Sabes?
Sabes?
Nunca pensei
Que um dia
Nem a mão me acenarias;
Que passarias por mim
Sem palavra, sem som, sem nada;
Que me desconhecerias!
Sabes?
Nunca pensei
Que um dia
O meu nome esquecerias,
Que viverias uma eternidade
Sem me chamares, sem me amares…
Que me pisarias e nada sentirias!
Sabes?
Nunca pensei
Que um dia eu morreria
No teu cerne,
Que aparecendo eu aos teus olhos,
Tu não me verias, não te lembrarias mais de mim,
Cega para tudo o que edificaste em meu coração!
Sabes?
Não sei se tu me perdeste
Ou se eu te perdi,
Mas sei
Que sinto muito a tua falta!..
21/09/2002
♦♦♦
Facebook translúcido
Umbral da adolescência
Amámo-nos idilicamente
Manhã cedo
E os teus olhos amanheciam no meu portão
Era a luz para me acompanhar àquela escola sem muros
A escola feita de chapas de contentores
Com assentos de adobes
Mas contigo aquela escola era exótica
Era o meu mundo com o sol da tua presença
Em um ano apenas um beijo
Ah! Um único beijo e nada mais…
Estávamos sobre duas pedras amigas
E combinaste comigo por meio de uma cartinha
Que aquele seria o nosso primeiro beijo
Mas outro não houve!
Ah se tu soubesses que era o meu coração que beijavas
Ah se eu soubesse a cicuta que é a distância entre nós
Não te deixaria escorregar nunca das minhas mãos
Agora estamos crescidos
Mas agora estás longe, longe, longe
Apenas a tua beleza translúcida no facebook
Fiz-te o pedido de amizade
E tu não respondes
Imploro-te
Aceita ao menos facebookar comigo!
♦♦♦
Lisbolubango
No metro de Lisboa,
Uma menina de proa;
Cabelos compridos,
Livres, lisos e alados;
Smartphone na mão,
Mistério no coração;
Quem é o seu dono?
Qual é o seu destino?
Em mim o desejo de cruzar o seu caminho,
De ser o corrimão em que ela desliza as mãos…
Mas de repente um vulto interrompe o sonho:
No táxi do Lubango
Um rosto solarengo
Coberto de tranças corridas
Sorria para mim
Porque já me conhecia,
Porque já me pertencia.
Dispensei o Tejo
E continuei na Tundavala;
Do Lubango é o meu beijo
De Lisboa, a saudade que não cala.
Apesar de tudo
Lisbolubango
Lislubango
Lubango
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Paulino Soma Adriano, natural da Huíla, Angola, é professor universitário. PhD em Linguística, pela Universidade de Évora, mestre em Consultoria e Revisão Linguística, pela Universidade Nova de Lisboa. Tem publicadas três obras: Viver e Morrer em Angola (romance), Amálgama d’Alma (poesia) e A crise normativa do português em Angola (ensaio).
Dr. Paulino, palavras são insuficiente para descreve-lo, porém gostaria de dizer que o Senhor é um poéta como ja mais visto . Os teus poemas dispertam emoções que um ser humano pode sentir.