IMAGENS DE FÉ- por José Boldt

José Boldt nasceu no Porto, mas foi Lisboa que o viu crescer Balança de signo. É simpático, um bom amigo, inteligente, trabalhador, talentoso, muito modesto…e mentiroso. A sua paixão a Fotografia, e outras paixões que não vêm a propósito. Gosta de sol, do Alentejo e de preguiça em partes iguais. Odeia certezas, discursos políticos e biografias por encomenda.

Entre outras, realizou três exposições na Union Assurances de Paris, na Galeria Quadrante, obteve um 2.º prémio no concurso fotográfico da Escola de Artes António Arroio. Escreve aqui:

http://wwwescrevercomluz.blogspot.pt/
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A “Europa” ou a minha “Nação”? por Diogo Pacheco de Amorim

Contra ou a favor da Europa? Contra ou a favor das nações? A “Europa” ou a minha “Nação” ?

Questão que hoje vivamente se coloca, desdobrando-se em infindáveis discussões. Juízos rápidos e fulminantes disparados contra quem duvida da bondade da escolha politicamente correcta, a da “Europa”. E contudo…

… Contudo são discussões sem sentido, caso antes se não defina, clara e inequivocamente, qual a Europa de que se fala. Porque há duas europas em tudo diferentes. Dois conceitos distintos instalados dentro de um mesmo termo: “europa”. Assim, se me perguntarem se quero manter-me na, ou “sair” da “europa” começarei por perguntar “qual Europa?”. Clarifiquemos, pois há uma Europa que nasceu na Grécia há 2.700 anos, entre oliveiras, penedos sagrados e o azul do mar. E aí, entre deuses demasiado humanos e homens quase divinos, nasce, cresce e agiganta-se toda uma Cultura. Ésquilo, Sófocles, Píndaro, Heraclito, Fídeas, Anaximandro, Sólon, e tantos outros, deram ao mundo o espírito de uma civilização ímpar.

O Espírito. O primeiro pilar.

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TRIPÚDIO – por Luís Costa

Die Geburt des Dichters

Nunca pensei, sonhei ou desejei ser poeta
durante toda a minha juventude em vez dos livros ou da poesia
sempre preferi brincar aos índios e cowboys
ou assaltar ao meio da noite os laranjais
e os galinheiros dos vizinhos, ou ainda espreitar a vizinha,
quando esta se despia para fazer amor
e masturbar-me, masturbar-me (sim, sempre houve em mim
um gosto nato pela transgressão)

pergunto: poderá a fome de poesia ser explicada
cientificamente, será talvez uma herança genética?

que eu saiba entre os meus antepassados
nunca houve poetas, nem artistas, nem sequer homens cultos
houve, isso sim: assassinos, carrascos, esfoladores,
prostitutas, concubinas, mulheres obscuras e violentas
videntes, hipnotizadores de serpentes
também padres, mártires, santos e, sobretudo…
ah! sobretudo: loucos!

sim, entre os meus antepassados constam-se vários loucos
e confesso que também eu, por vezes, enlouqueço.

já passei alguns anos numa psiquiatria
porém todos os meus psiquiatras (foram muitos.
alguns deles suicidaram-se. outros enlouqueceram.)
dizem que a minha loucura é uma lúcida loucura.

vá lá saber-se o que é uma lúcida loucura,
mas talvez tenham razão, talvez a poesia seja um caso
de lúcida loucura.

English Garden

Aquele cadáver que plantaste o ano passado
no teu jardim já começou a despontar?
dará flor este ano?

                                                      T.S. Eliot

Foto de Paulo Burnay

Morreu no outono, um outono translúcido
como o da poesia de Trakl.

conforme o seu último desejo foi enterrado ao
canto mais belo
– onde crescem a rosas de Shakespeare –
do seu tão amado jardim,
o English Garden
onde costumava ler e escrever,
ler e escrever
até que os olhos lhe doessem de alegria.

enterraram-no com uma mão de fora
para que quando chegasse a primavera desse flor
e as andorinhas lhe cagassem em cima.

Realeza

Foto de Paulo Burnay

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
e chama-me teu filho
  Fernando Pessoa

O corpo (um odre de carne malcheiroso)
Mas ainda bem modelado

A ferida costurada
Os genitais encolhidos
O incenso subindo dos turíbulos
Aos brados

Assim lhe despiram a realeza
Assim regressou à noite antiga e calma.

La beauté

Je suis belle, ô mortels ! comme un rêve de pierre
Charles Baudelaire

Há uma tremenda beleza naquelas mãos grandes e peludas:
porquanto manejam habilmente os bisturis
que são astros cintilantes na podridão das vísceras.

Foto de Paulo Burnay

Elogio da loucura

Ao meu tio José (1940 – 1999)

O meu tio José, o louco. vejo-o
deambulando pelas ruas ao deus dará
sem outro destino que não seja deambular.

um Kentucky ao canto dos lábios.
o chapéu amarrotado…

o tio José, alto e elegante
como muitos dos homens da beira alta.
os olhos tão azuis… tão azuis…
quase germânicos.
lá dentro, o céu. não o céu de deus,
pois um louco não precisa de céu,
nem de deus, pois um louco não precisa
redimir os seus pecados.

mora na noite da luz. isento.
como as aves.

 Ressurreição

Luís Guerra e Paz

Depois do dilúvio
por entre as barcas e as casas submersas
onde agora o hálito de Deus mora
com a perna amputada às costas
regressou da morte

pois dizem que Deus não gostou do seu cheiro.

♦♦♦

Luís Costa escreve poesia e mais algumas coisas. Nasceu na sexta-feira santa de 1964. Tem alguns dos seus trabalhos publicados em revistas digitais como a Triplov e a Zunái, tendo também colaborado no primeiro número da revista internacional de surrealismo Debout Sur L’oeuf. Para além disso, pouco há a dizer. Ah, diz que a biografia do poeta é a sua poesia, pois, a seu ver, fora do poema o poeta não existe. Escrever poesia é para ele uma questão de ira e amor: uma violência amorosa. E também o contínuo suicídio do eu para que a obra se faça.

O MAAT visto por José Boldt

 

 

 

José Boldt

Nasceu no Porto, mas foi Lisboa que o viu crescer Balança de signo. É simpático, um bom amigo, inteligente, trabalhador, talentoso, muito modesto…e mentiroso. A sua paixão a Fotografia, e outras paixões que não vêm a propósito. Gosta de sol, do Alentejo e de preguiça em partes iguais. Odeia certezas, discursos políticos e biografias por encomenda.

Entre outras, realizou três exposições na Union Assurances de Paris, na Galeria Quadrante, obteve um 2.º prémio no concurso fotográfico da Escola de Artes António Arroio. Escreve aqui:

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