO DE HELENA ROSENBLATT- por Cecília Barreira

 

É importante tecer algumas considerações acerca da obra de Helena Rosenblatt, A História Esquecida do Liberalismo, publicada e traduzida pelas Edições 70 em finais de 2021.

Professora de História na Universidade de Nova Iorque, a autora referencia como o termo liberal no contexto político dos EUA, é mais consensual que o termo democrata. Continuar a ler “CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIBERALISMO DE HELENA ROSENBLATT- por Cecília Barreira”

MULHERES NAS RUAS DO PORTO – XIX- por César Santos Silva

Cecília Meireles (Rua de)
Início:  Falcão (Rua do)
Fim: Camilo Pessanha (Rua de)
Designação desde 1971

Freguesia de Campanhã

Uma das mais consagradas poetisas bra­sileiras do século xx, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 7 de Novembro de 1901. Órfã de pai e mãe, neta e filha de açorianos, facto que viria a ter influên­cia na sua formação enquanto escritora, dado a sua avó lhe contar imensas histórias que aprendeu nos Açores. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO – XIX- por César Santos Silva”

PRESENCIA DE SÍMBOLOS RELIGIOSOS EN EL IMAGINARIO DE ALTAZOR- por Claudia Vila Molina

 

En el presente ensayo se analizarán diferentes elementos expuestos en el prefacio del texto Altazor. Un primer aspecto que llama la atención es la reunión de símbolos extraídos desde la tradición judeocristiana (Cristo, Dios, la Virgen, el demonio), en relación con ello se presentarán diversos argumentos. Continuar a ler “PRESENCIA DE SÍMBOLOS RELIGIOSOS EN EL IMAGINARIO DE ALTAZOR- por Claudia Vila Molina”

SERÁ ‘ALICE E OS ABUTRES’* UM ROMANCE ALICEANTE? – por Danyel Guerra

ArteLiteraria, eis a palavra-passe para quem quiser acessar o universo aliceano! Para começo de interação com ele, devo confessar que ignoro qual é a praia predileta de Beatriz Pacheco Pereira, enquanto cidadã. Na certa, todavia, não me enganarei se escrever que, enquanto autora, ela frequenta as finas areias da praia (da) arte literária, onde maresia se faz concórdia com poesia. E desde 2003, em que publicou ‘As Fabulosas Histórias Dela’, coletânea  de contos de feição, noblesse oblige,  fantasista. Continuar a ler “SERÁ ‘ALICE E OS ABUTRES’* UM ROMANCE ALICEANTE? – por Danyel Guerra”

O PIERROT LUNAIRE A PARTIR DUM ENSAIO DE AUGUSTO DE CAMPOS- por Eric Ponty

 

O PIERROT LUNAIRE E AS SUAS CORRESPÔNDENCIAS

Música de Invenção, São Paulo, Editora Perspectiva, 1998.

A partir dum ensaio de Augusto de Campos

Em 1912, um ano antes da colisão da SAGRAÇÂO DA PRIMAVERA, de Stravinsky, uma outra obra escandalizou as orelhas do século: PIERROT LUNAIRE, de Arnold Schoenberg, um ciclo de 21 poemas de Albert Giraud, em versão alemã de Otto Erich Hartleben, para voz e pequeno conjunto instrumental (piano, flauta e flautim, clarinete e clarinete baixo, violino, viola e violoncelo). Continuar a ler “O PIERROT LUNAIRE A PARTIR DUM ENSAIO DE AUGUSTO DE CAMPOS- por Eric Ponty”

UM ROMANCE NAS NÓDOAS DA MISÉRIA (Série I)- por Lúcio Valium

Foto by Paulo Burnay

HORAS

Na instituição as horas são linhas. Férreas convenções temporais. De manhã não segui a norma. Permaneci na hospedaria. Cama jangada dignos trapos quentes. São a vida. A negação doce e animalesca das imposições. Chego tarde com orgulho. Entro na cápsula como um infiltrado e visto a pele de sereno figurante. Um paciente que não é fácil decifrar. Pouco para o exterior. Só as raras sessões de livre palavria medicante me interessam. De resto busco salas vazias. O desprezo pelo real fraudulento. Não respeito a engrenagem e escondo estratégias que a maquinaria não pode controlar. Sei que a directora é um coração bom. Mas não ia gostar se soubesse do afastamento a que voto as actividades gerais. Pouco importa. Gosto de algumas palavras dela. Mas dou-lhes outro uso. Sonho com o tempo que partilhamos na hospedaria. O nosso vinho na lareira é um festim sem necessidade de ornamentos. É a música primordial dos lábios. Fogo vinho nas cores dos olhos. Prazeres que bailam no labirinto dos corpos. Assim vivo o silêncio íntimo nestes pisos ruidosos. Retendo o suor da noite e a sonoridade da tua pele. Continuar a ler “UM ROMANCE NAS NÓDOAS DA MISÉRIA (Série I)- por Lúcio Valium”

D’A Grua e a Musa de Mãos Dadas – por Fernando M. Guimarães

A Grua e a Musa de Mãos Dadas é o título da sexta obra literária de Jorge Carlos Fonseca. Em entrevista dada ao jornal caboverdiano Expresso das Ilhas (30/9/21), a propósito do lançamento do livro na Cidade da Praia, o autor afirmava que a sua escrita não obedecia a qualquer programa ou intenção. Composta por 106 fragmentos, a natureza fragmentária da obra é religada por uma ideia sem a qual a literatura não faz sentido – a liberdade, esse exercício de escrita que encontra a sua matéria em tudo o que constitui pretexto da e para a criação literária: da literatura à política, dos afazeres que o dia a dia exige às pausas que a insónia impõe. Continuar a ler “D’A Grua e a Musa de Mãos Dadas – por Fernando M. Guimarães”

PROSE AND POEMS – by Susan Pensak

Fotografia de Paulo Burnay

Is it raining yet? Is there a chance of rain? Has it rained? Is that smoke I see coming out of the chimney across the street? Is this a picture? Am I looking at something that isn’t moving outside my window? Is that rain? Is that the sound of dragons, dungeons, wildlife, air purifiers, birds, fate? What was the illness I didn’t know by name that made the man’s left eye open incompletely (the one who was begging paradoxically, using a plastic brochure stand as his lectern, like a preacher)? What was his soul affliction? (What’s mine?) Continuar a ler “PROSE AND POEMS – by Susan Pensak”

AS SELEÇÕES MUSICAIS BRASILEIRAS DE TODOS OS TEMPOS – por Wander Lourenço

Às vésperas da Copa do Mundo de 2022, no Qatar, um afamado jornalista do Caderno de Cultura desafiou-me a escalar as duas maiores seleções, feminina e masculina, de todos os tempos do cancioneiro pátrio, orientando-me a escrever a crônica como fosse uma entrevista coletiva para divulgação dos excretes nacionais, nas mídias estrangeiras e tupiniquins. Vamos a elas; entretanto, cabe informar que, por cavalheirismo, irei iniciar a convocação pela equipe feminina de compositoras e intérpretes. Continuar a ler “AS SELEÇÕES MUSICAIS BRASILEIRAS DE TODOS OS TEMPOS – por Wander Lourenço”