Deambulo no quotidiano
Como um cadáver no seu túmulo
Leio poemas impossíveis
Como um analfabeto
O jornal diário
Sombrio, desiludido e melancólico
O inimigo de si
perante o espelho
provocando o seu reflexo condicionado
Esclareço
Ninguém imagina a dificuldade
que tenho em expor-me
O corpo não é uma superfície plana
deve reflectir
os factos que a luz esconde
O corpo é o fantasma da alma
O herói está nu
Desfeito numa nódoa negra
dentro do seu mal
Vivo sorridente e cheio de tesão
pronto a possuir qualquer causa
mesmo sem causa
alimenta-se do seu divino orgasmo
as nossas fantasias
reserva moral
De um animal irracional
Não há palavras para o descrever
Poeta maldito
um intelectual em extinção
um académico em auto-destruição
príncipe dos revoltados
Não escreve nem pensa
mas à sua mão
deuses comem
os seus restos mortais
Ora assassinado
pela censura
Ora suicidado
pela auto-censura
Um poeta a abater
recusa qualquer tipo de exílio
e só fala na presença do diabo
enquanto deus escreve
o que lhe dita
Uma redacção escreve-se em dez minutos
Um Poema por vezes
nem numa vida
Aquilo que pensa diz
e faz está ao mesmo nível
bens essenciais
a rotina
o tédio
e o mal menor
Só escreve
quem não é poeta
♦♦♦
a. dasilva o., 1958, poeta e editor em extinção.
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