EXCERTO DE “JENIPAPO WESTERN” de Tito Leite

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O sertão é por um fio. Insetos, folhas, raízes e formigas em volta da terra. Tudo tão seco e ao mesmo tempo inteiriço. No sol escaldante, uma flor luta e sobrevive. Mesmo trincada, a vontade de vida insiste. Na cidade de Jenipapo, tudo é quebradiço, a moeda de troca circula nas lavouras de algodão. Plantam, colhem e se submetem aos três compradores. Não há banco na cidade. Roberto, um dos usineiros que começou como intermediário, disponibiliza o dinheiro e as sementes de baixa qualidade. O pagamento vem com as futuras safras do ouro branco. Um santo mártir, no momento de sua morte, certa vez falou: “Serei trigo nos dentes das feras”. Um pouco isso, o que acontece, as pessoas são trituradas e ainda agradecem, sorridentes. Elas vendem o fruto do seu trabalho praticamente de graça e esbanjando contentamento, como se a compra fosse um gesto altruísta. Continuar a ler “EXCERTO DE “JENIPAPO WESTERN” de Tito Leite”

A PALAVRA EM SEU DESERTO – por Tito Leite

Seis poemas do livro

A PALAVRA EM SEU DESERTO

O OUTRO

Eu canto a ovelha
e o lobo,
a serpente que engole
a própria cauda
e o fim sábio
do poeta tolo.

Eu canto o limo
e o mar aberto,
a madrugada
dos poetas e o tiro seco
dos filósofos. Continuar a ler “A PALAVRA EM SEU DESERTO – por Tito Leite”

POEMAS – de Tito Leite

FRESTA

Moro num deserto situado
na palavra.

São tantos nomes no remanso
de uma tarde
e eu vi uma borboleta
na sombra de uma granada.

Grafei que o significante
de uma nuvem
é o seu presságio
e depois da chuva um poema
fecunda a sangria dos sábios.

Bati nos ombros de uma montanha
e acenei: no sangue do poeta
tudo é talhante,
nada é suave. Continuar a ler “POEMAS – de Tito Leite”

TRÊS POEMAS DE Tito Leite

Foto de zsófia fehér

URGÊNCIA

Procuro uma palavra sobre a matéria
pueril dessas tardes.
Uma palavra escondida em alguma
boca seca de detalhes.

Falta mãos para colher as flores
de março e o mormaço dos dias
atuais espanta todas as borboletas. Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Tito Leite”

A POESIA DE Tito Leite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONFLITOS

Eu habitava comigo
como se a sonoridade do meu nome
fosse um origami
na aurora de cedro.

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