Hoje escrevo para Mim e para Todas as Mulheres E Homens deste Mundo. Para que as mulheres reconheçam o masculino que têm em si e os homens reconheçam o feminino em si.
Precisava duma casa onde coubesse a minha vida toda, soalheira,
abrigada da invernia, distante dos lugares familiares, onde coubesses tu,
uma árvore ao pé, móvel e literária, imprecisa como uma lâmpada
de névoa, e ser ela o jardim todo e o jardineiro. Já vou suportando atrasos,
partidas adiadas, quem não parte também regressa, regressaremos todos,
um dia dentro duma carruagem a chiar numa estação desconhecida,
a desembaciar o vidro com a mão, porque havemos de chegar sempre a algum lugar? Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Nuno Higino”
Siempre sentí curiosidad por Las Santas Escrituras y de saber sobre las profecías, los cumplimientos históricos, el conocer sobre la vida de los profetas, aprender la etimología de las palabras, sus significados ocultos, los números y las señales. Desde niño, mis padres me leían pasajes de La Biblia y me mostraban el vasto universo en noches brillantes de estrellas.
Cierto día, asistí a un encuentro bíblico que se celebraba en un amplio salón de una casa antigua. En el centro colgaba una lámpara grande con bellos cristales y faroles de diversos contornos, que encendida, emitía mágicas luces de colores. Continuar a ler “CONTOS MÍSTICOS de Moisés Cárdenas”
“Flânerie” foi o mote que Leonel Cunha deu para este amostra da sua obra, que teve início no dia 13 de Julho e em cuja inauguração Athena esteve presente.
A exposição continuará em exibição até ao dia 13 de Setembro, no Espaço Atmosfera M, Porto, até 13 de Setembro. A entrada é gratuita.
A primeira grande exposição de desenhos do conhecido artista português Cruzeiro Seixas ocorreu em 1953 em Luanda, cidade onde viveu 14 anos. Foram 48 desenhos. Quatro anos depois fez outra, sempre na capital angolana e, um desses desenhos foi-me por ele oferecido em 1959 ou 60, transformando-se em símbolo do apoio que deu ao nosso grupo estudantil clandestino. Continuar a ler “CRUZEIRO SEIXAS E ANGOLA – Jonuel Gonçalves”
Desceu do Thalys, o trem de alta velocidade, na estação de Amsterdam. Pensava ainda no letreiro eletrônico que indicava 399 quilômetros por hora, um assombro para quem nunca havia ultrapassado 120. Saiu para a rua e deu de cara com um imenso estacionamento de bicicletas, ao lado da ferrovia. Milhares, estacionadas numa confusão de rodas e guidões, uma aparente visão do caos urbano amontoado. Tentou imaginar a lógica dos ciclistas na identificação da própria bicicleta, na hora de voltar para casa. Ao lado, o braço de mar sobre o qual se estendia a pequena ponte que conduzia ao centro da cidade, com suas flores, canais e complacências. Continuar a ler “MARIA SALVADORA – Joaquim Maria Botelho”
A ambigüidade no título deste pequeno artigo é deliberada. Sua construção confunde, ou melhor, complica três possibilidades: ele pode referir-se a gente que lê e escreve mal; a gente que mal lê e escreve; e, por omissão do parêntese, aos atos de ler e escrever em geral. Também há nele uma pontinha de provocação: afinal, é bastante provável que, nos dias de hoje, semelhante título saiba ao leitor não apenas ambíguo, mas francamente antipático. Sim, há gente que pouco se interessa pela leitura e pela escrita, e gente que, embora pratique rotineiramente as duas atividades, interpreta mal o que lê e não consegue dar ao seu pensamento uma forma, senão elegante, ao menos fluente e precisa; mas apontar a essas pessoas um dedo acusador não resultaria numa espécie de elitismo excludente que nenhum bem pode fazer a elas e à sociedade? Continuar a ler “O QUE SIGNIFICA (MAL) LER E ESCREVER? – por Francisco Fuchs”
Todos nós conhecemos a história. Abel e Caim são irmãos, e Deus dedica-lhes uma afeição merecida. Abel é pastor, Caim, agricultor. Este fixa-se na terra e, com o seu trabalho, tira dela o que de melhor ela pode dar. Aquele, Abel, o pastor, percorre os campos, não tem lugar fixo e vai para onde o rebanho o leva. Ambos honram Deus com as suas oferendas. Mas Deus demora mais o seu olhar sobre Abel, o pastor. Continuar a ler “UM ELOGIO DA VIAGEM – por Fernando Martinho Guimarães”
«Se llega a un momento en que la luz del rostro basta para
todas las tinieblas», (Julio Inverso, Diario de un agonizante,
(Poema XI, “Diario de un agonizante”, 1995).
Ha pasado más de una década y media de su desaparición física y aun no existe una «matriz» de lectura crítica que aborde los libros editados. La poética de Inverso se puede encontrar en Cielo Genital (2000), sin embargo dicho libro que salió a luz después de la muerte del poeta está incompleto, no importa detallar aquí cuáles fueron los motivos para recortarlo. Si bien Cielo Genitalse constituye como la poética, elaborar esa matriz crítica debería partir de una lectura horizontal de los libros precedentes, buscando y hallando los temas y tópicos manejados. Continuar a ler ““OSCURIDAD Y LÍRICA EN LOS POEMAS SUICIDAS DE JULIO INVERSO” por Federico Rivero Scarani”
Ultimamente, Phelps andava muito taciturno. Estranhos pensamentos perturbavam-no.
Nos dias cinzentos, a sua depressão acentuava-se. Estava sempre intratável. Tudo o irritava. Esquecia-se de tudo e, com frequência, perdia a noção do tempo real. Falava sobre coisas do passado como se estivessem a acontecer no momento. Fisicamente aparentava estar bem. Não tinha a mínima consciência do seu declínio mental.
O homem que fora — culto, sabedor, activo, “bon-vivant” e óptimo companheiro, às vezes folgazão —, era agora um espectro de si próprio. Já não sorria, nem ria. O seu olhar, ora mortiço, estava sempre alheio a tudo. Fechava-se, cada vez mais, em si próprio… Não lhe interessavam as viagens, as leituras, a música, o teatro e demais manifestações culturais e artísticas, ou seja, tudo o que sempre apreciara. Também não ia aos repastos com os amigos.
Presentemente, era como um vestido de “toilette” que se transformou em farrapos. Sim, Phelps era um farrapo. Todos os que o conheciam e com ele conviveram sentiam um mal-estar com a sua presença. Era um desconhecido! Passava grande parte do dia sentado, olhando sem ver, cogitando e construindo, mentalmente, impossíveis. O seu ponto de partida eram as recordações da infância e adolescência. Lembrava-se do Principezinho, com a sua rosa e, se porventura, colhesse uma, imaginava-se a voar pelo espaço e a observar a Terra lá do alto; nessas ocasiões, esboçava um sorriso… Quem o visse diria: ali está um homem feliz.
Mas se à memória vinham os heróis de Dickens, depressa caía no habitual mutismo. Outras vezes inseria-se no mundo de Sherlock Holmes e a sua expressão ganhava um tónus de seriedade e concentração. Raramente, escutava Beethoven, Mozart, Liszt, Bach, Tchaikovsky, Verdi ou Chopin, nos poucos momentos em que estava menos desassossegado. Adorava Paganini. O som do violino era para ele tonificante: sempre fora o instrumento que teria desejado saber tocar. Muitas vezes relia alguns clássicos nacionais e estrangeiros. Os romances americanos e sul-americanos eram os seus preferidos. Mas a poesia tinha um particular destaque e, sempre que lia um poema, lia-o em voz alta. Porém, estes breves momentos de relaxe davam lugar à abstração da realidade. Enclausurava-se no seu mundo peculiar ou, antes, apartava-se do real, do presente. Então ficava apenas sentado, hirto, olhando o vácuo, onde nada é visível. Nestas ocasiões transformava-se no espectro que era. Phelps vivia uma vida diferente, tão diferente que ninguém, nem ele, entendia, ou percebia.
O declínio mental iniciara-se há quinze anos. Doenças, faltas de dinheiro, perda de qualidade de vida, de entes queridos, desgostos e a descrença, cada vez maior, num futuro sempre adiado, contribuíram para o turbilhão de pensamentos que o assolava.
A sociedade actual, decadente de valores e apologista dos bens materiais, desgostava-o e causava-lhe grande sofrimento, de tal modo que, descrente de tudo, se tornou no farrapo que agora era. Este processo ao longo dos quinze anos, teve como resultado um estado de catatonia. Já não filosofava. Não lhe interessavam as questões metafísicas. Já não sabia pensar, nem interrogar e discutir problemas que moviam as suas capacidades de análise e de síntese. Empregando uma linguagem de computador: deletara-se.
Dormia pouco; quase não comia. O seu lema era recordar, recordar, para fugir ao presente e não abordar o futuro.
Imaginava-se encarcerado num cubo. Esse cubo era transparente. Phelps via tudo, mas não era visto. O seu mundo fechado era muito próprio. Único.
Porém…
Num certo dia cálido de Verão, a luz solar encadeou-o e, segundo ele, teve uma visão que mudou radicalmente o seu comportamento e forma de estar.
Já não tinha corpo e flutuava no imenso espaço estratosférico. Percepcionou o Universo e observou todos os planetas como infinitésimos pontos. Só o brilho das estrelas cortava a escuridão que o rodeava. Em silêncio absoluto, as suas percepções permitiram-lhe apreender que a única verdade real estava no seu pensamento. Pouco importava se aquilo que via existia, ou não. Mas se ele via , então o seu mundo era real! E assim prosseguiu os seus dias, olhando para o infinito, sem falar, sem comer. Existia. Era um zombie pensante.
Numa manhã chuvosa, viu seca a rosa do Principezinho. Sorriu, acenou para o vazio e… feneceu!
Encontram-no passados dois meses. Seus ossos adivinhavam-se debaixo da pele ressequida e roxa mas, no rosto, notava-se o sorriso. Afinal Phelps partira feliz. Alcançara o seu Nirvana, via pensamento, que o alimentou nos seus longos anos de Peregrinação.
Alcançou a felicidade pela via da abstracção/observação de uma realidade para além do Real!
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Duarte Manuel da Silva Passos Klut (Duarte Klut), nasceu em Lisboa a 20 de Abril de 1942. Professor. Licenciado em História, possui os graus de Mestre pela FLUP e de Doutorado pela U. Gama Filho, Rio de Janeiro. Aposentado desde 2004. Tem publicadas as seguintes obras: Um quase Diário de um quase Nómada (2005) Versos…Perverso (2008) Lucubrações — estados de Alma (2011) Esmerilhando… Mundividências (2013) Aporias (2014) e O Inquieto e as utopias possíveis ( 2016)
Rolam velas de lume no limbo do mar…. Entrego-me ao sol , despido e sonolento na manhã já alta… Despejo com avidez o cinzeiro da noite anterior e revejo-me na busca do azul… Empalideço ao notar que as nuvens são reais como eu…. Desenho na areia o meu nome talvez em busca de mim… Alinho-me a Oeste , procurando a luz que já empalidece… Afundo-me no sonho desperto de ser como sou… Dobro o jornal e desejo-me dentro de mim… Adormeço acreditando que as nuvens se despedem…ao longe…
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Manuel Diniz Gaspar Cardoso Cortes. Médico – Chefe de Serviço de Medicina Geral e Familiar e Terapeuta Familiar pela Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar. Fotógrafo de Natureza e Vida Selvagem desde 1980. Prémio Carreira do FAPAS e C. M. Castelo de Vide em 2016 pelo trabalho desenvolvido nesta área. Aluno de Mestrado em “Arqueologia pré-Histórica e Arte Rupestre” UTAD – 2016/2018 Autor dos livros ”Momentos ao Natural” (2007) e “Viagem” (2015)
Ao descerrar as cortinas da janela, devassando o olhar para o belo horizonte, Maria Doroteia dissipa num ápice a boa disposição com que saltara da cama. Imaginava que a luz de um sol radiante seria portadora de bons auspícios. A visão de uma manhã brumosa, nebulosa, umedecida por gotículas de orvalho, precipita-lhe súbita ansiedade. O outono impõe sua lei. E uma espessa lubrina* já atapeta, em tons cinzentos, o caminho do agreste inverno.
Como os caRiocas, esta mineira também não gosta de dias nublados. Mas quem gosta?! Além do mais, o nevoeiro tem o impertinente condão de avivar em sua lembrança a imagem, ainda nítida, de um esperado Desejado.
A escassos metros, envolto no drapejado de lençóis e cobertas do leito, repousa um livro, páginas abertas numa das estâncias do canto “mais doce, alegre e deleitoso” da epopeia. As artimanhas do aleatório não poderiam insinuar aconchego mais propício.
Oh! Que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava! (1)
Não, hoje não vou visitar titia. O clima não está nada convidativo. Fico por aqui, lendo, fazendo umas arrumações nas velharias, decide, apertando o cinto do penhoar* azul violetado, enquanto se aproxima de um escrínio de porcelana, que costuma usar como pesa-papéis. Antes de levantar a tampa, pega numa folha e escreve uma solitária frase.
Ao encarregar Chiquinho da entrega da mensagem, lembra ao moleque que deve ser veloz como Mercúrio. Isto, apesar do escravo não trazer calçadas sandálias aladas, nem coisa que se pareça. Lacônico, o recado tem como destinatário o tenente-coronel dos auxiliares Manuel Teixeira de Queiroga, um buliçoso homem de negócios que mora mesmo em frente da casa da tia Ana Cláudia, à Ladeira da Praça, no centro de Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto.
Na sede da Capitania das Minas Geraes não é só de manhã que uma névoa, tingida de chumbo, inibe a aparição da luminosidade solar. Nas minas, veios, córregos, riachos e ribeirões, haurido o ouro, a autenticidade cede o passo à contrafação. Do mesmo modo, nas relações humanas, quando a falsidade suplanta a verdade, a hipocrisia e a intriga emudecem a franqueza e a lealdade, a insídia tende a impor sua supremacia.
Espalhados pelos corifeus da maledicência, os boatos escalam as precipitadas ladeiras do Pilar de Ouro Preto. Subindo ágeis as calçadas e descendo sem freio morros e outeiros, boatos ciciam que, há mais de um ano, Maria Doroteia apostara suas fichinhas amorosas num idílio secreto com um reinol*.
Reinol que, sublinhe-se, o ex-noivo de Doroteia, o juiz Tomás “Dirceu” Gonzaga, apelidou de “Roquério” e destratou, com irrisória verve, n’ As Cartas Chilenas. Quando escreveu tão jocosos versos, o lírico vate, tornado cronista satírico, parecia estar adivinhando a proeza que o arguto contratador congeminava, armado dos trejeitos de um D. Juan provinciano.
Se certezas intuísse, o poeta não hesitaria certamente em soltar a furiosa Megera no caminho do mal-ajambrado* rival. Na realidade, enquanto o bardo Dirceu padecia, como um Prometeu, as agruras do cárcere, o lisboeta, encostado ao parapeito da janela de seu sobrado*, vestia a casaca do galante. E insistia, persistia em cortejar a ex-nubente, sempre que a formosa subia ou descia as escadas da casa da tia.
Mas que ninguém o acuse de ser um fauno depravado. Nos seus viçosos vinte e poucos anos, a moça já não se encontra em estado de graça. Afinal, Dorô está na idade em que na mulher, o fulgor da juventude começa a se volatizar, como depurada fragrância exposta ao flagelo da ventania.
Ela tem que aproveitar o dia, a tarde, a noite e a madrugada, enfim, gozar o carpe diem aprendido nos carmes* que o pastor Dirceu lhe dedicara. Todavia, tal como de Nefertiti, dela arriscaria dizer que o mito a dotara de todas as virtudes. Mesmo a de se ter resguardado dos ímpetos da lascívia, se tornando uma casta, fiel até à morte, em tributo e respeito ao primeiro amor. É dessas amenidades que se geram, nutrem, crescem e se agigantam as legendas, em especial as românticas.
Em plantão permanente, as línguas da fofoca não se cansam de cochichar que a senhorita soubera da publicação de Marília deDirceu ao relançar o olhar para um livrinho, abandonado ao acaso, em cima do criado-mudo* da cama de Queiroga. Ao abri-lo, leu embevecida uma das liras que Tomás António lhe dedicara, em carta prenhe de emocionada afeição, nos tempos desditosos da prisão, onde continuou a tecer, com fios de seda, sua (Doro)teia de sedução…
Mal durmo, Marília, sonho
Que fero leão medonho
Te devora nos meus braços (…) (2)
Pelo visto, o reinol Queiroga não é somente o proprietário dos melhores cavalos da vila. Aparenta também cultivar estimáveis hábitos de leitura, isto se não passar de um mero acumulador de livros, para emoldurar estantes e impressionar as visitas num alarde de postiça erudição.
Nos poemas do desafeto, o sôfrego Roquério talvez procure aprimorar os requintes da conquista. Ancioso por arrebatar, de vez e para sempre, o coração da donzela, o “fero leão medonho” afina sua voz para melhor cantar a formosura de Marília, perscrutar seus “olhos belos”, beijar a “testa formosa”, afagar os “negros cabelos.”
Não foi, de certeza, por esquecimento que o pedante rendeiro ocultou a Doroteia a aquisição de um exemplar do livro. Piorando o quadro, foi devido a uma distração sua que a desejada soube do regresso a Vila Rica das arcádicas e pré-românticas liras. O deslize por pouco não comprometeu seus planos. A moça ficou mais que despeitada. Quase revoltada, não apreciou nada ser (des)tratada como uma menina suscetível, afeita a crises de volubilidade juvenil.
O que em definitivo a desiludiu foram os receios e a insegurança de Queiroga, como se a visão das pastorais de Dirceu, em letra de impressão, nela reavivasse as recordações do malogrado romance com o desgraçado ouvidor.
De súbito, uma forte pancada de vento sacode as janelas do quarto, arrancando Doroteia destes intrigantes pensamentos, trazendo-a de novo à soturna realidade. Abre por fim a boceta e depara com o anel de ouro e diamante, presente do agora degredado na longínqua Moçambique. Sua atenção se dirige, porém, para uma folha de papel, dobrada em quatro, onde Tomás escrevera um soneto dedicado a ”ilustríssima Condessa de Cavaleiros, D. Maria José de Essa e Bourbon.”(3)
A excelentíssima senhora era a venerada esposa de D. Rodrigo José de Menezes, governador e capitão-general das Minas Geraes, filho do famígero Marquês de Marialva. Encharcado de reverente louvação, o poema celebra a memória da mítica Inês de Castro, a cuja linhagem a condessa se ufanava de pertencer. O soneto(4) terá sido declamado num dos saraus que D. Rodrigo, inchado de prosápia, promovia no palácio. Foi a primeira vez que a então mocinha ouviu comentar os talentos poéticos do garboso ministro, vizinho do lado da tia Ana Cláudia, na Casa do Ouvidor.
Maria Doroteia julga convencer-se de que simplesmente obedecera a um impulso, quando resolveu vasculhar nas obscuras galerias do túnel do tempo, lembranças tão antigas de Dirceu. Não por acaso, durante a noite, ao se recolher, ela buscara encontrar o son(h)o, folheando Os Lusíadas. Ao passar pelo Canto III, sentiu-se de modo inelutável, atraída para a leitura do episódio de Dona Inês de Castro.
É no afã dessas rememorações, que um esbaforido Chiquinho a põe em desassossego, clamando que traz recado urgente do Sinhô Queiroga. Basta a Doroteia se inundar da clarividência de uma Sibila para se tornar sabedora do que Manuel lhe quer revelar com tanta presteza. Um saber em indiferença tornado. Lacrado, o sobrescrito lacrado continuará. Doroteia cerra, ríspida, as cortinas, inundando o quarto de uma recatante penumbra. Embora contrariada, se angustia ao escutar sua intuição garantir que tinha sido formal e oficialmente destronada no coração do trovador. Não tanto por outra mulher mas, o que é bem mais incômodo, por outra musa, virgem e intocada como se fosse uma sacerdotisa de Vesta.
Determinada, recusa cair no precipício de uma depressão sentimental. Afrouxa o cinto do penhoar, afasta, resoluta, as cortinas, abre a janela para confirmar se a névoa se tinha dissipado. O Pico do Itacolomi, imponente e soberano em dias de sol luminoso, envolve-se ainda num manto de nuvens grávidas de chuvisco. Apesar do cenário adequado, o Desejado não voltará nesse dia. Nunca mais voltará.
Lá fora, o ecoar rumorejante das águas de um riacho é abafado pela alegria da algazarra de uma turma de meninas. Sem se importarem com a cor da pele, a loura Anselma, a morena Joaquina, a mestiça Benedita e a negra Rosário pulam empolgadas numa maré* jogada em frente do Chafariz de Marília, à Ponte dos Suspiros.
Bom dia, D. Maria Doroteia! Como vai?, saúda Joaquina, voz maviosa de patativa, “as tranças pretas pousadas sobre os ombros infantis”. E Dorô corresponde com o claro enigma de um vibrante e sonoro alerta. Bom dia, Marília…. Não se esqueça querida, você tem encontro marcado com Dirceu!
(**Marília é o criptônimo arcádico de Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, noiva e musa de Tomás António Gonzaga, o poeta Dirceu, nascido em Miragaia, Porto (Portugal), a 11 de agosto de 1744.)
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Notas1 - Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto IX, estância 832- Tomás Gonzaga, Marília de Dirceu, 1ª parte, lira XXI3 - Tomás Gonzaga, Marília de Dirceu, 3ª parte, soneto VI4 - Atualmente, é convicção adquiria que o soneto foi escrito a duas mãos, com o camarada árcade Cláudio Manuel da Costa, que não seria também nada “coxo”, no que tange à prática da poesia do encômio.
*Glossário
lubrina – neblina penhoar – robe reinol – habitante do Brasil colonial, nascido no reino de Portugal mal-ajambrado – vestido sem elegância sobrado – moradia de dois ou mais andares, típica do Brasil colonial carmes-poemas maré – jogo da macaca, amarelinha
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Danyel Guerra (aka Danni Guerra) nasceu na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Tem uma licenciatura em História Universal da Infâmia pela FLUP. É jornalista nas horas (mal) pagas e autor literário nas horas com vagas.
Publicou os livros ‘Tomás Gonzaga-Em Busca da Musa Clio´’, ‘ Amor, Città Aperta’, ‘O Céu sobre Berlin’, ‘Excitações Klimtorianas’, ‘O Apojo das Ninfas’, ‘Oito e demy’, ‘Fernando de Barros-O Português do Cinemoda’ e ‘Os Homens da Minha Vida’.
Início – Senhora de Campanhã (Rua da)
Fim – Buçaco (Rua do)
Designação desde – 1965
Freguesia de: Campanhã
A Beata D. Mafalda nasceu em 1200, era filha de D.. Sancho e de D. Dulce de Aragão, o seu nome é uma homenagem à sua avó, D. Mafalda de Sabóia, filha de Amadeu III e mulher de D. Afonso Henriques.
A sua vida estava talhada, como muitas da sua condição, para ser moeda de troca das políticas régias.
O casamento das mulheres da corte ( filhas dos reis em exercício ), como parte da rede de intrincadas alianças políticas, mas sem elas terem voz activa na escolha do seu destino.
Fruto desta lógica, e tendo como pano de fundo a necessidade de ganhar apoios em Castela contra os Árabes, D.Mafalda é induzida a casar com Henrique I de Castela, que à época tinha onze anos. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO IX- por César Santos Silva”
Soñé que las palomas volaban como monedas
hacia las antiguas piletas de avenida 9 de julio
y ahí me esperaban las lechosas con sus
corona de carruajes, de maratones, de barricadas
extendiendo hacia mi cuello
y la avenida 9 de julio era un desierto
en verdad toda la Capital Federal era un desierto
(tú eras un desierto y me mirabas)
todo era una gran meseta de arena ocre que destellaba rayos de colores reflejos de Historia como gritos
porque de los edificios abandonados de la avenida
colgaban millones de asentamientos humanos
que buscaban la esperanza en los astrólogos imaginarios
esos que ahora gobernaban los países abandonados después
de lo fines del mundo
soñé que el obelisco era una joya en el desierto morado
que del Río de la Plata solo quedaban los yacimientos petrolíferos
oxidados y disecados
(tú eras el yacimiento y explotabas)
y danzaban las sectas de colores todos los viernes
al atardecer cantando los coros humanos
recordando la gloria que alguna vez hubo
cómo el mejor de los campeonatos de polo en los country y en las fincas
algunos andaban como en una bicicleta llevando
mensajes de los territorios perdidos más allá del desierto habitado
allá donde se supone no quedaba nadie
el eco de señales de radio
el griterío de los bebés abandonados
el llanto de los soldados en la cordillera
la agonía de los colonos que se ahogaron
en la última maratón de los que escapaban
de las inundaciones perpetuas transandinas
(ese país ya no existe pero tú sí)
y seguían andando como en una bicicleta
recitando los mensajes como poemas
como si con eso nacieran flores globos espejos burbujas
(tú eras las burbujas pero estaba el desierto y yo era el desierto)
♣♣♣
8
a mi me llaman el colorino
porque rescato los fuegos artificiales de los infartados
los sueños de los drogadictos
y las bendiciones papales de los desquiciados
e inventamos en el brocal de las botellas
las sinfonías los finales
los mediáticos créditos fílmicos
el cancionero fatalista de los hospitales
para que celebremos la escuela de los esclavos
la escultura de los pañuelos
en el adorno de los discursos
de los chiquillos del poder
los niñitos de las financieras que creen que han descubierto
a dios en los manuales de supervivencia
y repiten como un canto: “el estado tiene una función subsidiaria”
y repiten repiten y repiten
el mantra tántrico
la mentira de las mentiras
el escapulario de las tumbas
pero
nos queda el ravotril a borbotones
las ampollas de morfina gratuitas, públicas y de calidad
nos queda la lucha armada
y las reuniones molotoveras
para hacer germinar toda la poesía como una expulsión gástrica
donde podría hacer que sucedan hasta los versos galácticos:
hasta el temblorcillo colorino
♣♣♣
12
soñé con el levantamiento kawésqar
volcanes dándose vueltas en milenarios tornados satánicos
mientras el arca kercis definía la extranjería de los colores del mar
y los ríos se dibujaban arriba en el cosmos de las rocas
la arcilla de los lagos
el murmullo de las estepas
(tu cuerpo se estremecía con el fuego y no te veía)
y así una vez más se precipitaba la revolución futurista del alacalufe de orión
con sus diez mil naves cantando las
óperas del origen de los canales: la civilización de las luces: el estremecer: griterío
hacia el ritmo de las cavernas
que se inventan con la copulación del hielo
(tu cuerpo desnudo subiendo hacia el éxtasis y no te sentía)
todos eran modos de combates del fin del mundo
contra la catarsis de los dioses
como una estampida de guanacos sucediendo en los úteros cobrizos
de los pueblos de nácar
creando el espectáculo perpetuo de los desesperados
(precipitan tus ruidos y así nace la extremidad de las islas y te gimo)
soñé con el levantamiento kawésqar
hacia las estatuas de cenizas
que habían construido los extraterrestres en el inicio del norte: la magnificencia: el desprecio:
el arca kercis en la resistencia de los esclavos: la guerra de las leyendas así explotando como nubes de alcohol
sucediendo en una maratón de fogatas
en el transcurso de tu cuerpo ahí crepitando
(te toco)
♣♣♣
22
cataratas
aparecen cataratas en el fondo del jardín
dibujando ángeles
28
Jackie
tiene unos ojos gigantes verdes como el amazonas
preciosos
como el suspiro de los humanos dementes
pero lloran a través del temporal del silencio
y esto solo es un designio de su historia oculta
del porqué está acá en esta clínica diminuta
de ese 21 de diciembre
el día
que quiso matar a sus tres hijos y suicidarse
argumentando que ni todo el oxígeno de este planeta le era suficiente
para hacer renacer el torrente de sangre de su corazón morado
de sus piernas de mariposa
de sus manos drogadictas
Jackie
tiene nombre de primera dama
pero no les importó
a los animales que se la violaron cuando tenía 12 años
ni menos para su marido que le hacía el arte del boxeo
en su cara
cada quince días después de su virtuosidad en el Club de Golf
a pesar de todo eso
cantaba precioso a los gatos del recinto psiquiátrico
y contaba las historias de Oswald Denis
en sus periplos para transformarse
actor de Hollywood
que derrochan al arte como sueños que digan
los versos asiáticos
transcoloridos
como cantos del coro más allá del horizonte de espejos
Jackie quería morir
en los limbos del misterio y el excremento
como depuración de los azúcares
de sus ojos gigantes verdes como el amazonas
preciosos
como el suspiro de los humanos demente
♣♣♣
31
Hubo días que podía imaginar centenares de manifiestos
que construían catedrales y bodegas
con redondas cúpulas celestes que mostraban un teatro de payasos
también existían los pájaros blancos: la blancura de los blancos: los pájaros saliendo
y entrando en las lagunas lunares que hablaban: que recitaban pestañeos.
El poeta se arrodilla y ora:
Tú eres la Santa Marta de los Prostíbulos, diadema de los espectáculos que te reaparecen en los circos de magia de los hombres atléticos desnudos y chorreados con la inmensidad de las ondas galácticas, y los caballos de plata y las series de la cinematografía.
Diáfana hasta la negritud de las orgías, esas que provocan que nazcan las ángeles nubias en los arcos del inicio del paraíso de los cantos que provocan el caos de la anarquía prioritaria de los pensamientos azules.
Santa Marta de los genitales morados que desfilan en el nacimiento de Elizabeth Ann Short, y aunque te quiera recitar las canciones del nuevo amor, es inevitable la masacre de tu cuerpo. Martita telúrica, asesina viral, fanática de los videos de internet, momificadora de la pornografía.
Santa Martita, tetona jugosa, bisexual escondida, elevamos el canto de todos los nuestros, de toda la comunidad escondida elevada: exaltada: fundadora: rascacielos.
Repitan conmigo: Ruega por nosotros santa Madre de Dios, Para que seamos dignos de alcanzar las promesas de nuestro Señor Jesucristo.
Amén.
♦♦♦
Alberto Cecereu (Valparaíso, 1986)Poeta y profesor. Es Licenciado en Historia y Licenciado en Educación.
En sus inicios fue becario del Taller de Poesía de La Sebastiana, Fundación Pablo Neruda y miembro del Seminario de Reflexión Poética de la misma institución. En 2005 publica su primer libro de poesía, “Noticias sobre la Inmanencia” (Ediciones Altazor), y en 2016 “Los Exaltados” (Ediciones Altazor). En este 2018, publicará su plaquette “Los Ermitaños” en Trizadura Ediciones y prepara su próximo libro, “El Delirio” en Ediciones Filacteria para 2019.
En 2006 se le otorga la Beca a la Creación Literaria del Consejo Nacional de la Cultura y las Artes para escribir “Los Viajes del Druida” (que aún permanece inédito). Ese mismo año gana el Premio Enrique Lihn de la Universidad de Valparaíso.
Su poesía aparece en la Antología El mapa no es el territorio (Editorial Fuga, 2007), además de diversos medios de Chile y el extranjero. Es traducido al inglés y publicado en California Quaterly (Volume 2, Number 2) de Estados Unidos.
Es colaborador y columnista habitual de SITIOCERO (www.sitiocero.net), un espacio de expresión y comunicación de una comunidad diversa y plural, donde publica escritos concentrados en la crítica social y la reflexión de la realidad.
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