POEMAS DE Jéssica Iancoski

IDEOLOGIA MACARRÃO

Para Matheus Guménin Barreto

pode até ter
de sêmola
mas
o brasieiro
pai de família
come

renata com ovos
isabela com ovos
adira com ovos
vilma com ovos
barilla com ovos
até dona benta
com ovos

mas fala
sempre que
prefere
espaguete
à penne
grano duro

o importante
mesmo é não
conter gordura
trans

♠♣♣

SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINAS

Para Nicola Otávio

nos sábados
e nos domingos
o frasco fala
“para homens!”
nas segundas,
nas terças e nas quartas,
a cartela convaqueia
“para mulheres!”
nas quintas e nas sextas
completo com meia
cápsula de cada

a vitamina de homem influencia
nos músculos e na energia
a vitamina de mulher influi
nas unhas e na pele macia

para o espanto de todos,
não só dos farmacêuticos,
das farmacêuticas e
também des farmaceltiques
nenhuma delas me deixa
mais ou menos homem mais
ou menos mulher mais ou menos
anarco viado comunista
trans sapatona convicta.

♠♣♣

ERVILHA VERMELHA

Para Belise Campos

Ontem me perguntaram se eu era uma menina
E eu não soube responder
Esse inferno de pergunta.

Não porque eu não seja mulher,
É que às vezes eu sou tanta coisa:

Uma garota,
Uma amante
Uma gota,
Um semblante,
Um inverno
Um menino,
Um pingo
E um girino,

Um giro de roda
No vento leste que sopra
No ponto final de cada esquina.

Uma menina é pouca coisa
Pra me definir
Quando eu sou tantas outras
Entre cada ervilha vermelha
Do interno do punho em meu ventre.

♠♣♣

BREJO

quando o bico
dos dedos roçam
o corpo
tocam
ainda que viva
a pele morta

o corpo o corpo o
corpo é corpo é
corpo é o carpo
dos dedos apertados
no próprio punho

pulsa pulsão
pulsa pulsão
pulsa pulsão

quando a água
era límpida
carpos foram girinos
e turva é a visão
que entorta dentro
do corpo alguém

que não é sapo
nem sapa
ta sapatilha
samba canção
qualquer coisa
que só cabe
dentro d’


um

___ não___

♠♣♣

COUT <<NAME<< “\N’;

isso de binarismo
deixa pras
máquinas

somos seres
de membrana
plasmática

c.in           c.out
permeabilidade
seletiva

seja célula
seja mais
e não C++

♦♦♦

Jéssica Iancoski é pessoa não-binária, escritora, poeta e artista plástica. Publicou em várias antologias e revistas, nacionais (Mallarmargens, Ruído Manifesto, Acrobata, etc) e internacionais. Teve o poema “Rotina Decadente” reconhecido pela Academia Paranaense de Letras, aos 16 anos de idade. É idealizadora do Toma Aí Um Poema – o maior podcast lusófono de declamação de poesias, segundo o Spotify – com mais de 44 mil ouvintes diferentes, ao longo do tempo e, também, revista literária digital. Nasceu em Curitiba em 10 de Fevereiro de 1996. É formada em Letras pela Universidade Federal do Paraná e em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Contato www.jessicaiancoski.com | @Euiancoski