José Boldt nasceu no Porto, mas foi Lisboa que o viu crescer Balança de signo. É simpático, um bom amigo, inteligente, trabalhador, talentoso, muito modesto…e mentiroso. A sua paixão a Fotografia, e outras paixões que não vêm a propósito. Gosta de sol, do Alentejo e de preguiça em partes iguais. Odeia certezas, discursos políticos e biografias por encomenda.
Entre outras, realizou três exposições na Union Assurances de Paris, na Galeria Quadrante, obteve um 2.º prémio no concurso fotográfico da Escola de Artes António Arroio. Escreve aqui:
Quando visitava o meu avô, eram muitas as vezes em que ele me dizia que agora, que estava velho, a vida já não prestava para nada senão para se sentar à lareira “a cismar” ou a “matutar” nas coisas. Continuar a ler “O Muro – por Sónia Alves”
Fransérgio amava o carnaval. Era quando ele, entre plumas & paetês, miçangas & não-sei-o-quês, podia ser ELA, sem culpa. Longe do olhar recriminatório da adorada esposinha.
Contra ou a favor da Europa? Contra ou a favor das nações? A “Europa” ou a minha “Nação” ?
Questão que hoje vivamente se coloca, desdobrando-se em infindáveis discussões. Juízos rápidos e fulminantes disparados contra quem duvida da bondade da escolha politicamente correcta, a da “Europa”. E contudo…
… Contudo são discussões sem sentido, caso antes se não defina, clara e inequivocamente, qual a Europa de que se fala. Porque há duas europas em tudo diferentes. Dois conceitos distintos instalados dentro de um mesmo termo: “europa”. Assim, se me perguntarem se quero manter-me na, ou “sair” da “europa” começarei por perguntar “qual Europa?”. Clarifiquemos, pois há uma Europa que nasceu na Grécia há 2.700 anos, entre oliveiras, penedos sagrados e o azul do mar. E aí, entre deuses demasiado humanos e homens quase divinos, nasce, cresce e agiganta-se toda uma Cultura. Ésquilo, Sófocles, Píndaro, Heraclito, Fídeas, Anaximandro, Sólon, e tantos outros, deram ao mundo o espírito de uma civilização ímpar.
Nunca pensei, sonhei ou desejei ser poeta
durante toda a minha juventude em vez dos livros ou da poesia
sempre preferi brincar aos índios e cowboys
ou assaltar ao meio da noite os laranjais
e os galinheiros dos vizinhos, ou ainda espreitar a vizinha,
quando esta se despia para fazer amor
e masturbar-me, masturbar-me (sim, sempre houve em mim
um gosto nato pela transgressão)
pergunto: poderá a fome de poesia ser explicada
cientificamente, será talvez uma herança genética?
que eu saiba entre os meus antepassados
nunca houve poetas, nem artistas, nem sequer homens cultos
houve, isso sim: assassinos, carrascos, esfoladores,
prostitutas, concubinas, mulheres obscuras e violentas
videntes, hipnotizadores de serpentes
também padres, mártires, santos e, sobretudo…
ah! sobretudo: loucos!
sim, entre os meus antepassados constam-se vários loucos
e confesso que também eu, por vezes, enlouqueço.
já passei alguns anos numa psiquiatria
porém todos os meus psiquiatras (foram muitos.
alguns deles suicidaram-se. outros enlouqueceram.)
dizem que a minha loucura é uma lúcida loucura.
vá lá saber-se o que é uma lúcida loucura,
mas talvez tenham razão, talvez a poesia seja um caso
de lúcida loucura.
English Garden
Aquele cadáver que plantaste o ano passado no teu jardim já começou a despontar? dará flor este ano?
T.S. Eliot
Morreu no outono, um outono translúcido
como o da poesia de Trakl.
conforme o seu último desejo foi enterrado ao
canto mais belo
– onde crescem a rosas de Shakespeare –
do seu tão amado jardim,
o English Garden
onde costumava ler e escrever,
ler e escrever
até que os olhos lhe doessem de alegria.
enterraram-no com uma mão de fora
para que quando chegasse a primavera desse flor
e as andorinhas lhe cagassem em cima.
Realeza
Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços e chama-me teu filho Fernando Pessoa
O corpo (um odre de carne malcheiroso)
Mas ainda bem modelado
A ferida costurada
Os genitais encolhidos
O incenso subindo dos turíbulos
Aos brados
Assim lhe despiram a realeza
Assim regressou à noite antiga e calma.
La beauté
Je suis belle, ô mortels ! comme un rêve de pierre Charles Baudelaire
Há uma tremenda beleza naquelas mãos grandes e peludas:
porquanto manejam habilmente os bisturis
que são astros cintilantes na podridão das vísceras.
Elogio da loucura
Ao meu tio José (1940 – 1999)
O meu tio José, o louco. vejo-o
deambulando pelas ruas ao deus dará
sem outro destino que não seja deambular.
um Kentucky ao canto dos lábios.
o chapéu amarrotado…
o tio José, alto e elegante
como muitos dos homens da beira alta.
os olhos tão azuis… tão azuis…
quase germânicos.
lá dentro, o céu. não o céu de deus,
pois um louco não precisa de céu,
nem de deus, pois um louco não precisa
redimir os seus pecados.
mora na noite da luz. isento.
como as aves.
Ressurreição
Depois do dilúvio
por entre as barcas e as casas submersas
onde agora o hálito de Deus mora
com a perna amputada às costas
regressou da morte
pois dizem que Deus não gostou do seu cheiro.
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Luís Costa escreve poesia e mais algumas coisas. Nasceu na sexta-feira santa de 1964. Tem alguns dos seus trabalhos publicados em revistas digitais como a Triplov e a Zunái, tendo também colaborado no primeiro número da revista internacional de surrealismo Debout Sur L’oeuf. Para além disso, pouco há a dizer. Ah, diz que a biografia do poeta é a sua poesia, pois, a seu ver, fora do poema o poeta não existe. Escrever poesia é para ele uma questão de ira e amor: uma violência amorosa. E também o contínuo suicídio do eu para que a obra se faça.
Nasceu no Porto, mas foi Lisboa que o viu crescer Balança de signo. É simpático, um bom amigo, inteligente, trabalhador, talentoso, muito modesto…e mentiroso. A sua paixão a Fotografia, e outras paixões que não vêm a propósito. Gosta de sol, do Alentejo e de preguiça em partes iguais. Odeia certezas, discursos políticos e biografias por encomenda.
Entre outras, realizou três exposições na Union Assurances de Paris, na Galeria Quadrante, obteve um 2.º prémio no concurso fotográfico da Escola de Artes António Arroio. Escreve aqui:
Servia para dormir, para comer, para conviver, para amar, para sonhar, mas havia nela um monstro que tinha um olho esquisito no meio da testa. Este ser sobrenatural estava destinado a habitar a casa, à qual se apoderara por configuração de terrenos. Continuar a ler “VITREA CASA – por Marília Miranda Lopes”
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