EDITORIAL – Como ficar bem athenado – por Danyel Guerra

0- Nos desfiles de samba brasileiros, ápice do Carnaval nos alegres trópicos, manda o figurino, dispõe o ritual, impõe a superstição, aconselha o bom senso, que a escola esquente os tamborins da bateria -e não só!- antes de adentrar na passarela com os dois pés direitos. Para começo de conversa, não encontramos alegoria mais assertiva e adequada a fim de festejar a edição do nº 0 da revista ‘Athena’.

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SONIA DELAUNAY: CÍRCULOS ENIGMÁTICOS por José António Barreiros

No panorama da pintura europeia, o casal Delaunay é um nome de referência. A sua biografia tem a ver com Portugal. Aqui viveram momentos fundamentais da sua vida artística. Foi no nosso país e por via da luminosidade invulgar do mesmo, que o cromatismo típico da sua linguagem pictórica ganhou individualidade e intensidade. Mas foi aqui que se viram envolvidos numa história de espionagem, precisamente por causa da sua invulgar pintura. Um dia talvez a história dê livro. Assim eu tenha tempo.

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MULHERES NAS RUAS DO PORTO –II – César Santos Silva

Foto: Adelaide Estrada por Abel Salazar

ADELAIDE ESTRADA

A única médica consagrada na toponímia portuense.

Nasceu na cidade do Porto, em 29 de Setembro de 1900. Foi assistente da Faculdade de Medicina, bolseira e estagi­ária no Instituto de Alta Cultura, integrou, ainda, várias instituições científicas e manteve uma colaboração regular nas revistas da especia­lidade e sobre os temas que eram alvo das suas pesquisas, como histo­logia, análises clínicas, citologia, etc. Discípula e amiga íntima de Abel Salazar, participou activamente nas campanhas dos generais Norton de Matos e Humberto Delgado à Presidência da República. Faleceu a 18 de Outubro de 1979. A rua que a consagra fica na zona da Prelada. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO –II – César Santos Silva”

QUANDO VELÔ SE AVENTUROU NO “POEMA SÓ” – por Danyel Guerra

“Ver o céu de verão é poesia, ainda que não esteja

num livro. Os verdadeiros poemas escapam-〈nos〉”

Emily Dickinson

Por mais que pese a autoestima e muito custe a presunção da maioria dos vates literários, todo ser vivente é um arauto, um porta-voz de poesia, mesmo que nunca tenha escrito sequer um verso. As hemácias po(i)éticas percorrem, a todo momento, nossos vasos arteriais e venosos. Sangue que sendo alarde de vida, pulsa, freme, regurgita como um ato de poesia automática, a ponto desse “modus faciendi” independer da vontade humana.

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A RAZÃO DO CORPO por Ester Fridman

Foto de Elizabeth Gladd

Platão concebia o corpo como prisão da alma. Para os cristãos o corpo é pecado. Para Descartes a existência depende do pensamento. Para Nietzsche, por trás das funções do corpo há uma unidade; esta reside no corpo, não na alma.

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SOLICITAÇÃO DE AMIZADE DE LOURDES BALLET – por Fernando Corona

 

Olavo entrou em seu apartamento e parou no meio da pequena sala para respirar profundamente, já que tinha por hábito não usar o elevador. Estava ofegante por ter subido dois lances de escada e também respirava fundo porque ao entrar sentira que das janelas escancaradas vinham uns ares de outono já com cara de inverno e isto para ele era sempre um cerrar de olhos, um transportar-se para tantos e tantos portos de sua larga vida que agora completava setenta anos.

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QUE LIÇÕES DA LIÇÃO DE ROLAND BARTHES! – por Hilton Fortuna Daniel

Mais difícil que entender Roland Barthes é falar dele, quer dizer, falar da complexidade da sua vasta obra. Pelas suas posições filosóficas, convicções, controvérsias, complexidade textual e até contradições (pois ele próprio admitia que as tinha), Barthes é um autor com, muitas vezes, as ideias vincadas e inflexíveis. É uma tarefa que se torna cada vez mais difícil quando vamos conhecendo com maior profundidade o seu augusto repertório bibliográfico.

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A ÚLTIMA ESCURIDÃO DE GONZALES – por Jaime Vaz Brasil

Imagens de Lourdes Ximenes

Gonzales entrou em casa como quem procura barulho na sombra. E tudo estava escuro demais. Com isso, nem sombra apareceu. Fez dois ruídos opacos. Um quando tentou abrir a porta sem acordar a dobradiça velha. Outro, quando quis acender a luz. Compreendeu a escuridão e sacou lentamente o punhal. Continuar a ler “A ÚLTIMA ESCURIDÃO DE GONZALES – por Jaime Vaz Brasil”

EDUCAÇÃO, DESÍGNIO NACIONAL? – por João Carvalho Fernandes

maquette no. 3’, 2014, by ji zhou in designboom.com

 

Mais de quarenta anos passados sobre a Revolução de Abril, o que se pode dizer sobre o nível educativo do povo português? Melhorou, piorou? E relativamente aos outros países, qual a evolução? E o que se poderá fazer para melhorar?

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POEMAS de Júlia Moura

Foto de Paulo Burnay

CORPO DO AMOR

falar de amor é a tentativa de decifrar
o escuro divino com a intuição do âmago
esbarrar no vazio tropeçar no tudo e
inventar meio mundo dando voltas
nas estrelas caídas
mais fácil é falar do teu corpo
do teu copo
do teu sopro de natureza cálida

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Sleeping Beauties – por Paulo Burnay

 

 

♦♦♦

PAULO BURNAY

Nasceu em 1957, no mesmo ano do Bin Laden, do Rui Veloso e da RTP.

Aos nove anos começou a roubar pedaços de luz para dentro de uma Diana, a célebre máquina da Farinha Amparo. Assinou então o seu primeiro filme com generosas dedadas, durante a luta de uma hora, às escuras, para o enfiar dentro do tanque de revelação, e ficou para sempre viciado no cheiro a fixador que lhe impregnou as mãos.

Ainda anda por aí a roubar pedaços de luz.

ARQUÉTIPOS por Marilene Cahon

 

O termo “arquétipo” origina-se na Grécia antiga. As palavras raiz são archein que significa “original ou velho” e typos que significa “padrão, modelo ou tipo”. O significado combinado é “padrão original” do qual todas as outras pessoas, objetos ou conceitos são derivados, copiados, modelados, ou emulados.

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RECENSÃO CRÍTICA AO ROMANCE ESPADA DE SANTA MARIA, DE CÉSAR ALEXANDRE AFONSO por Marisa Luciana Alves

Afonso, César Alexandre (2014). Espada de Santa Maria, Lisboa, Chiado Editora

Espada de Santa Maria, da autoria de César Alexandre Afonso (Psicólogo na Polícia Judiciária), é um romance publicado pela Chiado Editora, que, a meu ver, deixa um legado indelével na literatura portuguesa, no que respeita aos romances históricos. Continuar a ler “RECENSÃO CRÍTICA AO ROMANCE ESPADA DE SANTA MARIA, DE CÉSAR ALEXANDRE AFONSO por Marisa Luciana Alves”

PEDRA, CAL E SOL por “Mau Feitio”

Nasci…

Adoptou-me uma mãe com cabelos loiros de seara

e corpo tapete de carne verde

Tive beijos de resina

e raízes de sobreiro

Parti…

Tive infernos de betão

Banquetes de ilusões

Catedrais sem Deus

E clareiras de solidão

Voltei…

Sou daqui.

TRÊS POEMAS de Paulino Soma Adriano

Imagem de Lourdes Ximenes

Sabes?

Sabes?

Nunca pensei

Que um dia

Nem a mão me acenarias;

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CARISMA E EMPATIA por Teresa Escoval

Meryl Streep

Carisma e empatia são, na minha opinião, duas palavras que se nutrem e expandem! Distintas, pois do termo simpatia, que apenas requer extroversão comunicação. Enquanto que ter empatia, é possuir a capacidade de saber nutrir bons laços sociais e transformar com amor tudo e todos ao seu redor!

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SINHÁ, A DAMA DO SAMBA – por Thais Matarazzo

Dona Sinhá é um dos expoentes femininos na história do samba da Pauliceia. Trouxe o samba no DNA: o pai era sambista de Pirapora e a mãe foliona e entusiasta do carnaval. Continuar a ler “SINHÁ, A DAMA DO SAMBA – por Thais Matarazzo”

A POESIA de Ulisses Varsovia

Fémina y sino

Su nombre pétalos rotos

que ni la voz ni la tinta,

del tiempo, como mis días,

y también sus pasos,

como si luz ofuscada

o sobresaltados sueños.

 

Ella el amor sus racimos

lo torrencial desgranado,

caótica incandescencia

como si cruel orfandad o islas,

unísono el grito al noches dormidas,

vástago de cómo lo solo y lo llanto.

 

Calles pálido cortejo,

desgarradora asunción muertos metales,

y cada a lo largo y ceniza,

y a las horas de una y viniendo.

 

De allí ella abasalena:

sobresaltados sueños

toda dimensión paralela asomados,

y sin vestigio crónico de uso

o malheridas ropas que testimonios,

sino que direcciones piélagos,

ubicua y ácrona y dormida.

 

Ella pues fémina y sino,

fruto tal vez eslabón amargo

en la implacable noche ejercida,

o exabrupto súbito deseo ciego

cuyo luego errante insubsistencia.

 

A mí entonces abasalena

cuando calles estepa y ceniza,

y prorrupciones lo nuestro de siglos,

y descenso al nada y elixir

donde adormideras nirvana y beleño.

 

Después su nombre exhaustos fonemas,

y su voz como cayendo al sueño,

y su cuerpo lentas defunciones,

hasta que pálido eco roído,

hasta que fugitivas sombras.

 

Ahora otra vez de allí aromas

y vorágine y sed y trama.

Fémina efímeras huellas,

subrepticia impronta empero,

de modo que lira en trance,

ensimismado aeda hurgando.
Pero su nombre navíos en la niebla.

 

in “Abasalena”

♦♦♦

Afrodita

Así caídos tus párpados,

así clausurada a la luz

tu fría vida sin vida,

desnuda entre las estatuas,

 

en vano mis tibios dedos

deslizando por tu piel

su arrobo de escultor ebrio

en el tránsito de las formas.

 

En vano mi boca hambrienta

sobre tus marmóreos senos,

en vano mi loco deseo

su fuego en torno al fuego yerto.

 

En un único movimiento

paralizada, en el acto

de desatar tu desnudez

sobre el tálamo silvestre,

 

caerías a la hojarasca,

y crepitarían las hojas secas,

muda, si no suspendido

del cincel tu cuerpo ebúrneo.

 

Así suspensa entre la rigidez

y el deseo, entre el fuego

y el frío eje curvado,

en tu cuerpo yerto la lucha

de dos enemigas fuerzas.

 

Y así tus párpados caídos,

así clausurada a la luz,

tu vida ninguna vida,

y ningún arrobo el deseo

de mis dedos infructuosos

por tu cuerpo deslizándose.

in “ Megalítica”, 1999)

          ♦♦♦

Clarividencia

 

Clarividencia cristal,

cristalina clarividencia

la poesía

envuelta en túnica talar,

huidiza en cadencias

de fugaz melodía.

 

Lámpara luminosidad,

lámpara luz esplendente

encendida

de misterio oracular,

fluyendo a torrentes

y apenas asida.

 

Toda su virtud llamear

de desnuda claridad

ofrecida,

y su vuelo parpadear

con alas celeridad

sólo sentidas.

 

Ráfaga luz incendiaria,

ráfaga lumbre de astros

adormecida

en el espejo del agua,

roto si la sed sus labios,

o apenas decirla.

 

Clarividencia cristal,

diáfano río sonando

la poesía,

y su veloz parpadear

en tu ansiedad un resabio

de melancolía.

 

in“Racimos“, (1998)

(Inédito)

       ♦♦♦

Cuando vuelva a casa

Cuando vuelva a casa

Madre me abrirá la puerta,

 y quedará frente a mí

como una estatua viviente.

 

¿Qué le diré a Madre

cuando vuelva a casa

y me abra la puerta?

 

Y me besará la frente,

y me apretará las manos,

y me mirará en los ojos

con sus ojos de niebla.

 

Y tocará mis mejillas,

y girará en torno a mí

palpando mis ropas,

sacudiendo el polvo.

 

Madre me abrirá la puerta,

y en sus labios muertos

todas las lenguas terrestres

se agolparán, gritando.

 

¿Pero qué le dire a Madre

cuando vuelva a casa

y me abra la puerta?

 

in “Indumentaria”, (1998)

(inédito)

♦♦♦

Desde la noche

De la noche hasta mi corazón

llegan náufragos difuntos,

viajeros que vi partir

desde mis horas vacías

y cuyo rumbo guiaron

sucesos conmovedores.

 

Regresan mustios y heridos,

llorando de otoño espeso,

escrita en sangre y derrota

la bitácora marchita.

 

No me llaméis vuestro padre

ni vuestra antigua morada,

aquél que rezó y bendijo

vuestra partida está enfermo,

no pidáis paternidad

para el luto a mi bandera.

 

Yo sé que de noche existo

como un puerto de naufragios

que el soplo de las tormentas

abastece de despojos,

y sólo desamparados viajes

regresan pidiendo amparo.

 

Remece mi corazón

el llanto de lo que vuelve,

avergonzados viajeros

piden perdón a mi puerta,

días que vi morir

se levantan desde el tiempo.

 

Noche de estrellas azules

cayendo contra el mundo,

nada conjura el acoso

de su color homicida,

besa mi boca el verdugo

embajador de su origen.

 

Acaso la vi partir

y mis viajes la buscaron;

la vi zarpar y mis naves

se hicieron hacia su ruta;

la vi fallecer en mí,

y en mí quise encontrarla.

 

Acaso tal vez mis náufragos

hallaron su sepultura

navegando en mi interior

que en la noche reencuentro.

Acaso tal vez yo soy

el único que no ha vuelto.

In “Aguas tumultuosas”, (1976)

Ulisses Varsóvia  Naci en 1949 en Valparaiso, Chile, soy docente universitario, me doctore en Alemania, he publicado unos 25 poemarios, y me publican numerosas revistas de internet, actualmente resido en Suiza, sigo escribiendo poesia.