Pertencimento*
Pertenço a minha memória
e ela me escreve, em conflito.
(Na fresta, sou quem espia
entre a verdade e o mito).
Dentro de mim há um palco
onde tropeço na dança.
(Minha história – em seu novelo –
me enreda em fato ou lembrança?).
Pertenço a minha memória,
mas só ao que ela me dita:
versão, ato ou livro em branco
onde sequer foi escrita
Dentro de mim, um duelo
entre o exato e o talvez.
(Como se assim, me lembrasse
o que a vida ainda não fez…)
Pertenço a minha memória
entre algoz e prisioneiro.
(Em sangue, tantas metades
já não me fazem inteiro).
Dentro de mim, outra coisa,
sentindo além do que sente.
Existo além dos sentidos:
eu existo alheiamente.
—–
*O poema “Pertencimento” foi musicado por Pedro Guerra, e participou de uma Califórnia da Canção.
♦♦♦
Jaime Vaz Brasil – Poeta gaúcho, com 7 livros publicados e vários prêmios, dentre os quais: Açorianos, Felipe d’Oliveira e Casa de Las Americas (finalista). Atua também como compositor, tendo vários poemas musicados e interpretados por vários parceiros, dentre os quais Ricardo Freire, Flávio Brasil, Zé Alexandre Gomes, Nilton Júnior, Vitor Ramil e Pery Souza.
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