POEMA SEM GALINHA NEM FEIJÃO
Tradução de Anderson Braga Horta*
A panela
nua e fria
esqueceu os caldos
o fumo da tarde
a lenha estalejante (o fátuo fogo)
verduras e sais
A mão que lavava sua pele
jaz vencida e prostrada
vazio adentro da casa solitária
os filhos muito longe
Chile Argentina Peru
Brasil Colômbia Equador
Chamam diáspora a esta solidão
eu a chamo vento derrota lágrima
fastio céu caído
Se algo deixou tristeza
caducidade
desamparo
foi o pranto da mãe
e esta panela vazia
As bananeiras do quintal são cicatrizes
do barranco
as folhas sem varrer
onde antes houve jogos de meninos
as aves de cercado e o louro
só deixaram penas na terra
algum sismo levou a alegria do lar
a inocência da criançada
o olhar de amor dessa mãe
algum punhal cortou sua língua
rasgou seus trapos
derrubou as gamelas de lavar
os talheres de pobre
as máquinas de costurar as calcinhas
algum alfinete espetou seus olhos ternos
apagando ilusões sonhos e esperanças
prostrada na velha cadeira de madeira
consumida nas poeiras da tarde
Ninguém semeia junto à casa os feijões
carreiras de milho
ou amores-perfeitos amarelos
As borboletas passam como fantasmas inocentes
alguém tosse e se apaga
enquanto as portas de outro mundo deixam cair
desvencilhados raios apontados ao paraíso
Depois das cinzas
resta apenas um poema
sem galinhas nem feijões
nem sóis à vista Continuar a ler “POEMAS INÉDITOS – de José Pérez”
You must be logged in to post a comment.