I WILL SURVIVE AO GNR – por Danyel Guerra

“Mais amigo é aquele que me critica porque me corrige,  do que aquele que me adula para me corromper”

Santo Agostinho           

Ao longo da vida, muitas vezes encontramos o que queremos sem procurar. Em regra, essa epifania acontece depois de muito procurarmos sem encontrar. Eu já estava desistindo, quando, por acaso, numa loja do Shopping Cedofeita, avistei o disco pousado na vitrine. Entrei, pedi autorização para apreciá-lo. Solícita, a balconista indagou: quer ouvi-lo? Não, obrigado. E anunciei. Vai virar um disco voador…em direção ao Brasil. É uma encomenda. Continuar a ler “I WILL SURVIVE AO GNR – por Danyel Guerra”

ALGUM RITMO – por Thauan Pastrello

Os pensamentos se sucedem rapidamente, assim como os vídeos curtos passam na tela com um simples toque do dedo. Ao contrário dos vídeos, os pensamentos não passam. Eles sedimentam-se acima dos olhos quando a secura me obriga a fechá-los. Logo, ao abrir das pálpebras, outro porquê surge incessante, rompendo o sentido da gravidade e pairando como uma suave bigorna içada sob as pálpebras abatidas. Continuar a ler “ALGUM RITMO – por Thauan Pastrello”

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – por Fernando Martinho Guimarães

 

A Inteligência Artificial é a ciência ou engenharia de produzir máquinas inteligentes.

O critério que nos permite aferir da inteligência da máquina é, pois claro, o confronto com a inteligência humana. Uma máquina inteligente é aquela que executa funções que, caso fosse um ser humano a executar, seriam consideradas inteligentes. Por isso, a Inteligência Artificial aparece sempre associada quer à Cibernética, quer à Robótica. Continuar a ler “A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – por Fernando Martinho Guimarães”

SAUDADES DE MÊNFIS – por Francisco Fuchs

Vida longa para ti, meu irmão distante. Que os deuses vivos e mortos te prodigalizem o pão, mas sobretudo a luz perene que irradia a toda parte. Temo pela minha sorte, irmão, bem o sabes, desde minha transferência para este miserável vilarejo do delta oriental. Meu coração partiu em segredo, ele viaja, sobe o rio para rever Mênfis, mas permaneço atado a esta terra estranha, neste solo pantanoso onde chafurdam rebanhos e crocodilos. Minhas petições foram sorrateiramente bloqueadas por Kaper, o mesquinho chefe de polícia de Kenken-taue, e todas as nossas cartas lidas por ele antes de chegarem ao seu destino — todas, menos esta, que irá ter contigo levando o meu humilde selo ainda intacto. Conto com o discreto auxílio de um mensageiro fiel, veloz como uma sombra, por cujos serviços providenciei (para que lhe sejam entregues depois da execução de sua tarefa) incontáveis cântaros de cerveja, uma vez que essa desobediência às ordens de Kaper poderá custar-lhe as orelhas ou o nariz. Escrevo para dizer-te adeus, pois o mais certo, irmão, é que não nos vejamos novamente senão do outro lado do horizonte; mas como poderia deixar de contar-te tudo quanto omiti nas demais cartas, e portanto subtraí à devassa de Kaper, se devo minha vida a essa prudente omissão? Desenrolai cuidadosamente este papiro, irmão meu, pois é teu irmão distante que estarás explicando. Continuar a ler “SAUDADES DE MÊNFIS – por Francisco Fuchs”

CHEGA DE SAUDADE, NARINHA – por Danyel Guerra

Trinta e cinco anos sem escutar ao vivo a voz de Nara

Já se evolaram quase quatro décadas, mas parece que foi ontem. Nara Leão se apresentando no palco do Teatro Rivoli, num show memorável, dedicado ao camarada Adriano Correia de Oliveira.  Não demoraria que ela começasse a padecer do tumor cerebral inoperável, que acabaria silenciando sua voz tão encantadora quanto interventiva. Apesar desse peso e desse pesar, esta cidadã carioca – embora natural de Vitória, capital do Espírito Santo – não abdicou de continuar manifestando determinação e coerência, atributos apanágio tanto da mulher como da artista. Continuar a ler “CHEGA DE SAUDADE, NARINHA – por Danyel Guerra”

SERÁ A LIBERDADE UM VALOR ABSOLUTO E INQUESTIONÁVEL? – por Ricardo Amorim Pereira

 

Aproximamo-nos da come- moração da passagem dos cinquenta anos da Revolução dos Cravos. Volvido meio século sobre o fim do regime autoritário do Estado Novo, por todo o mundo vem aumentando o temor, mais ou menos justificado, de que forças antidemocráticas possam regressar ao poder.

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A CONFUSÃO DELIBERADA COMO ESTRATÉGIA POLÍTICA – por Francisco Fuchs

 

Lula (a usar óculos de realidade virtual) e Chacrinha.

“Eu vim para confundir e não para explicar.” Esta frase, bordão de um dos mais célebres comunicadores da televisão brasileira no século XX (Abelardo Barbosa, o Chacrinha), desagradava-me profundamente quando eu tinha vinte e poucos anos. É compreensível, já que ela era a antítese de tudo que me era mais caro: pois eu, aspirante a filósofo, viera ao mundo para entender, e não há como entender sem desdobrar, desenvolver, desenrolar, ou seja, explicar.[1] A confusão era e continua sendo meu (seu, nosso) ponto de partida, mas nunca deixei de acreditar que ela pode ser, ainda que com muito esforço, reduzida; o que não significa negar ou apequenar a complexidade do real, mas passar, na medida do possível, da confusão original a algo semelhante a uma complicatio. Continuar a ler “A CONFUSÃO DELIBERADA COMO ESTRATÉGIA POLÍTICA – por Francisco Fuchs”

25 DE ABRIL, SEMPRE! – por Fernando Martinho Guimarães

Falemos à maneira de Stuart Mill. Para determinar se uma coisa, uma decisão, um acontecimento social e político, por exemplo, foi ou é bom, proponho que adoptemos o critério da sua utilidade.

Quer dizer, se as consequências previsíveis de uma acção promoverem, em quantidade e qualidade, o bem estar das pessoas, então podemos dizer, com razoabilidade elevada, que essa acção foi, é, boa e justa. Continuar a ler “25 DE ABRIL, SEMPRE! – por Fernando Martinho Guimarães”

RomAnita – por Danyel Guerra

Anita Ekberg

 

“Quando os jornalistas mencionavam La Dolce Vita,  eu
                             respondia, direto, Anita Ekberg…”
   Federico Fellini

     UMA NINFA MUITO FELLINA   

Certa noite, alguém importunou a Srª D. Kerstin Anita Marianne Ekberg indagando quantos homens ela já tivera. A deusa escandinava ouviu, suspirou e não podia ter sido mais sibilina. “Você quer dizer quantos homens, além dos meus?!” Continuar a ler “RomAnita – por Danyel Guerra”

22 de abril de 1972 – por Francisco Fuchs

22 de abril de 1972

 

Para Alípio Ramos

Todo flamenguista, ainda que tenha nascido muito tempo depois, conhece de cor o melhor time que já defendeu as cores do clube. Depois de enfrentar uma fieira de carnificinas na campanha épica da Copa Libertadores da América de 1981, Zico e sua talentosa companhia foram campeões mundiais. No entanto, e apesar das conquistas notáveis em anos recentes, a lembrança que mais aquece meu coração é a de um remoto e bem menos importante título regional, a Taça Guanabara de 1972. Era uma época em que o rádio era onipresente nas partidas de futebol, tanto para aqueles que não assistiam aos jogos quanto para aqueles que compareciam aos estádios colando ao ouvido seus aparelhos portáteis: pois se as movimentações dos jogadores no gramado constituíam, para os espectadores, a corporeidade visível da disputa, eram as vozes dos narradores e comentaristas que modulavam sua alma. Continuar a ler “22 de abril de 1972 – por Francisco Fuchs”

DE VINHO E DO VINHO – por Manuel Igreja Cardoso

                                                                 Mural de V. N. Gaia/foto by JuliaML

DE VINHO E DO VINHO

Numa primeira impressão, pode parecer quase são a mesma coisa o que se refere no título, mas não. Nem de perto. Duas simples letras alteram em absoluto o que se quer dizer ou identificar. O diabo está nos pormenores como se costuma dizer.   Continuar a ler “DE VINHO E DO VINHO – por Manuel Igreja Cardoso”

LITERATURA, A FORÇA HUMANA – por Celso Gomes

 

No fim do século passado, houve lançamento de vários livros contendo listas das cem melhores obras de arte do século que terminava.

Na noite de Natal do último ano do século XX, ganhei de um amigo o livro Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século, organizado por Ítalo Moriconi, ed. Objetiva. Imediatamente após recebê-lo, fui para um canto da casa e comecei a leitura. Dei cabo da tarefa em poucos dias. O livro é ótimo, os contos escolhidos convivem bem, apesar das discrepâncias de estilos, épocas, gerações. Com certeza, o livro contém o que de melhor se publicou no Brasil no Século XX, bem como deixou de fora alguns contos que gosto muito, por exemplo, o conto Venha ver o pôr do sol, da Ligia Fagundes Telles. Mas listas são assim mesmo, sempre há reclamações e injustiças. No entanto, de todos os contos reunidos, apenas um não sai da minha memória, apesar dos anos passados: A Força Humana, do livro A Coleira do Cão, de Rubem Fonseca. Continuar a ler “LITERATURA, A FORÇA HUMANA – por Celso Gomes”

O TRIUNFO DA (BOA) VONTADE – por Danyel Guerra

Jacques Demy

“Il m’a marquée plus definitivement qui aucun autre réalisateur.  L’image qu’a imposée de moi ‘Les Parapluies…correspond quelque parte à une verité de moi-même

Catherine Deneuve   

Joyeux anniversaire, Jacquot !                                  

Era notte a Avellino, num dia de novembro de 1982. Mal entro no Cine Eliseo, ouço a Chiara me chamando, um tanto frenética. Daniele, vienni qui… Eu ainda não cheguei junto dela e já está me indagando. Conhece aquele cavalheiro? Um minuto só…conheço, ele é o Jacques… Continuar a ler “O TRIUNFO DA (BOA) VONTADE – por Danyel Guerra”

21 DE JUNHO 1970 – por Francisco Fuchs

 

Pelé e Bobby Moore trocam camisas ao término de Brasil x Inglaterra (1970)

 

Para Giuseppina Traverso

Quando eu nasci, o Brasil era o país do futebol: donde se conclui que já não sou nenhum garoto. Há coisas que não podemos revelar sem denunciar nossa idade; porém, por uma dessas leis de compensação que gostaríamos de imaginar arranjadas por um ser superior, quanto mais se avoluma a soma de nossos anos, menor é a importância que damos à divulgação do resultado. Continuar a ler “21 DE JUNHO 1970 – por Francisco Fuchs”

A FAMÍLIA – por Manuel Igreja Cardoso

A família é ser e estar. Pertencer e ser pertencido. Amar e ser amado. Vir de antes, dar, receber e seguir. Sem condição, entregar todo com todo o coração e mais a mente, pois é com ela que tudo se sente.  É ser um nós cá dentro e nós em cada um que é nosso e nós dele.

A família é porto de abrigo depois de se encontrar o rumo certo, quando longe dela, nos arde o desejo de estar perto. É um toque a unir agora e nos dias que estão para vir. É um sentir, um contentamento às vezes descontente, no sublime pensamento que nos distingue e nos faz ser gente. Continuar a ler “A FAMÍLIA – por Manuel Igreja Cardoso”

A IMPORTÂNCIA DE HAVER LIVROS EM CASA – por Olinda Gil

 

Como professora de Português há sempre aquele dia (muitos) em que falo de livros com os alunos. Para um projeto de leitura, por exemplo, tento ajudá-los a escolher os livros: sugiro livros, mostro-os, levo os alunos à biblioteca e desarrumo as estantes… Mas, surpresa das surpresas, os alunos tentam sempre ler livros que tenham em casa (“vou ler um livro da minha mãe”), ou que lhes oferecem (“vou ler o livro que a minha madrinha me ofereceu pelo Natal”), e em alguns casos, selecionam um dos livros mostrados, ou mesmo da biblioteca, mas “querem tê-lo na estante”. Continuar a ler “A IMPORTÂNCIA DE HAVER LIVROS EM CASA – por Olinda Gil”

SPAGHETTI E SOMBRINHAS JAPONESAS – por Danyel Guerra

Lisboa, 1981- Glauber Rocha tendo ao fundo um cartaz de ‘Raging Bull’, de Martin Scorsese.

   

“Ida Lupino, John Cassavetes e Glauber Rocha foram uma influência  fundamental para a minha formação. Seu Cinema continua sendo  uma inspiração para mim, enquanto cinéfilo e cineasta”   

 Martin Scorsese

 

 Feliz aniversário, Glauber!   

 Num incerto dia de um outono dos anos 70, Juan Luis Buñuel passeava por Saint-Germain-des-Prés, quando, de súbito, alguém cutucou seu ombro. Ao se virar,  logo reconheceu o cidadão. Trazia um pacote nas mãos e intimou Juan a acompanhá-lo. “Ele parecia ansioso, aflito mesmo”. Em passo acelerado caminharam até à margem esquerda do Sena. Continuar a ler “SPAGHETTI E SOMBRINHAS JAPONESAS – por Danyel Guerra”

ESCREVER- por Manuel Igreja

Escrever é procurar as palavras que urgem para que se desenhe o que sente. É entrelaçar os fios de que a alma é feita na vida que se tece enquanto esta vai acontecendo em madrugadas surgidas para serem vividas. É pontear as costuras onde por vezes se rasga o viver. É deleitar e sofrer. É clarear, mas também pode ajudar a escurecer. Continuar a ler “ESCREVER- por Manuel Igreja”

SINEMA, SEU DESTINO É PECAR – por Danyel Guerra

Serge Daney

“É preciso uma revolução estetyka e cultural no
Cinema. É necessário que o próprio conceito de
autor cinematográfico seja revolucionado”    
                                  Glauber Rocha   

 

‘La Mort de Glauber Rocha’. Assim titulava Serge Daney, o célebre epicédio dado a estampa na edição de 24 de agosto de 1981, do diário francês ‘Libération’. Nesse tributo, o sinecrítico confessava que nele “ainda não se tinha dissipado a estupefação” provocada, em 1979, pelo visionamento da obra testamento do sinemanovista brasileiro. “‘A Idade da Terra’ não se parece a nada de conhecido. É um filme torrencial e alucinado. Um OVNI fílmico, sem mais nem menos”. Continuar a ler “SINEMA, SEU DESTINO É PECAR – por Danyel Guerra”

AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E….- por Fernando M. Guimarães

 As alterações climáticas e o relógio do Apocalipse

As ciências da Terra são um conjunto de ciências que se dedicam ao estudo do planeta. De entre essas ciências, a Geologia preocupa-se com a investigação da estrutura da Terra e, de modo particular, com a sua história, a maneira como os eventos geofísicos determinaram a sua formação e o seu desenvolvimento até ao presente.

Na geo-cronologia que os cientistas propõem, nunca o homem aparece como factor que esteja na origem, permanência e fim dos períodos geológicos. Até aos nossos dias! Continuar a ler “AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E….- por Fernando M. Guimarães”