POESIA DE Claudia Vila Molina

Les amants, 1960, by Pablo Picasso.

Dilatación

Esta noche los muebles tienen una mirada extraña, sueño con quienes se aparean en la oscuridad y a lo lejos dispersan nuestro propio sudor.   Ondas accidentales entran en las tiendas, robos de papeles causan la verdadera conjuración de astros. Alguien late fuera de sí, de su misterio. Nosotros escuchamos el viento sobre los árboles, como una imagen encarcelada se detiene el aullido, pero otra señal mueve mi boca. Te busco en las paredes, un departamento rompe los sobres de cartas desaparecidas, un cartel, tu foto enviada de pronto hacia la mansedumbre, una fecha velada en las manos de los familiares. El viento sobre los techos nos previene sobre esa forma de existir, blancos lavatorios espuman mi niñez, ahora te poseo, ahora estás detenido entre imágenes que mueren. Mamá está dormida, sus ojos miran hacia los patios y ese fragmento nos invade, rejas donde hubo cementerios, espacios extensos para quedarse fuera del límite. Mientras otros dejan sus papeles sobre las mesas, ellos llaman a sus madres para recordar, pero el miedo es un bulto que nos divide, nos colocan signos, nos niegan las verdaderas razones.

(Texto inédito Visiones Oníricas) Continuar a ler “POESIA DE Claudia Vila Molina”

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UM BRAVO GUERREIRO – por Danyel Guerra

“Os doze tiros partiram como um só. O Sr. Sauvage caiu, como um cepo,  para a frente. Morissot, mais alto, oscilou, girou e desabou sobre seu  camarada, com o rosto para o céu, enquanto da sua túnica, crivada no  peito, se escapavam borbotões de sangue.”  Guy de Maupassant                   

            Buon Compleanno, tanti auguri, Monicelli                               

                         UM BRAVO GUERREIRO

“C’era una volta il Italia”, 1982. No Cine Eliseo de Avellino, na Irpinia, entranhas do mezzogiorno da Campania, mais uma edição do festival (também) fundado por Pier Paolo Pasolini se desdobrava. Na plateia agitava-se um público inquieto, irrequieto, participativo. Continuar a ler “UM BRAVO GUERREIRO – por Danyel Guerra”

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VINTE ANOS DA NONA GERAÇÃO NO BRASIL- Prólogo e Tradução de Floriano Martins

Prólogo e Tradução de Floriano Martins

NOTAS DE ACCESO

(uma galeria marginal de tipos)

Quantos personagens pontuam nossa existência com a lucidez fantasiosa de suas influências? Quantas vezes nos sentimos como protagonistas da mais absurda ficção?  Creio que mais nos identificamos com a irrealidade suposta do ficcional do que propriamente nos reconhecemos em um ou outro personagem, esta última me parecendo quase sempre uma leitura meramente intelectualizada do assunto. De fato, consideramos mais irreal nossa existência do que real a ficção. A medida da realidade estaria então no grau do relacionamento do homem consigo mesmo. Indagar “como se faz um conto”? equivale a buscar um padrão de realidade. Continuar a ler “VINTE ANOS DA NONA GERAÇÃO NO BRASIL- Prólogo e Tradução de Floriano Martins”

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PODEM ADIAR O FIM DO MUNDO? – por Luiz Henrique Santana

Eu conto: os estudos literários podem adiar o fim do mundo?

A curiosidade inquieta, incomoda e, por conta disso, nos motiva na construção do conhecimento, seja ele formal ou informal. Dito isso, não faz muito tempo, uma questão foi levantada após a apresentação de alguns trabalhos de literatura. Essa questão tem me inquietado bastante. Há cerca de um ano faço parte de um grupo de pesquisa que busca, dentre os vários movimentos da literatura, como: escolas literárias e as fases da teoria literária, entender a essência constituinte da arte literária, isto é, a metaliteratura. A pluralidade de pensamentos, a inquietude e os questionamentos são as molas propulsoras do grupo. Continuar a ler “PODEM ADIAR O FIM DO MUNDO? – por Luiz Henrique Santana”

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Um “encore” de Luís Guerra e Paz

 

Luís Guerra e Paz – Chegou a este mundo em 1970. Diletante incorrigível, apaixonou-se por alguns hobbies e enfastiou-se de outros tantos. Contudo, embora de forma autodidacta e pouco disciplinada, manteve sempre uma relação com a fotografia. Não sabe se é pelo prazer de capturar um ambiente, um olhar ou um pormenor, ou se é devido a uma pura necessidade quase física,  que o impele a documentar algo que o impressionou.

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NEM TODAS AS CIDADES SÃO DE PEDRA-Texto, poema e imagens de Nelson González Leal

TEXTO, POEMA E IMAGENS DE
Nelson González Leal

A cidade, quando feita de homem, língua e mulher, não fica só no osso. Não, ela é músculo e alma, excitáveis e contráteis, é porém uma especie de coração que se agita dentro de você a toda vez que andas na rua. A cidade é um refugio da memória onde o esquecer tem patente e permisão. É talves um caos, na verdade é o caos mesmo, uma mixtura de referentes, um espaço construido para que o amor e o desamor possan ter inumeras motivações para o combate e para a palavra que se faz cavalgadura de seus propósitos -sem a língua para nomear não existe o amor, não existe o desamor, também não o silêncio, não há projeto. A cidade feita de homem, língua e mulher, é o descalabro e ao mesmo instante a redenção. Mas lembre-se que é so isso quando é feita assim. Se for só pedra sobre pedra pode ficar núa e perecer diante o silêncio e o frio, pode sim ficar no osso, o nosso, e pesar como a laje de um túmulo para a qual ninguém registrou palavras nem memórias, que ainda não é uma lápide. Continuar a ler “NEM TODAS AS CIDADES SÃO DE PEDRA-Texto, poema e imagens de Nelson González Leal”

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APOLOGIA DOS CALDOS DE GALINHA… – Paulo Ferreira da Cunha

APOLOGIA DOS CALDOS DE GALINHA…

I

“A Parábola dos Cegos”, de Pieter Bruegel, o Velho

Ecos no Umbral

Este artigo parece ser um pouco autobiográfico (o que não é meu costume), mas nem por isso o será. É apenas um artifício retórico para melhor dizer o que tenho a dizer. Pode levar-se tudo à conta de ficção. Peço mesmo que o faça o benévolo leitor. Acredite que tudo não passa de uma fábula da minha imaginação.

Ao longo da minha anterior “encarnação”, como professor universitário, como costumo agora dizer (espero que apenas achem graça à metáfora e não me interpretem mal), tive ocasião para conhecer muito o mundo. Continuar a ler “APOLOGIA DOS CALDOS DE GALINHA… – Paulo Ferreira da Cunha”

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TROVA DO CONFINAMENTO – por Paulo Ferreira da Cunha

Ao mundo sou estrangeiro:
A este mundo brutal,
Sem lei, nem rei, nem bornal,
Sem razão, tão mundanal,
Em que nem a língua entendo.
Figuras vou eu pois vendo,
Na caverna projetadas:
Em televisão vão nascendo
E morrendo – não são nada.
Na minha casa encerrado,
Poucos passos de prisão,
Abro livros que me vão
Levando p’ra todo o lado.
Pois desse confinamento
Não me queixo, nem por isso.
A minha grande questão
Está mais fundo, em sentimento.
Ao mundo sou estrangeiro:
Quer dizer, ao mundo vão.
É preciso que uma mão
Me guie, no meu intento
De entender este portento.
Não será projeto vão?
Já tenho idade pesada,
Já andei por muitos lados…
Estudei muito de Nada,
Os meus olhos estão cansados.
Os olhos e o entusiasmo!
Coisas que aos outros acendem,
A mim me causam marasmo
E tantos para o vão tendem!
Procuro o Absoluto!
Procuro em vão a Verdade!
Mas ao menos nesta idade
Não me impinjam um produto! Continuar a ler “TROVA DO CONFINAMENTO – por Paulo Ferreira da Cunha”

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POEMAS DE CARLOS BARBARITO & COLAGENS DE SERGIO BONZÓN

Sergio Bonzón

Anunciado y sucedido…

Anunciado y sucedido el final:
cae lo que se sostenía en el aire,
el trapecista con su trapecio,
el ave con su respiración y su ala.

©Carlos Barbarito

—-

Lengua para hablar…

Lengua para hablar, y al hablar la llamo.
Pero no acude, como si en su actual condición
tuviese otro nombre. Tal vez
lo que cambió fue mi lengua,
se volvió a sus oídos irreconocible.
Callo. Para no caer, trazo, con tiza,
signos sin sentido alguno en una pizarra;
abrazo una fe a la que hasta una rata rechazaría
y bebo de un vaso vacío, a pequeños sorbos,
a la hora en que el alba es una hipótesis.

©Carlos Barbarito

—-

Sergio Bonzón

Qué es este juego que esconde?…

Qué es este juego que esconde
la carta más valiosa, no da
sino informes, vías ciegas, nebulosas;
por qué la letra no se vuelve yesca,
por qué apenas salido me extravío;
debajo del suelo, raíces que no atinan
a beber aire del aire, luz de la luz,
tal vez la razón esté en la pila primera,
en la primera canícula, en la primera lluvia;
qué es esta fórmula que abdica
apenas el cuerpo se enfrenta con su sombra,
adverbio torcido en una boca entreabierta,
bandadas que rozan la fronda
y se alejan para no regresar
o para regresar con noticias
de un cielo blanco, quieto y blanco…

©Carlos Barbarito

Sergio Bonzón

¿El unánime avance del incendio…?

¿El unánime avance del incendio hacia las nubes?
¿Y la conversación acerca de tensas cuerdas,
de inauditas alegorías, de peces entrando
en cardumen en el ojo?
Saltaré –me digo- sobre las vías muertas.
Perpetuado el recuerdo del olor de la primera leche,
del primer unicornio y la primera marea.
¿Qué persiste y qué se evapora?
Lo que persiste es el vestigio.
Lo que se evapora, la apoyatura.

©Carlos Barbarito

—-

Sergio Bonzón

¿Qué ojo está lo suficientemente lejos?…

¿Qué ojo está lo suficientemente lejos

de la ceguera? ¿Qué cabeza, de la locura?

¿Qué sosiego, del cansancio?

Oficio que fatiga, que sucumbe al primer picotazo.

¿Qué es lo que no trastorna,

derrotada la ilusión, convertido en mundo el paisaje,

en herida lo que era sapiente por traslúcido,

verdadero por sólo estar ahí, al alcance de la mano?

Ave descaderada, sin posibilidad de vuelo.

Pasadizo a ninguna parte, a oscuras.

Escribo y pienso en una inmensa ausencia.

¿Qué crédito para esta latitud al margen,

para este silencio que ensordece,

esta falaz descendencia sin cópula?

——

¿Qué, en lugar de revelarme?…

¿Qué, en lugar de revelarme a los ojos de los demás,
me oculta cada vez más hasta hacerme casi invisible?
¿Por qué lo que antes me estremecía
ahora me desconcierta? ¿Por qué
la carcajada se convirtió en extenuación
y el arte en abismo donde se arremolinan
criaturas ciegas y descarnadas?
Tantas veces te nombré y ya no puedo hacerlo.
Porque si te nombro se abre una herida en mi lengua.
Y los muertos ya no hallan su morada.
Y los vivos confunden una chispa
con el resplandor de los sagrados lejanos incendios.
Dolor donde antes no dolía.
Techo donde antes había cielo y bandadas.

©Carlos Barbarito

—–

Sergio Bonzón

Tal vez traiga, luego…

Tal vez traiga, luego, novedad al día,
aunque fuere una mínima hierba,
un dedal oxidado, un carbón de estrella;
ahora es espera, con la puerta entreabierta,
un anhelo de niño por una estrella fugaz
en un cielo nocturno que sólo parece admitir
estrellas fijas. Tal vez traiga un poco de verdor
para las hojas secas que el viento
arrastra y amontona;
bandadas que retornan,
al menos por un día, una hora, un instante
para, con sus innumerables alas,
abrigar la vida mientras el otoño persiste
en su antiguo oficio de convertirse en invierno.

©Carlos Barbarito

——-

¿Y tu rostro? ¿Fruta disputada…?

(Enterado hoy de la muerte de Yves Boneffoy).

¿Y tu rostro? ¿Fruta disputada en el mercado?
¿Alimento para aves rapaces?
¿Milagro de un atardecer con trompetas?
¿Dádiva a las puertas de la tormenta?
¿Espejo donde se miran los viajeros recién arribados del desierto?
¿Cielo caído sobre un suelo pedregoso?
¿Y mi rostro? ¿Lo que traicionaré cuando nada ni nadie me importe?
¿Lo que llevaré como escudo cuando tenga lugar la penúltima batalla?
¿Un grito contra lo oscuro, la ceniza, la especie?
¿Un sólido, asentado silencio, que es muerte en su anverso
y doble muerte en su reverso?

Poemas de Carlos Barbarito

Colagens de: Sergio Bonzón

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Sergio Bonzón e Carlos Barbarito

♦♦♦

Carlos Barbarito (Pergamino, Argentina, 1955). Publicó más de veinte libros de poemas y ensayos sobre artes visuales. Parte de su obra poética fue traducida al portugués, inglés, francés e italiano. Forma parte de un grupo editor que publicará, en breve, un libro sobre vida y obra de la artista Norma Bessouet. En preparación, dos libros de poemas con sendos dibujos de Victor Chab y Sergio Bonzón.

Sergio Bonzón – (Pergamino, Argentina, 1959)
Artista Visual y Gestor Cultural. Trabaja por series, valiéndose para ello de distintos recursos visuales. Instalaciones de pequeño formato, dibujo, pintura, fotografía, grabado o collage.
Integra el colectivo de artistas Itinerancia 6 desde 2013 – Coordinador de Piccolo Spazio Sperimentale desde 2015 a 2018.
En 2019 se sumó al grupo Constructores de Fuego y desde 2020 al colectivo Grabadores Bonaerenses.
Entre otros proyectos en desarrollo, actualmente trabaja en un libro de collages y poemas de Carlos Barbarito.

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O Castelo du Grand Perron – Rosa Sampaio Torres

O Castelo du Grand Perron

O presente artigo pretende chamar a atenção do leitor para a precursora atuação republicana do intelectual e conspirador florentino Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti – empenho republicano que obteve até mesmo o reconhecimento, paradoxalmente, de uma rainha. O artigo apresenta como pano de fundo o Chateau du Grand Perron – castelo comprado por Bartolomeo na França, que descobrimos ainda se mantém em relativo estado de conservação.

Sobre as relações de amizade entre rainha da França, Catarina de Médici, e a família Cavalcanti de Bartolomeo muito há a ser recordado.

O reconhecimento de Catarina de Médici aos membros da família Cavalcanti – especialmente Mainardo, pai, e seu filho Bartolomeo por terem salvado sua vida quando ainda uma criança é assunto de relevância histórica, merecedor de estudos aprofundados. A pequena Catarina esteve refém nas mãos de revolucionários radicais republicanos quando dos episódios da Republica Florentina de 1530-37, tema já abordado em nossos artigos “Médici x Cavalcanti”, “Bartolomeo Cavalcanti” e “Conspiração Pucci & Cavalcanti” – artigos publicados em nosso blog com todas as fontes.

Em “Bartolomeu Cavalcanti” mencionamos que revoltosos mais radicais ameaçaram a pequena Catarina de ser baixada numa canastra nas muralhas da cidade, frente à tropa, ou mesmo de ser enviada para um bordel militar. Por fim, a muito jovem Catarina foi obrigada a desfilar no meio de turba enfurecida. Por intervenção de Mainardo e Bartolomeu Cavalcanti, lideres revolucionários, mas não radicais, a revolução fora por fim abreviada.

Catarina ao crescer tornara-se Rainha da França. Para seu casamento convidou Bartolomeu, que nesta ocasião foi até mesmo homenageado publicamente. Levara ele no cortejo do casamento de Catarina para a França sua pequena filha Lucrecia e um pequeno filho do seu parente Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, do ramo Cavalleschi – parente que já estava também a perigo político em Florença frente aos prepotentes Médici, de ramo mais tarde migrado para o Brasil. Continuar a ler “O Castelo du Grand Perron – Rosa Sampaio Torres”

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FALAR SOBRE SENTIMENTOS – por Teresa Escoval

“Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.”
Fernando Pessoa

Começar a escrever sobre sentimentos com base neste citação de Fernando Pessoa é acreditar que podemos tornar-nos pessoas mais sadias e generosas quando partilhamos o que nos vai na alma com o outro. É sentir que numa partilha honesta de sentimentos um cresce com o outro e ambos se tornam pessoas mais sadias e honestas. Continuar a ler “FALAR SOBRE SENTIMENTOS – por Teresa Escoval”

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EDITORIAL EDIÇÃO 11 por Júlia Moura Lopes

Quando Albrecht Dürer acordou, sobressaltado por um pesadelo, todo o seu corpo tremia, só conseguindo recuperar passado algum tempo. – escreve ele no texto do desenho a aguarela sobre papel, que adoptamos como capa para esta Edição nº11 de Athena – Dürer também deixou escrito no próprio quadro, que pela manhã, mal se levantou, se apressou a plasmar o pesadelo tal qual o tinha vivido. Continuar a ler “EDITORIAL EDIÇÃO 11 por Júlia Moura Lopes”

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MULHERES NAS RUAS DO PORTO XI- por César Santos Silva

Cândida Sá de Albergaria (Rua de)

Início: Fonte da Luz (Rua da)
Fim: Liége Cul‑de‑Sac 
Designação desde 1974 
Freguesia da Foz do Douro
Anterior designação: Rua Nova do Túnel

Cândida Sá de Albergaria, nascida em 1892, foi uma notável e persistente professora que, ao longo de várias décadas, leccionou na es­cola fundada por seu pai, Sá de Albergaria, também ele homenageado nas ruas do Porto, neste caso na freguesia de Nevogilde. Neste mester teve ajuda da sua irmã, Maria José de Albergaria, também ela professora. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO XI- por César Santos Silva”

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…DOS OLHOS de Correia Machado

A Baía de Nápoles em noite de luar Vesuvio , by Ivan Constantinovich Aivazovsky

Olhos

O meu pai tem uns olhos graúdos que veem o mundo antes de mim para mo preparar. São grandes, bonitos e esbugalhados, e falam por si só e se a voz lhe falhar.

Enxergam o mundo num segundo, antes dos meus, alertam e aprestam-me na vida, para os tombos e os imprevistos, para as falhas e as distrações. Nunca naufragando. É uma mirada infalível. É sim. Continuar a ler “…DOS OLHOS de Correia Machado”

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PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS – I Série – por Danyel Guerra

La femme dans la nuit, by Joan Miro

PRENSAMENTOS  & DESAFORISMOS

COM TEXTOSTERONA DO AMOR

 Como a vida, o amor é eterno enquanto dura.
Mas em boa verdade, ele só será mesmo eterno enquanto for terno.

 o-o-o-o-o

“O amor é cura, mas também é loucura”

 Sigmund Freud

Sendo verdadeira esta contradição, ela explicará porque de médico e de louco, o amor também tem um pouco.

o-o-o-o-o

No amor, um é pouco, dois é bom, três é demais. Três só não é demais num ménage à trois. Contudo, nessa triangulação, por norma, isóscélica e e até escalena, o amor, enquanto ideal, pode ter cabidela, mas, em geral, não tem cabimento.

Nunca terá havido um ménage à trois mais inusitado do que o de Alex Delarge com a Sonietta e a Marty em ‘A Clockwork Orange’ do Stanley Kubrick, ao som da abertura de ‘Guglielmo Tell’, de Rossini. Capaz de causar tonturas de tão vertiginoso. Tanto aos parceiros como aos cinespectadores. Continuar a ler “PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS – I Série – por Danyel Guerra”

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PARA QUE SERVE A MATEMÁTICA? – por David Fernandes

Olhemos uma qualquer imagem digital a preto e branco. Se conseguirmos aproximar-nos o suficiente, “fazer zoom”, percebemos que aquela é composta por um conjunto de pequenos pontos que podem ser pretos ou brancos.

Joahnn Radon (1887-1956)

Na verdade, a cor daqueles pontos pode eventualmente ser de toda uma gama de cinzentos, entre o branco e o preto, mas para simplificar vamos assumir que os pontos poderão ser apenas pretos ou brancos. Continuar a ler “PARA QUE SERVE A MATEMÁTICA? – por David Fernandes”

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“Com Navalhas e Navios” (recensão) de Fernando Martinho Guimarães

Com Navalhas e Navios é uma colectânea, uma antologia, uma «poesia reunida», que compreende parte da produção poética de Urbano Bettencourt, desde o volume inaugural de 1972, Raiz de Mágoa, até ao livro África e Verso, de 2012. Encontramos, ainda, no seu fecho, uma série de 5 poemas dispersos. E em nota final, diz-nos o autor que deixou de fora um conjunto de poemas, principalmente dos seus dois primeiros livros, o já referido Raiz de Mágoa e o Marinheiro com Residência Fixa, de 1980. Mais nos diz que, na recolha de poemas que constitui este Com Navalhas e Navios não está a maior parte dos seus textos poéticos em prosa e algumas narrativas breves. Promete-se, nesta nota, que em devido tempo virão a lume, reunidos e reorganizados. O prometido é devido e ficamos nós, seus leitores, a aguardar. Continuar a ler ““Com Navalhas e Navios” (recensão) de Fernando Martinho Guimarães”

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REVISITAR MACHADO, EÇA E KAFKA – Hilton Fortuna Daniel

REVISITAR OS SÉCULOS XIX E XX PELAS NARRATIVAS DE MACHADO, EÇA E KAFKA

  1. Introdução

Este estudo inscreve-se num quadro de análise teórico-pragmática, assumindo aqui uma visão de literatura comparada, a qual tem por objetivo revisitar o imaginário da criação artística ocidental dos séculos XIX/XX, compreender a sua influência, contribuição e transversalidade para aquilo que se afigura como momento de recessão a nível do poder de criação artística situada na literatura do século XXI. Com efeito, a literatura tem vindo a assumir uma amplitude e extensão que muito pouco de relevante transparecem para a realidade e utilidade humana nos dias atuais. Ou os séculos XIX e XX produziram o bastante, ou o século XXI não faz por merecer. Continuar a ler “REVISITAR MACHADO, EÇA E KAFKA – Hilton Fortuna Daniel”

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UMA ROTUNDA BOA VISTA… por Danyel Guerra

“Depois da civilização de Atenas e do Renascimento,
 entramos agora na civilização do derrière”

Pierrot le fou, de Jean-Luc Godard    

(crônica carnevalesca)

Fim de tarde estival, sol quase no poente, na esplanada de um bar, dois clientes tomam, divertidos, um schopen Hauer* estupidamente gelado. O boteco situa-se numa praça em forma de círculo, que encanta sobremaneira um deles, cidadão caRIOca, que pela primeira vez degusta umas Trip’s à moda do Porto. Continuar a ler “UMA ROTUNDA BOA VISTA… por Danyel Guerra”

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QUE CRISTIANISMO É ESSE?- por Luiz Henrique Santana

Recentemente alguns pensamentos têm tomado conta da minha mente, tais como: de que maneira eu posso parar de me cobrar tanto, de que forma a sociedade chegou a esse ponto e que evangelho institucionalizado é esse? Confesso que este último tem me preocupado bastante! A institucionalização do cristianismo é um fato histórico que se inicia em Roma com a oficialização da doutrina cristã como a religião do Império romano pelo imperador Constantino. Penso que foi nesse ponto que os ideais do rabi Jesus Cristo começaram a se engessar, enrijecer e burocratizar. Continuar a ler “QUE CRISTIANISMO É ESSE?- por Luiz Henrique Santana”

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PEGADAS IMPRESSAS NO JARDIM DA LITERATURA – por Marcos Fernando Kirst

Em memória de Marilene Caon Pieruccini

“Escuto o barulho do mar/ Marulho de cantiga/ Antiga mais que o ar/ Magia que nina a lua/ Na rua vazia de você/ Pensamentos desertos/ Abertos com a sombra/ Que assombra o lugar/ Perdidos na dor da escolha/ Havida no meio de mim/ Nunca há paz neste jardim”

(Solo de Clarineta).

A alma em constante ebulição criativa e reflexiva da escritora gaúcha Marilene Caon Pieruccini encontrou a paz no jardim da existência no dia 14 de novembro de 2019, quando seu corpo enfim cedeu, após anos de batalha pela saúde. O jardim, no qual dizia poeticamente jamais encontrar paz, como no poema de sua autoria acima, era o refúgio mental da literatura, da cultura e das artes, universo que habitava e transformava com sua produção criativa e onde desempenhava de forma plena sua atuação cidadã. Marilene tinha convicção de que a arte e a cultura são ferramentas vitais para a transformação dos seres humanos em cidadãos plenos, construtivos, positivos e criativos. Pautou toda a sua atividade literária, profissional e pessoal a partir dessa ótica e, assim, não só deixou sua marca (insubstituível e saudosa), como formatou, ao natural, uma pequena (mas significativa e ativa) legião de acólitos, que seguem fazendo a diferença em Caxias do Sul e região, para seu orgulho e satisfação, onde quer que agora esteja. Continuar a ler “PEGADAS IMPRESSAS NO JARDIM DA LITERATURA – por Marcos Fernando Kirst”

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