PROFUNDIDADE E AUTOCONHECIMENTO – por Teresa Escoval

Foto by Francesco Ungaro

 

“Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta.” (Carl Jung)

Ser profundo é buscar o desenvolvimento interno e externo, integrando constantes processos de ajustamentos criativos, tomando para si próprio a mudança, ao mesmo tempo que se processa o equilíbrio e a auto-regulação do corpo/mente/alma.

Na interacção do corpo-meio, encontra-se um conjunto de necessidades, sensações corporais, pensamentos e sentimentos, bem como, de características genéticas, fisiológicas, familiares, sociais, políticas, que fazem parte deste processo tão importante que é o desenvolvimento humano. Também há que ter em conta o nível de desenvolvimento espiritual.

Por isso, importa ressignificar experiências, em função do que a alma contém e dos dons e talentos de outras vidas. Como se a pessoa colocasse no novo que surge, algo antigo, profundo, fluído que o vai preencher em amor. Algo que vem de si de outras experiências de outras vidas, para dar um novo formato ao seu EU.

É aceder a um processo criativo de um novo Eu, que permite adquirir mais capacidades mentais, produzir ideias que solucionem, romper barreiras, adquirindo a certeza da integridade e da valorização como ser humano.

Um dos processos, que na minha opinião e por experiência própria, nos permite alcançar e enraizar o autoconhecimento, em profundidade, é a Constelação Familiar/Sistémica.

A Constelação Familiar/Sistémica é, na verdade, um serviço à vida. Algo que traz um significado ainda maior para a vida, que herdamos de nossos pais e que nos demonstra a grandeza da oportunidade de nascer.

É uma técnica de cura e autoconhecimento que busca identificar os bloqueios inconscientes dentro do sistema familiar ou da personalidade, que travam/bloqueiam as  diferentes áreas da vida, como sejam os relacionamentos, dinheiro/prosperidade, trabalho/carreira e saúde/vitalidade, etc..

Consegue-se através desta técnica de cura, trazer à luz a dinâmica que se esconde por trás dos problemas, descobrindo a origem de cada trauma/bloqueio para que a vida se torne mais plena através da harmonização e da reconciliação.

É importante entendermos que cada um de nós é a soma de tudo que vivemos e experimentamos, seja pessoalmente e particularmente, ou por meio das experiências dos nossos pais, avós, bisavós e todos os outros ancestrais, quer da linhagem materna, quer da paterna. Na verdade, cada um de nós é um produto de todos os que fizeram parte da nossa formação e nos ajudaram a construir quem somos hoje.

Estes vínculos que se estabelecem entre nós e os nossos antepassados são de amor. É o que Bert Hellinger, considerado o pai das Constelações, chamou de “amor cego e infantil”.

Citando o mesmo: “O que nos conecta e possibilita reconhecermos um ao outro é uma alma que nos abrange. Nessa alma eu abranjo a pessoa e ela a mim. Nessa alma em comum nós nos reconhecemos. Essa alma é extensa, não apenas em relação ao espaço, mas também em relação ao tempo.”

Ao promover a cura da alma, libertando o amor puro e isento de julgamento que vive em cada um de nós, promovemos também a limpeza do Planeta, uma vez que emanamos energia quando nos expressamos.

Normalmente é um trabalho presencial, individual ou em grupo, mas também pode ser feito à distância, uma vez que tudo é energia e flui sem tempo e distância. Também pode ser feito nas organizações e aí chamamos de Constelações Organizacionais.

Qualquer pessoa pode constelar, desde que sinta vontade de mudar e se responsabilize pelo processo de mudança.

As bases deste método assentam em:

  • As pessoas são milagres e dignas de amor
  • Cada pessoa é uma manifestação da força da vida e lhe foi dado o dom do espirito interno
  • Mudar é possível
  • Nós temos escolhas. Devemos agir em vez de reagir
  • Cresce-se valorizando as semelhanças e respeitando as diferenças
  • Quando recebemos novas informações temos novas possibilidades
  • A forma como lidamos com o assunto é que impele a facilidade da solução.
  • Por trás de cada comportamento há uma intenção positiva.

Como já referi, qualquer pessoa com um ou vários problemas específicos de ordem familiar ou de personalidade, interessada em se libertar e seguir a vida com mais harmonia, pode participar e fazer uma Constelação.

Podem-se abordar os mais variados assuntos, dando como exemplo os relacionamentos, insucesso profissional, morte prematura de filhos e/ou familiares, abortos, acidentes, suicídio, vícios, doenças crónica, separação, homicídio, síndromes/fobias, insónia, etc.

Há que ter em conta as 3 consciências:

Individual – apenas o que respeita à própria pessoa

Grupal/colectivo – estão também em nosso DNA energético e memória celular

Consciência Quântica, a do conhecimento, a da Fonte, ou Espiritual

E também as leis naturais, que são:

A Ordem: aqueles que vieram antes têm autoridade sobre quem veio depois.

O Pertencimento: todo o membro de uma família tem o mesmo direito de pertencer.

O Equilíbrio: É a lei do dar e tomar no trabalho sistémico. Existe uma busca de reciprocidade e compensação nas relações humanas.

O que aprendi com as Constelações Familiares/Sistémicas foi que:

– Respeitar é uma forma de honrar o que somos e o que os outros são

– Aquilo a que dedicamos atenção cresce. O foco tem de ser nas energias e pessoas onde nos sintamos alegres, positivos, leves, e com vontade de estar nesses ambientes e repetir convívios.

– Amar o nosso EU é a solução: a auto-aprovação, a auto-aceitação, a auto-estima são as chaves para que tudo flua na nossa vida. São elas as impulsionadoras dos nossos grandes progressos e o alimento vital para a alma.

– Nós temos o poder de controlar os nossos pensamentos: Escolhemos os pensamentos que nos dão apoio e ânimo e aos restantes, mesmo que surjam, não lhes devemos atribuir grande significado. Só aceitá-los e libertá-los.

– É importante libertarmo-nos da opinião dos outros: somos todos diferentes, com histórias diferentes, logo é necessário aceitar isso para que não haja comparação e competição. Tentar ser igual a outra pessoa diminui o nosso poder pessoal e o apoio que a nossa alma nos dá.

– É necessário libertarmo-nos da crítica e julgamento: quando criticamos fugimos da capacidade de olhar para nós próprios. A aprovação da nossa essência e inocência parte de nós mesmos.

– Acreditar no merecimento impulsiona-nos à acção: Ser é a nossa primeira etapa. Todavia, podemos permitir-nos ter. Em paz e aceitação profunda, sentindo-nos merecedores do melhor.

– Cuidar do corpo, emoções, mente e espírito, completa-nos: temos de os incluir a todos os que vieram antes de nós na nossa cura, senão sempre nos sentimos incompletos, falta-nos integridade.

– Para qualquer coisa nova se tornar parte da nossa vida é preciso prática: praticar algo é a melhor forma de demonstrarmos gentileza, amabilidade e paciência para connosco mesmos. Somos capazes quando praticamos dia a dia, até nos sentirmos confortáveis com as aprendizagens.

– É possível o encontro com formas de aprendizagens diferentes: através da gratidão, da compaixão e das afirmações positivas, conseguimos traçar um plano diário e segui-lo. Os planos, são compromissos que podem ser reformulados/ajustados e que nos dão motivação e força na caminhada.

– Para mudar o mundo em que vivemos basta mudarmos a forma como olhamos o mundo: mandando energias positivas e energia de cura envolta no amor, alegria, paz e bem estar, mudamos a vibração mundial.

– Enfrentando o que tememos e a dor ficamos fortes: agora já sabemos que a paz quando se instala é profunda e cria raízes que jamais são abaladas. Acredita que és um ser de luz e de paz.

– É mesmo necessário fazer a travessia: só assim seremos nós mesmos e só assim cumprimos o propósito que viemos efectuar. Importa entender a grandeza com a nossa filiação divina e com os ancestrais que se elevaram. Permitirmo-nos aceder à imensidão das riquezas que vem do invisível e aceitar a orientação e agradecer pelas dádivas.

Atingindo este auto conhecimento profundo, importa agora saber o que nos leva ao sucesso.

O sucesso está, como disse Charles Darwin, “na capacidade de adaptabilidade e de sobrevivência que cada um tem e também na profundidade como conhece a sua essência.”.

A maior dádiva do autoconhecimento é concordarmos que algo grandioso habita e actua em nós. A grandiosidade da vida nos leva adiante.

O autoconhecimento se dá passo a passo. Um pouco todo dia. Usando aqui uma analogia, é como tomar vinho. Pequenos goles em intervalos de tempo. Se tomar tudo de uma só vez vai ficar com tonturas.

É incrível como somos diversificados. Embora sejamos influenciados por valores de uma sociedade, cultura, costumes, crenças e tenhamos de partilhar de obrigações diárias, papéis sociais e profissionais, há, como é óbvio, algo na nossa formação/concepção que nos torna únicos.

Não me refiro ao individualismo ou egocentrismo e sim àquilo que há de mais profundo em nós e que define a nossa singularidade.

E quanto mais nos aprofundamos no processo de autoconhecimento, descobrimos que não somos definidos pelas nossas limitações, nem pelos nossos medos, anseios, sintomas, doenças ou pelas dificuldades temos. Que ter vergonha, por exemplo, não define o tamanho da nossa coragem. Que independentemente dos traumas vividos, estes não definem a nossa vida e nem quem somos como pessoas. Que ter uma doença, não limita a aprendizagem e o ser magnífico que cada um é.

Para mim, o mais importante no processo de autoconhecimento, não é apenas aquilo que vamos descobrindo sobre nós e sobre o nosso sistema familiar, mas os ensinamentos que adquirimos ao ficarmos mais lúcidos, pacíficos e compassivos, em primeiro lugar connosco mesmos e posteriormente com os que nos rodeiam. Conscientemente, acedemos ao propósito maior da nossa existência.

Uma coisa é certa, se houver vontade de mudar, responsabilidade pelas acções e fé, a vida segue em frente com honra e harmonia.

Claro que esta mudança de percepção exige que se tome algum tempo para reflectir e, sobretudo, que comecemos a sentir-nos merecedores do melhor e de sermos felizes.

Talvez as perguntas seguintes o ajudem a avançar nesse autoconhecimento:

– Afinal, quem eu sou para além daquilo que eu já conheço de mim?

– O que é para mim o sucesso?

Há em nós uma identidade mais profunda, que merece ser vista e dignificada. Como dizia Lao-Tsé: “Quem conhece os outros é sábio. Quem conhece a si mesmo é iluminado.”.

Na verdade, o autoconhecimento e sucesso estão interligados, pois pressupõe-se o alcance de bons resultados, de ter êxito em algo.

O meu contacto com as pessoas de sucesso, permitiram-me ver que todas as que evoluem para altos patamares e o conservam, têm algo em comum: têm uma grande capacidade de produzir e manter uma fonte inesgotável de energia contagiante. Transmitem paz, tranquilidade, harmonia mesmo a grandes distâncias. O sorriso é franco e discreto e têm paz de espírito. Elas são admiradas por gerações, por se respeitarem a eles mesmos, aos outros e aos seus actos.

Elas sabem que a vida não se resume em comemorar o sucesso, mas, sobretudo, em aprender com as lições menos boas e que vale a pena viver intensamente praticando a benevolência e mantendo a fé e a esperança apesar das crises e incertezas que, inevitavelmente, surgem sempre ao longo da vida, uma vez que tudo é composto de ciclos.

Como disse Epicteto: “Sucesso é encontrar aquilo que se tenciona ser e depois fazer o que é necessário para isso.”.

Hoje eu cumpri um grande propósito, partilhar aprendizagens convosco, que me lêem, e sentir-me uma mulher de sucesso pelo desafio que me lancei de me conhecer em profundidade e conservar esta fonte inesgotável de energia que me faz honrar-me e honrar-vos!

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Teresa Escoval é Pós-Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Licenciada em Sociologia, Bacharel em Gestão de Empresas. Desempenhou vários lugares de chefia na área Financeira e Gestão de Recursos Humanos. Desde 1994 que gere e desenvolve um negócio próprio na área do emprego,diagnóstico/desenvolvimento organizacional e formação.
Mantém colaboração regular, desde 2007, com várias revistas, onde são publicados artigos sobre diversas temáticas, que é autora.