POEMINHOS – 81-90- por Jaime Vaz Brasil

 

© Noell Oszvald

81.

Grave,
o passado rege os passos
e o espaço da História.

Apressado,
o futuro acena e nos chama
reclama nossa demora.

Mas a vida
é agora.

♣♣♣

82.

O vento
na árvore

peneira
o sol.

♣♣♣

83.

Não há pretérito perfeito
nem futuro no passado:

o tempo
é gerúndio.

♣♣♣

84.

Nos campos santos
somos todos
e tantos.

A saudade
nos faz regar
flores de plástico.

♣♣♣

85.

Noite antes
noite depois:
eis a constante.

Existir
é relâmpago.

♣♣♣

86.

A gente aprende
à certa altura:

vida
é comprimento
e largura.

♣♣♣

87.

Na História
o tempo constata:

herói ou vilão
é questão de data.

♣♣♣

88.

Ó pai do céu…

Na terra
sei onde começais:

na casa onde mora
pai de menos ou demais.

♣♣♣

89.

Ansiedade
é o futuro chegando mais cedo.

Depressão
é o passado mesmo quando não é tarde.

Nas duas
o tempo
é o senhor do medo.

♣♣♣

90.

 

As notas estão para a pauta
assim como as palaras estão para o poema.

A melodia está para a nudez
assim como o arranjo está para o vestido.

O andamento está para os pernas
assim como a pressa está para as passos.

O ritmo está para o movimento
assim como a mão está para o gesto.

Na clave, o sol está para o corpo
assim como a dança está para a alma.

mulher tocando by Suzy Hazelwood

♦♦♦

Jaime Vaz Brasil – Poeta gaúcho, com 7 livros publicados e vários prémios, dentre os quais: Açorianos, Felipe d’Oliveira e Casa de Las Americas (finalista). Atua também como compositor, tendo vários poemas musicados e interpretados por vários parceiros, dentre os quais Ricardo Freire, Flávio Brasil, Zé Alexandre Gomes, Nilton Júnior, Vitor Ramil e Pery Souza.