Considerações sobre Yuval Harari, o Filósofo da moda no mundo global
Yuval Noah Harari, israelita, professor de história em Jerusalém, incendiou o mundo com as obras já traduzidas em português Homo Deus, História Breve do Amanhã e 21 Lições para o Século XXI. Com pendor filosófico e profético justifica as suas argumentações com o perigo das tecnologias e o medo da invasão de dados pessoais através da net e das redes sociais.
As contradições nos seus livros são imensas e até passam por branquear a figura de Hitler, comparando-o a um “humanista evolutivo”. O único alvo deste historiador especializado em Idade Média são as altas tecnologias. Em relação a esse aspeto, Harari sem o mencionar tenta matar Sartre e os existencialistas que acreditavam no poder decisório dos homens.
Os algoritmos decidem tudo. Se alguém mata, é porque já nasceu com os genes da matança. As máquinas efabulatórias do ainda jovem filósofo israelita não param. O futuro pertence a computadores de inteligência artificial que destroem e constroem e apuram o que querem. Tudo à distância de um algoritmo.
O próprio Hitler, que o autor cita em leituras da obra A Minha Luta, é totalmente percecionado e incluído nesse conjunto estranhamente designado de humanismo evolutivo.
Existirão três faces do pensamento: o humanismo liberal, o humanismo socialista e o humanismo evolutivo.
Por exemplo, e acerca de Portugal, o ensaísta referencia a queda dos regimes autoritários em plenos anos 70 da Grécia, de Espanha de Portugal, das ditaduras da américa latina, dos gulags , e ainda na Índia de Indira Gandhi. Nos anos 80 e início dos 90, o fim do sovietismo, o notável fim da Guerra Fria,, a implosão da antiga União Soviética em estados.
O filósofo não acredita na consagração de liberdades. Diz mesmo que as novas tecnologias matam as religiões e os deuses. Sartre dimensionava a morte de Deus e o isolamento do homem em relação a essa morte. Harari , não. O Homem é um brinquedo nas mãos da inteligência artificial, estanho está nas mãos de muito poucos.
A China é vilipendiada por Harari. A China tem o poder económico e o poder das novas tecnologias. É o perigo do ocidente. As novas tecnologias irão dar origem aos futuros deuses.
É a vez da genética e da nanotecnologia.
Em relação às religiões, o ensaísta põe uma questão interessante: quem dimensione estes anos do século XXI falará do Estado Islâmico ou da Google?
Essa pergunta revela-se pertinente. Realmente a dimensão destes tempos assenta quer na pegada dos islamismos, quer na fabulosa entropia da Google, ou das redes sociais. Até porque quem está vivo, ou se deposita numa ou mais das redes sociais, ou então não existe.
Harari acusa os liberais de estabelecer o primado do indivíduo e acreditam no livre arbítrio. Para o filósofo, tal não existe. Nem o Indivíduo e muito menos o livre arbítrio. Mais uma vez relevo a tentativa de enterrar o primado sartriano da escolha.
Para o articulista polémico, a teoria da evolução marca o mundo. A ciência mata o sentido da vida baseado no individualismo. Os mecanismos bioquímicos do cérebro representam a decisão de cada ser humano. Todos nós ao longo da História, de certeza que somos apenas um produto de ações químicas. Mais nada.
O futuro é sombrio: os seres humanos vão deixar de ter valor enquanto indivíduos isolados, os poucos que têm acesso à inteligência artificial, serão os programadores o tudo.
Fiquei espantada com a notoriedade de Harari quando constatei que a revista Courrier Internacional no número de maio de 2019 em título diz, 5G A Batalha que vai definir o Futuro e de Harari, Como a Tecnologia Favorece a Tirania. Mas os decisores de Silicon Valley estão unidos a Harari. Porquê? O medo da China e a dimensão brutal que este país tem feito em inteligência artificial e no universo do 5G.
No fim de contas, a batalha entre o Estados Unidos e a China. A batalha em que a Europa não quer perder o pé.
Curiosamente, Harari menciona muito pouco Putin.
A Huawei e o mundo ocidental, digo eu? Sim, os media internacionais estão focados nesta dilemática.
Chegamos ao universo do tecno-humanismo e da religião de dados. O articulista completamente obcecado com a IA reduz a religião às tecnologias.
O que se calhar ele nunca ponderou é que o esventrar da humanidade não se condiciona por um algoritmo. Mas sim por uma simbólica com o sagrado que vai muito para além da genética.
O sagrado é algo que Harari não perceciona. Porque o dei ateísmo o cega.
Não Harari. À Google sucederão outros grandes impérios digitais. Mas as pessoas continuarão a ponderar filosoficamente e artisticamente.
Já agora, vejam como o articulista delimita a Arte. A Arte para este articulista não existe. O fim de tudo, a compreensão da realidade numa cápsula. Harari pretende matar o pensamento com uma bíblia mal-enquadrada e vendida aos milhões de exemplares pata todos os países do ocidente com os profetas das redes sociais a apadrinhar.
A Literatura para Harari é uma insignificância. Dostoievski e Zola são a emanação dos sentimentos em pessoas vulgares e Joyce incorpora a vida interior de um indivíduo.
Ao ler se Homo Deus percebe a necessidade deste articulista em conjugar Literatura, Arte, Genética, Ciência, Política em praticamente 500 páginas. Uma nova Bíblia de um homem desesperado em esclarecer o tudo. Uma fixação em fórmulas e verdades feitas. Um libelo contra a consciência de cada pessoa enquanto indivíduo. Um atentado ao Homem. Uma filosofia de fórmulas. Um problema interior de certeza mal resolvido.
Danny Gutwein a 20 de novembro de 2018 designou Harari e bem como o Ideólogo das Elites Liberais .
Michael Schmidt-Salomon, esse, foi mais duro e consistente e denuncia a vergonha da menção sobre Hitler enquanto representativo ídolo do humanismo evolucionário. E põe o dedo na ferida ao falar da grande ignorância de Harari. Do branqueamento do Holocausto e do Estalinismo.
O temor que eu partilho que um ideólogo do tudo esteja a vender milhões de exemplares e os media gostam muito, e de uma teia obscura de leitores que mudos e quedos leem esta espantosa e horrenda bíblia sem um queixume, sem uma crítica. O que vale é que há muita gente em alerta em relação a tentativas totalitárias de compreensão da realidade em duas ou três ideias feitas.
Do ponto de vista de biólogos, há também a estudada tentativa de moldar as consciências com fórmulas de exatidão.
Como se a Arte coubesse numa única bioquímica genética.
Como se a mente humana coubesse num algoritmo.
O assassínio da mente humana.
Não. O inimigo não é a China. São os vendedores de verdades feitas.
Os vendilhões do templo. Os que nunca leram os grandes filósofos. Os misantropos.
A agonia das Humanidades. O estertor da dúvida. As certezas totalitárias.
Harari é a consagração da Morte do Indivíduo.
Cecília Barreira, CHAM-FCSH/UNL
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Cecília Barreira nasceu em Lisboa, licenciou-se em História na Faculdade de Letras de Lisboa e entrou como assistente estagiária na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, nos anos 80. Em 1991 defendeu doutoramento na FCSH e em 1999 agregou-se em Cultura Portuguesa Contemporânea. É autora de muitos ensaios sobre figuras do pensamento contemporâneo. Escreve poesia como hobby. Pertence ao CHAM-Centro de Humanidades como Investigadora Integrada.
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