91.
O sabor não mora
na língua ou na fruta.
Nasce na hora
em que as duas
na gruta viva da boca
se encontram.
Nuas.
ISSN 2184-0709 ——- Revista Trimestral – Edição nº 29 – de Setembro de 2024
91.
O sabor não mora
na língua ou na fruta.
Nasce na hora
em que as duas
na gruta viva da boca
se encontram.
Nuas.
“Eu vim para confundir e não para explicar.” Esta frase, bordão de um dos mais célebres comunicadores da televisão brasileira no século XX (Abelardo Barbosa, o Chacrinha), desagradava-me profundamente quando eu tinha vinte e poucos anos. É compreensível, já que ela era a antítese de tudo que me era mais caro: pois eu, aspirante a filósofo, viera ao mundo para entender, e não há como entender sem desdobrar, desenvolver, desenrolar, ou seja, explicar.[1] A confusão era e continua sendo meu (seu, nosso) ponto de partida, mas nunca deixei de acreditar que ela pode ser, ainda que com muito esforço, reduzida; o que não significa negar ou apequenar a complexidade do real, mas passar, na medida do possível, da confusão original a algo semelhante a uma complicatio. Continuar a ler “A CONFUSÃO DELIBERADA COMO ESTRATÉGIA POLÍTICA – por Francisco Fuchs”
Falemos à maneira de Stuart Mill. Para determinar se uma coisa, uma decisão, um acontecimento social e político, por exemplo, foi ou é bom, proponho que adoptemos o critério da sua utilidade.
Quer dizer, se as consequências previsíveis de uma acção promoverem, em quantidade e qualidade, o bem estar das pessoas, então podemos dizer, com razoabilidade elevada, que essa acção foi, é, boa e justa. Continuar a ler “25 DE ABRIL, SEMPRE! – por Fernando Martinho Guimarães”
LOS FANTASMAS Y SUS REFLEJOS EN
“LOS EXTRAVIADOS” DE CLAUDIA VILA MOLINA
Los Extraviados de Claudia Vila Molina es un libro que encierra la sutileza y la fascinación del mundo fantasmagórico. No se trata de textos de terror al más puro estilo gótico o romántico. Es algo más profundo que eso: son los fantasmas que todos llevamos dentro, esos seres que se niegan a desaparecer de nuestras vidas, seres que pinchan nuestras memorias y se distribuyen a lo largo de sus laberintos cotidianos. Continuar a ler ““LOS EXTRAVIADOS” DE CLAUDIA VILA MOLINA – Reseña de Emilio Barraza Durán”
“Suas entrevistas eram ricas em aforismos exigentes
sobre a vida e sobre o amor.”
François Truffaut
Joyeux anniversaire, Framboise!
Caminhava impetuoso para o fastígio o verão de 1967. Num dos primeiros dias do mês de julho, eu folheava um exemplar do Paris Match, que ganhara de um primo migrado em França. Era uma edição toldada pelos fumos negros do luto, nas páginas onde se reportava o desastre que vitimara uma bela e talentosa atriz dos novos tempos do Cinema francês. Uma atriz que eu não conhecia de Carnaval nenhum e muito menos de um filme. Pelas fotos da matéria, a extinta parecia ser uma pessoa pulsante de sangue bom, quente e latino. Aparentava ter sido, melhor escrevendo. Continuar a ler “A PEAU DOUCE DE UMA CAMÉLIA – por Danyel Guerra”
UM POEMA INFANTE
Como era febril a brisa da manhã…
Aquele vento seco e gélido que raspava
meu rosto, difundia borboletas amarelas
nos pilares do amanhecer.
Eu sentia medo e frio, não conhecia
aquela escola e tinha apenas sete anos.
A tua loucura ébria me deixou confortável
para ser eu mesmo. Tua voz ruminava
nos meus pensamentos mais íntimos.
Era agosto, e o frio percorria a espinha.
Teu riso, teu corpo em movimento, tua pálida
razão… era como cavalgar um anjo, como existir
dentro do quasar do amor.
Tu foste meu anjo caído, loiro e pueril;
um naufrágio dentro do teu regaço agora
tece, ponta por ponta, os fios infinitos da memória.
Brincávamos de gangorra, de balanço, eu não estava
mais só, alguém me ouvia e me existia, me esperançava e
me imortalizava.
Sei que posso ser a sombra da tua sombra hoje, mesmo
que aqueles risos quentes tenham criado a nossa infância,
mesmo se pudéssemos voltar no tempo…
eu nunca mais me senti tão radiante, eu era capaz de
fruir pinheiros no lume dos colossos que residem nos céus.
Estojos, cadernos, trabalho em dupla, sonhos, adeus… Continuar a ler “DAS INTERMITÊNCIAS DA INFÂNCIA – por Christian Dancini”
TRÊS ANOTAÇÕES VAGAMENTE ERÓTICAS:
DE D E S E J O – DE M A R – DE V E R Ã O
para a AC
D E S E J O
Estão os dois sentados na areia junto ao mar. Ela entre as pernas dele encostada ao seu peito com os olhos semicerrados protegidos pelas lentes escuras a fitar o horizonte. A tranquilidade do mar é a mesma do seu corpo bem definido.
Ele acaricia esse corpo que tanto o atrai. Os caracóis fartos do cabelo dela afagam-lhe o rosto à medida da brisa que vai correndo. Os braços dele envolvem o seu corpo coberto com um leve vestido que deixa entrever uns seios bem proporcionados. As suas mãos descem pelo interior do tecido e suave e meigamente vão massajando essas sinuosidades de formato arredondado com movimentos leves e pausados, acariciando o bater lento de um coração descansado. Mamas bem proporcionadas, de dimensão certa e textura agradável. Os dedos das mãos, abrindo-se e fechando-se vagarosamente, demoram-se na auréola acastanhada dos mamilos que ocupa alguns centímetros e se eriça nuns biquinhos duros, pequenas setas de prazer que desejam romper para o infinito. Continuar a ler “TRÊS ANOTAÇÕES VAGAMENTE ERÓTICAS- por A. Sarmento Manso”
EÇA DE QUEIROZ NO PANTEÃO?
SIM, MAS COM UMA CONDIÇÃO…
“Ao rei tudo, menos a honra”
Calderón de la Barca
I – Eça de Queiroz. A exemplaridade da sua vida, a excelência da sua obra, a modernidade da sua herança cultural, artística, intelectual merecem ser (bem) lembradas, são credoras de reiterados tributos. Como, por exemplo, a projeção num ecrã de ‘O Mandarim’, a montagem num palco de ‘A Capital’, a publicação de um ensaio crítico sobre ‘A Relíquia’. O que este insigne autor de dimensão universal não merece, de certeza, é “ver” seu “descanse em paz”perturbado, ter suas (prezável) memória e (impoluta) honorabilidade molestadas pelo viés da vendeta, da armação, da instrumentalização típicas da (baixa) política. Distorções que denunciou, deplorou, até execrou, com estóica têmpera e fértil poder fabulatório, seja enquanto inspirado ficcionista e talentoso romancista, seja enquanto incisivo cronista e aquilino publicista. Continuar a ler “EÇA DE QUEIRÓZ NO PANTEÃO? – EDITORIAL POR DANYEL GUERRA”
O Real e Sobre Real
A propósito do centenário de Mário Cesariny
Em 2023 celebram-se os 100 anos de nascimento de Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2023). As impressões que se seguem não pretendem apresentar a personagem de Cesariny nem destacar os feitos e defeitos do movimento surrealista entre nós. Um e outro trabalho está amplamente documentado nos vários estudos sobre o movimento surrealista português e suas personagens maiores da autoria de António Cândido Franco.
Andava um dia a visitar um museu em Espanha que tinha expostos diversos trabalhos de Salvador Dali, alguns dos mais importantes e de maior destaque, quando um amigo me interpelou sobre o porquê do meu gosto por uma pintura de bonecos deformados? Sabendo eu do gosto dele pelo cubismo, contrapus que era o mesmo que ele tinha pelas mesmas figuras distorcidas do cubismo, nomeadamente Picasso. Disse que não: Picasso distorce coisas, figuras e pessoas que realmente existem; enquanto que os surrealistas criam formas a partir das deformações que provocam naquilo que recriam, e como lhes acrescentam muitos adereços, dizia o meu amigo, acabam por vulgarizar a obra de arte, tal qual as crianças que vão originando coisas banais, acrescentando riscos a riscos, cores a cores, sobrepondo uma quantidade de matérias de forma indiferente na mesma composição. Surrealisticamente lembrei ao meu amigo que o dramaturgo Henrik Ibsen (1828-1906) tinha, ainda no século XIX, escrito, contra a corrente literária, a peça Uma casa de bonecas (1879) para contestar a luta dos indivíduos ante os constrangimentos das convenções da sociedade. A sua dramaturgia sob o signo da bonecada ou do disfarce, foi essencial para uma nova abordagem da arte em causa. Assim sendo, as bonecas e os bonecos, vistos na perspetiva da criação, seja ela qual for, tem sido propícia aos movimentos de contra cultura artísticos e literários de todos os tempos e lugares.
Mas afinal o que é o Surrealismo? A definição de surreal em diversas aceções que consta no Dicionário Houaiss é a seguinte: “1 que denota estranheza; transgressão da verdade sensível, da razão, ou que pertence ao domínio do sonho, da imaginação, do absurdo. 2 aquilo que se encontra para além do real. 3 o que resulta da interpretação da realidade à luz do sonho e dos processos psíquicos do inconsciente”. Seja qual for a atribuição é algo que se sobrepõe ao real e hoje, o surrealismo comummente designa o movimento artístico e literário nascido em Paris em 1924 que tem como teórico principal André Breton (1896-1966) fortemente influenciado pela psicanálise freudiana com a qual tinha tomado contacto aquando da sua formação em medicina, mesmo que não deixe de a censurar por circunscrever a realidade às manifestações do sexo e do instinto. Na edição mais recente em português dos Manifestos do Surrealismo (Letra Livre, 2016) André Breton, no manifesto de 1924 que o fundou, ante as insuficiências das explicitações anteriores, define-o assim: “automatismo psíquico puro, pelo qual se pretende exprimir, verbalmente ou por escrito, ou de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de qualquer vigilância exercida pela razão, para além de qualquer preocupação estética ou moral”. Pouco interessará saber se é possível uma vida surrealmente vivida nas condições enunciadas. Naturalmente que enquanto o indivíduo for um ser racional e social, e nunca deixará de o ser porque essa é a sua própria condição, os limites à sua ação, por parte do outro, da biologia e da sociedade, serão marcantes nas escolhas dos seus percursos. Como aconselhava o filósofo existencialista dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), mesmo que detestemos a vida societária, convém a todos os indivíduos que se mostrem de qualquer maneira à comunidade a que pertence, ou passando pelos cafés, ou visitando as exposições da moda e outros eventos sociais, ou simplesmente passear na rua em horas de maior afluência (na altura, os passeios ao longo da tarde eram verdadeiros acontecimentos sociais).
Outros sentimentos prenderam a minha atenção na ligação entre o surrealismo e a psicanálise. Há alguns anos vi um dos muitos documentários sobre Salvador Dali, já num estado de degradação física acentuada, e creio que sentado em uma cadeira de rodas, desatou em copiosas lágrimas porque o juízo que fazia era de que os génios, grupo em que se auto incluía, não deviam morrer porque eram espíritos do bem; ao contrário, as quimeras do mal escusavam de ter nascido e poupariam o mundo ao sofrimento inusitado. Mas na verdade os génios do bem só se destacam porque há os do mal e vice versa. Outra sensação prende-se com génio agora evocado, Mário Cesariny, que estremecia de pavor quando pensava que o seu corpo, depois de morto, pudesse ser enterrado e servisse de pasto aos mais variados vermes e parasitas que o haveriam, como é normal aos corpos que são enterrados, de o consumir. Estas imagens arriscariam ser identificadoras do cadáver esquisito, esse jogo de inversão da lógica do pensar de cariz racional, que animava os projetos surrealistas pois na altura que tive contacto com os depoimentos, ambas as personagens tinham a imagem aproximada do cadáver e muito longe das gentis proporções de uma mocidade vigorosa que já tinha ficado para trás. Quer Breton quando lançou as bases do Movimento, quer Dali e Cesariny quando assim se expressaram, deveriam conhecer o conto de F. Scott Fitzgerald O estranho caso de Benjamin Button (1922) que invertendo exatamente a lógica da vida e da morte, joga com o real e o surreal mostrando que no meio, está a certeza da verdade procurada, dos que vêm da infância para a velhice, dos que retornam da velhice para a infância. No caso de Cesariny, mesmo podendo optar pela cremação, sempre lhe pareceu mais pacífico que o seu corpo morto ficasse na sua inteireza em um lugar qualquer imune aos vermes e longe do fogo que reduziria a pó e cinzas até os seus rijos ossos. Estes depoimentos lembraram-me, ainda, a composição plástica de contornos realistas de Grant Wood (1891-1942) intitulada American Gothic (1930). O quadro retrata um casal rural americano, pela meia idade, mas pela aparência, pelo traje e ar sorumbático de ambos, mais se parecem com cadáveres adiados do que com indivíduos em plena vida. Substituindo a forquilha empunhada pela figura masculina pela célebre gadanha que instintivamente representa a morte, passamos do cadáver esquisito ou adiado, ao cadáver em vida do evocado Dali e Cesariny.
Grant Wood, American Gothic (1930)
A Portugal, o surrealismo enquanto movimento, ainda que inconsistente, tendo em Cesariny o seu expoente máximo, até pela diversidade da sua ação criativa, poesia, pintura, tradução, ensaio, surge em 1947, 23 anos após a publicação do manifesto de André Breton, a uma mesa do café lisboeta Mexicana. Com ele estiveram Alexandre O’Neill, José Augusto França, Fernando Azevedo, Costa Pinto, António Pedro e Moniz Pereira. Alguns outros houve como Artur Cruzeiro Seixas, António Maria Lisboa e Mário-Henrique Leiria que se lhe juntaram. A insipiência ou insignificância do grupo surrealista português foi tal que o único evento público participado pelos seus fundadores, aconteceu em Lisboa no ano de 1949. Como é sabido uma boa parte daqueles que fundaram e aderiram ao Movimento, são dissidentes do movimento neorrealista de vincados interesses políticos, que sob a cartilha do marxismo leninismo em prol dessa utopia há séculos anunciada e perseguida aqui e ali, quis por a criação ao serviço do povo para o guindar a um nível cultural promotor do bem estar pessoal e coletivo, espécie de alimento para a alma, que acompanharia a melhoria das duras condições de vida. Era preciso repousar o corpo do trabalho cansativo e repetitivo, da obrigação de ter de trabalhar para viver, mesmo que a vida nos tenha sido dada de graça e nesses momentos de repouso, iluminar a alma ou o espírito não com o discurso do temor e tremor que as religiões alimentam, mas com a expressão dos sentimentos individuais mais profundos: literatura, poesia, cinema, música artes cénicas e plásticas. Mesmo que a experiência não tenha ganho raízes, perdido o grupo, salvou-se a demanda individual dos seus elementos, zangados uns com os outros quase sempre, e consigo mesmo de vez em quando, em torno do propósito surrealista. Outras quezílias houve com gente que andou nas proximidades como seja, para citar as mais relevantes, a que tem a ver com um dos primeiros editores de Cesariny, o escritor maldito Luiz Pacheco (a expressão poetas malditos foi cunhada por Paul Verlaine em 1884), a lembrar Rimbaud e Baudelaire, e, não se conhecendo acrimónia notável entre Cesariny e Natália Correia, depois de terem estado em projetos comuns como a Antologia de poesia portuguesa erótica e satírica (1966) da responsabilidade da poeta açoriana, não parece que Cesariny fosse um habitual freguês nas mesas do Botequim, esse espaço de liberdade e transgressão, que Natália egoicamente concebeu e alimentou numa das belas colinas da encantadora Lisboa.
Mas sim. Cesariny é de facto e de direito a figura maior do surrealismo português, ao lado de Cruzeiro Seixas, que viveram desentendidos quase toda a vida. Outra particularidade é que a obra escrita de Cesariny, nomeadamente a poesia, disponível em edição da Assírio & Alvim, fá-lo destacar no panorama criativo português, relativizando a sua obra plástica. Ao contrário Cruzeiro Seixas vê realçada a sua obra plástica, e a criação poética repousa em lugar marginal. Felizmente o acervo mais relevante da obra de ambos está patente na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, museu do Surrealismo.
Termino escolhendo deixar impresso um dos seus poemas mais conhecidos incluído em Pena capital (1957), porque tem a ver com o corpo e o espaço, a sensualidade e a sexualidade, ou apenas o desejo místico, a experiência quase religiosa de ligação, de fusão, de inclusão do que vivendo à parte, anseia pelo todo de que se sente distante, porque o imaterial não é possível ser experienciado sem o prévio contacto com o material:
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
♦♦♦
A. Sarmento Manso, nasceu nos idos de 1964, pelo outono, ao cair das folhas, na aldeia transmontana de Izeda. Ao longo de mais de meio século de existência tem-se dedicado à aprendizagem de pequenas coisas, do lugar que nos pode caber no mundo e de como a beleza nos haverá de tranquilizar.
TERRITORIO PRIVADO ¿QUÉ ES?
La presente reseña está basada en las películas “La mamá y la puta” (1973) de Jean Eustache, de origen francés y “El ángel exterminador” (1962) de Luis Buñuel, filme mejicano. En principio según Georges Pérec en su libro Especies de espacios, señala que: “El espacio es una duda: continuamente necesito marcarlo, designarlo; nunca es mío, nunca me es dado, tengo que conquistarlo” (…)”, “Mis espacios son frágiles: el tiempo va a desgastarlos, va a destruirlos: nada se parecerá ya a lo que era” (…). Espacio privado sería, por lo tanto, aquello que nosotros ocultamos de los demás, para no ser expuestos en nuestros secretos más íntimos al resto. De esta forma, el otro se transforma en amenaza constante que vulnera nuestra fragilidad como ser humano. Desde siempre el hombre ha construido refugios, casas u otros para guarecerse del entorno y además quedar oculto ante el acoso de una presencia externa que puede aniquilarlo, ello supone entrar en una zona delicada o zona íntima, lugar donde cobijamos nuestro verdadero yo o secreto más íntimamente guardado: Continuar a ler “TERRITORIO PRIVADO ¿QUÉ ES? – por Claudia Vila Molina”
TEXTOSTERONA:
CRÉDULOS & INCRÉDULOS
A ninguém agrada receber ‘Parabéns p’ra você’ no dia errado. Imagine-se o milenar desconforto de Jesus, o Cristo, ao ser mimoseado com saudações de niver numa data em que historicamente não nasceu.
o-o-o-o-o
Bilhões de seres humanos vivem e morrem sem superar seus dilemas metafísicos. Entretanto, milhões admitem estar no (bom) caminho ao não acreditarem num alegado deus antropomórfico, concebido à imagem e semelhança dos mentores e líderes religiosos. Têm meio caminho andado. Continuar a ler “TEXTOSTERONA: CRÉDULOS & INCRÉDULOS – por Danyel Guerra”
Aprovada e proclamada a 10 de Dezembro de 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é a resposta à absoluta catástrofe que foi a 2ª guerra mundial. Continuar a ler “OS DIREITOS HUMANOS – por Fernando Martinho Guimarães”
Os lados errados da história
Não é raro encontrar pessoas, algumas delas intelectualmente vigorosas, que afirmam estar “do lado certo da história”. Curiosamente, elas se distribuem de forma mais ou menos proporcional em lados diametralmente opostos, o que elimina a possibilidade de que todas estejam, de fato, defendendo “o lado certo da história”. Ao menos nisso todos os lados concordam: é impossível que dois lados opostos entre si estejam, simultaneamente, “do lado certo”. Mas aquilo que é simples do ponto de vista lógico torna-se bem mais complexo, e também sombrio, quando encarado do ponto de vista moral; afinal, em cada universo considerado, mais ou menos metade das pessoas estarão, necessariamente, defendendo o mais errado entre os lados de um conflito no momento mesmo em que afirmam defender o lado certo. Continuar a ler “OS LADOS ERRADOS DA HISTÓRIA – por Francisco Fuchs”
Yeats e a transitoriedade: alguns poemas curtos
1
A meditation in times of war
For one throb of the artery,
While on that old grey stone I sat,
Under the old wind-broken tree,
I knew the One is animate,
Mankind inanimate phantasy.
Uma meditação em tempos de guerra
Por um pulsar da artéria
Enquanto sentava naquela velha pedra cinza,
Sob a velha árvore quebrada pelo vento,
Eu soube que o Um é animado,
Fantasia inanimada da humanidade. Continuar a ler “WILLIAM BLUTLER YEATS traduzido por Heitor Freire”
Eon
Daqui a um milhão de anos estaremos no jardim das delicias, como seres espirituais incorpóreos
Terraformando planetas secos e sem vida em paraisos artificiais, movendo-os para próximos de estrelas mães
Para que a luz se liquidifique e a fotossíntese aconteça
Nos abraços espiralados da simbiose das orquideas
Com os cavalos marinhos transferindo os genes para
Alienígena que vai habitar o novo mundo tenha os números certos que o seu criador lhe deu para viver
Em harmonia com a natureza e entre si, alimentando-se sómente do ar que os pulmões transformam em alimento
E a vida exista sem punição eterna num limbo cósmico. Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE JANUÁRIO ESTEVES”
O dilema da vontade num diálogo fictício entre Schopenhauer e Nietzsche
– O querer é dilacerante!
– Sem o querer não se sai do lugar!
– Fiquemos parados então!
– A apatia é a arma dos fracos, a Vontade de Potência dos fortes!
– Há mais sabedoria em negar um desejo do que em sucumbir a ele…
– Típico de um homem que se guia só pelo pensamento!
– Ora, meu caro, típico de um homem que se guia só pelas glândulas!
E o diálogo durou ainda por muito e muito tempo… Continuar a ler “DEZ POEMAS EXISTENCIAIS – por Henrique Duarte Neto”
81.
Grave,
o passado rege os passos
e o espaço da História.
Apressado,
o futuro acena e nos chama
reclama nossa demora.
Mas a vida
é agora. Continuar a ler “POEMINHOS – 81-90- por Jaime Vaz Brasil”
O peso do esquecimento
I.
A flor é beijada pela peste.
Como uma palavra primitiva
do português, o triunfo da
civilização é /pequeno/
é a soma das patas quebradas
de um colibri, morto pela
espingarda de ontem. Continuar a ler “O PESO DO ESQUECIMENTO // The weight of oblivion – por Luciana Moraes”
UMA NUANCE NAS NÓDOAS
PELE
eu procuro a luz senhora.
uma luz de pele nua.
viva.
em abandono.
uma eternidade fêmea
e o suave rosnar das peles.
música arrepiante
engolindo lentamente o abismo.
eu procuro a luz de fogo.
negro como uma ideia livre.
e o licor demencial.
a doçura aterradora dos corpos.
serpenteiam entre si como águas gélidas
nas rochas quentes.
eu procuro a luz senhora.
uma luz de gato. noctívaga.
luz de vinho. sanguínea.
sem rédea.
e solar.
vejo-a por vezes na madeira da mesa
inundada pelo sol gato.
errante. solitário. altivo.
como os que denunciam a morte da vida.
com seus corações felinos.
essa luz foge para a lua
e vem queimar-nos a pele.
deitados na cama no tempo.
beijando línguas
amando a espiral.
assim voamos nas inebriantes
partituras.
não tendo ouro como lei.
a senhora sabe de luz.
a sua pele é o lugar
onde o gato a encontra.
As desgraças, quando não sentidas na própria pele, muito agradam aos homens, o que as torna em assunto fecundo para as mais variadas histórias. A história que aqui vos trago é a de Isabel, uma história com desgraças, como qualquer boa história, conseguida a expensas do muito que sofreu. É importante, porém, não esquecer que convém manter a desgraça a uma saudável distância do coração. Não se quer que o verdadeiro peso do sofrimento do mundo invada o nosso íntimo, que isso seria mais trágico do que qualquer tragédia, quer-se, antes, que o leitor sinta com a razão, com a mesma razão abstrata que está na origem das coisas do mundo. Com aquela razão, que não é a razão dos homens, que transforma a morte num bem necessário à vida e que faz
do sofrimento a mais eficiente das estratégias de sobrevivência. Que a morte e a dor, ainda que por demais penosas para os indivíduos, são um bem quando vistas através dos olhos do mundo e nós não somos mais do que matéria fugaz no grande carrossel da natureza. Se na vida, tal distanciamento não nos é possível, aproveitemos as histórias para treinar o nosso olhar sobre um ser que, na luta contra a morte e contra o sofrimento, acaba sempre por lhes sucumbir, cumprindo assim os desígnios mais altos da sua natureza. Continuar a ler “DAS RAÇAS DAS DESGRAÇAS – por M. H. Restivo”
Conto de Natal
VINHO FINO PARA OS REIS MAGOS
Acabada a escola primária, com passagem no exame da quarta classe com distinção, havia que sair da aldeia para continuação dos estudos. Não era para todos, aliás era a exceção, mas uns tios residentes no Porto abriram-lhe as portas e acolheram-no como a um filho. Evitou assim a ida para o seminário, ou o continuar nos árduos trabalhos da lavoura. Continuar a ler “VINHO FINO PARA OS REIS MAGOS – por Manuel Igreja Cardoso”
A desmistificação do mito da poluição dos automóveis elétricos
Nesta prestigiada Revista tenho vindo a discorrer sobre vários assuntos relacionados com a matéria ambiental. Hoje, irei abordar a questão dos automóveis elétricos, debruçando-me sobre a confusão que por aí paira a respeito da poluição gerada por esse tipo de veículos. Motivadas pelo preconceito, simples ignorância, ou, quem sabe, pelo lóbi do petróleo, persistentemente, com efeito, vão surgindo notícias referindo que esse tipo de automóveis polui mais do que aqueles a combustão. Como em todas as lendas, há um fundo de verdade nestas afirmações. Continuar a ler “O MITO DA POLUIÇÃO DOS AUTOMÓVEIS ELÉTRICOS- por Ricardo Amorim Pereira”
IV
SOLAR DE MADAME SOPHIE
DIGO-VOS QUE DE NADA ADIANTOU ajuizá-lo sobre a preocupação que me ocorrera diante da temeridade de se denunciar a figura mais respeitável da Corte de São Sebastião do Rio de Janeiro, pois que, entre o juramento de inocência de uma reles ciganita Juana, mal parida por uma marafona de alcoice, a desaparecida Maria Egípcia, mais validade houvera de ter a acusação de adultério descabida, forjada pela maledicente Dona Carlota Joaquina. Logo, humilhada pela acusação de deslealdade conjugal, o senhor meu esposo Assir Lubbos me devolveu ao escravagista Manolo Negreiro, que me comerciou, a bom preço, ao conselheiro Manoel Vieira da Silva; e, por fim, o Fidalgo da Casa Real de D. João VI me entregou aos cuidados da cafetina francesa de nomeada Sofia Beaurepaire-Rohan, a Madame Sophie. Continuar a ler “A INCRÍVEL HISTÓRIA DE MARÍA JUANA PILLAR DE LA CRUZ – (CAP. IV, V, VI )- por Wander Lourenço”
Conto do vigário, sem séria burla à mistura, sobre a existência e o seu contrário
O corpo é a nossa primeira e última realidade. Tendo todos direito à sua opinião como à sua religião, acreditamos que só há espírito porque há corpo e, por isso, se se vai o corpo, vai-se também o espírito. O espírito é o corolário desta realidade complexa a que chamamos corpo, segue-se dele, no princípio e no fim. Continuar a ler “EDITORIAL – O CORPO E O ESPÍRITO – por M. H. Restivo”
Invisible pero, como todos…
Invisible pero, como todos, pesado y numerado.
El calor del sol me quema, tal vez, un poco más
y ante mis ojos se extiende un desierto
por el que erran desaladas criaturas.
Reseña al libro
“Sé un poema”
de la poeta chilena Lorena Rioseco,
por
Claudia Vila Molina
Leer los poemas de Lorena en su poemario Se un poema implica dejarse llevar por una voz muy sabia, por idiomas ancestrales que recorren los tiempos, las estaciones y los cursos de los ríos de este gran mar, que es la vida y también la poesía. Después de leer cada poema; uno queda con un mensaje muy profundo, circulando en nuestros oídos y nuestra mente. Si bien son poemas sencillos, pero no por eso menos brillantes, según su autora, de quien guardo mucho cariño, su verdadera voz aflora más en la línea narrativa. Yo tengo mi propia opinión después de leer su poemario Se un poema, creo que debe retomar también su línea poética y seguir mirando la vida con esos ojos que encuentran nuevos descubrimientos en cada paso dado: “Así como los instantes/ en que el peso del silencio lo cubre todo/ incluso los sentimientos” (Sé un poema 18), “Me perderé como se pierden/ esas noches de insomnio” ( Me perderé 42), “Meteoritos color rubí/Simulando la borra de Dios/ Queriendo decir a los aires/ Que el aire me falta/ Que me falta un último trago de un gran Syrah (…)” ( Por un Syrah 52). Continuar a ler “RESEÑA DE “SÉ UN POEMA”de LORENA RIOSECO – por Claudia Vila Molina”
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