OCIDENTE – por Alberte Momán Noval

Ria, com o cotovelo sobre o balcão.

Falava para eles contando uma história de que foram também partícipes. Apanhava o ar que enchia os pul­mões sem aguardar a intervenção deles que deixavam os risos para o final, quando ela decidisse que a ane­dota chegara ao fim.

Com a boca muito aberta, as lágrimas abrolharam pela borda dos olhos sem se decidir a cair.

Todo aquele riso convertera-se numa máscara após o último copo.

Eu, não muito longe, percebia o calor do seu corpo quando, levada pelo júbilo, dava um passo atrás ba­tendo o meu ombro com as suas costas.

Como ela, aguardava a queda da primeira lágrima, enquanto a vista se nublava para mim.

Esperávamos que ninguém daqueles interlocutores ausentes compreendesse a expressão de dor.

Tudo rematou apenas dois minutos após o penúlti­mo copo antes da partida.

Fiquei ainda um bocado procurando um sentido. Quando a lágrima resvalou até  precipitar-se encheu o copo pela última vez.

♣♣♣

Fora abandonada como uma ilha cercada pelas on­das.

Uma ilha com um único habitante.

Uma ilha com medo a perder o que de humano tem a companhia.

Uma ilha disposta a matar antes de sentir ser uma ilha.

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A Cadeira de Édipo @Artur Cruzeiro Seixas

A sombra do rosto sobre o pavimento imóvel.

O alento dele, o cheiro forte a suor.

Abre as nádegas fortemente com as mãos, que pres­sionam ainda mais a minha face contra a superfície gelada.

A língua alaga o esfíncter e uma contração percorre o corpo que deixou de ser dono de si próprio.

Ele é o homem branco que modela com as mãos des­pidas a vontade universal do não ser.

Ele põe o nome próprio a ausência.

Pega no copo de whisky apenas com dois dedos e fecha os olhos enquanto engole o mundo, pausada­mente, sorvo a sorvo, detendo-se nos matizes.

Ele é o homem branco, para nós tão só o crepúsculo, a irônica ambição da massa, o  pouso que dele fica na consciência coletiva, o prazer da humilhação, o gosto azedo depois da passagem pela boca.

Nota – Textos escolhidos pelo autor, que pertencem ao livro Ocidente (Círculo Rojo. 2017)

 

Alberte Momán Noval. Ferrol. 1976. Autor en lengua gallega, con más de una decena de libros, tanto en poesía como en narrativa, que se inicia en el género fantástico con esta obra editada por Círculo Rojo.