0- Nos desfiles de samba brasileiros, ápice do Carnaval nos alegres trópicos, manda o figurino, dispõe o ritual, impõe a superstição, aconselha o bom senso, que a escola esquente os tamborins da bateria -e não só!- antes de adentrar na passarela com os dois pés direitos. Para começo de conversa, não encontramos alegoria mais assertiva e adequada a fim de festejar a edição do nº 0 da revista ‘Athena’.
1- Foi com avisada sensatez e comedido júbilo que a Direção, a Redação e o Conselho Editorial da ‘Athena’ estabeleceram o balanço do impacto gerado por esse ensaio geral e se empenharam na preparação deste nº 1 do novel magazine digital. Estimulados pela consciência de que o desfile apenas partiu da concentração e que ainda falta percorrer uma passarela quilométrica até alcançar a praça da apoteose. Nesse percurso em busca do fastígio, muitos acertos, imensas afinações, numerosas inovações, inúmeras correções de trajetória se sucederão forçosamente e se imporão naturalmente. Ao longo dessa caminhada, estamos cientes de que toda a equipe saberá estar atenta aos feedbacks dos leitores, dos autores, dos colaboradores, sempre afeita a ponderar as críticas e as sugestões recebidas e disponível para integrar os subsídios e os contributos na dinâmica de aprimoramento do projeto editorial, desde que entendidos como agentes de transformação qualitativa.
2- Um dos retornos mais pitorescos foi aquele que saudou a emergência da publicação desta inusitada teofania intelectual da Athena helênica como “mais uma revista literária”. Sendo assim concebida, a ‘Athena’ correria o risco de ser catalogada como um veículo, em prioridade, atreito a difusão/divulgação de textos de literatura propriamente ditos. Esse porto de vista tende, porém, a acentuar uma sinédoque algo redutora, ameaçando cometer o erro de tomar a parte pelo todo.
Enfatize-se que qualquer que seja o tema em abordagem, o assunto em pauta, todo o periódico deste gênero se (a)firma como uma revista literária. Uma revista de esportes, uma revista de fofocas, uma revista erótica/pornográfica, em limite, são revistas literárias. Antes de mais, porque recorrem ao sinal gráfico –letra, littera, no latim- para codificar suas mensagens e veicular o processo de socialização. Nessa acepção, até bula de remédio costuma ser apelidada de literatura, por norma, muito dura de entender, suscetível de causar tontura e tortura, mal se leem as letras iniciais.
Moral da estória: a ‘Athena’ não secundariza, muito pelo contrário, o mandato de ser um “órgão de comunicação social” aberto à revelação de expressões de invenção literária tout court. Ambiciona, todavia, abraçar, respaldar um programa que não conheça fronteiras ou barreiras, quando o escopo prioritário é o incentivo ao Conhecimento humano.
3- Sob os auspícios da musa sábia e guerreira, ela abre suas páginas para uma ampla paleta cromática de referentes, temas, assuntos, multidiversos, que se pretendem abarcantes de todas as áreas da Cultura, das Artes e das Ciências, numa perspetiva holística, interativa, dos universos paralelos dos saberes.
Sob o amparo do escudo da divina madrinha, o codinome da nossa revista pode muito bem ser este: Sabedoria e Civilização. Isento de tentações paternalistas, não será descabido evocar o pensamento atribuído a Sêneca: “Aprende sempre, não tanto para que saibas mais, mas antes para que te tornes melhor ser humano.”
4- Sublinhe-se que será suficiente folhear os dois números para que o/a leitor/a capte o clima, fique ciente deste conceito, assente numa rigorosa observação dos princípios de uma irrestrita liberdade de expressão do pensamento nos textos e imagens dados/as a estampa, onde o único critério seletivo será a qualidade dos conteúdos. Respeito que desfila par a par com o estímulo do autorismo das matérias publicadas, nomeadamente a nível formal, na normalidade da aceitação dos vários padrões do Português e da conformação/não conformação com o AO 90.
Recorde-se, a vol d’oiseau, que a ‘Athena’ não surgiu para atenazar os ativistas/animadores do movimento cultural e artístico, em exceso molestados pela saturação das vigentes publicações em suporte material.
5- Posto este intróito, está desafiada/o a encetar a leitura do nº 1 da ‘Athena’, ornada com a imagem tutelar de uma tela de Sonia Delaunay, a cuja vida e obra é dedicado o texto âncora desta edição. No final, estima-se que seja acometida/o por uma insónia criativa, ainda que breve e inspiradora.
Em épocas eivadas por uma torrente de comunicação global que tende a ser diarrética, é urgente estar bem antenado, ou melhor dizendo, bem athenado. Mais do que atinar, importa athenar. Daremos o nosso contributo.
Danyel Guerra
Ainda li somente o editorial e já estou tombé d’amour! Soma-se a vibrante alegria e satisfação de constatar que estás melhor do que nunca, Danny War! Que bom e estimulante reencontro. Não fosse o risco de parecer desajustado – para não dizer mal interpretado – e seria caso para declarar que a Athena me deixou excitado à primeira vista. Long life, Athena!
E um forte abraço