UMA ROTUNDA BOA VISTA… por Danyel Guerra

“Depois da civilização de Atenas e do Renascimento,
 entramos agora na civilização do derrière”

Pierrot le fou, de Jean-Luc Godard    

(crônica carnevalesca)

Fim de tarde estival, sol quase no poente, na esplanada de um bar, dois clientes tomam, divertidos, um schopen Hauer* estupidamente gelado. O boteco situa-se numa praça em forma de círculo, que encanta sobremaneira um deles, cidadão caRIOca, que pela primeira vez degusta umas Trip’s à moda do Porto. Continuar a ler “UMA ROTUNDA BOA VISTA… por Danyel Guerra”

MARILENE CAON, A CAÇA-TALENTOS, por Uili Bergammín Oz

Caxias do Sul tem fama de ser gelada, e seus habitantes de serem distantes e desconfiados. Na maioria dos casos essa pecha se justifica, mas vez por outra alguém (muitas vezes vindo de fora) quebra essa regra, tornando-se a exceção que só a justifica ainda mais. Este é o caso de Marilene Caon Pieruccini, caxiense por adoção, assim como eu. Poeta de mão cheia, prosadora em vários gêneros, vencedora de inúmeros prêmios literários, ex-presidente da ACL (Academia Caxiense de Letras) e agitadora cultural da Serra Gaúcha, Marilene também se destacava como olheira, caçadora de novos talentos e incentivadora de escritores neófitos. Foi exatamente o que aconteceu comigo. Quando cheguei à cidade, com altas pretensões literárias, ela foi a primeira autora de renome a olhar para meus textos e me chamar para a sua casa, dando-me dicas valíosíssimas. Uma delas, que jamais esqueci, é: “Não usar as palavras certas leva-nos a não ser compreendidos. Mas usá-las não é nenhuma garantia de sê-lo.” Internalizei isso e vi depois que ela própria foi incompreendida muitas vezes, por suas posturas firmes, por sua ousadia a frente da época. E olha que eu havia contatado outros escritores bem menos talentosos antes dela, sempre encastelados em suas torres de marfim inacessíveis. Pobrezinhos, todos eles desapareceram na poeira do tempo, sufocados pelo pó e teias de sua própria vaidade e egoísmo. Foi bem diferente com a Marilene. Continuar a ler “MARILENE CAON, A CAÇA-TALENTOS, por Uili Bergammín Oz”

CRISES EXISTENCIAIS – por Teresa Escoval

Quem é que nunca deu por si a pensar no porquê da sua existência?

As crises existenciais verificam-se em todas as etapas da nossa vida (infância, adolescência, maturidade e velhice).

Estas crises surgem pelas mais variadas razões: sexualidade, insucesso escolar, problemas familiares, conflitos com o grupo de pares, com o(a) parceiro(a), dificuldade na tomada de decisões importantes, qualquer doença, algum acidente, entre outros.

Na verdade, qualquer tipo de problema considerado grave, pode conduzir a uma depressão ou a uma crise existencial. A pessoa que a vive, sente-se confusa, perdida no meio de tantos problemas.

Gera-se assim um conflito interior em que a pessoa se sente incapaz de ultrapassar essa barreira. A sua vida perde a cor e a pessoa perde o interesse por tudo, inclusive pelos seus hobbies preferidos, amigos actuais, família, trabalho e começa a preferir ficar isolada. Assim, esta sua perda de discernimento e desmotivação, interfere na vida da pessoa, podendo mudar até a maneira como pensa e age.

O pensamento começa a estar confuso, pois os sentimentos estão exacerbados. Mas, acredito que a pessoa tem consciência do seu sofrimento e do sofrimento que causa aos que estão próximos dele. Porém, não consegue reagir a essa tendência interior, pois só encontra culpados para justificar a “tempestade emocional” que se apossou dela.

Fica no drama da escolha e encara a sua vida com grande desespero! Considera-se uma vítima das circunstâncias, e isto, traz-lhe um profundo vazio, que não pode ser preenchido por qualquer coisa, a não ser, pela decisão de se auto-reformular, de fazer de si um projecto da sua própria determinação.

Na verdade, qualquer ser humano, tem de aprender a retirar satisfação de todos os momentos presentes da sua vida. Pois no seu dia-a-dia, terá decididamente prazeres e alegrias que deve agradecer por viver.

Também importa saber que a vida é feita de ciclos e que cada um nos dá aprendizagens diferentes. Tal como na natureza há ciclos (o ciclo da água, do oxigénio, do carbono, do nitrogénio etc), na psicologia também.

Temos várias fases na vida que, na verdade, são ciclos em si. Têm começo, meio e fim, precisam ser abertos pelos motivos certos e fechados quando se esgotam verdadeiramente. Caso contrário, deixam marcas psicológicas que teimam em continuar a doer.

Os ciclos psicossociais são abertos pela idade (infância, adolescência, maturidade e velhice), pelas relações (namoros, casamento, família, amigos) e pelas actividades (escola, universidade, empregos). E nunca passamos de um desses ciclos para o seguinte impunemente, cada vez é uma “crise”.

Entretanto, se por um lado não temos como fugir dessas “crises”, por outro, aprendemos com elas, amadurecemos e evoluímos. Uma crise é um momento ou fase difícil em que factos, ideias, status ou situações são questionados e levados a mudar. Crise significa ruptura, perda de equilíbrio.

Mas, as crises podem passar de momentos perigosos e decisivos, para oportunidades de crescimento, de transformação para melhor. Só que, para isso, é necessário um certo grau de amadurecimento, que nem todo o ser humano é capaz de alcançar.

Voltando a falar dos ciclos, temos que lembrar que, por definição, eles se completam em si mesmos. Um ciclo só se resolve quando se fecha. Quando isso não acontece, levamos resquícios mal resolvidos para o novo ciclo que já está a abrir-se e que acaba sendo prejudicado pela não-resolução do ciclo anterior.

Actualmente há psicólogos que defendem que entre a adolescência e a maturidade existe a sub-fase dos “Anos de Odisséia”. É justamente nesta idade que o jovem enfrenta a sua primeira crise existencial diante do imenso conjunto de oportunidades que estão à disposição de sua vida.

E entre a maturidade e a velhice foi colocada mais uma sub-fase, chamada de envelhescência. É a adolescência do adulto, que não quer ficar velho. Teima em querer ser mais produtivo do que alguma vez foi, ter uma saúde “de ferro”, ou então controlá-la e continuar a fazer planos e mais planos irreverentes. Só que, assim como o adolescente, ele tem dúvidas, muitas dúvidas sobre o futuro.

O adolescente não é mais uma criança, mas ainda não é um adulto, apesar de achar que já é. O envelhescente ainda não é um velho, mas também já não é simplesmente um adolescente, apesar de achar que ainda é. Crises!

Mas, o que importa perceber na crise é o encontro das soluções. Só assim sairá compensado da mesma e fazer a escolha certa

A vida acontece sempre no presente. O passado deve servir de aprendizagem: olhar onde errou, mudar a partir daí. Não se pode voltar no tempo e fazer um novo começo, mas pode-se recomeçar e fazer um novo fim.”

Julgo que para aprender a ser feliz apenas tem de aprender a aperfeiçoar-se a si próprio. Utilizando as sábias palavras de Wayne Dyer “Você não é um ser humano que está a passar por uma crise existencial/espiritual. Você é um ser espiritual que está a viver uma experiência humana. Logo, lembre-se que o minuto anterior já não é real e o que chega daqui a pouco ainda não existe. Se existe algo de valor incomparável é o tempo presente.”.

Por último, e porque acredito ser de extrema importância sentirmo-nos completos, veio-me à lembrança o poema de Ricardo Reis:

Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a Lua toda
Brilha, porque alta vive.

♦♦♦

Teresa Escoval é Pós-Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Licenciada em Sociologia, Bacharel em Gestão de Empresas. Desempenhou vários lugares de chefia na área Financeira e Gestão de Recursos Humanos. Desde 1994 que gere e desenvolve um negócio próprio na área do emprego, diagnóstico/desenvolvimento organizacional e formação. Mantém colaboração regular, desde 2007, com várias revistas, onde são publicados artigos sobre diversas temáticas, que é autora.

UM ELOGIO DA VIAGEM – por Fernando Martinho Guimarães

Todos nós conhecemos a história. Abel e Caim são irmãos, e Deus dedica-lhes uma afeição merecida. Abel é pastor, Caim, agricultor. Este fixa-se na terra e, com o seu trabalho, tira dela o que de melhor ela pode dar. Aquele, Abel, o pastor, percorre os campos, não tem lugar fixo e vai para onde o rebanho o leva. Ambos honram Deus com as suas oferendas. Mas Deus demora mais o seu olhar sobre Abel, o pastor. Continuar a ler “UM ELOGIO DA VIAGEM – por Fernando Martinho Guimarães”

PHELPS – por Duarte Klut

Ultimamente, Phelps andava muito taciturno. Estranhos pensamentos perturbavam-no.

Nos dias cinzentos, a sua depressão acentuava-se. Estava sempre intratável. Tudo o irritava. Esquecia-se de tudo e, com frequência, perdia a noção do tempo real. Falava sobre coisas do passado como se estivessem a acontecer no momento. Fisicamente aparentava estar bem. Não tinha a mínima consciência do seu declínio mental.

O homem que fora — culto, sabedor, activo, “bon-vivant” e óptimo companheiro, às vezes folgazão —, era agora um espectro de si próprio. Já não sorria, nem ria. O seu olhar, ora  mortiço, estava sempre alheio a tudo. Fechava-se, cada vez mais, em si próprio… Não lhe interessavam as viagens, as leituras, a música, o teatro e demais manifestações culturais e artísticas, ou seja, tudo o que sempre apreciara. Também  não ia aos repastos com os amigos.

Presentemente, era como um vestido de “toilette” que se transformou em farrapos. Sim, Phelps era um farrapo. Todos os que o conheciam e com ele conviveram sentiam um mal-estar com a sua presença. Era um desconhecido! Passava grande parte do dia sentado, olhando sem ver, cogitando e construindo, mentalmente, impossíveis. O seu ponto de partida eram as recordações da infância e adolescência. Lembrava-se do Principezinho, com a sua rosa e, se porventura, colhesse uma, imaginava-se a voar pelo espaço e a observar a Terra lá do alto; nessas ocasiões, esboçava um sorriso… Quem o visse diria: ali está um homem feliz.

Mas se à memória vinham os heróis de Dickens, depressa caía no habitual mutismo. Outras vezes inseria-se no mundo de Sherlock Holmes e a sua expressão ganhava um tónus de seriedade e concentração. Raramente, escutava Beethoven, Mozart, Liszt, Bach, Tchaikovsky, Verdi ou Chopin, nos poucos momentos em que estava menos desassossegado. Adorava Paganini. O som do violino era para ele tonificante: sempre fora o instrumento que teria desejado saber tocar. Muitas vezes relia alguns clássicos nacionais e estrangeiros. Os romances americanos e sul-americanos eram os  seus preferidos. Mas a poesia  tinha um particular destaque e, sempre que lia um poema, lia-o em voz alta. Porém, estes breves momentos de relaxe davam lugar à abstração da realidade. Enclausurava-se no seu mundo peculiar ou, antes, apartava-se do real, do presente. Então ficava apenas sentado, hirto, olhando o vácuo, onde nada é visível. Nestas ocasiões transformava-se no espectro que era. Phelps vivia uma vida diferente, tão diferente que ninguém, nem ele, entendia, ou percebia.

O declínio mental iniciara-se há quinze anos. Doenças, faltas de dinheiro, perda de qualidade de vida, de entes queridos, desgostos e a descrença, cada vez maior, num futuro sempre adiado, contribuíram para o turbilhão de pensamentos que o assolava.

A sociedade actual, decadente de valores e apologista dos bens materiais, desgostava-o e causava-lhe grande sofrimento, de tal modo que, descrente de tudo, se tornou no farrapo que  agora era. Este processo ao longo dos quinze anos, teve como resultado um estado de catatonia. Já não filosofava. Não lhe interessavam as questões metafísicas. Já não sabia pensar, nem interrogar e discutir problemas que  moviam as suas capacidades de análise e de síntese. Empregando uma linguagem de computador: deletara-se.

Dormia pouco; quase não comia. O seu lema era recordar, recordar, para fugir ao presente e não abordar o futuro.

Imaginava-se encarcerado num cubo. Esse cubo era transparente. Phelps via tudo, mas não era visto. O seu mundo fechado era muito  próprio. Único.

Porém…

Num certo dia cálido de Verão, a luz solar encadeou-o e, segundo ele, teve uma visão que mudou radicalmente o seu comportamento e forma de estar.

Já não tinha corpo e flutuava no imenso espaço estratosférico. Percepcionou o Universo e  observou todos os planetas como infinitésimos pontos. Só o brilho das estrelas cortava a escuridão que o rodeava. Em silêncio absoluto, as suas percepções permitiram-lhe apreender que a única  verdade real estava no  seu pensamento. Pouco importava se aquilo que  via existia, ou não. Mas se  ele via , então o seu mundo era real! E assim prosseguiu os seus dias, olhando para o infinito, sem falar, sem comer. Existia. Era um zombie pensante.

Numa manhã chuvosa, viu seca a rosa do Principezinho. Sorriu, acenou para o vazio e… feneceu!

Encontram-no passados dois meses. Seus ossos adivinhavam-se debaixo da pele ressequida e roxa mas, no rosto, notava-se o sorriso. Afinal Phelps partira feliz. Alcançara o seu Nirvana, via pensamento, que o alimentou nos seus  longos anos de Peregrinação.

Alcançou a felicidade pela via da abstracção/observação de uma realidade para além do Real!

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Duarte Manuel da Silva Passos Klut (Duarte Klut), nasceu em Lisboa a 20 de Abril de 1942.
Professor. Licenciado em História, possui os graus de Mestre pela FLUP e de Doutorado pela U. Gama Filho, Rio de Janeiro. Aposentado desde 2004.
Tem publicadas as seguintes obras:
Um quase Diário de um quase Nómada (2005)
Versos…Perverso (2008)
Lucubrações — estados de Alma (2011)
Esmerilhando… Mundividências (2013)
Aporias (2014) e
O Inquieto e as utopias possíveis ( 2016)

A BUSCA DO ALEPH BORGEANO – por Danyel Guerra

“Existe no Universo, um ponto, um sítio privilegiado,
de onde todo o Universo se desvenda”

Louis Pauwels /Jacques Bergier

(Work in Progress)

Strategia del Ragno. Devo ao Cinema a boa ventura de, numa morna tarde de primavera, me ter entreaberto a porta da mansão literária de um escritor de sobrenome Borges. E com uma senha codificada em língua italiana.

Atento ao letreiro/genérico do filme supremo de Bernardo Bertolucci, datado de 1970, reparei que o soggetto partira de um conto de um autor, para mim, de todo ignoto. Consultando, curioso, a ficha técnica da fita, verifiquei que a narrativa tem por título Tema del traidor y del héroe, a terceira da seção Artificios do livro Ficciones, editado em 1944.(1) Continuar a ler “A BUSCA DO ALEPH BORGEANO – por Danyel Guerra”

PRISIONEIROS DO TEMPO – por Ester Fridman

Vida, Mente, Universo, Consciência, Tempo, Espaço… Alguém sabe o significado dessas palavras? Será que dentro de nossa condição humana é possível saber? Um grande número de pensadores e filósofos através dos tempos vem tentando desnudar os  mistérios da vida e até então ainda não os conhecemos. Talvez seja porque temos usado a ferramenta errada, qual seja – o pensamento. Em especial a civilização greco romana posterior a Sócrates vem atribuindo um valor excessivo à razão, ao intelecto e seu produto, o pensamento lógico analítico. Ninguém criticou mais esse tipo de conduta do que Nietzsche, que costumava dizer que a decadência começou com Sócrates, exatamente por isso. Com séculos e séculos de condicionamento foi ficando cada vez mais difícil pensar por outra via que não a lógica, cujo funcionamento corresponde ao hemisfério esquerdo do cérebro. Continuar a ler “PRISIONEIROS DO TEMPO – por Ester Fridman”

AMOR É LIBERDADE – por Teresa Escoval

“Porta para o mundo paralelo” de Mário Cesariny

Para mim o amor é liberdade, porque só alguém livre é capaz de receber com a mesma gratidão com que doa. É um sentimento que quando ambos sabem amar do mesmo jeito, permite sentir respeito pelo ser interior da outra pessoa e, em simultâneo, deixar o seu interior também intocável. Se isso acontece qualquer dos dois pode tomar decisões sem que isso provoque mágoa no outro, porque há respeito pela privacidade e pelo crescimento individual de cada um, mas também há partilha e crescimento conjunto, enquanto casal amoroso. Ambos já conseguem amar incondicionalmente.

Se há algo que um tem de permitir ao outro e vice-versa é apenas que cada um fique do tamanho certo. Ou seja, ambos devem sentir-se de igual para igual, grandes e a crescer na mesma medida. É sentirem que esse amor é nutrido na aceitação, gratidão, alegria e respeito. É amar sem condições e sem limites, sem críticas nem exigências, dando-se e doando-se com compreensão, carinho, sã e transparente vivência e pela construção de um caminho conjunto.

Quando o par amoroso aceita o Presente de cada um, sem haver posse, carência, apego, ciúme, exigência, quer dizer que esse amor permanece com solidez, com consciência de que há equilíbrio entre o dar e o receber. Tudo é fresco, suave, vital, consistente e alegre.

É um amor que cuida, que está atento, que quer ficar por perto, que se sente completo, que dá força para seguir em frente e implementar sonhos individuais e conjuntos. É um amor que não absorve, completa.

É necessário que cada um ande o seu próprio caminho, para que o amor possa guiar os passos de cada. Pois aquele que por outro é guiado (aqui usado o termo no sentido do controle), não pode falar de amor; mas de submissão. Como aquele que busca impor a sua vontade, não procede em nome do amor; mas das suas próprias carências.

Eis que a plenitude não pode brotar senão de si própria. E como poderemos conhecer a plenitude do amor, se cada um de nós não estiver pleno em si mesmo?

Precisamos compreender então o significado de liberdade. Precisamos descobrir sozinhos o que significa amar, porque se não amarmos, nunca seremos atentos, e pior, nunca seremos gratos.

Mas, o que significa ser atento? Significa que dou sem que me peçam algo que o outro necessita. É ter a sensibilidade para perceber os movimentos ao seu redor e os movimentos da vida. É sentir que o amor é uma força inesgotável em si.

Citando Osho: “O amor não é uma quantidade, mas uma qualidade! Qualidade de uma certa categoria que cresce ao se dar e morre se você a segura. Seja realmente esbanjador!

Deixe que o amor seja uma ajuda para seu crescimento espiritual. Deixe que o amor se torne um alimento para o seu coração, a coragem de se abrir à vida em todo o seu esplendor.

E, ao doar-me assim, recebo o melhor do outro, todo o seu amor e impecabilidade. A vivência deste amor em plenitude, permite-nos manter a liberdade e termos a certeza de que está nas nossas mãos a grande árvore da vida! Essa árvore é fruto das nossas escolhas.

Nesta minha aprendizagem terrena e de evolução, concluí que a verdadeira liberdade é a que nos faz crescer humanamente e que nos dá paz e amor para avançar a cada momento, inteiros, completos e felizes e nos permite irradiar isso aos demais.

Por isso, posso dizer-vos que é necessário prestar atenção em tudo o que nos rodeia, centrarmo-nos só naquilo que queremos que aconteça, desejar o que nos acrescenta valor e nos faz sentir feliz, ao mesmo tempo que curamos as crenças  que trazemos nas nossas memórias, que curamos padrões culturais e familiares que nos foram uteis em termos de aprendizagem mas que agora temos de largar e deixar ir, para que o nosso caminho seja mais leve, tranquilo e doce.

Aprendi a perguntar-me, antes de agir, se é mesmo aquilo que desejo e sinto que é o melhor para mim. Permito-me ficar em silencio e escutar a resposta, sem que a lógica me tente sabotar. Hoje sei que só eu sou dona do meu poder pessoal e nada nem ninguém tem o poder suficiente para impedir-me de fazer o que desejo e o que mereço.

Logo, sei que a decisão é correcta se ela me permite ficar em paz e em amor! E tomo-a no presente! Hoje, mais uma vez, permito-me amar-me e amar-te. Permito-me a abertura de Consciência para tudo, para o novo e vital na minha vida.

Assim sendo, ouso deixar-te aqui algumas questões que te podem vir a permitir abrir a tua consciência, se também ousares confiar em ti e ouvires as respostas. Trata-se apenas de uma ousadia minha para te por a reflectir sobre o encontro contigo próprio(a) e te permitires tomar as rédeas da tua vida. Eis que são:

    • Onde encontras paixão no que fazes? Será que na tua maior paixão podes encontrar a tua missão?
    • Será que por trás de cada resistência tua estão encontros e aprendizagens que tens de enfrentar?
    • Reconheces a força e o amor que vem dos teus antepassados e da tua linhagem?
    • Para superares os teus medos (dor, abandono, traição, escassez, etc..) alguém tinha que tos provocar? Será que é aí que está a fonte da tua maior transformação?
    • Estás centrado(a) na vida e nas novas energias (paz, amor, alegria, abundância, prosperidade) a que deves aceder?
    • O que te importa mais – o Ser ou o Ter?
    • O que procuras numa relação?
    • Como está o teu amor próprio e o teu auto-reconhecimento?

Desejo que cheguem até ti, rapidamente, com uma visão clara, as respostas certas. Ouve-as e segue-as com confiança, pois a nossa intuição é a nossa melhor amiga e permite-nos aproveitar a vida com merecimento. Ama-te e desenvolve-te a cada dia mais! Permite esse encontro com a tua essência e verás resultados maravilhosos.

E citando Osho de novo: “Aqueles que entenderam o sentido da vida falaram apenas para quem é capaz de entender o Amor, porque o Amor é o sentido da vida”.

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Teresa Escoval é Pós-Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Licenciada em Sociologia, Bacharel em Gestão de Empresas. Desempenhou vários lugares de chefia na área Financeira e Gestão de Recursos Humanos. Desde 1994 que gere e desenvolve um negócio próprio na área do emprego, diagnóstico /desenvolvimento organizacional e formação. Mantém colaboração regular, desde 2007, com várias revistas, onde são publicados artigos sobre diversas temáticas, que é autora.

LA SENYORETA D’AVINYÓ – por Danyel Guerra

“Miró sentia a mão direita/demasiado sábia/
           e que de saber tanto/já não podia inventar nada”

 João Cabral de Melo  Neto

Barcelona frui e usufrui de uma ensolarada tarde de primavera  antecipada, em época do reinado de D. Carnestoltes*. Deambulando pelo capitoso Ensanche da cidade condal, Dirceu atravessa a Plaza de España e avista no Parc de Joan Miró, impante nos seus 22 metros de firme ereção, a escultura ‘Dona i Ocelli’. Continuar a ler “LA SENYORETA D’AVINYÓ – por Danyel Guerra”

HARATINES – por Jonuel Gonçalves

                                             

3º Episodio – Idrissa

Mesmo acostumado ao  deserto desde o teu nascimento tu sabes que ele pode ser  solidão como mais nenhuma outra paisagem, digam o que disserem sobre as grandes solidões das grandes metrópoles nas quais  pode-se ficar louco mas  aqui é pior, é corda bamba constante e queda ao mínimo descuido, ou seja, a água perdeu-se, estragou-se ou apenas acabou, o velho caminho das estrelas foi varrido pelo vento de areia furioso ou este vento de areia levantou-se antes de poderes montar abrigo ou ainda o camelo caiu de esgotamento, os pneus do carro acabaram uns após os outros ou, mais ainda, nos últimos tempos foste visto ao longe pelos predadores ferozes de duas ou quatro pernas e as balas estão muito poucas. Continuar a ler “HARATINES – por Jonuel Gonçalves”

FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes

Uma Nação só pode ser feliz se os cidadãos que a constituem forem educados e instruídos – só assim eles serão conscientes dos seus direitos e deles não abdicarão, lutando de forma organizada e positiva para deles usufruírem. No entanto – como todos sabemos – a felicidade não é um estado definitivo e total, custa a deixar-se usufruir, dá imenso trabalho, e é em fogachos breves que nos bafeja, sem se deixar agarrar. Continuar a ler “FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes”

CLINT EASTWOOD (ou a óbvia analogia) – por Claudio B. Carlos

Ele não conhecia os filmes de caubói, por isso, quando os novelos de cisco rolavam pela imensidão do terreiro seco, não fazia a óbvia analogia. Ali não tinha Clint Eastwood, nem Lee Van Cleef, nem Burt Lancaster – tinha o Durvalino, o Deodato e o Deoclécio. Ali não tinha Marianne Koch, nem Claudia Cardinale, nem Carla Mancini – tinha a Jandira, a Jurema e a Jeneci. Ennio Morricone era o guaipeca magricela, sonolento, pulguento e mais uns dois ou três entos. Talvez Morricone fosse o bem-te-vi, o sabiá, o quero-quero, o mugido do gado (coitado – magro que só) ou o relincho do pingo amarelo – que mascava o freio, num devaneio, quiçá, de verde capim. Talvez o Ennio fosse tudo isso misturado – tudo ao mesmo tempo. Continuar a ler “CLINT EASTWOOD (ou a óbvia analogia) – por Claudio B. Carlos”

A LIBERDADE E A RAIVA DO PERRO ARAGONÉS – por Danyel Guerra

     Tenha cuidado. Sinto que há em si tendências surrealistas. Afaste-se dessa gente.

  Jean Epstein

“Posso dizer tudo o que penso?….é a escrita automática!…” (1). Em sua edição de junho de 1954, a revista  Cahiers du Cinéma  inseria uma entrevista com Luís Buñuel. Na época, este cineasta era celebrado na Europa apenas como autor de uma tríade maldita, malgrado seu Los Olvidados (1950) ter emocionado Cannes.

Escrita automática? Será que aos 54 anos, o pai da mexicana ‘Susana’ ainda se afirmava fiel aos conceitos teóricos e aos procedimentos formais da finada guilda, na qual foi iniciado em 1929,  pela mão de Louis Aragon e de Man Ray?  Chegado a meia-idade, o rebelde persistia em menosprezar o paternalista conselho de Epstein? Continuar a ler “A LIBERDADE E A RAIVA DO PERRO ARAGONÉS – por Danyel Guerra”

SINOPSE DE UM APEADEIRO ANUNCIADO – por Ana Matos

No limite da angústia, naquele umbral onde basta um sopro para o desequilíbrio e a queda no abismo da demência, encostei-me à cadeira vazia, que rangeu pelo súbito arrasto, na esplanada de um qualquer café. Os óculos escuros carbonizavam as parcas nuvens e resguardavam-me do dia, do mundo, da vida…Trazia ainda impregnada no céu-da-boca a ausência das tuas palavras – um lastro de saudade e desistência. Continuar a ler “SINOPSE DE UM APEADEIRO ANUNCIADO – por Ana Matos”

ANGOLA, NO INÍCIO DOS ANOS SETENTA – Jonuel Gonçalves

NOTAS SOBRE UNDERGROUND ANGOLANO NOS ANOS PRÉ INDEPENDÊNCIA

Benguela no começo dos anos 1970. Cidade com reputação “do contra” há muitas décadas.

Nos últimos anos, surgiram alguns livros e artigos centrados na preocupação de estabelecer a verdade histórica sobre diversos acontecimentos angolanos, tanto dos anos de guerra pela independência como dos primeiros anos pós coloniais e também focar detalhes importantes até aqui escondidos de forma deliberada ou não. Este pequeno texto procura inserir-se neste esforço e, ao usarmos a observação participante, procuramos apresentar fontes primárias importantes para os historiadores, diversificando-as e evitando os riscos de  trabalhar com fonte única. Deve ser entendido como depoimento relativo a um factor menos mencionado em relação ao período imediatamente pré-independência e não como abordagem geral desse mesmo período. Continuar a ler “ANGOLA, NO INÍCIO DOS ANOS SETENTA – Jonuel Gonçalves”

VIDA LONGA À POESIA – por Uili Bergammín Oz

Foto de Arno Rafael Minkkinen

Não sei se é impressão minha, mas creio que nunca ouvi falar tanto em poesia como nos últimos tempos. Também nunca vi publicar tanto poema como de uns anos para cá. Nos concursos literários, tanto os que tenho concorrido como os que tenho avaliado nas bancas de jurados, o gênero poesias é sempre o mais disputado, com larga vantagem sobre os demais. Todo mundo tem um pouco de poeta, já diz a sabedoria popular. Continuar a ler “VIDA LONGA À POESIA – por Uili Bergammín Oz”

EUROPA E A QUESTÃO DOS REFUGIADOS – por Diogo Pacheco de Amorim

A questão dos “refugiados” é paradigmática de um enorme acréscimo de alterações ao que inicialmente se entendia, e foi “vendido” como o que deveria ser, no essencial, a União Europeia: um espaço onde circulariam livremente bens, capitais, serviços e pessoas. Desapareciam as fronteiras físicas entre os países membros e estabelecia-se uma fronteira entre a UE e o mundo exterior. O Espaço Schengen, mais ou menos coincidente com a UE, materializava, do ponto de vista institucional, esse conceito. Concomitantemente, os países com fronteiras externas, assumiam a responsabilidade pelo controlo dessas fronteiras externas em nome dos outros Estados-Membros. A Europa eliminava as fronteiras físicas dentro de si, mas estabelecia sólidas fronteiras com o exterior. Continuar a ler “EUROPA E A QUESTÃO DOS REFUGIADOS – por Diogo Pacheco de Amorim”

O FINGIMENTO DE PESSOA – por João Esteves

Caricatura de F.P por J. Almada Negreiros

O fingimento de Pessoa «O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.» Com esta frase, começou a conversa de uma pessoa que deu entrada no serviço de urgência de psiquiatria. Não deu, na verdade. Mas podia bem ter dado. Acontece que essa pessoa imaginária vinha com esta frase no seu pensamento, totalmente descontextualizada, desconhecendo o passado do poeta que a escreveu, as suas circunstâncias sociais e psicológicas. Não é motivo para vergonha. Todo o pensador se confronta com o problema da descontextualização. É dela que emana o seu pensamento paranóide, totalmente desenfreado, pronto para satisfazer os mais profundos desejos do narcisismo. Continuar a ler “O FINGIMENTO DE PESSOA – por João Esteves”

BRINCAR À POLÍTICA NO CARNAVAL por Francisco Castelo Branco

O Carnaval é uma das mais belas tradições que enche de cor e alegria as cidades e vilas portuguesas. O nível de euforia e qualidade não atinge os desfiles no Brasil, mas a maneira nacional de celebração da data contagia todos, mesmo os que não gostam de se mascarar.

Os preparativos para os eventos do ano seguinte começam pouco depois do último cortejo, embora sem a mesma dose de exagero que se verifica após as festividades no país irmão. Isto é, vivendo intensamente uma paragem de 365 dias, que decorre entre cada Carnaval.

Carnaval em Torres Vedras

Continuar a ler “BRINCAR À POLÍTICA NO CARNAVAL por Francisco Castelo Branco”

QUANDO A MADRUGADA JÁ NÃO EXISTE: SOBRE A PÓS-VERDADE por João Esteves

Ruído incomodativo às 3h30 da manhã: um vizinho põe a música num volume acima do permitido. Por enquanto, eu sei! Nas assembleias das democracias, sobre as quais me dizem ser o lugar cada vez mais antiquado, face aos desígnios do mundo de hoje – afinal as leis provêm de maiorias que nem sempre defendem o interesse da maior parte dos cidadãos – tem-se vindo a discutir, face ao aumento do turismo, a possibilidade de se alterarem as horas a partir das quais não se pode fazer ruído excessivo. Por outras palavras, tem-se vindo a discutir a possibilidade de “não haver horas para dormir”, favorecendo a ideia do mundo globalizado: a noite é todo o dia, faz Sol todo o ano. Continuar a ler “QUANDO A MADRUGADA JÁ NÃO EXISTE: SOBRE A PÓS-VERDADE por João Esteves”

ANTERO DE QUENTAL EM VILA DO CONDE – por Cecília Barreira

Casa de Antero de Quental, em Vila do Conde, actual Centro de Estudos Anterianos. Foto obtida do site da CMVC.

«Uma classe nunca pode ser um apóstolo: é simplesmente um elemento, uma força, cujo acto é determinado pela energia inicial. O que dará a democracia? Quem poderá di-lo. É o escópulo onde até hoje têm naufragado todas as sociedades.»

         Carta a Fernando Leal, 8 de Fevereiro de 1888.

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A MIÚDA QUE NÃO RECEAVA JUÍZES – por Francisco Bruto da Costa

Tribunal de Família de Lisboa, anos noventa, discutia-se a vida e o futuro de uma criança.

Uma história triste, como tantas outras que me passaram pelas mãos naquele tribunal, mas esta tem um toque de inocência e um grande ensinamento.

Digamos que a criança em causa se chamava Mariana.

A Mariana nasceu de uma relação superficial que os pais tiveram num Verão, casaram logo a seguir, quando descobriram que a mãe da Mariana estava grávida, mas não estavam preparados para a vida de casados, nem tinham vida profissional compatível.

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