Como professora de Português há sempre aquele dia (muitos) em que falo de livros com os alunos. Para um projeto de leitura, por exemplo, tento ajudá-los a escolher os livros: sugiro livros, mostro-os, levo os alunos à biblioteca e desarrumo as estantes… Mas, surpresa das surpresas, os alunos tentam sempre ler livros que tenham em casa (“vou ler um livro da minha mãe”), ou que lhes oferecem (“vou ler o livro que a minha madrinha me ofereceu pelo Natal”), e em alguns casos, selecionam um dos livros mostrados, ou mesmo da biblioteca, mas “querem tê-lo na estante”.
Dei comigo a pensar como é importante haver livros numa casa para a criação dos hábitos de leitura nos jovens, e pode fazer uma grande diferença na vida dos alunos. Por muitos projetos que as escolas façam, por muitos livros que as bibliotecas possuam, crescer a ver, nem que seja meia dúzia de livros numa estante, é uma referência. Não estou a falar de que livros, de leituras fáceis ou difíceis, de livros de jovens ou de livros de adultos. Não interessa agora quais livros. Interessa que os livros estejam lá, em casa, disponíveis e visíveis. Eles vão assimilar desde crianças que os livros têm um lugar em casa, uma importância, que são valorizados. A exposição aos livros vai criar um ambiente propício à leitura. Já ouvi relatos de quem começou a ter hábitos de leitura por causa de um livro que tinha em casa. Ou de como um determinado livro foi importante para a superação de um momento difícil.
Se eles tivessem que fazer um dia destes o almoço deles o que fariam? Fariam uma massa com atum (foi o que duas alunas do 8º ano, primas, me contaram que cozinharam para o almoço delas). Sabem porquê? Porque os ingredientes estavam no armário da cozinha.
Isto claro, só para começar. Porque temos tanta variedade de livros quanto de ingredientes de cozinha. Um mundo para explorar, diverso, que fará sempre de nós um leitor único, tal como um cozinheiro único.
Existe o hábito de presentear as crianças com livros, procura-se que as crianças tenham acesso aos livros desde pequenos. Mas esse hábito tem de continuar enquanto eles crescem. Se os livros tiverem à mão das crianças e jovens, haverá o dia em que os hão de agarrar.
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Olinda Pina Gil é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e mestre em Ensino do Português e das Línguas Clássicas. Tem também uma pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos.
Iniciou a sua prática de escrita no “DnJovem”, suplemento do “Diário de Notícias”. Colaborou em diversas colectâneas e publicações, e foi 3º prémio do concurso literário “Lisboa à Letra” em 2004, na categoria de prosa.
Editou, a título independente, em 2013 “Contos Breves”, e, pela Coolbooks, chancela da Porto Editora, “Sudoeste” (2016, 2014 em ebook) e “Sobreviventes”(2017, 2015 em ebook). Escreve no blog www.olindapgil.blogspot.com
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