EDITORIAL EDIÇÃO 11 por Júlia Moura Lopes

Quando Albrecht Dürer acordou, sobressaltado por um pesadelo, todo o seu corpo tremia, só conseguindo recuperar passado algum tempo. – escreve ele no texto do desenho a aguarela sobre papel, que adoptamos como capa para esta Edição nº11 de Athena – Dürer também deixou escrito no próprio quadro, que pela manhã, mal se levantou, se apressou a plasmar o pesadelo tal qual o tinha vivido. Continuar a ler “EDITORIAL EDIÇÃO 11 por Júlia Moura Lopes”

TRÊS POEMAS de António Pedro Ribeiro

ESTRELA SÓ

Sou uma estrela mas sinto-me só
pouco me adianta subir aos palcos
ser comentado aqui e ali
ter delírios e explosões
muito poucos me compreendem
muito poucos compreendem
a minha revolução
e agora estou ainda mais só
a um canto
a escrever as palavras Continuar a ler “TRÊS POEMAS de António Pedro Ribeiro”

MULHERES NAS RUAS DO PORTO XI- por César Santos Silva

Cândida Sá de Albergaria (Rua de)

Início: Fonte da Luz (Rua da)
Fim: Liége Cul‑de‑Sac 
Designação desde 1974 
Freguesia da Foz do Douro
Anterior designação: Rua Nova do Túnel

Cândida Sá de Albergaria, nascida em 1892, foi uma notável e persistente professora que, ao longo de várias décadas, leccionou na es­cola fundada por seu pai, Sá de Albergaria, também ele homenageado nas ruas do Porto, neste caso na freguesia de Nevogilde. Neste mester teve ajuda da sua irmã, Maria José de Albergaria, também ela professora. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO XI- por César Santos Silva”

…DOS OLHOS de Correia Machado

A Baía de Nápoles em noite de luar Vesuvio , by Ivan Constantinovich Aivazovsky

Olhos

O meu pai tem uns olhos graúdos que veem o mundo antes de mim para mo preparar. São grandes, bonitos e esbugalhados, e falam por si só e se a voz lhe falhar.

Enxergam o mundo num segundo, antes dos meus, alertam e aprestam-me na vida, para os tombos e os imprevistos, para as falhas e as distrações. Nunca naufragando. É uma mirada infalível. É sim. Continuar a ler “…DOS OLHOS de Correia Machado”

PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS – I Série – por Danyel Guerra

La femme dans la nuit, by Joan Miro

PRENSAMENTOS  & DESAFORISMOS

COM TEXTOSTERONA DO AMOR

 Como a vida, o amor é eterno enquanto dura.
Mas em boa verdade, ele só será mesmo eterno enquanto for terno.

 o-o-o-o-o

“O amor é cura, mas também é loucura”

 Sigmund Freud

Sendo verdadeira esta contradição, ela explicará porque de médico e de louco, o amor também tem um pouco.

o-o-o-o-o

No amor, um é pouco, dois é bom, três é demais. Três só não é demais num ménage à trois. Contudo, nessa triangulação, por norma, isóscélica e e até escalena, o amor, enquanto ideal, pode ter cabidela, mas, em geral, não tem cabimento.

Nunca terá havido um ménage à trois mais inusitado do que o de Alex Delarge com a Sonietta e a Marty em ‘A Clockwork Orange’ do Stanley Kubrick, ao som da abertura de ‘Guglielmo Tell’, de Rossini. Capaz de causar tonturas de tão vertiginoso. Tanto aos parceiros como aos cinespectadores. Continuar a ler “PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS – I Série – por Danyel Guerra”

PARA QUE SERVE A MATEMÁTICA? – por David Fernandes

Olhemos uma qualquer imagem digital a preto e branco. Se conseguirmos aproximar-nos o suficiente, “fazer zoom”, percebemos que aquela é composta por um conjunto de pequenos pontos que podem ser pretos ou brancos.

Joahnn Radon (1887-1956)

Na verdade, a cor daqueles pontos pode eventualmente ser de toda uma gama de cinzentos, entre o branco e o preto, mas para simplificar vamos assumir que os pontos poderão ser apenas pretos ou brancos. Continuar a ler “PARA QUE SERVE A MATEMÁTICA? – por David Fernandes”

“Com Navalhas e Navios” (recensão) de Fernando Martinho Guimarães

Com Navalhas e Navios é uma colectânea, uma antologia, uma «poesia reunida», que compreende parte da produção poética de Urbano Bettencourt, desde o volume inaugural de 1972, Raiz de Mágoa, até ao livro África e Verso, de 2012. Encontramos, ainda, no seu fecho, uma série de 5 poemas dispersos. E em nota final, diz-nos o autor que deixou de fora um conjunto de poemas, principalmente dos seus dois primeiros livros, o já referido Raiz de Mágoa e o Marinheiro com Residência Fixa, de 1980. Mais nos diz que, na recolha de poemas que constitui este Com Navalhas e Navios não está a maior parte dos seus textos poéticos em prosa e algumas narrativas breves. Promete-se, nesta nota, que em devido tempo virão a lume, reunidos e reorganizados. O prometido é devido e ficamos nós, seus leitores, a aguardar. Continuar a ler ““Com Navalhas e Navios” (recensão) de Fernando Martinho Guimarães”

REVISITAR MACHADO, EÇA E KAFKA – Hilton Fortuna Daniel

REVISITAR OS SÉCULOS XIX E XX PELAS NARRATIVAS DE MACHADO, EÇA E KAFKA

  1. Introdução

Este estudo inscreve-se num quadro de análise teórico-pragmática, assumindo aqui uma visão de literatura comparada, a qual tem por objetivo revisitar o imaginário da criação artística ocidental dos séculos XIX/XX, compreender a sua influência, contribuição e transversalidade para aquilo que se afigura como momento de recessão a nível do poder de criação artística situada na literatura do século XXI. Com efeito, a literatura tem vindo a assumir uma amplitude e extensão que muito pouco de relevante transparecem para a realidade e utilidade humana nos dias atuais. Ou os séculos XIX e XX produziram o bastante, ou o século XXI não faz por merecer. Continuar a ler “REVISITAR MACHADO, EÇA E KAFKA – Hilton Fortuna Daniel”

UMA ROTUNDA BOA VISTA… por Danyel Guerra

“Depois da civilização de Atenas e do Renascimento,
 entramos agora na civilização do derrière”

Pierrot le fou, de Jean-Luc Godard    

(crônica carnevalesca)

Fim de tarde estival, sol quase no poente, na esplanada de um bar, dois clientes tomam, divertidos, um schopen Hauer* estupidamente gelado. O boteco situa-se numa praça em forma de círculo, que encanta sobremaneira um deles, cidadão caRIOca, que pela primeira vez degusta umas Trip’s à moda do Porto. Continuar a ler “UMA ROTUNDA BOA VISTA… por Danyel Guerra”

QUE CRISTIANISMO É ESSE?- por Luiz Henrique Santana

Recentemente alguns pensamentos têm tomado conta da minha mente, tais como: de que maneira eu posso parar de me cobrar tanto, de que forma a sociedade chegou a esse ponto e que evangelho institucionalizado é esse? Confesso que este último tem me preocupado bastante! A institucionalização do cristianismo é um fato histórico que se inicia em Roma com a oficialização da doutrina cristã como a religião do Império romano pelo imperador Constantino. Penso que foi nesse ponto que os ideais do rabi Jesus Cristo começaram a se engessar, enrijecer e burocratizar. Continuar a ler “QUE CRISTIANISMO É ESSE?- por Luiz Henrique Santana”

PEGADAS IMPRESSAS NO JARDIM DA LITERATURA – por Marcos Fernando Kirst

Em memória de Marilene Caon Pieruccini

“Escuto o barulho do mar/ Marulho de cantiga/ Antiga mais que o ar/ Magia que nina a lua/ Na rua vazia de você/ Pensamentos desertos/ Abertos com a sombra/ Que assombra o lugar/ Perdidos na dor da escolha/ Havida no meio de mim/ Nunca há paz neste jardim”

(Solo de Clarineta).

A alma em constante ebulição criativa e reflexiva da escritora gaúcha Marilene Caon Pieruccini encontrou a paz no jardim da existência no dia 14 de novembro de 2019, quando seu corpo enfim cedeu, após anos de batalha pela saúde. O jardim, no qual dizia poeticamente jamais encontrar paz, como no poema de sua autoria acima, era o refúgio mental da literatura, da cultura e das artes, universo que habitava e transformava com sua produção criativa e onde desempenhava de forma plena sua atuação cidadã. Marilene tinha convicção de que a arte e a cultura são ferramentas vitais para a transformação dos seres humanos em cidadãos plenos, construtivos, positivos e criativos. Pautou toda a sua atividade literária, profissional e pessoal a partir dessa ótica e, assim, não só deixou sua marca (insubstituível e saudosa), como formatou, ao natural, uma pequena (mas significativa e ativa) legião de acólitos, que seguem fazendo a diferença em Caxias do Sul e região, para seu orgulho e satisfação, onde quer que agora esteja. Continuar a ler “PEGADAS IMPRESSAS NO JARDIM DA LITERATURA – por Marcos Fernando Kirst”

“LOS OJOS DE UM EXILIO” de Moisés Cárdenas

Muy pronto, estará en las librerías de España la novela testimonial, Los ojos de un exilio.

El libro, Los ojos de un exilio, publicado por Avant Editorial, es una novela testimonial escrita por Moisés Cárdenas, venezolano, nacido en San Cristóbal, Estado Táchira el 27 de julio de 1981.

Se graduó en la Universidad de los Andes, Táchira, en licenciado y profesor en Castellano y Literatura, profesión que ejerció durante más de diez años en los niveles de secundaria. Continuar a ler ““LOS OJOS DE UM EXILIO” de Moisés Cárdenas”

COMO IRRIGAR O PRAZER DE VIVER? – Teresa Escoval

Foto de Luiz Guerra e Paz

Diria que há que ter sempre um mote presente: ser um eterno aprendiz!

Isso consegue-se com humildade, sem deixar que o orgulho se aposse de si, mantendo constantemente o poder de criar e inventar. Conseguindo tornar cada dia num mundo de oportunidades e cada momento numa nova página da sua existência. Continuar a ler “COMO IRRIGAR O PRAZER DE VIVER? – Teresa Escoval”

MARILENE CAON, A CAÇA-TALENTOS, por Uili Bergammín Oz

Caxias do Sul tem fama de ser gelada, e seus habitantes de serem distantes e desconfiados. Na maioria dos casos essa pecha se justifica, mas vez por outra alguém (muitas vezes vindo de fora) quebra essa regra, tornando-se a exceção que só a justifica ainda mais. Este é o caso de Marilene Caon Pieruccini, caxiense por adoção, assim como eu. Poeta de mão cheia, prosadora em vários gêneros, vencedora de inúmeros prêmios literários, ex-presidente da ACL (Academia Caxiense de Letras) e agitadora cultural da Serra Gaúcha, Marilene também se destacava como olheira, caçadora de novos talentos e incentivadora de escritores neófitos. Foi exatamente o que aconteceu comigo. Quando cheguei à cidade, com altas pretensões literárias, ela foi a primeira autora de renome a olhar para meus textos e me chamar para a sua casa, dando-me dicas valíosíssimas. Uma delas, que jamais esqueci, é: “Não usar as palavras certas leva-nos a não ser compreendidos. Mas usá-las não é nenhuma garantia de sê-lo.” Internalizei isso e vi depois que ela própria foi incompreendida muitas vezes, por suas posturas firmes, por sua ousadia a frente da época. E olha que eu havia contatado outros escritores bem menos talentosos antes dela, sempre encastelados em suas torres de marfim inacessíveis. Pobrezinhos, todos eles desapareceram na poeira do tempo, sufocados pelo pó e teias de sua própria vaidade e egoísmo. Foi bem diferente com a Marilene. Continuar a ler “MARILENE CAON, A CAÇA-TALENTOS, por Uili Bergammín Oz”