SEVLA ORIEBIR – por Correia Machado

 

As curvas doces desaguam em rectas um pouco menos que obtusas

que lhe fazem o rosto um poema para eu dizer, para eu olhar, e me desfazem a vontade de ser de muitas.

Eu serei só dela.

As duas esferas que colheu a uma oliveira, a caminho de maduras, coseu-as à cara, repousam do sol que queima

baixo deleitosas pestanas.

Na tez translúcida faz-se,

tímida deixando penetrar-se à luz. Desenho a rede venosa, azul, torcida,

que lhe escoa da mímica o sangue. O seu ofício. É também transparente a sua alma.

Num rasgado horizontal, obra de autor,

com largueza quando quer e para meu gáudio, deixo-me cair, imperativa, reiteradamente,

feliz condenado.

É dali, terço inferior da parte anterior da face, que jaz vivo um bem me quer,

que bem a quero!

Imiscui-se na carne mais tenra dos lábios mais formosos que o Homem soube fazer.

É diminuto, ofensivo dizer que a adoro.

Correia Machado, 24 de outubro de 2021

“A tentativa do Impossivel” by René Magritte

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Correia Machado Nasce em 1992. Em 2011 embarca na árdua e sempre inacabada tarefa que é tentar ajudar pessoas doentes a curar-se. A escrita, incubada já antes da medicina, floresce naturalmente, sem dor ou força. Em 2020 começa a colaborar com a revista digital Athena Quase ao mesmo tempo publica o seu primeiro livro pela chancela Gato Bravo.