O estado musical não é uma ilusão, porque nenhuma ilusão pode dar uma certeza de tal amplitude, nem uma sensação orgânica de absoluto, de incomparável vivência significativa por si só e expressiva em sua essência.
Nesses instantes em que ressoamos no espaço e o espaço ressoa em nós, nesses momentos de torrente sonora, de posse integral do mundo, só posso me perguntar por que não serei eu todo este mundo. Ninguém experimentou com intensidade, com uma louca e incomparável intensidade, o sentimento musical da existência, a menos que tenha tido o desejo dessa absoluta exclusividade, a menos que tenha sido possuído de um irremediável imperialismo metafísico, quando desejara a ruptura de todas as fronteiras que separam o mundo do eu.Continuar a ler “MAX RICHTER—NOVEMBER (Music Video 2020) – por Eric Ponty”
Uma grande rebelião sem causa e também sem lema não leva ninguém a nada. Mas serve para o poema.
Um tombo dentro da alma no arranha-céu dos dilemas aos outros, talvez não sirva. Mas serve para o poema.
Um roteiro que tropece na escadaria do tema talvez não sirva ao aplauso. Mas serve para o poema
Um barco em pleno deserto que o braço-em-gesso não rema não vai ao cais nem às ondas. Mas serve para o poema.
Uma andorinha sem asas leva no corpo um corpo um problema e não traz verão no bico. Mas serve para o poema
Tudo o que dorme esquecido bilhete, foto ou emblema, a muitos não tem prestança. Mas serve para o poema.
Cada tristeza, cada riso o sofrimento com seus escudos a correnteza, o silêncio, o impreciso: Ao poema serve tudo.
♦♦♦
Jaime Vaz Brasil – Poeta gaúcho, com 7 livros públicados e vários prêmios, dentre os quais: Açorianos, Felipe d’Oliveira e Casa de Las Americas (finalista). Atua também como compositor, tendo vários poemas musicados e interpretados por vários parceiros, dentre os quais Ricardo Freire, Flávio Brasil, Zé Alexandre Gomes, Nilton Júnior, Vitor Ramil e Pery Souza.
Era nas noites de trovoadas, quando o relâmpago Ao sul se descarregava no esqueleto das árvores E em transe percutíamos a glande do mistério Vinham os animais despojar a crença do nosso sacrifício E logo reflectíamos a posse da atmosfera circundante De intemporal solenidade, de prosaico pragmatismo Convertendo as relações em dependências familiares Na consanguinidade dos gestos e das partilhas Mordidas na mesma carne que nos sustenta Cultivando a emancipação dos costumes À luz da morte que nos iluminou.Continuar a ler “VENTOZELO – por Januário Esteves”
He buscado en mi camino una mujer feliz con nombre de rosa con risa de espumas donde las horas del sufrimiento no muestren las sangrantes espadas
Una mujer feliz a secas una bandera blanca de palomas junto a campanarios de oro y sábanas de seda como si un canto infantil la entretuviera como si un aliento de niña escapara de sus sueños
Observo árboles redondos, pequeños árboles enredados en las alturas. Quizá todo sea un gran árbol de palabras, la raíz que se adentra por los nudos y en esta migración vamos conociendo los lugares que nos enseña el poeta. Estos sitios dentro de lo natural: agua, vientos, territorios amplios e interminables, son espacios vacíos donde la soledad habita inexpugnablemente y es el lugar ideal para el encuentro con su voz, la cual posee una fuerza primigenia que se desarrolla a medida que el libro avanza.Continuar a ler “RESEÑA A LIBRO “PIÉLAGO”, DE PEDRO MIRAVIA- por Claudia Vila Molina Molina”
“Creio que os jornais fazem-separa o esquecimento, enquantoos livros são para a memória”(1)
Jorge Luís Borges
BORGES TINHA RAZÃO MAS NÃO FOI RAZOÁVEL
1- O ano de 1946 decorria politicamente atribulado na República Argentina. Após ser solto da prisão e se ter casado com Eva Duarte, Juan Domingo Perón ganhava nas urnas, a 24 de fevereiro, o direito a residir, como presidente, na Casa Rosada. Uns meses depois, o funcionário Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo foi remanejado do seu lugar numa biblioteca municipal da Grande Buenos Aires, sendo mandado inspecionar aves e coelhos nos mercados da capital.
Os motivos são notoriamentre políticos. O portenho de 47 anos, festejado inventor de Ficciones, havia assinado pronunciamentos de intelectuais contra o general Perón. Um saneamento em coerência com os novos tempos que sopravam nas margens do rio de la Plata.
Ignoro de todo se, em tão tumultuada época, o proscrito já sustentava a controversa opinião expressa na epígrafe deste texto. Se já a defendia, será caso para se dizer que o caudillo justicialista “escreveu direito por linhas tortas”. Nessa conformidade, terá sido, outrossim, uma demissão com justa causa.Continuar a ler “EDITORIAL- BORGES TINHA RAZÃO, MAS ….- por Danyel Guerra”
Poemas extraídos desde libro inédito “Corteza oceánica”
Reflejos de agua
Me imagino debajo del agua, mientras la estación sigue despidiendo sus visitas, como un sol pulsa dentro de nosotros. Copulamos hasta que el instinto nombra objetos puros y ya no existen intenciones de la sangre, bebo del agua y se vierte el líquido dentro de vasos. El amor se muestra palpitante como un trozo de piel. Continuar a ler “CORTEZA OCEÁNICA – por Claudia Vila Molina”
“Sou uma amadora e faço questão de continuar sendo. E faço questão de não ser uma profissional, para manter a minha liberdade”.
Clarice Lispector
Complimenti, buon compleanno, Roberto!
‘Wuthering Heights’. À introvertida e melancólica Emily Brontë foi suficiente publicar, nos seus 30 anos de vida, um solitário romance, sob o pseudônimo Ellis Bell, para ter lugar cativo no panteão dos imortais da arte literária. De semelhante privilégio se poderá orgulhar a posteridade de Roberto Rossellini. Embora tenha sido imensamente mais prolífero na obra e longevo na idade, ele teria pleno direito de figurar na galeria dos intemporais da sétima arte, mesmo que só tivesse assinado um único filme. Um filme único, enfatize-se. Continuar a ler “QUEM TEM OLHOS VAI A ROMA CITTÀ APERTA – por Danyel Guerra”
Lesya Ukrainka é uma das figuras mais destacadas e influentes da literatura ucraniana. O seu vasto conhecimento e as lutas pela liberdade e direitos do povo, fizeram com que tivesse importância não só como uma figura literária, mas também, reconhecida pelo seu lado patriota, ao ponto de ser honrada e estudada no seu país (faz parte do programa de estudo nas escolas e universidades). Ainda, Lesaya Ukrainka é homenageada internacionalmente, como exemplo disso, a poetisa foi reconhecida pela Unesco, como aquela que promoveu os valores de paz, tolerância, igualdade de gênero e etnias. Também é glorificada com marcas comemorativas. Continuar a ler “A POTENTE VOZ DE LESYA UKRAINKA – por Evelina Tkachuk”
Um leitor que abre Jerusalém Libertada (Gerusalemme liberata) ao ler as primeiras estrofes irá ter várias pistas divergentes para que o poema lhe apresenta. As estrofes de abertura afirmam ser um poema épico, colocando-o em uma tradição que se remonta pelo menos à de Eneida de Virgílio cujas estrofes iniciais, “Braços e o homem que canto…’, que ecoam em nós. Continuar a ler “A JERUSALÉM LIBERTADA DA TOPBOOKS – por Eric Ponty”
Tradição significa «passar adiante», «entregar». Neste sentido, a tradição, costumes, símbolos, memórias, hábitos, cerimónias, festas, é aquilo que passa de geração em geração.
O uso da ivermectina no tratamento e prevenção da Covid-19 é um dos capítulos mais controversos na história da pandemia causada pelo vírus Sars-Cov-2. Adotada em alguns países, inclusive na Europa, e rejeitada por muitos outros, prescrita por vários médicos e proscrita por inúmeros outros, objeto de dezenas de pesquisas clínicas consideradas inconclusivas por importantes órgãos públicos de saúde, a ivermectina tem provocado debates acirrados e ações judiciais em várias partes do mundo. O objetivo deste artigo não é oferecer uma resposta a essa polêmica. Tal resposta só pode ser fornecida pela ciência, ou seja, por meio da realização de estudos clínicos, de preferência randomizados e duplo-cegos (ensaios clínicos em dupla ocultação), e de meta-análises realizadas a partir desses e de outros estudos. O propósito deste artigo é outro: (a) analisar a narrativa a respeito do medicamento ivermectina em algumas reportagens publicadas em um importante veículo de imprensa brasileiro, o jornal Folha de São Paulo[i] e (b) verificar, a partir dessa análise, se a referida narrativa fundamenta-se no estado da arte da discussão científica. Continuar a ler “IVERMECTINA – A DROGA ASSASSINADA- por Francis Khan”
“Haratines” é romance em preparação, baseado em contextos e lugares reais, mas os personagens e situações são imaginados por mim. Uma exceção é o texto com sub título “235” – que aqui envio. É acontecimento verídico até nos personagens.
Ultimo trip (desta vez) a Ouidah, Uidá ou Ajudá
João Baptista saiu do hotel em Cotonou e entrou no carro com o professor Da Cruz novamente a caminho de Uidá, às vezes distraído ou traído pelo sub-consciente dizia Ajudá e o professor sempre dizia pensativo “quem sabe não seria preferível a cidade ter dois nomes, como acontece com Anvers-Antwerpen na Bélgica” e lá foram apenas para uma conversa relax com a diretora do museu no velho forte português que Salazar mandou incendiar em 1961 e cujo nome, agora ele sabe, passou para ele próprio João Baptista. Sem nenhuma razão a cabeça de João Baptista enquanto ganhava paz na paisagem litoral beninense lembrou-se da reportagem no “Libération” sobre Henri Lopes intitulada “SIF (sem Identidade Fixa)” à mistura com passagens do livro de Dan Franck “Paris ocupada”. Passagens mais ou menos assim: “Roman Kacew, nascido em Vilnus [Estónia] trocou a França pela Argélia em junho de 1940. Continuar a ler “HARATINES EP7 – Jonuel Gonçalves”
Si tuviéramos que trazar una línea sobre algún mapa de la tierra para sentarnos a esperar la poesía de Ronaldo Cagiano, habría que pintar un círculo en el vacío y esperarlo dentro. Tal vez la tarde, el tiempo todo, no bastarían para el encuentro. Tendríamos que remontarnos a una estación de trenes de París, la Denfert-Rochereau, bajo un laberinto dehuesos, o más allá, en el camposanto Père-Lachaise, de la Rue du Repos, durante el otoño de 2018, mientras busca los enigmas del suicidio del escritor persa Sadegh Hedayat, ocurrido en 1951; o antes, en febrero de 2013, en Nuremberg, para confesarle a T. S. Eliot que el siglo veinte es el más asqueroso de los siglos, por sus matemáticas salvajes (en cuya cuenta caben horrores, bombas nucleares, guerras, muertes, hambrunas, náuseas, escándalos, naufragios, hegemonías, oscuridad, vacíos, esquematismos, vértigos y abismos); o en Barcelona, España, donde se le adviene en patadas en la frente las manzanas de Apple y la bíblica de Adán y Eva, como signos de las contrariedades e incertidumbres; o incluso, más atrás, enero de 2011, en Lisboa, náufrago en el tedio de existir; poseído por lo que él llama una soledadatlántica, que lo remite a la infancia, donde seguramente lo hallaremos un día de 1961 —el 15 de abril, hace exactamente 60 años—, saliendo del útero materno, en su pequeño pueblo de Cataguases, frente al valle de Paraiba do Sul, del estado de Minas Gerais, y las sierras y colinas de Mantiqueira, Onça, Neblina y Santa Bárbara, en el sudeste de Brasil; en cuyos pies el río Pomba—que arrastra en su discurrir los riachuelos Meia Petaca, Romualdinho y Lava-Pés— le abre un libro acuático para que navegue la dura senda de la vida. Así lo establece, de manera ácida y árida, quejumbrosa y sentida, sentenciosa y epigramática, en su poema “OUTRAS LIÇÕES DO ABISMO”, en el que el río y el pueblo — Pomba y Catahuases—, discurren por igual en la suma del dolor y el destierro. Continuar a ler “CARTOGRAFÍAS Y ABISMOS DE RONALDO CAGIANO – por José Pérez”
Por razões de circunstância que somente terão a ver com coincidência, nas últimas quase cinco décadas, em Portugal a palavra Liberdade surge-nos quase geminada com a palavra Primavera.
Apetece-me dizer ainda bem, pois uma e outra dizem-nos daquilo que mais belo existe na vida de uma pessoa. Há muitas outras mais, mal de nós se as não houver, mas esta duas provocam-nos um brilhozinho nos olhos e um encher d’alma. Continuar a ler “A LIBERDADE – por Manuel Igreja”
Detestava armas. Ela, que fora ativista contra o armamento via-se agora obrigada a pegar numa arma. Toda a gente deixara de ser o que era. A fome obrigara-a a deixar de ser vegetariana e a matar animais para comer.
A primeira coisa que fazia quando chegava ao esconderijo era largar a arma. Sabia que não o devia fazer, que toda a gente dormia com uma arma debaixo da almofada. Escondia-se ali havia vinte anos. O excesso de confiança e o horror às armas levavam-na a larga-las mal se sentia à vontade. Continuar a ler “CONTOS CURTOS DE Olinda Gil”
OS 4 CAVALEIROS APOIADORES DE CARLOS MAGNO EM SUA MARCHA PARA ITÁLIA NO SÉCULO VIII
O arcebispo Wilkarius
“O Espada Gloriosa”
O arcebispo Wilkarius, Warin III de Thurgau, o capelão Foraldus,e Adalardus – todos da cepa wido de Hesbaye
Neste ensaio pretendemos ressaltar a figura do guerreiro e religioso Wilcharius, um dos quatro cavaleiros religiosos e apoiadores Carlos Magno em sua descida para a Itália.Nesta oportunidade sugerimos sua associação aos quatros cavaleiros religiosos lembrados pelo historiador Giovanni Cavalcanti no século XV (6), saídos próximo de Colônia, do castelo St. Gilles.Continuar a ler “OS 4 CAVALEIROS DE CARLOS MAGNO – por Rosa Sampaio Torres”
Estava certa vez, num passado não tão distante, observando o mundo a minha volta. Meu olhar estendeu-se até onde não dava mais para enxergar, onde o horizonte se misturava com o céu e formava um barrado indefinido. Nesse dia à tardezinha, o sol mergulhava no horizonte, e lá longe um barrado dégradé surgia. Silenciosa e atenta, nesta tarde fresca de brisa suave que cariciava meu rosto pude observar quão grande é a grandeza de Deus.
Naquela tarde senti-me inspirada e num breve momento descrevi numa folha de papel, com clareza e fino senso, a esplêndida natureza que se descortinava impregnado minha retina. Uma das mais admiráveis tardes, que a primavera a inebriava com o aroma das flores de variáveis espécies. Como nada dizer? _ Sendo esta, uma tarde para cultuar a estética do universo vivo e sentido pelos poetas em todo seu encantamento.
Arranquei-me do peito um profundo suspiro, e minh’alma sentindo-se elevada até o Altíssimo percebi, então, a pequenez do homem diante da imensidão do Universo. Compreendi, naquele instante, que as dores deste mundo passarão e o essencial alento humanista, o verso sublime, a cantoria matinal e vespertina da passarada nos faz ver o mundo com mais esplendor. Compreendi que a vida é melhor se não houver perca de qualquer significado e que, a originalidade não é saber escrever o quê e sim, sentir o que jamais se escreverá.
O sol continuou o seu caminho, submergindo no horizonte derramando seu calor nas águas de algum oceano donde meu olhar não conseguia abarcar.
♣♣♣
ANJO IMAGINÁRIO
Minhas asas estão prontas para o voo se pudessem,
Mas meu corpo cansado da lida impede-as.
Eu retrocederia se pudesse, pois eu seria mais feliz
se permanecesse imersa no tempo, viva.
Às vezes, imagino que sou um anjo pretendendo
afastar-me da dureza desse mundo,
com olhos escancarados,
boca dilatada e asas sempre abertas…
É esse o aspecto desse anjo o qual imagino o rosto
direcionado ao passado onde ver uma cadeia de acontecimentos,
uma catástrofe única que acumula incansavelmente
ruínas sobre túnel e as dispersas ao nossos pés.
Ele gostaria de deter os maus feitores,
acordar os “mortos” e juntar os fragmentos,
mas uma tempestade sopra-o do paraíso e prende-se
em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las.
Essa tempestade impele-o irresistivelmente para o futuro
ao qual ele vira as costas enquanto o amontoado de ruínas
cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.
Chego à maturidade supercarregada de conhecimentos
e experiências, embora não sendo de fato um anjo bem feitor,
mas, deixo a minha contribuição ao mundo: o meu legado.
o quanto a gente é caroço da gente
se sofre por não conseguir semear rebrotar
o que seríamos sem a nossa casca?
tem gente que não cai nem de maduro
tem gente que tá lá no solo
livre da haste mas não do poder das formigas
as horas despencam
os dias vão caindo dia-a-dia
as descobertas se tornando bagaços
o tempo vai modificando a areia
os grãos vão migrando para perto e longe
de si
a gente é o caroço da gente
bagos na escádea picinguaba na árvore azul
You must be logged in to post a comment.