Uma grande rebelião
sem causa e também sem lema
não leva ninguém a nada.
Mas serve para o poema.
Um tombo dentro da alma
no arranha-céu dos dilemas
aos outros, talvez não sirva.
Mas serve para o poema.
Um roteiro que tropece
na escadaria do tema
talvez não sirva ao aplauso.
Mas serve para o poema
Um barco em pleno deserto
que o braço-em-gesso não rema
não vai ao cais nem às ondas.
Mas serve para o poema.
Uma andorinha sem asas
leva no corpo um corpo um problema
e não traz verão no bico.
Mas serve para o poema
Tudo o que dorme esquecido
bilhete, foto ou emblema,
a muitos não tem prestança.
Mas serve para o poema.
Cada tristeza, cada riso
o sofrimento com seus escudos
a correnteza,
o silêncio, o impreciso:
Ao poema serve tudo.
♦♦♦
Jaime Vaz Brasil – Poeta gaúcho, com 7 livros públicados e vários prêmios, dentre os quais: Açorianos, Felipe d’Oliveira e Casa de Las Americas (finalista). Atua também como compositor, tendo vários poemas musicados e interpretados por vários parceiros, dentre os quais Ricardo Freire, Flávio Brasil, Zé Alexandre Gomes, Nilton Júnior, Vitor Ramil e Pery Souza.
You must be logged in to post a comment.