![](https://i0.wp.com/athena.pt/wp-content/uploads/2022/02/sextilha.jpg?resize=414%2C424)
Sextilha de Inverno
Já me anoitecem os passos
Quando à varanda me chego.
Chove frio nos meus braços
Galhos secos, desapego.
Inverno, lume, lareira
Fogo e cinzas. Vida inteira.
![](https://i0.wp.com/athena.pt/wp-content/uploads/2022/02/FB_IMG_1643395175229-e1644356222202-208x300.jpg?resize=373%2C538)
Olhares
Entre nuvens esfarrapadas
E tímidos sois
Um ténue fio de luz
Enlaça
Este inverno
Salpicado de prata.
Árvores arrepiadas
Vestem-se de esperas
E o meu olhar
Ora nítido ora baço
Sonha primaveras
Atrás da vidraça.
![](https://i0.wp.com/athena.pt/wp-content/uploads/2022/02/IMG-20220225-WA0000.jpg?resize=525%2C930)
Quadra
Ai se a paixão me chegasse
Como camélias no Inverno
Talvez no chão espalhasse
Versos de um amor eterno.
Natal
Talvez haja algures
Um Dezembro limpo
Uma certa rua
O menino e eu
Em forma de assim
__Um anel de sol
__Um brinco de lua
E o Jesus que eu não sinto
Mais perto de mim.
É CARNAVAL
E nem mesmo Deus
Me leva a mal
Neste manto multicor de gente desalmada
Perdendo-se
Em bebedeiras de ilusão.
*
Deixei-me solto nos braços da festa
Travestido de frágeis metáforas insolentes
De contentamentos descontentes
De sonhos arrebatados em contramão
*
Só por hoje, saio de mim__
Piso palcos de êxtases e de pandeiros
Batendo dentro do peito
Com a rua entrando Carne Vale adentro.
*
E eu fico assim meio sem jeito
Pavoneando-me
Nas curvas e contracurvas
Da minha infância perdida.
*
Aposto todas as fichas do cansaço
Em folia em fogo em fantasia
No meio de corpos sequiosos
De sedas. De quimeras. De abraços.
*
Eu sei
Amanhã são cinzas.
É lume apagado
É sonho adiado.
*
Entro em casa
Penduro a máscara
E invento-me
Numa outra solidão.
![](https://i0.wp.com/athena.pt/wp-content/uploads/2022/02/magnolia2.jpg?resize=525%2C700)
MAGNÓLIAS
Sigo ainda
Dentro das palavras fatigadas
As que ouso navegar
Na barca indefesa dos meus sonhos
Dourados de fé e fantasia.
E prendo magnólias ao olhar
Com que pinto a penosa lentidão das horas
Tricotando o tédio e a tempestade
Nos invernos desassossegados.
Ó deuses
Protegei-me do fascínio dos abismos
Com o eco das demoras
Em terreno movediço de ternura.
Só vós sabeis
Vestir os meus gestos com flores
Cravejadas de doçura
Espalhando à toa o seu perfume
No frio desigual
Da minha rua.
![](https://i0.wp.com/athena.pt/wp-content/uploads/2022/02/poema7.jpg?resize=483%2C272)
Despontar
Apesar do inverno deste Norte
Castigando a Natureza tão severo
A força do meu olhar é tão forte
Que entre folhas tocadas pela morte
Descubro em botão a primavera.
![](https://i0.wp.com/athena.pt/wp-content/uploads/2022/02/poema-8.jpg?resize=362%2C296)
Instantes de chuva
Na minha cidade
Pontilham de cores o meu pensamento.
Solitária me sinto no meio da gente
Tal a beleza que só eu pressinto
Na água que escorre do céu que me espreita
E rio-me sozinha das doces quimeras
Com que bordava o mundo
No tempo invencível da fugaz primavera.
Ah como por vezes nos cegam os sentidos__
Um dia de chuva pode ser tão bonito
Como bonitos eram teus olhos molhados
Morrendo de amor
Nos meus braços suados
![](https://i0.wp.com/athena.pt/wp-content/uploads/2022/02/poema-9.jpg?resize=355%2C355)
Hoje não
Talvez amanhã
Eu me solte
Como camélia florindo
Em pleno inverno
Hoje está sol
E faltam-me rimas
Mais que perfeitas para te comover.
Deixa-me estar assim
Vestida de gestos azuis
No silêncio.
Amanhã inauguro contigo
Um novo sonho
♦♦♦
Ana Margarida Gomes Borges Nascida em 31 Outubro de 1951, em Vila Pouca de Aguiar. Professora do Ensino Secundário – Aposentada. Diseuse ou dizedora residente no Porto. Participação poética em várias colectâneas e revistas em Portugal, Brasil e Galiza. Um livro de poesia a solo “JÁ NÃO MORO AQUI” resultante de um primeiro prémio em concurso literário. Distinção noutros concursos literários.
Publicou o seu 2º livro de poemas em Março de 2019 “ TALVEZ SE ME EMPRESTARES UM DESSES VERSOS”.
You must be logged in to post a comment.