As Universidades Medievais como motores da Liberdade de Pensamento
A construção da liberdade no mundo Ocidental, primeiro como elemento da estrutura de valor, segundo como elemento da acção política, jurídica e social, tem início na profunda relação com o saber – a construção das primeiras universidades – e o conceito “universal” do mesmo, que traduziram num primeiro reduto que a Teocracia Medieval deixou livre e garantido por forma e privilégios específicos: o Pensamento, se olhado como a dedicação ao estudo das diversas áreas da ciência que o estudo medieval concebeu.
Na verdade, a liberdade é um conceito que, no centro da idade média nasce em torno do saber, da sabedoria, como intocável, independente dos poderes teológicos ou nobiliárquicos, que deveria ser protegido, no contexto das novas cidades então em desenvolvimento, cidades mercantis ávidas de novidades, tecnologias diferentes e saber.
O nascimento das Universidades, fenómeno Europeu por excelência, processo que naturalmente advêm da longa noite da idade da média aonde nas catedrais e mosteiros reuniram todo o manancial de conhecimento que permitiu a criação de um escol de sábios e estudantes, primeiros em colégios que depois se fundem em universidades sob a égide da Igreja mas que a vai ultrapassar no uso da razão e na forma como os personagens vão interpretar os textos não só bíblicos, mas latinos e gregos. Paris 1200, Oxford, 1214, Cambridge 1231 e por aí fora, pois não haverá Rei que não queira patrocinar e apoiar estes altos estudos e seus intérpretes garantindo a sua liberdade de estudo e acção, assim como o seu modo de vida e ganha pão.
Eram libertos das tarefas, quer religiosas, quer mais seculares a que outros não podiam ser dispensados. O regime de liberdade era tão vasto que os Estudantes Universitários usavam e abusavam do seu estatuto, acabando por criar conflitos com os cidadãos das cidades aonde a Universidade se instalava, obrigando a realeza, os responsáveis municipais e o clero que dirigia a Universidade por criar ordenamentos com graus de disciplina que obrigavam pelo menos a um código de comportamento.
O afastamento das zonas universitárias das zonas residenciais foi uma forma de diminuir o impacto nas Cidades.
Direitos, Privilégios e Liberdades. Sim, Liberdades, em nome do saber que fazia crescer o reino, e engrandecer as Cidades Europeias. Reduto primeiro, no Ocidente da Idade Média, a Universidade, das Liberdades, da Liberdade, de contestação do poder, seja do poder dos prebostes e guardas, seja do poder Real ou Clerical, mas principalmente do poder do dogma, que foi posto em causa e transformado.
Os alunos Universitários juntaram-se, senão foram os inspiradores de movimentos, de libertação, quer intelectual, com a dita heresia “Cátara ou Albigense”, com o movimento de libertação dos “Lollards”, dos pobres e humilhados. Com Abelardo e sua conquista do “Amor”, com S. Francisco de Assis, com S. Tomás de Aquino, com Alberto Magno, a Universidade foi o espelho social da sua liberdade interior, do valor do ser Humano, e do seu livre pensamento que o Renascimento vai potenciar.
É pelo saber e no saber que a liberdade como conceito se instala no centro das Universidades.
Liberdade que permite a universalidade do conhecimento, a circulação de Mestres e Estudantes, discussão do conhecimento, tolerância perante a opinião contrária, admiração pelo puro saber, protecção da produção intelectual, acolhimento de todos em especial dos grandes mestres e dos que dedicam a vida à causa do estudo.
A Universidade é o centro da tolerância e portanto da liberdade de pensamento. A partir da Universidade se irradia uma luz radiante, que se expande pelos Governos e pela forma de conduzir a política, numa luta pela libertação também da acção pública, da cidadania, sem o domínio da Religião, portanto do divino, do teocentrismo.
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Joaquim Paulo Silva é licenciado em Serviço Social pelo Instituto Superior de Serviço Social do Porto em Julho de 1991 e Mestre em Relações Interculturais pela Universidade Aberta, desde Julho de 2004.
Juntamente como José Álvaro Santos é co-autor do livro “Por Um Novo Humanismo para o Serviço Social”. Publicou em 2006, o Livro de ensaio “A Via da Síntese”. É também autor do livro “Em Nome do Sujeito -Serviço Social Uma Profissão de ajuda na Encruzilhada de uma Nova Era.”
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