Depois da morte do marido, o amor, resumia-se agora à inevitabilidade da memória de um passado que tinha valido a pena, a espraiar-se pelos filhos nascidos na Bélgica e as saudades que tinha daquele céu de chumbo, que convidava à leitura e reflexão no escritório aquecido, onde passavam largo tempo a olhar pela janela alta, em forma de ogiva com vitrais no canto, o relvado verde húmido onde alguns mais afoitos jogavam à bola de galochas. Continuar a ler “FOTOGRAFIA – por Luís Bento”
POEMAS DE MADALENA MEDEIROS
TUDO OU NADA! AOS “CARVALHOS”…
Pró ” Carvalho” vai tudo!
Tudo!Tudo, ou nada!
Há tamanhos e formas,
curtos, compridos e espessos!…
Pró “Carvalho, não vai nada?
Nada! Que bem lhe fica a gravata!
Por onde passa tudo esgravata,
e dos tombos cai na mocada…
Há quem diga!
Pernas são canelas,
merda pra quem olha pra elas…
Por outro! Há quem diga!
Carvalhos, são caralhos,
merda pra quem tem alhos! Continuar a ler “POEMAS DE MADALENA MEDEIROS”
POEMAS DE MICHELIN DOS ROUSSES – por Ricardo Echávarri

PAYASOS TRABAJANDO
Filoso retoca el marfilino brillo de la luna
Es noche y se oye el frufrú lejano
Sombrita, con su serrucho, delinea la silueta del mar
Eso de hacer olas es un buen ejercicio
Tilichito viste de frac un elefante
Pide a su utilero:
“¿podría traerme por favor un espejo más grande?” Continuar a ler “POEMAS DE MICHELIN DOS ROUSSES – por Ricardo Echávarri”
O CASTELO DE SAN GIGLIO – por Rosa Sampaio Torres
As origens da dinastia franco-borgonhesa “wido” (guido) nas proximidades de Colônia
O Castelo de San Giglio a Quinze milhas de Colônia
Rosa Maria Gusmão de Sampaio Torres
Marcelo Bezerra Cavalcanti
Depois de vários trabalhos realizados que confirmam as informações registradas por historiador e cronista da família, Giovanni di Nicolo Cavalcanti do sec.XV, mais uma vez citamos suas palavras tendo em vista ainda confirmá-lo. Afirma Giovanni di Nicolo: Continuar a ler “O CASTELO DE SAN GIGLIO – por Rosa Sampaio Torres”
FÉ, ESPERANÇA E AMOR – OS ESSENCIAIS NA VIDA E NA MISSÃO! – por Teresa Escoval
“A fé sobe pelas escadas que o amor construiu e olha pelas janelas que a esperança abriu”
(Charles Spurgeon)
Acredito que a fé é o essencial da espiritualidade. Também que só a conseguimos manter se a fé for sadia. O que quero dizer quando utilizo o termo “sadia”, é que é necessário termos um posicionamento claro na vida, acreditarmos profundamente que algo melhor estar por vir e manter a esperança que chega porque merecemos.
Logo, considero que a esperança é necessária no campo da afectividade. Ela permite que continuemos positivos e alimentados no “aqui e agora”, e, sobretudo, impede que as experiências momentâneas menos positivas nos tirem os valores e convicções correctas e assertivas.
A esperança é a fonte de saúde mental. Deixa o coração aberto e doce. Permite que se instale uma medida adicional de força para recuperar de qualquer tipo de perdas e adoptar uma atitude positiva perante o futuro.
Então, dá para perceber que a esperança é uma qualidade intimamente relacionada com a fé. Ter fé é saber esperar e confiar. É atravessar tribulações com um sorriso no rosto; é nunca desistir mesmo quando tudo parece impossível. A fé nos levanta quando caímos, nos empurra quando paramos, e nos eleva acima das nossas capacidades quando julgamos não conseguir mais. Permite-nos recomeçar sempre.
Também que quem caminha com fé e esperança, tem um coração alimentado por muito amor. Um amor que vem da essência da própria pessoa e que é necessário para a sociabilidade.
O amor é perseverança, paciência, confiança, tolerância e fé. O amor é o maior alento para reinventar o tempo, recriar novos dias com esperanças renovadas. Não basta reivindicar “eu mereço ser feliz”, há que merecer isso, sem egocentrismo.
É necessário aprendermos que tudo que a vida nos apresenta tem um lado positivo. Entender que todos os desafios têm o objectivo de nos fazer evoluir, retira o peso e a dificuldade.
É importante acreditarmos no nosso potencial para que vejamos com bons olhos o que se passa ao nosso redor e na nossa vida. Há possibilidades de reconstruirmos uma história diferente, se conseguirmos ter uma visão alargada e justa. Também quando há vontade própria para encetar a mudança necessária.
Efectivamente, a fé não brota do nada, é necessário também que haja implicação e vontade na mudança que se quer efectuar.
Quando se consegue alcançar a fé da alma, adquire-se um amor gigante no coração e um brilho no olhar, que transforma qualquer coisa e/ou situação, permitindo ver a possibilidade de grandes melhorias a alcançar.
Mas, é necessário manter a fé a esperança e o amor. Tratar deles como se de plantas se tratassem. É preciso regar, proteger, alimentar.
Gestos simples como o acto de abraçar, significa um encontro entre duas almas. É o momento em que os sentimentos se acentuam, o coração se acalma e o corpo encontra abrigo em outro alguém.
Tratarmos as pessoas com gentileza é emanar amor e recebê-lo de volta. Sermos cuidadosos e amáveis, permite-nos começar uma reacção com o outro de maneira mais humana e delicada.
Que tal pensarmos na forma como construímos as nossas relações?
Confesso que as que prefiro e quero na minha vida, são as construídas no amor mais puro, aquele amor real, simples e doce. Aquele sentimento que nasce da sinceridade, da proximidade, da simplicidade e reciprocidade.
Olhemos, pois, para as pessoas como gostaríamos que elas olhassem para nós. Amá-las como gostaríamos que nos amassem a nós mesmos.
A este propósito, deixo aqui um lindo poema de William Shakespeare:
“Amor quando é amor não definha
E até o final das eras há de aumentar.
Mas se o que eu digo for erro
E o meu engano for provado
Então eu nunca terei escrito
Ou nunca ninguém terá amado.”
♦♦♦
Teresa Escoval é Pós-Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Licenciada em Sociologia, Bacharel em Gestão de Empresas. Desempenhou vários lugares de chefia na área Financeira e Gestão de Recursos Humanos. Desde 1994 que gere e desenvolve um negócio próprio na área do emprego,diagnóstico/desenvolvimento organizacional e formação.
Mantém colaboração regular, desde 2007, com várias revistas, onde são publicados artigos sobre diversas temáticas, que é autora.
Jannowitzbrücke – por Viviane Santana Paulo
começo com este nada de hoje vibrando mediocridade
latente e late
pulsando o sangue gelado e cinza das coisas cansativas
que me cingem quase dípteros reverberantes
as folhas das árvores nas calçadas estão manchadas de fungo
passo indiferente como sempre faço
a indiferença é uma estratégia escudo e arma
às vezes asfixia pode-se matar ou morrer de indiferença
ela furta a vida e também a usamos para sobreviver
enquanto vou descobrindo Continuar a ler “Jannowitzbrücke – por Viviane Santana Paulo”
VEJA A EDIÇÃO Nº 13 DE AGOSTO /2020
EDITORIAL por Hilton Fortuna Daniel
Em 1918, terminada a I Guerra Mundial, iniciava-se a Gripe Espanhola.
Esse ciclo pandémico, tendo matado milhões de pessoas, terminava em 1920. Em cada fim de história, há sempre um início de história. Nesse ano, para a música e para a literatura, nasciam Amália Rodrigues e Clarice Lispector. A primeira solfejava poemas dentro de notas bem pautadas. A segunda, com a portentosa pena por que é hoje conhecida, empreendia A Descoberta do Mundo, título de uma das suas obras-primas. Continuar a ler “EDITORIAL por Hilton Fortuna Daniel”
DOIS POEMAS DE Alda Costa Fontes
O meu pátio
desde pequena entendo as escadas como os sofás da casa de gente solitária
normalmente daqueles que não tiveram coragem ou tempo para fugir de rotinas agrestes Continuar a ler “DOIS POEMAS DE Alda Costa Fontes”
TEXTOS DE “MATÉRIA DESNUDA”, de Carlos Barbarito

Finalmente tengo más de un rostro.
Georges Bataille, Sobre Nietszche. Voluntad de suerte, V.
África I
No hay viento, ni rumor de agua, y está oscuro. Quien se extraviara allí jamás saldría o saldría desnudo y loco. Es una selva silenciosa, pero no una selva de plantas y frutos, de enormes y pequeños animales. No, nada de eso. Allí, en perfecta metamorfosis con la oscuridad y el silencio, habitan erráticas sombras, inmóviles furores, una angustia sin medida ni centro, un espasmo que arde con llama fría. Nunca estuve en ese lugar, pero con frecuencia lo veo en sueños. Continuar a ler “TEXTOS DE “MATÉRIA DESNUDA”, de Carlos Barbarito”
MULHERES NAS RUAS DO PORTO -XIII – por César Santos Silva
Berta Alves de Sousa(Rua de)
Início: Beneditina (Rua da)
Fim: Cul‑de‑Sac
Designação desde 2000
Freguesia de Foz do Douro

Cândida Berta Alves de Sousa nasceu na Bélgica (Limoges), em 1906. Veio viver para a cidade do Porto e aqui vai desenvolver toda a sua vida ligada à música e à pedagogia. Aluna no Conservatório de Música do Porto, recolheu os ensinamentos de professores como Cláudio Carneiro, Moreira de Sá, Moreira de Sá e Luís Costa genro de Moreira de Sá e pai de Helena Sá Costa e Madalena Sá Costa. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO -XIII – por César Santos Silva”
ALGUNS LIVROS E O FUTURO DO FILÓSOFO- por Cecília Barreira

Brendon Burchard nasceu 1977 nos EUA e é considerado o coacher mais famoso do mundo ocidental, tendo em 2017 publicado o premiado livro Os Seis Hábitos de Alta Performance (Lua de Papel, 2019). Continuar a ler “ALGUNS LIVROS E O FUTURO DO FILÓSOFO- por Cecília Barreira”
NIÑOS DE LA TORMENTA E OUTROS POEMAS – por Cláudia Vila Molina

Niños de la tormenta
Cuando en la noche me visto con pedazos de piel
La luz me invoca y atraviesa corredores de casas
Ando desnuda por los bordes del cuchillo cuando sorpresivamente
Soy un cuadro reflejado en este espejo y los surcos desde los que te arranco Continuar a ler “NIÑOS DE LA TORMENTA E OUTROS POEMAS – por Cláudia Vila Molina”
AO ESTILO JULIÁN MURGUÍA – por Claudio B. Carlos

Havia uns negrinhos, que barrigudos e descalços, na frente das casas toscas, chupavam o ranho que escorria do nariz. Um deles, com cara de sem-vergonha, sempre piscava o olho pra mim quando passávamos a cavalo. Os guaipecas magricelas saíam de atrás de nós importunando as montarias, que assoleadas, espumavam nos beiços, mascando o freio e coleando as moscas. Continuar a ler “AO ESTILO JULIÁN MURGUÍA – por Claudio B. Carlos”
TEXTOSTERONA – PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS- por Danyel Guerra
MULHERES VS HOMENS
“Na vida eu fui vítima de dois graves acidentes. O primeiro foi o choque de um tranvia com o autobus em que eu viajava. O outro foi o Diego….”
Frida Kahlo
Qual dos dois acidentes foi pior, querida Magdalena Carmen? Não precisa responder. Nós já estamos adivinhando.
o-o-o-o-o
“De la femme vient la lumière”
Louis Aragon
Merci beaucouo, Aragon. Finalmente, fico elucidado do motivo porque a conta, a fatura da luz é sempre tão elevada. Continuar a ler “TEXTOSTERONA – PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS- por Danyel Guerra”
ANATOMÍA DAS ESQUECIDAS – Eva Méndez Doroxo

Falas de min dende o silencio,
agochada no murmurar do tempo.
♣♣♣
A PRIMEIRA VEZ
Engadín a intención toda de liberdade nesta túa anatomía.
Cada perna, pé e man para moverte na firmeza do corpo,
a lingua para lamber as verbas e berralas ao ar,
os dentes, como feroces defensores do teu.
Arrolo a esperanza no meu interior,
soño con días de risos nos que o teu cabelo enrede coa chuvia
e podas enlamarte sen perder a identidade. Continuar a ler “ANATOMÍA DAS ESQUECIDAS – Eva Méndez Doroxo”
O LIVRO E A LEITURA – por Fernando Martinho Guimarães
Certas actividades são muito arriscadas. Dizer isto lembra imediatamente os desportos radicais: skate, parapente, participar ou simplesmente assistir a um programa da casa dos segredos, salto em queda livre, ver os tempos de antena dos partidos políticos em campanha eleitoral, etc. Continuar a ler “O LIVRO E A LEITURA – por Fernando Martinho Guimarães”
A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (1ª PARTE) – por Francisco Traverso Fuchs

- O bárbaro como barbarófono
Com um didatismo pouco comum em obras do gênero, o dicionário Le Grand Robert de la langue française (2001) adverte seus leitores de que um dos sentidos da palavra “bárbaro” (homem “incapaz de apreciar as belezas da arte”, grosseiro, bruto, ignorante) “envelheceu por causa da evolução dos juízos referentes a sociedades e culturas diferentes”. Mas se atentarmos às rubricas utilizadas nas diversas acepções do verbete barbare (“envelhecido”, “histórico”, “arcaísmo”), veremos que as marcas de caducidade estão presentes em praticamente todos os sentidos do vocábulo. Continuar a ler “A CULTURA COMO PRODUÇÃO DE SI E DO OUTRO (1ª PARTE) – por Francisco Traverso Fuchs”
DA SÉRIE “SEREIAS E CABELEIRAS” – de Fernando Naxcimento



Continuar a ler “DA SÉRIE “SEREIAS E CABELEIRAS” – de Fernando Naxcimento”
TEXTOS POÉTICOS DE FINEZA PINTO

O diálogo
Seus corpos dialogavam num diálogo incomum, que não se lê e não se entende, apenas se sente. Numa linguagem ausente de sinais e de palavras, onde as reticências traziam à baila o ponto do amor, que não era o final. Os seus corpos ora exclamavam ora interrogavam. Numa tentativa de antever o ritmo do amor, faziam dois pontos anunciando os passos que o momento sugeria e deixavam-se mover a passos dançantes, que só o amor sabia dar. A dança não era nem salsa nem valsa, era uma dança desprovida de movimentos próprios, cujos contornos só os pés que amam eram capazes de desenhar. Continuar a ler “TEXTOS POÉTICOS DE FINEZA PINTO”
DEMOCRACIAS AFRICANAS – Germano Rangel Chio Correia
Bases das democracias africanas em análise: o caso angolano em perspectiva comparada
- Introdução
Ao longo dos tempos, o termo “democracia” tem acarretado diversos pendores, conceitos e interpretações conforme a geografia e o contexto, no entanto, falaremos sobre as bases de uma democracia típica africana diferente da ocidental, entendida, esta última, como sendo uma democracia plena, republicana, nacional e que observa o primado pelas autarquias e referendos. Contudo, por serem diferentes entre os países africanos, registam avanços e recuos na comparação com o modelo europeu e tradicional africano, respectivamente. Continuar a ler “DEMOCRACIAS AFRICANAS – Germano Rangel Chio Correia”
PANDEMONIAS – por leda Estergilda Abreu
Aproveitando o silêncio possível, sentindo a ausência, sentindo falta, que tempos. Aeroportos vazios, ares, estradas
casas que não recebem, bocas mascaradas.
Queria voar. Poeira, persianas, vassoura de palha, voos razantes pela casa, cabelos de palha e vento, vassoura no canto da sala calada
varrida. Continuar a ler “PANDEMONIAS – por leda Estergilda Abreu”
O CICLO MÍTICO DE ÉDIPO – por Jaime Vaz Brasil
“Aceitar a idéia do Complexo de Édipo sem compreender o mito e a peça de onde Freud tirou seu nome é uma forma de aceitar a psicanálise sem tentar alcançar o seu mais profundo significado[1][1]”.
Bruno Bettelheim
I. De Tântalo até Laio
A história do ciclo mítico de Édipo marca seu início com Tântalo[2][2], filho de Júpiter e da ninfa Plota, e considerado um amigo dos deuses. Conta a mitologia que, para testar-lhes a ubiqüidade, matou o próprio filho (Pélope[3][3]) e serviu-o em um banquete, com grandes requintes, onde os deuses foram os convidados especiais[4][4]. A intenção, desta forma, seria ver se realmente os deuses possuíam clarividência plena, sabiam de tudo e estavam em todos os lugares ao mesmo tempo. O preço deste “teste” é bastante alto: o assassinato do próprio filho e a possibilidade de ser descoberto e punido. Continuar a ler “O CICLO MÍTICO DE ÉDIPO – por Jaime Vaz Brasil”
UM ISOLAMENTO SOCIAL FILOSÓFICO – por Luiz Henrique Santana
O que é filosofia?
Eu, minha consciência, meu eu lírico, meu alter ego, meu ser, corresponde a um tempo, a atualidade da minha existência. Nesse momento, o mundo se encontra em um estado antifilosófico, anti-pensamento, anti-intelectualismo. O pensamento de caráter (indagativo) e questionador-reflexivo referente às estruturas nas quais a sociedade se sustenta é quase nulo, em pouco as pessoas são instigadas em construir um pensamento crítico, consistente e relevante sobre o sistema político-social-econômico-histórico-cultural e étnico vigente. Nunca a filosofia foi tão importante quanto hoje, em um tempo no qual as pessoas estão habituadas com o pensamento pronto e com os discursos rasos. Continuar a ler “UM ISOLAMENTO SOCIAL FILOSÓFICO – por Luiz Henrique Santana”
“falar é morder uma epidemia” de Luís Serguilha (recensão de Ana Oliveira)
SERGUILHA, Luís – falar é morder uma epidemia. Edição BUSÍLIS. Tropelias & Companhia – Associação Cultural, 1ª Edição – Maio de 2019, Portugal.
♣♣♣
Luís Serguilha como escritor, ensaísta e poeta, é perentório na sua postura de insubmissão, como criador de conjunturas. Desloca-se pela literatura como manobrador de potências em mudança, onde a desinquietação é uma constante, destacando-se uma pronúncia de certo modo inacessível. Como poeta, distancia-se da pessoalidade incorporando o mundo, percecionando díspares acústicas e visões em alvoroço sempre fora de si mesmo. Continuar a ler ““falar é morder uma epidemia” de Luís Serguilha (recensão de Ana Oliveira)”
POEMAS DE Rosa Sampaio Torres
Ós
Sós estamos nós
cascas de noz
a tantos nós.
♣♣♣
Requiem
Foste embora, foste embora
companheiro meu…
enciumada estou se a mim
tua esposa, preferiste a morte
como companhia
Foste embora, foste embora
companheiro meu
ficou tua lembrança
como sombra minha.
Foste embora, foste embora
companheiro meu
e nas altas horas da noite
insone ainda
a poesia.
♣♣♣
Tateando
Poeta aguça teus sentidos
olfato, vista.
Ouve com atenção
os mais estranhos sons
enquanto tateia
o Desconhecido Rosto.
♣♣♣
Para Olga Savary
Sua poesia
água
fallus
fogo
paixões.
A minha
filha sua,
mares
línguas
ondas
também
tensões.
♣♣♣
Mar
Marula o mar,
estronda a onda.
Embala, acalma
a minha alma.
♦♦♦
Rosa Maria Sampaio Torres – pesquisadora em História (PUC-Rio), é também graduada em Estudos Sociais e pós-graduada em Ciências Políticas. Aluna do filósofo brasileiro Carlos Henrique Escobar acabou por desenvolver, também, seus dotes artísticos – especialmente como poeta, autora do livro “Bendita Palavra”. Já reconhecida como ensaísta, é autora de inúmeros artigos históricos sobre a família Cavalcanti, da qual descende, e agora sobre o poeta Guido Cavalcanti.
POEMAS DE Valda Fogaça
GESTOS DE CONSCIÊNCIA
Julgas que sou par de asas
Impedidas, cortadas…
Sem bandeiras nem casas,
Fragatas ancoradas?
Sedutora, carente,
Sensual, feminina,
Paixão fogo ardente,
Eis a mulher felina!
Nos mares vejo adentrar
Saltitando nas ondas
Grande barco afundar,
A explosão estronda.
Lua, sol vestes do tempo.
Como quem troca às vestes
Num penoso lamento,
Dia, noite, astros celestes.
Despindo do sol, da lua
Envelhece o tempo,
Dia a dia, a angustia sua
É a canção do vento.
As vidas se repetem
Trocando de existências
Peitos arfam, padecem,
Gestos de consciências.
♣♣♣
ALAMEDAS TRISTONHAS
Ah essas RUAS! Outrora entupidas de gente, O ar que por elas, hoje, circula beneficia: Baratas e pombos somente… Um tal COVID espalha terror, e ninguém está a salvo, Estão todos, trancafiados em seus lares, padecentes. Lembras-te oh Alamedas risonhas… E, hoje as vejo solitárias tristonhas. Olha! Vejo uma ratazana, fugindo do horror do COVID! Ela sumiu, como toda gente. Fique aí, Contemplando seus fantasmas, enquanto Esperas por uma dose milagrosa! Eu? Ah! Fico aqui te olhando da janela…
♣♣♣
A ARTE O FIO QUE LIGA OS CINCO CONTINENTES
A POESIA é o fio de ouro que liga de um poeta
Ao outro e de um continente ao outro e esta ligação
Tem atravessado o tempo numa perspectiva de
Eternidade se não por algo parecido.
O que me agrada é esta certeza de que estamos entrelaçados
Por esse fio que é do metal mais nobre e não por um
Insignificante fio de náilon. Olho para os cinco continentes e vejo
Esperança no olhar de uns e de outros derramar-se em pranto.
E a paz na casa de uns tantos? Ah! É como meus versos
Despidos de métricas e rimas. E se não fosse a arte
Esse fio de ouro que liga de um continente ao outro?
O que disseram os Profetas e ou os Reis de outras datas
Que estenderam seu olhar aos cinco continentes?
Aos seus ouvidos chegavam clamores de uns tantos
E júbilos de uns poucos. Ainda bem que a Poesia liga
Um poeta ao outro e um continente ao outro!
Levantes oh pequeno caído e digas quem és tu!
Afaga-lhe o peito a ufania do nada e quem a ti traz a Salvação?
És tu que estás chorando oh continentes infelizes!
Mas o poeta também chora ao olhar a tua desgraça.
Vi meus avós meus pais falarem sobre:
Tempos bons virão! A paz reina nos sonhos de todos.
Acabou que não vi o tempo passar nem os cinco
Continentes viram. Entretanto as luas são incontáveis.
Aqui estou viva. E minha alegria não se descreve
Com a alegria das borboletas da minha idade.
É essa ligação entre os poetas dos cinco continentes
Que tem atravessado o tempo numa perspectiva de eternidade…
É consoladora apesar dos conflitos esta certeza de que
Estamos entrelaçados…
É porque nos versos do poeta leia-se a liberdade
A do bater de asas da borboleta recém-saída do casulo.
Nos dias atuais o que reina é o imediatismo frenético.
Raros os que a tentam-se ao mundo em sua volta
Não é de se admirar que sejam muitos os que vivem a olhar
Em direção aos próprios pés com um olhar febril
Para o deslumbre da efemeridade das imagens.
Eu como poeta que sou procuro olhar além do papel
Sobre a minha escrivaninha por essa razão ouso
Atravessar fronteiras para levar o meu pensamento
Que de certo modo é coletivo.
Quando ouso atravessar fronteiras deixo de ser apenas
Um poeta assumo o papel de uma nação que através da
Poesia leva aonde for a sua cultura certa de que serei
Recepcionada com festividade e que trarei na bagagem
Outras tantas lições culturais para agregarem à minha.
♦♦♦
Valda Fogaça é Poeta, trovadora, cordelista, cronista, romancista e compositora. Estudou Filosofia, Letras e História. Vive em Brasília/DF Brasil. É colunista do Site Internacional O Segredo e da Revista Sttato. Escreve para três portais: UOL Pensador, Recanto das letras, LinkedIn e para três bloggers. É membro da Associação Nacional de Escritores (ANE). É membro do movimento internacional de Poetas Del Mundo, membro correspondente da Academia Capixaba de Letras e Arte de Poetas e Trovadores, ACLPTCTC. Instagram: valdafogacaescritora.
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