I QUANTAS VEZES SE MORRE
Para Moacir Armando Xavier
“Ninguém na vida teve tantos pecados que mereça morrer duas vezes.” Frase de Maria de Magdala quando Jesus pretende ressuscitar Lázaro.
(“O Evangelho segundo Jesus Cristo” – José Saramago)
Quantas vezes
se morre
nesta vida,
com pecado
ou sem pecado?
Porque
nesta cidade se morre
todo dia e hora,
e os corações saem
pela boca
a todo instante.
Rio de Janeiro, Fevereiro de 2018
♣♣♣
Ilustração para o poema de Moises Cárdenas de Edwin Garcia.
II AMIGO FERIDO
*Resposta a Moises Cárdenas por seu “Poema a La liberdad da Venezuela”
À distância pássaro
escuta amigo ferido.
Condoído ouve
seu canto dorido.
São muitos
os pássaros caídos!
Apenas a noite escura
sobre eles
vela.
Janeiro de 2018
♣♣♣
III CANTO PELA MORTE DE O.P.
Anna Achmatova
atenta, à espera,
escuto doridos cantos
de mais pássaros,
ainda muitos mais,
caídos.
Mas na noite escura
que por eles apenas vela,
sons metálicos agora
são ouvidos
saídos da alma de um povo
faminto.
Também atento.
Também à espera.
Fevereiro de 2018
♦♦♦
IV CANTA CORAÇÃO CANTA
para Moacir Armando Xavier
Parodiando poema de H. D.
Canta coração, canta
canto de quem
nada sabe
mesmo assim canta,
ligeiro,
alvissareiro.
Canta coração, canta,
o que não sabe.
Mesmo assim
canta, e canta meigo
histórias para o amado
ao leito.
Canta, coração canta.
Sabe que nada sabe,
Mas doces poemas
ao entardecer tranqüilo,
lento
canta junto ao companheiro.
Canta, coração canta
o que ainda não sabe…
no sono quieto
momento derradeiro.
♦♦♦
*Poema a La liberdad da Venezuela, por Moises Cardenas
POEMA A LA LIBERTAD
Atrapado en el bosque
el pájaro picotea plomo
y disparos.
Con sus alas rotas
salta arboles de sufrimiento,
su pecho late
y las plumas sienten el desamparo.
Los ojos del pájaro
tiemblan con angustia.
El pájaro
mira el cielo,
busca música
en la garganta
con deseos
de volar.
♦♦♦
Rosa Sampaio Torres teve boa aceitação da critica literária brasileira por seu livro “Bendita Palavra”, editado pelo artista plástico Guilherme Mansur em 1998. Freqüentou a partir da década de 1990 círculos literários e de poesia no Rio de Janeiro. Já com vasta produção prepara agora o seu livro “Sendo”, com prefácio da poeta Olga Savary.
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