81.
Grave,
o passado rege os passos
e o espaço da História.
Apressado,
o futuro acena e nos chama
reclama nossa demora.
Mas a vida
é agora.
♣♣♣
82.
O vento
na árvore
peneira
o sol.
♣♣♣
83.
Não há pretérito perfeito
nem futuro no passado:
o tempo
é gerúndio.
♣♣♣
84.
Nos campos santos
somos todos
e tantos.
A saudade
nos faz regar
flores de plástico.
♣♣♣
85.
Noite antes
noite depois:
eis a constante.
Existir
é relâmpago.
♣♣♣
86.
A gente aprende
à certa altura:
vida
é comprimento
e largura.
♣♣♣
87.
Na História
o tempo constata:
herói ou vilão
é questão de data.
♣♣♣
88.
Ó pai do céu…
Na terra
sei onde começais:
na casa onde mora
pai de menos ou demais.
♣♣♣
89.
Ansiedade
é o futuro chegando mais cedo.
Depressão
é o passado mesmo quando não é tarde.
Nas duas
o tempo
é o senhor do medo.
♣♣♣
90.
As notas estão para a pauta
assim como as palaras estão para o poema.
A melodia está para a nudez
assim como o arranjo está para o vestido.
O andamento está para os pernas
assim como a pressa está para as passos.
O ritmo está para o movimento
assim como a mão está para o gesto.
Na clave, o sol está para o corpo
assim como a dança está para a alma.
♦♦♦
Jaime Vaz Brasil – Poeta gaúcho, com 7 livros publicados e vários prémios, dentre os quais: Açorianos, Felipe d’Oliveira e Casa de Las Americas (finalista). Atua também como compositor, tendo vários poemas musicados e interpretados por vários parceiros, dentre os quais Ricardo Freire, Flávio Brasil, Zé Alexandre Gomes, Nilton Júnior, Vitor Ramil e Pery Souza.
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