21 DE JUNHO 1970 – por Francisco Fuchs

 

Pelé e Bobby Moore trocam camisas ao término de Brasil x Inglaterra (1970)

 

Para Giuseppina Traverso

Quando eu nasci, o Brasil era o país do futebol: donde se conclui que já não sou nenhum garoto. Há coisas que não podemos revelar sem denunciar nossa idade; porém, por uma dessas leis de compensação que gostaríamos de imaginar arranjadas por um ser superior, quanto mais se avoluma a soma de nossos anos, menor é a importância que damos à divulgação do resultado. Continuar a ler “21 DE JUNHO 1970 – por Francisco Fuchs”

A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (conclusão)- por Francisco Traverso Fuchs

Keith Jarrett – The Köln Concert (foto: Wolfgang Frankenstein)

(Clique AQUI para ler a 1ª Parte)

  1. Cultura como resolução de problemas

Embora possua aspectos sombrios, a cultura é muito mais do que uma fonte permanente de conflitos. Uma cultura pode ser descrita como uma maneira peculiar de propor e solucionar problemas. Desse ponto de vista, a riqueza da chamada diversidade cultural nada mais seria do que a expressão da variedade de soluções propostas pelas diversas culturas. Por exemplo, diferentes estratégias de caça e de coleta e, posteriormente, diferentes técnicas de plantio e de pastoreio fornecem soluções distintas ao problema da alimentação; técnicas de combate propõem soluções para o problema da guerra, e técnicas de cura propõem soluções para os problemas de saúde. Continuar a ler “A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (conclusão)- por Francisco Traverso Fuchs”

A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (1ª PARTE) – por Francisco Traverso Fuchs

                                                     Cueva de las Manos (Argentina)
  1. O bárbaro como barbarófono

Com um didatismo pouco comum em obras do gênero, o dicionário Le Grand Robert de la langue française (2001) adverte seus leitores de que um dos sentidos da palavra “bárbaro” (homem “incapaz de apreciar as belezas da arte”, grosseiro, bruto, ignorante) “envelheceu por causa da evolução dos juízos referentes a sociedades e culturas diferentes”. Mas se atentarmos às rubricas utilizadas nas diversas acepções do verbete barbare (“envelhecido”, “histórico”, “arcaísmo”), veremos que as marcas de caducidade estão presentes em praticamente todos os sentidos do vocábulo. Continuar a ler “A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (1ª PARTE) – por Francisco Traverso Fuchs”

O TERRAPLANISTA – por Francisco Fuchs

Até aquele dia, Emanuel jamais questionara o que seu professor lhe ensinava. Ao contrário de alguns de seus colegas, que com o passar dos anos aprenderam a temperar as lições recebidas em sala de aula com um grão de sal, ele sempre se deu por satisfeito com todas as explicações. Emanuel era inteligente o bastante para saber que sua inteligência não era privilegiada e, por isso mesmo, esforçava-se o quanto podia para assimilar o conteúdo das aulas. Ele não enxergava a si mesmo, no entanto, como um conformista; apenas não via razão para questionar verdades há muito estabelecidas. Se o verdadeiro não se torna falso, nem o falso se torna verdadeiro, por que perder tempo com vãs especulações? Assim, se era por aderir à verdade que o chamavam, por vezes, de conformista, e se a zombaria de que era alvo soava aos seus ouvidos como um elogio ao invés de uma ofensa, o que mais poderia fazer senão conformar-se? Continuar a ler “O TERRAPLANISTA – por Francisco Fuchs”

O QUE SIGNIFICA (MAL) LER E ESCREVER? – por Francisco Fuchs

A ambigüidade no título deste pequeno artigo é deliberada. Sua construção confunde, ou melhor, complica três possibilidades: ele pode referir-se a gente que lê e escreve mal; a gente que mal lê e escreve; e, por omissão do parêntese, aos atos de ler e escrever em geral. Também há nele uma pontinha de provocação: afinal, é bastante provável que, nos dias de hoje, semelhante título saiba ao leitor não apenas ambíguo, mas francamente antipático. Sim, há gente que pouco se interessa pela leitura e pela escrita, e gente que, embora pratique rotineiramente as duas atividades, interpreta mal o que lê e não consegue dar ao seu pensamento uma forma, senão elegante, ao menos fluente e precisa; mas apontar a essas pessoas um dedo acusador não resultaria numa espécie de elitismo excludente que nenhum bem pode fazer a elas e à sociedade? Continuar a ler “O QUE SIGNIFICA (MAL) LER E ESCREVER? – por Francisco Fuchs”

BARANEK WIELKANOCNY – por Francisco Fuchs

Krzysztof estava atordoado. Não entendia porque Jadwiga ainda lhe delegava aquelas tarefas aparentemente fáceis, como comprar no mercado um Baranek Wielkanocny. Poucas coisas ainda eram fáceis para Krzysztof, mas Jadwiga parecia não entender ou não aceitar que assim fosse. Seu homem podia ser simples e até podia, àquela altura da vida, estar um pouco confuso, mas já havia construído mais casas do que era capaz de contar, abrigando dos rigores do inverno velhos e moços, letrados e iletrados, católicos e ateus; e mesmo sem ter jamais conhecido essas gentes, rezava diariamente para que vivessem em harmonia, pois, na sua visão, apenas assim poderia considerar completo seu trabalho. Continuar a ler “BARANEK WIELKANOCNY – por Francisco Fuchs”