Inspirada em tela de Cruzeiro Seixas,
“Longa viagem em palavras azuis” ;
influência igual de “Lapo e eu” de Dante.
Desejo
Singrar longamente
em alvas velas
por mares azuis.
Eu e você,
viajantes em palavras
de sons iguais – azuis.
♣♣♣
À luz do dia
Expor-se nu à clara luz do dia,
quem pode?
O corpo demonstrar,
sobretudo a alma,
quem pode ?
Só o poeta pode e teme,
treme
enregelado
à luz da manhã
fria.
♣♣♣
Com Machado
Refugiada à sombra
daquilo que não sei
fiz da minha vida versos,
hino doloroso, canto –
oração talvez.
♣♣♣
Eu
Cavalcanti,
cavaleiro gentil
e “sdegnoso”,
bem treinado,
ao conflito não fujo,
e por leve “baladetta”
deixo também
minha alma.
♣♣♣
“Ombra ma fu”
Ama o poeta
a sombra da árvore querida,
o vôo solitário de uma ave,
traineira tranquila
de rastro suave.
Pudesse eu retornar
àquele momento leve,
ao solo morno,
ainda ao sonho
daquela paixão tão louca.
♣♣♣
Rosas de hoje
ou Rosa moderna
Estressada rosa
com medo de ser podada
medo maior de ser …
e de sofrer calada.
♣♣♣
Infeliz-cidade
De dores e penas
muito já vivi.
De angústia e pena
do que pelas
minhas
esquinas vi
Miséria, abandono,
cães em ronda
corpos no sono.
À luz do dia
urina, fezes
purulentas feridas.
Meu sofrimento
e a minha pena
não lhes basta.
Só mãos mais
fortes
do que as minhas
(como as do meu pai)
seriam ajuda
se o quisessem.
♦♦♦
Rosa Maria Sampaio Torres – pesquisadora em História (PUC-Rio), é também graduada em Estudos Sociais e pós-graduada em Ciências Políticas. Como poeta, é autora dos livros “Bendita Palavra”, “Sendo” e “Alma Gentil”. Já reconhecida como ensaísta, é autora de inúmeros artigos históricos sobre a família Cavalcanti, da qual descende, e agora sobre o poeta Guido Cavalcanti.
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