VEJA TAMBÉM A NOSSA EDIÇÃO DE MAIO DE 2018

EDITORIAL – ATHENA & AS ARTES, HOJE (1) – por Paulo Ferreira da Cunha

Athena faz um ano, e já nela se evidencia, como traço muito vincado, a vocação cultural geral, do pensamento, das letras e das artes. Neste aniversário, julgamos que seria importante reflectirmos um pouco sobre estas últimas, que andam, um pouco por toda a parte, em maré não tanto de crise (essa já vem de longe, e nem é muito mau que assim permaneça), mas de incompreensão e até de perseguição.

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CRUZEIRO SEIXAS E A GRANDE RAZÃO AUSENTE – por Floriano Martins

Eu nunca quis ser muito melhor do que outro qualquer; fiquei-me pelo vago desejo de ser um pouco melhor do que o Cruzeiro Seixas.

Cruzeiro Seixas
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OCIDENTE – por Alberte Momán Noval

Ria, com o cotovelo sobre o balcão.

Falava para eles contando uma história de que foram também partícipes. Apanhava o ar que enchia os pul­mões sem aguardar a intervenção deles que deixavam os risos para o final, quando ela decidisse que a ane­dota chegara ao fim. Continuar a ler “OCIDENTE – por Alberte Momán Noval”

O VESTIDO DA MARILYN E OUTROS POEMAS – de Amélia Azevedo

O Vestido da Marilyn.

Quero um vestido como o da Marilyn.
Quero um vestido de roda para rodopiar e mostrar as minhas pernas.

Quero rodar à volta de mim e cair nos braços da leveza…
Amparada no espírito demente, que só quer a minha insanidade.
Invisível a todos com o meu vestido de roda, eu rodo e rodopio e ninguém vê as minhas pernas. Continuar a ler “O VESTIDO DA MARILYN E OUTROS POEMAS – de Amélia Azevedo”

AFONSO LOPES VIEIRA: o Tradutor de Kropotkine – por Cecília Barreira

O Poeta de País Lilás, Desterro Azul continua por reanalisar, apesar do brilhante ensaio que Aquilino lhe dedica in Camões. Camilo, Eça e Alguns Mais e dos lúcidos esclarecimentos de David Mourão Ferreira in Lâmpadas no Escuro – de Herculano a Torga.'(1) Deparamo-nos, desde logo, com um singular percurso político-ideológico que, tendo-se iniciado no lirismo intuitivamente inspirado em Nobre (lembremo-nos de Para Quê?), rondaria o anarquismo tolstoiano, sentiria a sedução dos escritos de Kropotkine, esgueirando-se, anos mais tarde, pelas complexas teias do lusismo integralista, vindo a assumir um anti-salazarismo. Continuar a ler “AFONSO LOPES VIEIRA: o Tradutor de Kropotkine – por Cecília Barreira”

MULHERES NAS RUAS DO PORTO (V) – por César Santos Silva

Aldas (Rua das)
Início – Dr. Pedro Vitorino (Largo do)
Fim – Pena Ventosa (Rua)
Outras Designações – Rua da Penaventosa – Rua do Colégio – Rua da Sinagoga
Freguesia de:

Uma das, ruas mais antigas do Porto.

A origem da Rua das Aldas perde-se na memória do tempo e remonta certamente aos princípios da Nacionalidade. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO (V) – por César Santos Silva”

RoMARIA DE FÁTIMA – por Danyel Guerra

“Nem que eu e a Mercedes Sosa tenhamos de ir a pé em roMaria de Fátima” .

Diogo estaca o passo à porta do cômodo e recua estupefato, a ponto de desviar o olhar. O que se passa, cariño? Parece que viste uma assombração.

Nem uma semana tinha passado  desde o momento em que Lúcia lhe ligara, anunciando promissoras sensações de comprazimento. Olá Diogo, tudo bem? Tenho uma novidade  para te contar. Meus pais vão a Fátima, no 13 de maio com a Jacinta e o Francisco. Quando me disseram fiquei  eufórica. Quase tive um desmaio. E já podes adivinhar o que vai acontecer….. Continuar a ler “RoMARIA DE FÁTIMA – por Danyel Guerra”

EUROPA E A QUESTÃO DOS REFUGIADOS – por Diogo Pacheco de Amorim

A questão dos “refugiados” é paradigmática de um enorme acréscimo de alterações ao que inicialmente se entendia, e foi “vendido” como o que deveria ser, no essencial, a União Europeia: um espaço onde circulariam livremente bens, capitais, serviços e pessoas. Desapareciam as fronteiras físicas entre os países membros e estabelecia-se uma fronteira entre a UE e o mundo exterior. O Espaço Schengen, mais ou menos coincidente com a UE, materializava, do ponto de vista institucional, esse conceito. Concomitantemente, os países com fronteiras externas, assumiam a responsabilidade pelo controlo dessas fronteiras externas em nome dos outros Estados-Membros. A Europa eliminava as fronteiras físicas dentro de si, mas estabelecia sólidas fronteiras com o exterior. Continuar a ler “EUROPA E A QUESTÃO DOS REFUGIADOS – por Diogo Pacheco de Amorim”

PARA ENFRENTAR EL PORVENIR – por David Cortés Cabán

 

En Los versos de la silla rota, de Gabriel Jiménez Emán, existen distintos grados de percepción de la realidad. Algunos poemas están animados por una visión personal de la vida, otros por las condiciones del entorno, y aun otros por el extrañamiento e intensidad de las cosas que rodean al poeta. Continuar a ler “PARA ENFRENTAR EL PORVENIR – por David Cortés Cabán”

ANUNCIAÇÃO OU ANATOMIA DE AFRODITE- por Giselda Leirner

Sem titulo, 1985, de Artur Cruzeiro Seixas

Rosa era um ovo. Cheio e frágil. Acordava cedo. Não lembrava de sonhos. Assim que se levantava, punha uma polca no aparelho de som. Era seu único disco. Não tinha muitos pensamentos, e falava sozinha. Não foi sempre assim. É claro que nada é sempre assim. Rosa fôra loira, alegre, gostara de um homem e de arte sacra mais que tudo. Nunca saiu de sua cidade e sua cidade nunca deixou de ser Girona, terra cansada de uma Espanha negra e profunda.

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Feliz Aniversário, Coronel – Jaime Vaz Brasil

@José Boldt

Um mês antes de completar oitenta anos, o Coronel Herculano Ramos avisou o filho mais velho que daria uma festa de aniversário. As palavras dele foram um punhal suspenso na mesa de jantar. Depois de um silêncio:

  – Convido todos? Continuar a ler “Feliz Aniversário, Coronel – Jaime Vaz Brasil”

O FINGIMENTO DE PESSOA – por João Esteves

Caricatura de F.P por J. Almada Negreiros

O fingimento de Pessoa «O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.» Com esta frase, começou a conversa de uma pessoa que deu entrada no serviço de urgência de psiquiatria. Não deu, na verdade. Mas podia bem ter dado. Acontece que essa pessoa imaginária vinha com esta frase no seu pensamento, totalmente descontextualizada, desconhecendo o passado do poeta que a escreveu, as suas circunstâncias sociais e psicológicas. Não é motivo para vergonha. Todo o pensador se confronta com o problema da descontextualização. É dela que emana o seu pensamento paranóide, totalmente desenfreado, pronto para satisfazer os mais profundos desejos do narcisismo. Continuar a ler “O FINGIMENTO DE PESSOA – por João Esteves”

REFLEXÕES SOBRE O LIVRO E A LEITURA- por Joaquim Maria Botelho

 

Autor que não publica sua obra, perde a própria definição, porque inexiste como autor. E, mesmo em tempos de recordes de títulos publicados, muitos autores não conseguem sequer ter seus originais analisados por editoras, ocupadas demais em perseguir best-sellers. Continuar a ler “REFLEXÕES SOBRE O LIVRO E A LEITURA- por Joaquim Maria Botelho”

ARTE E A ARTE DA PSICANÁLISE – II PARTE – Jorge Antônio da Silva

(leia a I PARTE aqui )

Enquanto Freud aguardava um novo século para inaugurar seu feito, as artes ebuliam com as experimentações impressionistas ao ar livre. O Expressionismo não retratava a realidade objetiva, como os impressionistas, porque não mais admitia a realidade como leitmotiv mas a interioridade humana com suas emoções, incertezas e mistérios. Denunciava a injustiça social, mostrava os vícios humanos em formas retorcidas com a violência de tubos diretamente aplicados sobre as telas, em impastos vigorosos. A infância da Psicanálise ocorreu nesse fértil terreno transitivo, quando a incógnita alimentava uma nova era de velozes transformações que a arte se incumbiu de registrar. Arte a que Adolf Hitler (1889/1945), depois, chamaria de degenerada. Continuar a ler “ARTE E A ARTE DA PSICANÁLISE – II PARTE – Jorge Antônio da Silva”

IMAGENS DE FÉ- por José Boldt

José Boldt nasceu no Porto, mas foi Lisboa que o viu crescer Balança de signo. É simpático, um bom amigo, inteligente, trabalhador, talentoso, muito modesto…e mentiroso. A sua paixão a Fotografia, e outras paixões que não vêm a propósito. Gosta de sol, do Alentejo e de preguiça em partes iguais. Odeia certezas, discursos políticos e biografias por encomenda.

Entre outras, realizou três exposições na Union Assurances de Paris, na Galeria Quadrante, obteve um 2.º prémio no concurso fotográfico da Escola de Artes António Arroio. Escreve aqui:

http://wwwescrevercomluz.blogspot.pt/
http://escrevercomcor.blogspot.pt/

3 POEMAS – por Kepa Murua

“A perda da inocência”, de Artur Cruzeiro Seixas

DE ESCRIBIR LA DISTANCIA (2012)

Un Hombre Por Encima

Me ha pasado un hombre por encima.
Tengo las huellas marcadas en la frente:
las huellas desconocidas.
No valen denuncias a la policía
ni seguros a todo riesgo. Continuar a ler “3 POEMAS – por Kepa Murua”

SETE POEMAS DE LEILA FERRAZ

O HÁLITO DO VENDAVAL

Há folhas espalhadas por todo o jardim, e venta
como se não houvera vento antes desta manhã.
Leva para o mar todas as memórias da luxúria.
E eu me abro para mais um dia, outro dia, novo dia.
Para quem perdi meus dedos nesta noite.
Acordei com estrelas e bambus.
Odores sensuais cozeram meu corpo à cama
e as lembranças de sedas, rendas, cadeiras tombadas
e ilógicas derramaram um esquecimento lilás. Continuar a ler “SETE POEMAS DE LEILA FERRAZ”

ARGUMENTUM E SILENTIO – por Luís Costa

18 poemas de Paul Celan
Versões de Luís Costa

@Artur Cruzeiro Seixas

Ouvi dizer

Ouvi dizer que na água havia
uma pedra e um círculo
e sobre a água uma palavra
que põe o círculo à volta da pedra.

Eu vi o meu choupo descer à água,
vi como o seu braço mergulhava na profundeza,
vi as suas raízes viradas para o céu, implorando pela noite. Continuar a ler “ARGUMENTUM E SILENTIO – por Luís Costa”

EÇA DE QUEIRÓS E LEOPOLD SZONDI – PARTE II – por Marilene Cahon

leia a Parte I aqui

Parte II

Na segunda edição há uma nota introdutória na qual Eça de Queirós defende-se da acusação de que “O Crime do Padre Amaro” é uma “imitação” da obra “La faute de Labbé Mouret” (editada em português com o título de “O Crime do Padre Mouret”) do escritor francês Émile Zola. Continuar a ler “EÇA DE QUEIRÓS E LEOPOLD SZONDI – PARTE II – por Marilene Cahon”

LA TORTUGA ECUESTRE, DEL PERUANO CÉSAR MORO, EN COSTA RICA – por Ricardo Echávarri

Nota sobre la reciente aparición de La tortuga ecuestre, del peruano César Moro, en Costa Rica.

Gracias al cuidado de Omar Castillo, Amirah Gazel y Alfonso Peña acaba de aparecer, bajo el sello de Art Edition, en San José, Costa Rica (2018), la última reedición de la Tortuga Ecuestre, del poeta peruano surrealista César Moro. Esta cuidada edición contiene dos nota distintivas: una introducción de Omar Castillo y los admirables “collages” de Amirah Gazel y Alfonso Peña. Continuar a ler “LA TORTUGA ECUESTRE, DEL PERUANO CÉSAR MORO, EN COSTA RICA – por Ricardo Echávarri”

QUATRO POEMAS PELA AMÉRICA LATINA – por Rosa Sampaio Torres

I  QUANTAS VEZES SE MORRE

Para Moacir Armando Xavier

“Ninguém na vida teve tantos pecados que mereça morrer duas vezes.” Frase de Maria de Magdala quando Jesus pretende  ressuscitar Lázaro.

(“O Evangelho segundo Jesus Cristo” – José Saramago)            

Quantas vezes
se morre
nesta vida,
com pecado
ou sem pecado? Continuar a ler “QUATRO POEMAS PELA AMÉRICA LATINA – por Rosa Sampaio Torres”

UM ALBUQUERQUE PELA INDEPENDÊNCIA BRASILEIRA – Rosa Sampaio Torres

Por ocasião do bicentenário da Revolução de 1817

Um Albuquerque pela independência Brasileira

Manoel Cavalcanti de Albuquerque
Do ramo do engenho Castanha Grande - Alagoas
(“Papai Cavalcanti” - século XlX)

Como seu avô, outro Manoel de mesmo sobrenome que participou da “fronda’ dos “nobres da terra” contra autoridades e mascates portugueses nos anos de 1710, nosso jovem Manoel logo teria também manifestado índole indômita e não conformista, “sdegnosa”, dos longevos Cavalcanti italianos – índole que por aqui se mantinha em família afeita à luta libertária – luta agora nos trópicos nativista, independentista e republicana. Continuar a ler “UM ALBUQUERQUE PELA INDEPENDÊNCIA BRASILEIRA – Rosa Sampaio Torres”

O Muro – por Sónia Alves

Quando visitava o meu avô, eram muitas as vezes em que ele me dizia que agora, que estava velho, a vida já não prestava para nada senão para se sentar à lareira “a cismar” ou a “matutar” nas coisas. Continuar a ler “O Muro – por Sónia Alves”

AL FILO DEL OJO de Omar Castillo – por Victor Bustamante

 

Hay varias formas de abordar la realidad poética en un momento determinado. Una de ellas enfundado y buscando brillo al hablar solo de escritores importantes, entre comillas, muchos de ellos impuestos por el marketing y el insidioso mundo editorial, donde se confunde literatura y negocios. Esto trae como retaliación una manera de escudarse y vivir del brillo de los poetas de relieve. Otra es la comodidad del mundillo académico pervertido y cifrado solo en escudarse tras el prestigio del legado de escritores muertos, impidiendo que haya una reflexión sobre el presente, lo cual excluye, y deja de lado a los escritores actuales, hasta que un remoto historiador los recobre. Todo lo anterior por pereza de buscar aspectos diferentes, como si nos señalaran para decir que esos escritores fueron de mayor fuste. Todo esto debido a ese lastre borgiano, admitido como mandamiento, cuando añadió que el antólogo verdadero es el tiempo, y esa cuasi sentencia mal entendida trajo como seña y saña olvidar las escrituras actuales. De tal manera añaden algo en este desalojo, que siempre la literatura está en otra parte; entre más lejos mejor. Ambas decisiones juegan con las cartas marcadas. Continuar a ler “AL FILO DEL OJO de Omar Castillo – por Victor Bustamante”

OS RATOS – por Uili Bergammín Oz

Os jogadores de cartas, de Paul Cezanne

– Vou perder. – sussurrei comigo mesmo, enquanto observava dois enormes ratos desfilando sobre o balcão. – Vou perder tudo esta noite.

Seu Genaro tentava enxotar os pestilentos com um pedaço de pano, algo que já fora cobertor há muito tempo. Era em vão. Quando dava por si, lá estavam eles sobre a tábua imunda, repleta de copos e garrafas vazias, como se velassem a batalha que se travava. Sim, uma batalha era aquilo, não um simples carteado. Um combate psicológico e campal. Eram olhares oblíquos, estratégias ousadas, fumaça, a tensão dos generais ao decidirem se atacam o inimigo ou defendem o território conquistado. O silêncio era de estourar os tímpanos. E não só a mesa, mas todo o boteco era o campo de guerra. Uma guerra de nervos. O bairro temia aquele recinto. Todos sabiam da bomba-relógio que lá havia. Continuar a ler “OS RATOS – por Uili Bergammín Oz”

POEMAS E CENAS DE Zuca Sardan

PIRRAZZA

1 . VAPORETTO

Aviso aos navegantes o Vaporetto
partirá pra Cithera o Capitão
chama o cozinheiro chinês
o cozinheiro chinês chama o avestruz
o avestruz bota um ovo o chinês
parte o ovo traz um jornal o vento
venta o chinês faz da casca
o casco o chinês faz do jornal
a vela o Capitão reclama o chinês
faz do cachimbo do Capitão a cha-
miné o Vaporetto apita o vento
venta que venta que venta Continuar a ler “POEMAS E CENAS DE Zuca Sardan”