Conto do vigário, sem séria burla à mistura, sobre a existência e o seu contrário
O corpo é a nossa primeira e última realidade. Tendo todos direito à sua opinião como à sua religião, acreditamos que só há espírito porque há corpo e, por isso, se se vai o corpo, vai-se também o espírito. O espírito é o corolário desta realidade complexa a que chamamos corpo, segue-se dele, no princípio e no fim.Continuar a ler “EDITORIAL – O CORPO E O ESPÍRITO – por M. H. Restivo”
Invisible pero, como todos, pesado y numerado. El calor del sol me quema, tal vez, un poco más y ante mis ojos se extiende un desierto por el que erran desaladas criaturas.
“Sé un poema” de la poeta chilena Lorena Rioseco, por Claudia Vila Molina
Leer los poemas de Lorena en su poemario Se un poema implica dejarse llevar por una voz muy sabia, por idiomas ancestrales que recorren los tiempos, las estaciones y los cursos de los ríos de este gran mar, que es la vida y también la poesía. Después de leer cada poema; uno queda con un mensaje muy profundo, circulando en nuestros oídos y nuestra mente. Si bien son poemas sencillos, pero no por eso menos brillantes, según su autora, de quien guardo mucho cariño, su verdadera voz aflora más en la línea narrativa. Yo tengo mi propia opinión después de leer su poemario Se un poema, creo que debe retomar también su línea poética y seguir mirando la vida con esos ojos que encuentran nuevos descubrimientos en cada paso dado: “Así como los instantes/ en que el peso del silencio lo cubre todo/ incluso los sentimientos” (Sé un poema 18), “Me perderé como se pierden/ esas noches de insomnio” ( Me perderé 42), “Meteoritos color rubí/Simulando la borra de Dios/ Queriendo decir a los aires/ Que el aire me falta/ Que me falta un último trago de un gran Syrah (…)” ( Por un Syrah 52). Continuar a ler “RESEÑA DE “SÉ UN POEMA”de LORENA RIOSECO – por Claudia Vila Molina”
Tenho que pagar os meus pecados literários todos os dias, pois basta um dia de distração para que eu sofra na hora de escrever. Eis o motivo pelo qual escrevo diariamente, afinal sou um pecador das Letras, aquele que se atreve a fazer literatura, como se me fosse lícito se atrever à arte da escrita. Continuar a ler “UMA CRÓNICA PUNK- por Cassiano Russo”
“Quando os jornalistas mencionavam La Dolce Vita, eu respondia, direto, Anita Ekberg…” Federico Fellini
UMA NINFA MUITO FELLINA
Certa noite, alguém importunou a Srª D. Kerstin Anita Marianne Ekberg indagando quantos homens ela já tivera. A deusa escandinava ouviu, suspirou e não podia ter sido mais sibilina. “Você quer dizer quantos homens, além dos meus?!”Continuar a ler “RomAnita – por Danyel Guerra”
Todo flamenguista, ainda que tenha nascido muito tempo depois, conhece de cor o melhor time que já defendeu as cores do clube. Depois de enfrentar uma fieira de carnificinas na campanha épica da Copa Libertadores da América de 1981, Zico e sua talentosa companhia foram campeões mundiais. No entanto, e apesar das conquistas notáveis em anos recentes, a lembrança que mais aquece meu coração é a de um remoto e bem menos importante título regional, a Taça Guanabara de 1972. Era uma época em que o rádio era onipresente nas partidas de futebol, tanto para aqueles que não assistiam aos jogos quanto para aqueles que compareciam aos estádios colando ao ouvido seus aparelhos portáteis: pois se as movimentações dos jogadores no gramado constituíam, para os espectadores, a corporeidade visível da disputa, eram as vozes dos narradores e comentaristas que modulavam sua alma.Continuar a ler “22 de abril de 1972 – por Francisco Fuchs”
In memoriam omnium Pompeianorum plebis perierunt anno LXXIX A.D. Pompeii, Aestate MMXXI.
Num meio-dia escaldante de Verão, Perambulávamos pelas ruas desertas de Pompeia Espiávamos pelas janelas abertas das casas e vilas destelhadas, Hipnotizados pelos objectos carbonizados e mudas, petrificadas estátuas humanas, Pestanas semicerradas contra os raios solares omnipresentes Que pareciam envolver as testemunhas do Passado numa luz ofuscante, Impressionados diante dos templos vazios, em silêncio pensante, Ansiosos por ouvir os ecos das orações nunca atendidas, Pedidos e suplícios dos adoradores de numes há muito extintos.Continuar a ler “AS RUAS DE POMPEIA – por Francisco da Rocha”
Entre processos e percursos. Da modernidade à atualidade
Da modernidade desde Descartes (1596-1650) conhece-se uma filosofia do sujeito, “penso, logo existo”, o “homem medida”, que tem a sua origem no racionalismo grego, nos sofistas, pois Protágoras, um dos seus elementos mais proeminentes, fixou na mudança de paradigma da natureza para o homem que este “é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.” Seguiu-se também a famosa máxima atribuída a Sócrates (mesmo que não lhe pertença): “conhece-te a ti mesmo”, desígnio que a longa Idade Média interrompeu com a submissão do poder da razão para os dogmas de deus. O entendimento da natureza e do homem no seu seio é, por isso, de novo, modificado. Antes dos sofistas, era a physis, a substância física da qual todas as coisas eram feitas, que se impunha como princípio organizador da estrutura das coisas, percurso iniciado por Tales de Mileto, que caracteriza o designado pensamento pré-socrático.Continuar a ler “O QUE SOMOS – por Joana Rebelo”
Saí da hospedaria para a cidade. Sufocante e doida na ânsia de tempos dóceis. Mimos e negócios sempre de mãos dadas. Ia com a cabeça a latejar por via de álcoois nocturnos. Deram-me o dia na instituição e não sabiam que ele já era meu. Para não adoecer rasgo as receitas. Encontrei folhas escritas sobre uma certa rixa entre o senhor Pacheco e o senhor Mário. Delicados safados com lábio de ponta e mola. Depois falei com uma menina de olhos pintados a forte traço negro. Aprendiz de joalheira. Fará um dia ornamentos para viperinos figurantes.
O rapaz que me vendeu os cadernos de crítica musical disse que vão fazer uma instalação sonora no Grande Mercado. Sons e sardinhas. Ritmos e malaguetas. Electrónica e azeitonas. Sónicas broas e alfaces psicadélicas.
Andei pelas ruas com desinteresse. Sem linhas prévias. Não tinha onde ir. Não vi nada. Só ir. Por terrenos inabituais.
Numa primeira impressão, pode parecer quase são a mesma coisa o que se refere no título, mas não. Nem de perto. Duas simples letras alteram em absoluto o que se quer dizer ou identificar. O diabo está nos pormenores como se costuma dizer. Continuar a ler “DE VINHO E DO VINHO – por Manuel Igreja Cardoso”
pode o ser nas tradições orais ir além das estruturas feito um pássaro cortês da diversidade, ser um animal aqui perto do coração, não podemos ir adiante enquanto os gigantes mamíferos são destruídos em alto mar como conchas pisoteadas por estátuas, continuar a mimese é o que chamo de obsceno, os homens predadores sorriem junto com a morte sem vontade para o debate ecológico, seguem a lógica de conquistar territórios, de touros de ouro na Faria Lima sem sonhos, à medida que ando, o urbano me fere na vesícula que reproduz em 3d a fome sem enfeite ontem encontrei uma garota/totem, procurava um guia com jipe, para ir na direção das cavernas
A madrugada a doer, a doer-me muito. Na memória que guarda o teu nome este cantar lúcido das águas. Tu és belo como esse canto, esse perfeito tiro ao alvo ao fundo da noite perfurando as fogueiras adormecidas. Que segredo se oculta, em esplendor, onde teu corpo habita? Quem te nomeia nesse mar tão branco? O que amas? A orla do rio, ou a raiz deserta? A madrugada a doer, a doer-me muito.
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Maria Gomes nasceu em Benguela, República de Angola, em 1958. Foi professora de artes visuais e trabalhou em contabilidade após a independência daquele país. Vive em Coimbra. Tem poemas publicados no Jornal de Angola, nas antologias de Poesia 1 e 2 ” Escritas” sob a edição do poeta José Félix, em outras revistas de literatura na web, e na revista de Poesia de Tradução Di Versos nº 8 de Edições Sempre-em-Pé. Participou no poema ” O Estado do Mundo”, poema criado no ciber espaço, no âmbito de Coimbra, Capital Nacional da Cultura 2003, a editar brevemente em livro, e participou na II e III Bienal de Poesia em Silves, em Abril de 2005 e de 2008.
Escutas o silêncio Para não perderes O murmúrio dos meus lábios Um silêncio onde respirar Se torna mais fácil Uma transparência que mostra A areia no fundo do rio
deste cubículo precário (a A.M.O.) . neste cubículo precário que é o mundo às vezes falta a brisa. e o ar de tuas mãos. faltam os olhos de água como sorris a polpa e a saliva que és, na voz, a fala feita à passagem dos teus gestos — de ti: a falta. o encanto e a maravilha. . neste precário cubículo que é o mundo deixas ficar-te em perfume. permaneces. e é pelos densos poros dos sentidos que, se não estás, sei o instante sei o instante em que adormeces. . neste precário cubículo que é o mundo nem tudo falta: ao viveres-me és também tu que aconteces. . maria toscano. Coimbra, Café-Pastelaria Tosta Rica. 25 Novembro/ 2003.Continuar a ler “TRÊS POEMAS COM ALGUNS ANOS – de Maria Toscano”
El silencio de la lluvia abrazó los ojos de este león que soy. Ocultándome en un libro, sentí el sol sobre las palabras. De pronto salieron gritos, la visualización de la orquídea esperando nacer, recuerdos, viejas historias, miré mis zapatos desgastados, la botella de whisky vacía, un poema de Walt Whitman. Supe el sabor de la lluvia.Continuar a ler “POEMAS DEL LIBRO “POEMAS A LA INTEMPÉRIE” – de Moisés Cardenas”
A capela de St. Udalrich ainda hoje existente em Avolsheim, Alsácia. Informam fontes locais é “o mais antigo santuário sobrevivente do período carolíngio, pois as investigações arqueológicas realizadas em 1967 permitiram situar a construção desta capela tetra-cônica no século IX”. Continuar a ler ” SANTO UDALRICH – por Rosa Sampaio Torres”
Naquela mesma noite, o negruzim Deolindo acordou-me com o repuxão de ansiedade, para cobrar-me pela promessa de entrega corpórea, em troca do arranjo da união conjugal com o comerciante Assir Lubbos, o Turco, que me propositara sobrenome árabe e situação familiar. Como palavra empenhada há de ser cumprida à risca, eu permiti que o escravo ladino se esbaldasse da carne fresca daquela ciganita Juana, até desmaiar feito animal feroz capturado em armadilha de mandíbula.
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