O português Cruzeiro Seixas (1920) criou uma obra que transita com mágica afinidade entre a poesia e a plástica. Identificado desde a juventude com os postulados do Surrealismo, em 1949 participa da Primeira Exposição dos Surrealistas, em Lisboa, grupo recém-formado e que integra juntamente com António Maria Lisboa, Mário Cesariny, Mário-Henrique Leiria, dentre outros. Logo em seguida se muda para Angola, onde reside por 13 anos. Ali escreve a quase totalidade de seus poemas e realiza exposições individuais, de desenhos, objetos e colagens. Continuar a ler “CRUZEIRO SEIXAS – PORTUGAL – (1920)”
MARIANNE VAN HIRTUM – BÉLGICA – (1925-1988)
A belga Marianne Van Hirtum (1925-1988) foi poeta e artista plástica, tendo vivido entre Bruxelas e Paris. Assim como a ucraniana Maya Deren (1917-1961), ela também foi filha de um psiquiatra. De natureza inquieta, cultivou um leque bastante amplo de opções criativas no desenho, na pintura, na escultura, no guache e até mesmo na feitura de marionetes. Continuar a ler “MARIANNE VAN HIRTUM – BÉLGICA – (1925-1988)”
LUDWIG ZELLER – CHILE – (1927)
Nascido em pleno deserto do Atacama, o chileno Ludwig Zeller (1927) atravessa o continente com extraordinário vigor existencial a deixar traços fundamentais por onde passa. Ainda no Chile, funda a Casa de la Luna, lugar de encontro e produção artística; no Canadá cria a Oasis Publications, destacada casa editorial com seu expressivo catálogo surrealista; no México, onde reside atualmente, dirigiu a revista Vaso Comunicante. Em toda essa relevante trajetória contou com a cumplicidade perene de Susana Wald, artista, ensaísta e tradutora, com quem vive desde 1966. Continuar a ler “LUDWIG ZELLER – CHILE – (1927)”
ISABEL MEYRELLES – PORTUGAL – (1929)
Logo na adolescência Isabel Meyrelles (1929) conhece em Lisboa os poetas Mário Cesariny (1923-2006) e Cruzeiro Seixas (1920), e presencia a formação de dois momentos cruciais do Surrealismo em Portugal, primeiramente o Grupo Surrealista Português, logo desfeito substituído por outro grupo, os Surrealistas. O ambiente político em Portugal acabou levando Isabel a se mudar para Paris, onde até hoje reside. Continuar a ler “ISABEL MEYRELLES – PORTUGAL – (1929)”
ZUCA SARDAN – BRASIL – (1933)
Poética e plástica, no brasileiro Zuca Sardan (1933), são como as duas asas que garantem o voo e seus inesgotáveis truques no espaço. Este invejável enfant terrible propicia ao leitor altíssima voltagem de sátira bem ao gosto do Colégio de Patafísica de Alfred Jarry. Continuar a ler “ZUCA SARDAN – BRASIL – (1933)”
JORGE CAMACHO – CUBA – (1934-2011)
O encontro de Jorge Camacho (1934-2011) com André Breton (1896-1966) foi decisivo em duplo sentido, o de abertura do cubano para o riquíssimo ambiente surrealista e para o francês a descoberta de um artista total – poeta, pintor, gravador, designer, fotógrafo –, marcado por um espírito apaixonado e íntegro. O próprio Camacho confessa que o encontro, que se deu em 1959, graças ao amigo comum e escultor cubano Agustín Cárdenas, representou o início de uma nova vida artística e intelectual. Continuar a ler “JORGE CAMACHO – CUBA – (1934-2011)”
ARNOST BUDIK – REPÚBLICA CHECA – (1936)
O Surrealismo chega à Tchecoslováquia em 1930, quando o poeta Vitezlav Nezval (1900-1958) funda um grupo surrealista em Praga. Na medida em que começam a ecoar as ações do grupo, viajam a Praga André Breton e Paul Éluard, em 1934, ocasião em que Breton profere conferência sobre a situação surrealista do objeto. Continuar a ler “ARNOST BUDIK – REPÚBLICA CHECA – (1936)”
LEILA FERRAZ – BRASIL – (1944)
A imagem que nos aterra a existência, que se torna um testamento usual, um versículo sempre na ponta da língua, cobra hoje uma tarifa existencial que nos limita a própria reflexão sobre o que somos ou deixamos de ser. Somos viciados em uma demanda reiterativa. Algo nos impede de experimentar um mundo outro sob ou sobre a capa de uma realidade averbada pela crença na imutabilidade da vida. Ora, mas a vida é tudo menos imutável. Mesmo no plano sagaz das religiões a vida é o preço, a súplica, a tormenta, o vislumbre, o apogeu, a dádiva, e não é possível pensar em nenhum desses atributos como um álibi inquestionável que não permite à espécie humana mudar sequer de postura na cadeira em que presta depoimento sobre sua existência. A fotografia é uma das mais complexas faturas da criação artística, a começar pela resistência da arte entendê-la como sua cúmplice. A beleza é outro aspecto frequentemente confrontado pela incredulidade em que o gesto humano seja tudo menos apenas uma reação brutal à diferença. A brasileira Leila Ferraz (1944) é poeta, ensaísta, fotógrafa, desenhista. Continuar a ler “LEILA FERRAZ – BRASIL – (1944)”
NICOLAU SAIÃO – PORTUGAL – (1946)
O português Nicolau Saião (1946) é poeta e artista plástico, com atividades ligadas ao Surrealismo desde o princípio, quando participou de várias mostras internacionais de arte postal. Em 1984, juntamente com Mário Cesariny (1923-2006) e Fernando Cabral Martins (1950), organizou a exposição O Fantástico e o Maravilhoso. Estudioso e tradutor da obra de H. P. Lovecraft, em 2002 organizou a primeira edição integral em todo o mundo de Fungi From Yuggoth (1943), tendo também a ilustrado. Continuar a ler “NICOLAU SAIÃO – PORTUGAL – (1946)”
JOHN WELSON – GALES – (1953)
O galês John Welson (1953) é um desses personagens admiráveis por sua incondicional obsessão pela criação. Desde a infância que se dedica à pintura, ao desenho, à cerâmica e logo dando início também à escritura poética. Resultado dessa voracidade criativa é que tem em sua agenda um registro de mais de 300 participações em exposições em vários países. Nas últimas décadas produziu um abstracionismo lírico cuja ótica central é a paisagem de sua terra natal, o País de Gales. Continuar a ler “JOHN WELSON – GALES – (1953)”
ENRIQUE SANTIAGO – CHILE – (1961)
O Surrealismo encontra no Chile um de seus vasos internacionais mais pulsantes e renovadores, de que são exemplos desde a vitalidade esplêndida de Rosamel del Valle (1901-1965), passando pelo grande marco em torno do grupo Mandrágora, em especial com a grandeza estética e o caráter de Enrique Gómez-Correa (1915-1995), as atividades concentradas ao redor do imenso articulador que é Ludwig Zeller (1927), a formação do grupo Derrame, até a destacada presença de Enrique de Santiago (1961). Poeta, artista plástico, ensaísta e agitador cultural. Autor de livros como Frágiles tránsitos bajo las espirales (2012), Elegía a las magas (2014) e Bitácora de un viaje ontológico (2018). Continuar a ler “ENRIQUE SANTIAGO – CHILE – (1961)”
Leia também a Edição nº 5, de Agosto de 2018
FRIDA KAHLO: EL DISCURSO DEL CUERPO – por Mariella Nigro
Se ha dicho de varias formas que todo arte es erótico. Reconociendo que el de Frida Kahlo habría de ceder a tal generalización, no podría simplemente adscribirse su obra a un arte erótico. Ella traspone a la pintura una experiencia corporal, la carnalidad, más que la sexualidad, zona instrumental de las sensaciones: el cuerpo como espacio de desarrollo de las emociones.
Continuar a ler “FRIDA KAHLO: EL DISCURSO DEL CUERPO – por Mariella Nigro”
O MAIOR POETA VIVO – por A. Dasilva O.
Deambulo no quotidiano
Como um cadáver no seu túmulo
Leio poemas impossíveis
Como um analfabeto
O jornal diário Continuar a ler “O MAIOR POETA VIVO – por A. Dasilva O.”
SINOPSE DE UM APEADEIRO ANUNCIADO – por Ana Matos
No limite da angústia, naquele umbral onde basta um sopro para o desequilíbrio e a queda no abismo da demência, encostei-me à cadeira vazia, que rangeu pelo súbito arrasto, na esplanada de um qualquer café. Os óculos escuros carbonizavam as parcas nuvens e resguardavam-me do dia, do mundo, da vida…Trazia ainda impregnada no céu-da-boca a ausência das tuas palavras – um lastro de saudade e desistência. Continuar a ler “SINOPSE DE UM APEADEIRO ANUNCIADO – por Ana Matos”
_IMPONDERÁVEL_ por Anna Merij
o vento arrasta os lixos noturnos
leva nas suas asas um poema sujo de sangue e fel
dele escorrem as vergonhas do mundo Continuar a ler “_IMPONDERÁVEL_ por Anna Merij”
DOIS TEXTOS DE Bernardino Guimarães
Cidade
Primeiro a neblina. A ponte nem se vê, a gente desaparece. Escadas de pedra, memórias de alguém, vida que se move sem ao menos um eixo. Somem-se antes do mar. Vasos, esquinas, desvãos, desvarios, coisas surdas. Farto de paisagens, tudo belo ao longe, como sem rugas, o fio do horizonte prendendo o tornozelo. Continuar a ler “DOIS TEXTOS DE Bernardino Guimarães”
POEMAS de Caroline Schmidt
[ ]
agora que são 5 e meia da manhã
ouvi o bem-te-vi ou seja lá que pássaro cantar
vi o Sol surgir puxado num nó pela Lua
os mendigos pararam de brigar e gritar Continuar a ler “POEMAS de Caroline Schmidt”
MULHERES NAS RUAS DO PORTO VI – por César Santos silva
Amália Luazes (Rua de)
Consagrada desde 1973 Freguesia do Bonfim
Uma pedagoga consagrada na toponímia portuense. Amália Luazes dos Santos Monteiro nasceu no Porto em 1865 e conclui o Magistério na Escola Normal em 1886. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO VI – por César Santos silva”
AGORA, MORTA É INÊS – por Danyel Guerra
“Toldam-se os ares,/Murcham-se as flores;/
Morrei, Amores,/Que Inês morreu”
Manuel Maria du Bocage
Na plataforma rochosa de uma praia, algures no Universo, um fotógrafo clicka closes da agreste, severa paisagem. De súbito, a objetiva da câmera se vê velada por uma mão lutuosa, sinistra, nem tanto por ser a esquerda. Atrevida e inoportuna, a ponto de malograr o clichê. O visado não demora um átimo a adivinhar quem ousou a desfaçatez. Um ser fantasmático, fumos soturnos na expressão facial, se configura à sua frente. Continuar a ler “AGORA, MORTA É INÊS – por Danyel Guerra”
CINCO POEMAS DE David Cortés Cabán
LA DISTANCIA
Contra la indiferencia
subo a la colina
más brillante Continuar a ler “CINCO POEMAS DE David Cortés Cabán”
EDUARDO MOSCHES – por Elena Poniatowska
Romper el dominio absoluto de la CDMX como cacique cultural: Eduardo Mosches
Nadie promovió tanto la bondadde las revistas literarias en nuestro país como Octavio Paz y en los años 50 todos soñamos con ser publicados en la Revista Mexicana de Literatura, que dirigían Carlos Fuentes y Emmanuel Carballo, y años más tarde, en Vuelta, de Octavio Paz. Hoy por hoy, al lado de las dos grandes revistas Nexos y Letras Libres, se mantiene a lo largo de los años una pequeña y heroica revista literaria: Blanco Móvil, fundada y dirigida por el poeta Eduardo Mosches, a quien le pregunto si su revista tiene relación con las dos hermanas mayores, arriba mencionadas, y responde: “Yo diría que somos de planetas diferentes. Tanto Vuelta como Plural tuvieron en su momento una actitud crítica al sistema que han perdido a pesar de leves atisbos opositores. Continuar a ler “EDUARDO MOSCHES – por Elena Poniatowska”
EM VOLTA DO “NU ABRIR EM NÓ”, de Pedro Ludgero- por Fernando Martinho Guimarães
Da bibliografia de Pedro Ludgero, nú abrir em nó é o sexto título e, segundo nos informa o autor, trata-se de uma recolha de textos escritos entre 2002 e 2009. É, também, o segundo livro publicado em edição de autor. O primeiro, dar o dizer por Não dizer, saiu em 2017, com textos escritos entre 2005 e 2012. Editado pela Incomunidade, em 2010 veio a lume sonetos para-infantis. Continuar a ler “EM VOLTA DO “NU ABRIR EM NÓ”, de Pedro Ludgero- por Fernando Martinho Guimarães”
COPA & FLERTE COM O SURREALISMO – por Floriano Martins e Zuca Sardan
Anos depois de haverem participado da última viagem do Trem Carthago, Olegário Trombeta e Anarquista Raspok se encontraram na Padaria Progresso para uma aguinha Xambuquira, gelo e raspa de tangerina. Ao fundo a TV Pegada Atômica transmite o jogo Brasil x Bélgica: Continuar a ler “COPA & FLERTE COM O SURREALISMO – por Floriano Martins e Zuca Sardan”
A VELHA DA RUA AMARGÓS- por Giselda Leirner
Como um rato. Pequena, cinzenta, aconchegada numa banqueta ao fundo de sua loja. Se assim pode se chamar uma porta na parede cujo interior escuro, coberto de livros, manuscritos, mapas, exala ao mesmo tempo um cheiro de poeira e umidade. Um hálito podre vem da boca da velha. Tudo se mistura à sombra suja e amarelada. Uma lâmpada pendurada de modo precário ilumina vagamente a única mesa que ocupa quase todo o espaço. No chão, pilhas de papéis. No fundo, um buraco cavado na parede onde se presume fique o WC-cozinha. Continuar a ler “A VELHA DA RUA AMARGÓS- por Giselda Leirner”
UM HOMEM SÓ PELE – por Jaime Vaz Brasil
Não posso pegar vento, por isso quase não saio mais de casa. Até saio, mas é direto para o trabalho. Depois, de volta e depressa.
Quando eu era pequeno, me lembro um pouco disso de não tomar vento. Mas a situação era outra. Quando conheci Alice, conheci a paixão e suas maravilhas. Os abraços de Alice, os beijos de Alice, os braços que eram dois eram quatro eram oito braços, aquele carinho e aquele modo de me levar ao céu que só ela sabia. Assim que juntei uns dinheiros, casamos. E Alice cada vez mais aquilo tudo, os beijos, o modo com que me cavalgava inclinada sobre meu corpo, agarrando com força meus braços, os gritos e gemidos que não imaginei encontrar em mulher esposa. Quando nasceu nosso filho, Alice ficou diferente. O olho dela ficou de mirada única. Continuar a ler “UM HOMEM SÓ PELE – por Jaime Vaz Brasil”
CARLOS ARAÚJO: A ARTE E A SACRALIDADE NA ARTE – por Jacob klintowitz
O deserto estava nele e ele estava no deserto.
Houve um momento em que o jovem pintor Carlos Araujo se deparou com o deserto, com a ausência de todas as referências e signos interiores. E este seu deserto era despido de significação e todas as coisas, inclusive a sua movimentação pessoal no circuito artístico, pareciam tolas e vaidosas. Continuar a ler “CARLOS ARAÚJO: A ARTE E A SACRALIDADE NA ARTE – por Jacob klintowitz”
ANGOLA, NO INÍCIO DOS ANOS SETENTA – Jonuel Gonçalves
NOTAS SOBRE UNDERGROUND ANGOLANO NOS ANOS PRÉ INDEPENDÊNCIA
Nos últimos anos, surgiram alguns livros e artigos centrados na preocupação de estabelecer a verdade histórica sobre diversos acontecimentos angolanos, tanto dos anos de guerra pela independência como dos primeiros anos pós coloniais e também focar detalhes importantes até aqui escondidos de forma deliberada ou não. Este pequeno texto procura inserir-se neste esforço e, ao usarmos a observação participante, procuramos apresentar fontes primárias importantes para os historiadores, diversificando-as e evitando os riscos de trabalhar com fonte única. Deve ser entendido como depoimento relativo a um factor menos mencionado em relação ao período imediatamente pré-independência e não como abordagem geral desse mesmo período. Continuar a ler “ANGOLA, NO INÍCIO DOS ANOS SETENTA – Jonuel Gonçalves”