SINFONIA DE OUTONO
Há perfeita sintonia
Entre as folhas e meu canto.
É o espanto que me guia
Na palidez outonal
Como o rio, me despeço
Deste enorme matagal
De Bacus. À vida cedo
E ao Douro me confesso
CHÃO DE OUTONO
Da janela
Meço o Outono
Pela cor das folhas cobrindo meu chão
E há cheiro a castanhas
E a fruta madura
Outubro é lagar
Da tua doçura.
Que mãos preciosas tecem iguarias?
Tigelas douradas perfumam as casas
Sabem a marmelo e à minha infância
Que assim vai entrando
Com as suas asas
Macio é o Outono assim temperado
De açúcar e de pau de canela
Trazendo sabores e saberes ancestrais
E as vespas à volta pousando gulosas
Como o meu olhar atrás da janela
Bebendo o milagre das cores outonais
Cedo cai a noite e a nostalgia.
Instantes tão breves. Breve a ilusão
De um cabaz de Outono
Com travo a passado
Trazendo de novo
Uma velha canção
Quando dou por mim
Os frutos do estio
São gostosas geleias
Barradas no pão
No frio do inverno
Só mesmo o calor
Da tua mão
SABIAMENTE
Creio no pássaro que os céus habita
Creio na árvore onde se demora
Creio na flor que toca e beija
Suspiros de Outono que desflora.
Creio naquele que acredita
No Parto virginal da natureza
Creio nos sábios que sabiamente crêem
Ser o seu Deus tamanha Beleza.
ENTRE O SONO E O OUTONO
Tu chamas por mim vezes sem conta
Trazes-me me o café da manhã
Para despertar o meu corpo
Embrulhado num sonho
Irredutível.
Pena estar a perder
Uma manhã destas
Murmura o teu bom feitio.
Pena mesmo é perder
O fim da história
E levantar- me de olhos
Remelosos
Para ir caminhar o quotidiano.
Acordo a meio do Outono
Com o eu indeciso
Entre o sono
e a crença
nos estudos
duvidosos
Que fazem de mim mais
Inteligente
Por gostar de dormir
Sine hora
Talvez um dia
Os deuses
Pelo menos
Uma vez na
Vida
Resolvam despertar- me
Bem cedinho
Com açoites luminosos
De felicidade.
ÚLTIMOS SUSPIROS
Nunca mais baterei à tua porta.
Mas deixo recados gravados
Nas imensas folhas dispersas
Pelo Outono da melancolia.
Talvez, quem sabe,
Possas juntar algures
As cores de cada letra,
À música do dia
Em que subtilmente
Deixo teu silêncio penetrar
No puzzle que compõe
Esta poesia.
SEXTILHA DE OUTONO
Entre o ser e o parecer
De que cor é o Outono?
O que não é pode ser
O que é parece sonho
Há regressos, vinho novo
No lagar onde te provo
QUEBRADO O OUTONO DE TANTO O OLHAR
Me chove o silêncio da cor,
Do seu digno manto.
Vem meu amor
Fica comigo à janela
Prende o meu espanto entre os teus dedos
Antes que o inverno desenhe
No chão a profecia do vento.
♦♦♦
Ana Margarida Gomes Borges Nascida em 31 Outubro de 1951, em Vila Pouca de Aguiar. Professora do Ensino Secundário – Aposentada. Diseuse ou dizedora residente no Porto. Participação poética em várias colectâneas e revistas em Portugal, Brasil e Galiza. Um livro de poesia a solo “JÁ NÃO MORO AQUI” resultante de um primeiro prémio em concurso literário. Distinção noutros concursos literários.
Publicou o seu 2º livro de poemas em Março de 2019 “ TALVEZ SE ME EMPRESTARES UM DESSES VERSOS”.
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