MUNDOS DAQUI E D´ALÉM (III). O VASO PRECIOSO MUITO VALIOSO (I)
O VASO PRECIOSO MUITO VALIOSO
(Primeira Parte)
Às vezes a Lua, lá no céu, não se vê logo porque é nova. É Lua nova não se vê. Mas está lá na sua límpida invisível transparência. Veem-se as estrelas tantas tantas longe tão longe e algumas tão mais longe e tão mais longe ainda que são só pequenos pontinhos pequeninos de luz que se sabe forte a luzir a tremeluzir a brilhar. E algumas outras são de tão mais longe ainda que só sabemos que lá estão, e pronto. Porque estão tão mais longe e mais longe ainda e ainda e ainda que só se pode é acreditar. E pronto! São como a Lua nova. Não se vê, e está lá, e acredita-se! E pronto. Continuar a ler “MUNDOS DAQUI E D´ALÉM (III). O VASO PRECIOSO MUITO VALIOSO – por Adelina Andrês”
Certa feita, tomando um café no Odeon na Cinelândia, comprei um opúsculo de um poeta que passou vendendo seus livros artesanais. Em casa, li o pequeno caderno de poemas: um amontoado de versos malfeitos e sem sentido, mas bastante sinceros.
Aliás, é preciso acrescentar que todo poema medíocre é extremamente sincero e que toda grande poesia possui um fundo irredutível de falsificação, de mentiras, de astúcia. Faltava ao autor saber que poesia não é ornamentar a palavra, mas subtrair dela, de espremer dela, o seu maior silêncio. Ao final do livro, perguntei-me: porque falar tanto de si mesmo se nada foi perguntado? Depois, fiquei pensando acerca dos motivos que levam um sujeito a escrever versos, publicá-los e sair pelas ruas a vendê-los. Obviamente, não cheguei a nenhuma conclusão, apenas a algumas reflexões: Continuar a ler “ALGUMAS NOTAS SOBRE POESIA – por Celso Gomes”
A SÍNDROME DE MNEMOSINE — UMA NOVA ENTIDADE PSICOLÓGICA NA ERA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Introdução
“O homem é um ser que esquece.”
— Paul Ricoeur
Na mitologia grega, Mnemosine, mãe das Musas, era a personificação da memória, uma força criadora e ordenadora do saber humano. Hoje, assistimos ao seu desdobramento tecnológico: a Inteligência Artificial (IA) tornou-se o novo repositório coletivo da memória humana. Mas essa exteriorização não é neutra. Ela está a transformar profundamente a forma como pensamos, sentimos, aprendemos e nos relacionamos connosco mesmos. Surge assim um novo fenómeno social emergente: a Síndrome de Mnemosine.
Trata-se de um distúrbio psicológico e cultural caracterizado pela substituição crescente da memória, do pensamento crítico e da criatividade humana por ferramentas de IA, resultando numa perda progressiva de autonomia intelectual e identidade epistémica. Este ensaio propõe a criação dessa nova entidade clínica, apoiada em investigações nas neurociências, psicologia cognitiva, filosofia da tecnologia e estudos educativos. Explora-se ainda o impacto desta síndrome nos jovens, na educação e no desenvolvimento cognitivo-emocional.
I. As Raízes Míticas e Filosóficas: Mnemosine como Fonte de Conhecimento e Identidade
Na tradição helénica, a memória não era apenas a capacidade de recordar eventos passados. Era o fundamento da identidade pessoal, da sabedoria e da cultura. Como escreveu Platão na Mênon, a alma humana teria acesso a verdades imutáveis através da anamnese, ou seja, da recordação. Esta visão sugere que a memória é um ato consciente, dinâmico e constitutivo do Eu. Continuar a ler “A SÍNDROME DE MNEMOSINE (…….) NA ERA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – por José Paulo Santos”
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