AMORÁVEL – por Jaime Vaz Brasil
Amorável Eu vim, amor pra recolher a sombra leve dos teus passos e com o abraço que guardei e não sabia. Vim pra dizer que tudo é breve mas demora bem mais que deve, se a razão despede a hora.
Amorável Eu vim, amor pra recolher a sombra leve dos teus passos e com o abraço que guardei e não sabia. Vim pra dizer que tudo é breve mas demora bem mais que deve, se a razão despede a hora.
Uma noite, a solidão chegou contando que saudade era banal como tristeza e que a mesa do silêncio estava posta, e que tudo era não mais que onde e quando. Foi sentando, e eu fazendo que não via. Ela, frase que emendava em outra, quase desenhou na minha pele o seu retrato que assinei, …
91. O sabor não mora na língua ou na fruta. Nasce na hora em que as duas na gruta viva da boca se encontram. Nuas.
81. Grave, o passado rege os passos e o espaço da História. Apressado, o futuro acena e nos chama reclama nossa demora. Mas a vida é agora.
71. Primeiro amor é um efeito represa: arrebatador porque se ama o amor.
61. Quadro é um poema sem palavras. Poema é um quadro nas palavras. 62. Quando há arte numa obra nada falta nada sobra.
51. Nenhum poema esgota o tema. Mas, quando bom, põe a verdade em estado de estando… 52. Dante, à porta do inferno: – “Deixai, vós que entrais, toda a esperança”. Quintana retrucou, na entrada: – “Esperança é uma espera que não cansa”. Eu? Ora… sentei num banquinho e …
41. Ninguém redime o podre no sublime. O poema, porém pode ser contraste: um choque de contrários. Por exemplo: a palavra sujeira perto do santo sudário…
31. Artista segue tempo adiante. Crítico só respira no durante…
21. O Eu Lírico De dia o eu operário. De noite o falsário. Porém: quem é quem?
11. Noite antes noite depois: eis a constante. Existir é relâmpago.
Poeminhos 1. Fé é a esperança voando a pé. —◊-◊-◊— 2. A poesia existe no que a palavra não disse.
Uma grande rebelião sem causa e também sem lema não leva ninguém a nada. Mas serve para o poema. Um tombo dentro da alma no arranha-céu dos dilemas aos outros, talvez não sirva. Mas serve para o poema. Um roteiro que tropece na escadaria do tema talvez não sirva ao aplauso. Mas …
A singular pluralidade de Fernando Pessoa passa, antes de tudo, pela gênese artística de seus heterônimos. Seja como Fernando – o próprio – , Álvaro, Alberto ou Ricardo (ou ainda Bernardo e outros menores), o genial poeta criou personagens que existiram soberanos em estilo, temática, dimensão estética e qualidade.
A Casa do Coração Na casa do coração convivem dois inimigos presos na árida corda das horas, por seus umbigos. Na casa do coração (quem a visita pressente) um deles pulando corda e o outro rangendo os dentes. Na casa do coração um deles constrói seu nada enquanto o outro levita e põe flores na …
“Aceitar a idéia do Complexo de Édipo sem compreender o mito e a peça de onde Freud tirou seu nome é uma forma de aceitar a psicanálise sem tentar alcançar o seu mais profundo significado[1][1]”. Bruno Bettelheim I. De Tântalo até Laio A história do ciclo mítico de Édipo marca seu início com Tântalo[2][2], …
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Quando vi dona saudade me encarando tão de frente tentei cambiar a mirada, dizer que errou de vivente…
Bestiário da Sombra A morte é um lobo à espreita: imóvel, mudo e pulsante. (No olho, o gelo põe cores de quem domina, distante.) A morte é serpente rasa e nos vive – de pequenos – destilando em nossas veias o seu mais lento veneno. A morte é um urso hibernante que dorme, imóvel e …
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Lua, Lua do Pampa, do Plata, da Índia, de Angola… A lua ensaia há milênios -em silêncio e placidez- ao negroazul do tablado quatro ensaios de nudez. Lua, Lua das matas, dos cerros, da Espanha, do Alhambra…
Guilherme Tell e Eu Meu primo ganhou de natal um arco-e-flecha. Treinávamos pontaria em latas, galinhas e árvores. Fizemos torneios. Ele era mais velho que eu, treinava mais e vencia sempre. Aí me convenceu a colocar uma maçã na cabeça. Se eu pudesse, contava como é sentir aquele zunido da flecha vindo, aquele friagem que …
A Arte de Conquistar o Mundo O exército do país A invadiu o país B. Morreram muitas pessoas nos dois lados. O país A, apesar de enfraquecido com as baixas, venceu. Mesmo debilitado, percebeu que amedrontara o país C, e isso o impeliu a invadi-lo. Outras mortes, mas a coragem já superava qualquer dificuldade. Pôs …
Não posso pegar vento, por isso quase não saio mais de casa. Até saio, mas é direto para o trabalho. Depois, de volta e depressa. Quando eu era pequeno, me lembro um pouco disso de não tomar vento. Mas a situação era outra. Quando conheci Alice, conheci a paixão e suas maravilhas. Os abraços de …
Um mês antes de completar oitenta anos, o Coronel Herculano Ramos avisou o filho mais velho que daria uma festa de aniversário. As palavras dele foram um punhal suspenso na mesa de jantar. Depois de um silêncio: – Convido todos?
No porão, esperávamos o Águia. Atrasado, como sempre. Mas viria, cedo ou tarde. Viria com o nariz erguido, a roupa surrada e a tatuagem no braço que lhe valera o apelido. Iniciamos sem ele. Raimundo Sanchez estava com aquele casaco que o deixava ainda mais gordo, e foi desenrolando devagar a planta, desenhada em papel …
Nosso velho tio Alfredo Nunes era tenente do exército. Depois de reformado, sempre que nos visitava, dizia dos acontecidos no tempo de quartel. Gostávamos de ouvir das manobras e dos exercícios de guerra. Nosso tio Alfredo era uma espécie de herói familiar. Ficávamos ao redor dele. Depois de uma cerveja que outra, desenrolava a língua. …
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Imagens de Lourdes Ximenes Gonzales entrou em casa como quem procura barulho na sombra. E tudo estava escuro demais. Com isso, nem sombra apareceu. Fez dois ruídos opacos. Um quando tentou abrir a porta sem acordar a dobradiça velha. Outro, quando quis acender a luz. Compreendeu a escuridão e sacou lentamente o punhal.
DIRECÇÃO: Júlia Moura Lopes DIRECTOR ADJUNTO: Artur Manso Artigo Destaque: In Memoriam Paulo Lúcio/Lucio Valium, por Atur Manso COLABORARAM: Alda Fontes, Alvaro Acevedo, Artur Manso, Claudia Vila Molina, Danyel Guerra, Dercio Brauna, Fernando Martinho Guimaraes, Francisco Fuchs, Idalina Correia Da Silva, Jaime Vaz Brasil, Jardel Dias Cavalcanti, Lionilda Pereira, …
EDIÇÃO Nº 29- DE SETEMBRO / 2024 -HOMENAGEM PAULO LÚCIO/ LÚCIO VALIUM- DIRECÇÃO: Júlia Moura Lopes ⌉ Artur Manso CAPA: Fotografia de PAULO BURNAY COLABORAM AINDA: Alda Fontes, Alvaro Acevedo, Artur Manso, Claudia Vila Molina, Danyel Guerra, Dercio Brauna, Fernando Martinho Guimaraes, Francisco Fuchs, Idalina Correia Da Silva, Jaime Vaz Brasil, Jardel Dias Cavalcanti, Lionilda …
Continuar a ler “FICHA TÉCNICA DA EDIÇÃO 29 – SETEMBRO/2024”
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