As curvas doces desaguam em rectas um pouco menos que obtusas
que lhe fazem o rosto um poema para eu dizer, para eu olhar, e me desfazem a vontade de ser de muitas.
Eu serei só dela.
As duas esferas que colheu a uma oliveira, a caminho de maduras, coseu-as à cara, repousam do sol que queima
baixo deleitosas pestanas.
Na tez translúcida faz-se,
tímida deixando penetrar-se à luz. Desenho a rede venosa, azul, torcida,
que lhe escoa da mímica o sangue. O seu ofício. É também transparente a sua alma.
Num rasgado horizontal, obra de autor,
com largueza quando quer e para meu gáudio, deixo-me cair, imperativa, reiteradamente,
feliz condenado.
É dali, terço inferior da parte anterior da face, que jaz vivo um bem me quer,
que bem a quero!
Imiscui-se na carne mais tenra dos lábios mais formosos que o Homem soube fazer.
É diminuto, ofensivo dizer que a adoro.
Correia Machado, 24 de outubro de 2021
♦♦♦
Correia Machado Nasce em 1992. Em 2011 embarca na árdua e sempre inacabada tarefa que é tentar ajudar pessoas doentes a curar-se. A escrita, incubada já antes da medicina, floresce naturalmente, sem dor ou força. Em 2020 começa a colaborar com a revista digital Athena Quase ao mesmo tempo publica o seu primeiro livro pela chancela Gato Bravo.
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